21.12.12 - A Invasão escrita por Padalecki


Capítulo 23
Morte.


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI
gente eu nao morri... mas precisava de ajuda com esse capitulo, visto que o epilogo já esta pronto... hm... Samuel me ajudou com ele. Entao, aproveitem!!!



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Eu quis que aquele momento nunca acabasse.

Josh me beijava como se estivesse me conduzindo numa dança. Havia firmeza e ao mesmo tempo flexibilidade em seus lábios. E eu me sentia quente. Mais quente do que nunca. Fervendo. Toda a minha pele formigava de calor, e eu pude sentir que meu próprio calor estava se expandindo para fora de minha pele. Muito provavelmente, aquela foi a melhor sensação da minha vida até aquele momento. 

Então Genevra pigarreou o que poderia ser um palavrão disfarçado, e o mundo real entrou em foco mais uma vez. Josh se afastou, mas mantinha sua mão sobre a minha, fazendo-a esquentar. Eu pude ver todos ao meu redor na sala de comando: Orson, Kovu, Genevra, Shawus, e Dallas, todos formando um semicírculo ao meu redor. Ninguém disso nada, mas eu podia ver uma pergunta nos olhos de todos, incluindo os de Josh ao meu lado: Qual é o próximo passo?

Imediatamente, procurei algo para dizer. A verdade era que eu simplesmente não podia pensar em nada. Eu nem acreditava que chegaríamos tão longe. Que sobreviveríamos. Mas falhamos. O fim do mundo estava acontecendo. Milhares de pessoas estavam morrendo naquele exato momento. Decidi que aquele era o próximo objetivo. Tínhamos que salvar as pessoas.

– Onde está Clark? – Foi o que saiu por minha boca. Meus olhos esquadrinharam a sala de comando, frenéticos. Senti o aperto de Josh afrouxar por um segundo.

– Ele saiu da sala de controle... – Começou Orson.

– Assim que viu vocês dois se beijando. – Cortou Genevra. – Pelo amor de Deus, Gwen, você deveria se segurar para ofender o menino!

Senti minhas bochechas corarem. Josh largou minha mão.

– Não temos de nos preocupar com isso, Vórtex. – Rosnou ele para Genevra, num tom assustador. – Eu e Gwen estamos namorando. Não ligamos para o que os outros pensam sobre isso, não é?

A pergunta era endereçada a mim, mas eu estava sem fala. Josh parecia mortalmente irritado.

– Há! – Zombou Genevra. – Sua namorada já sabe que vocês estão namorando, Ariano?

Os braços de Josh explodiram em chamas vermelhas. Genevra se metamorfoseou, e eu pude ouvir o metal das paredes da nave rangendo. Ela estava convocando a água. Se aquela briga durasse mais trinta segundos, abriríamos um buraco em algum lugar da área dos Três Estados.

– Parem com isso! – Gritei. – Josh!

Ele não me ouvia. Seu corpo estava ardendo em chamas, e seu crepitar enchia seus ouvidos. Genevra estava de olhos fechados, seu corpo escamoso inteiramente tenso. Eu não queria ver o que estava para acontecer. Concentrando toda minha mente, imaginei duas esferas de contenção, uma para Josh e outra para Genevra. No mesmo momento, o fogo ao redor de Josh começou a apagar. Os canos da nave pararam de ranger. Genevra ficou confusa, e Josh caiu no chão, imóvel.

Corri até ele.

– Eu não queria fazer isso! – Gritei, e soou como um pedido de desculpas.

– Mas você fez. – Shawus estava do meu lado, imóvel, e parecia mais sombrio do que nunca. – Como é possível?

– Como é possível o quê? – Esbravejei. – Tragam ajuda! Ele está pálido!

– Você criou uma barreira psíquica de contenção. – Explicou Shawus. – Que, ao mesmo tempo, era física. Por isso ela foi capaz de acabar com o ar ao redor de Josh, apagando seu fogo. E também cortou as conexões mentais de Genevra com a água da nave. Isso é... Incrível. Eu demorei anos para aprender a fazer isso. E você, sendo humana...

Lembrei-me da luta mental de minha mente alien e minha mente humana. Então era isso que queria dizer? Que eu agora tinha plenos poderes plêiades?

– Então... Josh vai ficar bem? – Indaguei, com a voz trêmula.

– Sim. – Shawus não parecia exatamente preocupado com isso. – Ele já voltou a respirar. Só vai precisar de alguns minutos para se recuperar.

– Ótimo. – Consegui sorrir. – Leve-o para a enfermaria.

Shawus assobiou, e um dos pufes flutuou com Josh até a porta magnética e desapareceu no corredor. Desculpe, eu mentalizei para ele. Será que eu podia fazer isso? Enviar mensagens mentais para as pessoas?

Shawus voltou para seu pufe e observou alguns monitores contendo o estado físico da nave. Orson foi até ele, bombeando-o com perguntas. Dallas e Kovu deram de ombros e sentaram e seus pufes, que criaram uma partida de videogame holográfica para os garotos. Genevra se aproximou de mim. Ela parecia triste.

– Desculpe. – Ela pediu, assim que se sentou ao meu lado. O chão da nave estava gelado, mas, onde Josh estivera o metal ainda estava morno. – Por... Toda essa briga, e tudo o mais. Eu não odeio inteiramente o seu namorado. A questão é que... Água e fogo, sabe?

Assenti, piscando demoradamente.

– Ele é mesmo seu namorado? – Ela insistia na conversa, e talvez fosse uma tentativa de não se sentir culpada.

– Eu não sei. – Respondi com sinceridade. Mesmo com meu super cérebro plêiade, a situação era extremamente complexa. – Eu gosto dele. Mas não consigo agir como se ele fosse o único... Com quem me importo.

Percebi que estava desabafando.

– Sei como é. – Murmurou Genevra. – Josh não pode exigir algo assim, considerando que você ainda não... Explicou a situação para Clark.

Ela sabia muito sobre a situação. Ou ela me espionava, ou já tinha vivenciado alguma coisa assim.

– Como você sabe tanto assim sobre situações amorosamente constrangedoras? – Perguntei.

Genevra fez menção de se levantar, mas eu a segurei pelo pulso.

– Você me deve – lembrei-a. – Você sabe mais sobre mim do que minha própria mãe.

A Vórtex da água suspirou.

– Quando conheci Kovu. – Disse ela. – Eu estava namorando o irmão dele, Kelu. Para começar, nem deveríamos nos aproximar tanto. Eu estava de passagem pelo planeta dele. Não deveria criar laços.

Ela pausou por um tempo, e pude ouvir a voz melódica de Kovu se dissolvendo em gritos histéricos de emoção devido à partida de videogame.

– Kelu era perfeito. – Continuou Genevra. – Era atencioso, gentil, o tipo de garoto que sabia me desconcertar completamente. Quando eu o ofendia, ele me elogiava. Quando eu batia nele, ele me beijava. – Ela parou para me encarar por alguns segundos, e eu guardei meu sorriso. Depois de socar meu ombro, ela prosseguiu. – Depois de um mês no paraíso, Kelu me apresentou à família dele. E, durante o jantar, Kovu apareceu, displicente e arrogante, faltando com respeito com seus pais, quebrando coisas porque tinha perdido uma aposta.

– O Kovu que eu conheço? – Eu estava realmente surpresa. – O angelical e certinho Kovu?

Genevra bufou.

– Kovu não precisou de mais de um olhar para se interessar por mim. E eu por ele. Por mais que Kelu fosse perfeito... Kovu fazia muito mais o meu tipo. Era um baderneiro. Era rejeitado por seus pais, odiado por seus parentes. Por mais que eu estivesse apaixonada por Kelu, não parecia errado me divertir com Kovu... Por um tempo.

Ela baixou a cabeça. O arrependimento era palpável.

– Kovu acabou achando que eu realmente gostava dele, e resolveu que seu irmão não era bom o suficiente para mim. – Ela parecia ter vontade de chorar. – Kelu foi desafiado por mim. Sem entender porque seu irmão estava me querendo com tanto afinco, ele foi até o local do desafio... Para conversar. – Lágrimas azuis brotavam de seus olhos. – Kovu o matou.

Senti minha respiração se prender involuntariamente.

– Meu luto durou um ano, como mandam as tradições de meu povo. – Genevra chorava em meu ombro agora. – Ao término desse tempo, eu ainda não estava totalmente curada, mas parti do planeta na primeira nave interestelar que pude encontrar. Acabei vindo para cá.

– E... – Tinha medo de olhar para Kovu, mesmo que ele ainda estivesse jogando. – O que houve entre vocês?

– Kovu veio me procurar. – Informou ela. – Como sempre, eu não tinha explicado a situação. Ele achava que eu simplesmente tinha ido embora quando soube da morte de Kelu, e não que tinha ódio por ele. Acabamos no encontrando numa taberna, há uns trezentos anos .

– Trezentos? – Quando você acha que toda essa loucura de alienígenas já é fácil de aceitar... Bum, vem sua amiga e diz que tem trezentos anos na terra.

– Os Vórtex, com a ilustre exceção dos Arianos, se originaram todos de um só planeta. Somos seres capazes de se unir com a energia Elemental. No início, todos nós éramos cascas sem poder algum. Mas, depois de um tempo vivendo em determinados locais onde um elemento específico predominava, acabamos nos separando em três raças: água, terra e ar. – Ela me encarou, para ter certeza que eu tinha entendido.

Eu só tinha pegado o principal.

– Enquanto você estiver num planeta com água, você é imortal?

– Eu não usaria essa palavra. – Ela sorriu. – Mas a água pode curar meus ferimentos, me alimentar e me recarregar melhor do que uma boa noite de sono, além de estender meu tempo de vida útil.

– Legal. – Murmurei. – Mas continue, você parou na taberna há trezentos anos.

– Eu pensei que você tivesse se esquecido. – Genevra riu. – Eu ataquei Kovu. Foi meio inútil, já que eu não conhecia nenhum meio de vencer um cara que tira sua energia do ar... Que está em todo o lugar daqui. Mas eu fiz isso por Kelu. Kovu entendeu. Ele não revidou, e finalmente tinha entendido a gravidade do que fizera. Ele sumiu assim que tinha batido nele até sangrar meus punhos.

Era uma história triste.

– Há uns cinqüenta anos, ele me achou de novo. – Genevra estava finalizando. – Me mostrou que estava melhor. Que tinha mudado. Mas eu nunca o perdoaria. Ele foi embora e... Nos encontramos aqui.

Kovu e Dallas tinham terminado sua partida e estavam rindo dos resultados. Ou havia acabado em empate ou aquela havia sido a partida mais épica de videogame de todos os tempos. Eu estava olhando fixamente para Kovu, com seu sorriso angelical e seus olhos calmos. Era impossível imaginá-lo como um genocida inconseqüente.

Mas não era aquilo que mais me incomodava na história de Genevra. Era o fato de que tudo aquilo havia acontecido por falta de comunicação. Por falta de ação por parte de Genevra. Era basicamente a minha situação agora... Com Clark e Josh.

Por mais insegura que me sentisse, resolvi que não deixaria isso acontecer.

– Obrigado por dividir isso comigo – Afaguei o ombro frio de Genevra. – Ajudou bastante. E... Desculpe por isso. Por fazer vocês dois se juntarem depois de tudo.

– Ah, sem problemas. – Genevra sorriu. – Estamos voltando a nos dar bem. Acho que, depois de tanto tempo,  já é possível superar os próprios erros.

Ela olhou para Kovu. Ela gostava dele.

Levantei-me e rumei para os corredores da nave, visitando cada compartimento até finalmente achar Clark. Ele estava na parte de cima da nave, onde o metal se tornava vidro, possibilitando a observação do céu lá fora. Estava claro, mas já era possível ver algumas estrelas se insinuando no azul-celeste.

Ele estava de costas para mim, observando pelo vidro. A claridade que entrava pela janela delineava seus contornos perfeitamente, fazendo a escuridão de seus cachos mais intensa e... Claro. Eu estava dificultando as coisas. De novo.

– Para onde estamos indo? – Murmurou ele, sem se virar.

– Para o norte, eu acho. –Respondi. Andei até o lado dele, fixando meus olhos nas nuvens que pareciam voar por nós. Seria mais fácil sem olhá-lo nos olhos. – Eu não sei. Não temos rumo. O plano só ia até resgatar você. Se conseguíssemos.

Clark riu.

– Com essa confiança, não vai conseguir vencer Kratos. – Eu sabia que ele estava olhando para mim, mas eu continuei prestando atenção no céu.

– Com ou sem confiança, não temos chance. – Deixei toda a minha frustração extravasar. – Kratos é só um imbecil, mas é um imbecil com um exército. Somos só um bando de adolescentes alienígenas numa nave.

– Então você vai desistir, Parker? – Ele usava um tom deliberadamente irritante. – Vai simplesmente observar o mundo acabar? Você é a intermediária, garota. A única capaz de tomar o partido da Terra nessa maldita guerra.

– Eu não pedi isso. – Foi só o que consegui dizer.

– Então tudo bem. – Ele agora andava de um lado para o outro atrás de mim. – Esse é o seu plano. Vamos nos esconder. Vamos viver por mais alguns anos até nos acharem. E aí morremos como covardes.

Eu nunca o tinha visto tão irritado. Virei-me, apenas para ver seus olhos verdes marejados.

– E o que diabos você quer que eu faça, Clark? – Explodi.

Clark sustentou meu olhar.

– Vença-o. – Ele disse, obstinadamente.

– Que parte do “exército” você não ouviu? – Indaguei.

– Um exército sem comandante não serve para nada. – Disse ele. – Confie em mim, os grayanos que me seqüestraram não estavam muito felizes em servirem a Kratos. Ele é um babaca. Sem o anel, ele não teria tanto apoio. Tire o anel dele. Devolva-o a seu pai. A partir daí, a guerra fica mais fácil.

– Como você planeja isso? – Inquiri.

Clark sorriu. Eu desejei não ter perguntado no mesmo segundo.

***

A nave chegou aos limites de Nova York, diminuindo a velocidade no mesmo momento.

Não, Kratos não estava lá. Ele estava, como Clark havia sugerido, comandando a invasão do centro do Triângulo das Bermudas, fora de alcance. Clark estipulou que aquela seria sua saída de emergência, caso suas tropas interestelares não conseguissem segurar meu pai. Mas isso não queria dizer que não pudéssemos deixar Kratos mais acessível.

O plano de Clark era louco. Era completamente improvável que desse certo. Seríamos nós contra um bilhão de alienígenas da pior espécie moral. Mas, como sempre, era a nossa melhor escolha.

A nave pousou na área rural de Nova York, aquela que faz fronteira com Nova Jersey. Como Clark previra, os humanos da maior metrópole do mundo estavam resistindo. Os invasores não conseguiram expandir muito seu terreno, e talvez isso estivesse atrasando os planos de Kratos. Pensar que eu deixaria os seres humanos sem esperança, sem ajuda, me fez amar Clark muito mais. Ele me fez fazer a escolha certa.

E agora era hora de ser igualmente honesta com ele.

Enquanto todos desciam da nave, eu segurei Clark pelo pulso.

– Nem pense em me impedir. – Ele disse prontamente.

– Eu não pensaria nisso – respondi – Eu só... Queria dizer uma coisa. Antes de...

– Vencermos esmagadoramente? – Riu ele. Havia tristeza em seu olhar.

– Isso. – Era mais fácil assim, com ele de bom humor. – Olha, sobre mim e Josh, eu só queria dizer...

– Que você o escolheu. – Completou Clark. –Saquei, Gwen.  Por mais que eu odeie isso, é a ele que você ama. E, se você gosta dele tanto quanto ele gosta de você, quem sou eu para impedir?

– Então porque você saiu quando nós nos... – Eu não conseguia dizer a palavra. – Naquela hora?

– Você não pode esperar que eu goste de ver. – Lembrou ele. – Me machuca, Gwen. Ver outro cara tão próximo de você. Eu só não queria ficar lá, assistindo.  Mas... Eu não te odeio. E também não odeio o Ariano.

Era tão bom ouvir aquilo.

De repente, eu me sentia pronta para enfrentar um exército inteiro.

– Então estamos bem? – perguntei.

– Claro, Cabeça de Lua. – Ele riu. – Agora, vamos explodir uns aliens!

Ele desceu pela plataforma, indo se encontrar com os outros. Depois de olhar para o sorriso que ele dava, tão genuíno, percebi que a conversa teve efeitos positivos para nós dois. Agora, eu só tinha outro problema com que me preocupar.

Virei-me, tentando me lembrar de onde ficava a enfermaria e tentando criar um discurso que transmitisse a confiança e a solidez que eu queria que Josh e eu tivéssemos. Então parei. Ele estava de pé à minha frente, perfeitamente bem. Sua pele tinha readquirido o tom saudável. Ele vestia uma camiseta preta justa sem estampa e jeans folgados. Eu não sabia onde ele tinha arrumado aquelas roupas, mas caíam muito bem nele.

– Roupas biológicas – Disse Josh, vindo em minha direção.

– O quê?

– São roupas biológicas. – Repetiu ele. – Seu irmão quem me deu. Elas se ligam à minha estrutura molecular. Ou algo assim. – Josh deu de ombros. – O importante é que não queimam quando eu pego fogo.

– Brilhante. – Eu olhava para seu abdômen definido, mas a palavra conseguiu fazer sentido. – Olhe, Josh, sobre o que houve hoje...

– Pelo amor de Deus, não diga que está terminando comigo.

A frase conseguiu fazer eu me sentir menos patética. Josh não era complicado.

– Não, Josh. – Falei eu, abraçando-o. – Sem términos hoje.

Ele retribuiu o abraço, rindo.

– Então, é verdade que vamos salvar o mundo hoje? – Ele perguntou por cima do meu cabelo.

– Esse é o plano. – Respondi, aninhado-me em seu peito. – Ou parte dele. Vamos precisar de toda a ajuda possível, Josh.

– Tudo bem. – Josh me beijou suavemente na testa. – Estou aqui para isso. Sou capaz de derreter aço, sabia?

Foi minha vez de rir.

– Incrível, garotão. – Deu um soco em seu ombro. – Vamos. Clark está contando seu plano para salvar a humanidade.

Nos juntamos aos outros, que ouviam o plano de Clark atentamente. Pude ver a incredulidade brilhar nos olhos de Kovu, mas ele não disse nada. Provavelmente não queria acabar com nossa esperança, assim como Genevra. Dallas pareceu animado. O garoto provavelmente estava se agarrando àquela chance de sobrevivência ao máximo. Orson se preservou neutro, e Josh parecia acreditar na possibilidade de o plano dar certo. Eu apenas tentei não demonstrar o quão assustada eu estava.

– Certo, esse é o plano. – Finalizou Clark. – Não espero que acreditem nele. Apenas sigam-no. Dêem o seu melhor. Com sorte, viveremos o suficiente para ver o plano dar certo.

Josh assentiu.

– Belas palavras. – Não havia sarcasmo em sua voz. – Vamos fazer esse plano funcionar, pessoal!

Houve alguns sorrisos, nenhum muito motivado.

Depois de alguns segundos de um silêncio constrangedor, Shawus abriu uma espécie de maleta. Dentro, no interior escuro e acolchoado, havia uma dúzia de braceletes.

– O que é isso? – Clark perguntou.

– Canhões retráteis de energia plêiade. – Respondi. – Shawus, você...?

– Não estão fazendo falta. – Ele se desculpou, rindo. – Bem, agora só precisamos definir quem vai e quem fica.

– Como assim...? – Então percebi que todos olhavam para Orson.

– Eu não vou ficar – Ele disse, compreendendo os olhares.

– Pai – disse Josh, tocando-o no braço. – Vai ser perigoso.

– Por isso eu vou. Para te proteger, Josh.

Josh estalou os dedos. Uma labareda flutuou sobre eles.

– Eu sou capaz. – Emendou o Ariano. – Pai, por favor...

– Doutor, Shawus pode ficar e cuidar do senhor. – Argumentei.

– Nem pensar – Disse Shawus. – Eu já arranjei encrenca suficiente vindo para cá escondido. Não quero olhar nos olhos do papai e dizer que não estava lá quando... Se...

Eu entendi.

– Tudo bem. – Resolvi. – Vamos todos. Ninguém fica para trás. Todos ajudam.

– Gwen... – Josh transbordava medo nos olhos.

Peguei em sua mão.

– Vamos protegê-lo. – Tentei soar confiante. Josh conseguiu sorrir.

Eu só não queria ter feito aquela promessa. Nós, os ET’s super poderosos, poderiam sair mortos dessa. Lutar contra hordas de mercenários e manter um humano sob nossa proteção... Resolvi não pensar nisso. Precisávamos de toda a ajuda possível.

– Você está ciente dos riscos, não está? – Perguntei para Orson.

– Sim. – Ele endireitou os óculos. – Josh, você entende, não é?

– Eu acho. – Foi só o que ele respondeu.

– Clark? – Virei-me para encará-lo nos olhos. – Você quer mesmo isso?

Em resposta, ele enfiou a mão na maleta e colocou um dos braceletes. O apetrecho se alongou até se tornar uma manopla prateada com um cristal esverdeado no centro, pulsando energia. Então respondeu, com os olhos transbordando excitação: 

– Eu sempre quis ter um desses.   

     

***

Havia uma chance, disse para mim mesma.

Tinha que ter. Eu caminhava pelas ruas do West Side, captando o silêncio ensurdecedor em meus ouvidos. Tudo parecia sem vida. Eu vivi em Nova York. Sem o barulho caótico e estranhamente familiar da cidade, parecia que estávamos em outro planeta.

E eu já estive em outro planeta.

Eu só consegui sentir uma coisa: tristeza. A maior cidade do mundo fora devastada. Seus habitantes estavam enfrentando uma guerra contra algo que não poderiam vencer. Contra algo que nem sabiam o que eram. Contra algo que só estava se divertindo enquanto seu chefe não dava a ordem de destruir tudo.

Todos os prédios ao meu redor estavam destruídos, seus restos espalhados pelas ruas, misturando-se com os carros tombados para formar obstáculos. Clark havia nos advertido para manter o silêncio. Ele não sabia porque a cidade estava tão quieta, mas não poderíamos alterar isso até chegarmos ao nosso alvo. O azul do céu ali, sobre a cidade, parecia opaco.

– São as naves – murmurou Orson ao meu lado, como se estivesse lendo minha mente – Elas ferem os gases do planeta. Uma frota um pouco maior e teríamos um rompimento grave na camada de ozônio.

– Ruim. – Comentei. 

– Muito. – Sussurrou ele de volta.

Era a primeira conversa que nosso grupo presenciou. Estávamos tensos demais para prestar atenção para algo além do farfalhar das árvores, da poeira dos escombros flutuando, das luzes dos alarmes dos carros piscando. Eu podia sentir, literalmente, Josh mantendo seu fogo aceso à minha direita. Clark cobria a retaguarda, com Shawus ao lado. Genevra e Dallas estavam no meio, e Kovu estava pulando sobre as ruínas dos prédios, varrendo a área. Ou deveria estar. Ele era silencioso demais para sabermos.

Depois de mais alguns minutos de uma caminhada silenciosamente torturante, chegamos ao túnel Lincoln. Após tanto tempo em silêncio, foi estranho ouvir ruídos vindos do outro lado do rio. Reptilianos. Eu me lembrava de ter ouvido sons assim quando um deles foi pego me espionando em Plêiade. Eram sibilos desconexos, grunhidos animalescos. A animação com que eram exprimidos sugeria que estavam dividindo os espólios.

– Chegamos tarde. – Murmurei.

As lágrimas embaçaram minha visão.

– Não para o mundo. – Foi a vez de Josh apertar minha mão. – Ainda há esperança, Gwen. Vamos vingar Nova York.

– Vamos vingá-la de minha incompetência? – Eu queria me encolher e chorar.

– Podemos fazer isso depois. – Josh riu. – Confiança, Gwen. É disso que você precisa. Sem passado. Sem futuro. Apenas o agora.

– E agora – Genevra disse, aparecendo ao nosso lado. – Vamos chutar a bunda de uns invasores.

Assim que terminou a frase, ela pulou para o rio Hudson, metamorfoseando-se em sua plena forma de Vórtex da água. Por onde ela passava, deixava um rastro de limpeza na água. A Fase Um do plano tinha começado.

Avançamos pelo túnel, correndo. Nossos passos reverberavam no silêncio, fazendo mais barulho do que deveriam. Na outra extremidade da travessia, os primeiros Reptilianos tomaram conhecimento de nossa chegada. Me concentrei em um deles e...

Josh foi mais rápido.

Uma labareda branca engoliu todos os Reptilianos, tão quente que eu comecei a suar. Ela persistiu por mais alguns segundos, e eu tive um fio de esperança que talvez pudéssemos vencer boa parte deles apenas com aquela labareda. O fogo enfraqueceu, então se extinguiu. Josh não parecia cansado ou suado. Suas mãos soltavam fumaça.

Quando a fumaça finalmente baixou, senti um calafrio espalhar-se por todo o meu corpo.

Eles riam de nós. Suas mandíbulas enormes se contorciam em sorrisos hediondos.

– Um Ariano – Ponderou um dos reptilianos, o maior deles. Sua voz era repleta de sotaque. – Pensei que tivéssemos matado todos. Pelo menos, esse que sobrou não é muito inteligente.

Josh avançou, mas eu o segurei pelo pulso.

– Não, plêiade. – O fato de ele saber o que eu era não era muito promissor. – Essa é a única forma de nos vencer. Somos lagartos. Sangue frio corre por nossas veias. Esse foguinho que ele fez? Foi agradável. – Ele se aproximou, brandindo um machado enorme. – Porém vou logo avisando: nossas armaduras são feitas do melhor aço existente nesse quadrante estelar. Seus tapinhas não vão nos machucar.

Os outros riram, e eu soube que tinham motivo. Sobre suas escamas esverdeadas e seus trapos que usavam como roupas, armaduras escuras e brilhantes se apresentavam imponentes. Seus capacetes eram moldados à suas cabeças de crocodilo. Suas mãos em formato de garras seguravam variados instrumentos mortais. Eles não podiam ser feridos. Nem queimados.

Eu já tinha perdido as esperanças, mas Josh não.

Ele ergueu as mãos novamente para o reptiliano líder. Enquanto este ria, pude ver as veias de Josh inflando sob a pele. Então, houve um som seco, como o de ar fritando, e um FOSSSH! O Ariano estava descarregando uma tempestade de fogo sobre os reptilianos, que não se mexeram.

– Não insista! – Gritou o líder reptiliano, sobre o som do fogo crepitando. – Somos invulneráveis ao fogo!

– Vocês, sim. – Admitiu Josh. – E suas armaduras? São resistentes ao fogo?

Os olhos ofídicos do reptiliano se arregalaram, então ele tentou avançar em Josh. Mas este intensificou o fogo, empurrando-o de volta. Pude sentir o calor se tornar agressivo, tão potente que o asfalto começou a derreter. Então, subitamente, Josh cessou fogo.

Houve um segundo de silenciosa surpresa enquanto nossos olhos processavam o viam: centenas de estátuas grosseiras de metal, algumas ainda se mexendo. 

– Josh, você... Você...

– Nunca subestime o poder de um ariano. – Murmurou Josh. Sua voz estava sufocada, mas ele conseguiu sorrir.

– Hã... – Dallas disse. – Sem querer diminuir o feito grandioso e tal, mas... Temos mais inimigos com quem lidar.

Olhei na direção que ele apontava, e percebi os invasores restantes se aproximando. Grays e reptilianos. Algumas naves que sobrevoavam o Empire State começaram de descer. Eles ainda estavam aturdidos. Era nossa hora de atacar.

– Tomem posições! – Gritei, sentindo-me confiante. – Atacar!

As mãos de Josh começaram a brilhar e, antes que ele soltasse mais uma rajada de fogo, Dallas tomou sua forma DAL e submergiu no asfalto. Clark acertou seus primeiros tiros nos inimigos, assim como Orson e Shawus. Quando uma nave estava próxima o suficiente para atirar, ela foi recortada por nada, como se o ar estivesse se curvando em lâminas. Kovu.

Resolvi parar de observar a guerra e atacar.

Centralizei minha energia mental ao redor, sentindo minha própria mente se expandindo para fora de meu corpo. Tudo estava ao meu alcance, e eu sabia diferenciar inimigos de amigos. Foquei os inimigos e dei o comando: esmagar. Houve dezenas de estalos ao meu redor, e eu senti o dever cumprido.

Agora eu tinha de fazer aquilo de novo, mais umas trezentas vezes.

Levantei-me no ar, usando minha mente para me manter fora do solo. Não era difícil, desde que eu estivesse mantendo uma parte de mim concentrada nisso. Uma vez no ar, comecei a usar minha mente para varrer os inimigos, literalmente. Eu só precisava mover o braço e hordas voavam para trás, como se atingidas por ondas de energia invisíveis. Josh estava fritando todos, avançando lentamente. O chão fervilhava enquanto colunas de terra emergiam do solo como pistões e naves espaciais fatiadas caíam.

Aquilo era uma guerra. Uma genuína guerra.

Algum tempo vitorioso se passou, até que os inimigos começaram a se reagrupar. Alguns Grays com poderes mentais formavam escudos que retardavam meus ataques, e Josh não conseguia derreter armaduras rápido o suficiente. As naves começaram a dar tiros para o nada, procurando por Kovu.

Então foi a vez de Genevra atacar.

Os canos de toda a cidade se romperam, formando vários gêiseres. Seria um ataque inofensivo, caso Genevra não estivesse transformando a água em gelo instantaneamente. Os reptilianos recuaram, e lanças ocasionais de gelo empalavam Grays. Um gêiser maior surgiu no meio da Rua 33, e Genevra pulou dele com seu sabre de coral transformando-se num arco de destruição. Estávamos vencendo novamente.

Concentrei-me em levitar objetos agora. Usava pedras, carros, o que estivesse ao alcance para esmagar os inimigos. Tomando cuidado para não acertar os combatentes do meu lado, consegui eliminar boa parte dos inimigos. Mas mais surgiam. Eles saíam do Empire State, que havia se transformado em sua base. As naves descarregavam sua munição em nós, que tínhamos que tomar cuidado com ataques em terra e em ar. Por mais que os Vórtex fossem eficientes, eles não conseguiriam manter aquele ritmo para sempre.

Como que esperando que eu pensasse nisso, Kovu despencou do céu como um cometa com penas. Minha preocupação com ele deixou meu escudo mental mais fraco, possibilitando que o impacto de uma bomba me atingisse. Eu voei alguns metros para trás e aterrissei nada gentilmente no chão. Eu estava completamente cortada e ralada, mas consegui me por de pé. Nossos inimigos avançaram, e eu percebi que Josh tinha parado de derretê-los. Ele estava vindo em minha direção.

– Você está bem? – Ele me apalpou, como que para ter certeza de que eu estava ali.

– Eu acho. – Murmurei. – Volte para lá, Josh. Estamos precisando de você.

– Não sei se posso continuar. – Ele murmurou. – Meus braços estão ardendo. Eu nunca senti isso antes, Gwen. Me assusta.

Era desesperador saber disso.

Mas eu não tive tempo para tentar animá-lo. Outra bomba explodiu aos nossos pés, e nós seríamos feitos e pedaços se Josh não tivesse feito um escudo de fogo ao nosso redor. Mas foi demais para ele. Assim que o impacto se dissolveu, ele caiu no chão, inerte. Ele não respirava.

– Josh! – Gritei, agachando-me sobre ele. Seus olhos estavam revirados.

Outra granada explodiu próxima a nós, e desde vez foi uma parede que nos salvou. Dallas estava levantando um muro entre nós e as explosões. Ele ergueu-se do chão à nossa frente, tocando o muro de terra como se estivesse segurando-o. Outra explosão sacudiu o chão, e eu notei que pareciam estar surgindo do chão.

– Meus parentes. – Murmurou Dallas, entre dentes. – Eles estão por aqui. – Ele virou-se para mim. – Não vou conseguir detê-los, Gwen. Eles são... Fortes... Demais.

O muro explodiu. Fomos lançados para trás, e eu me vi sozinha com um alienígena inconsciente e outro incapacitado. Dallas parecia doente, fraco e frágil, como um jarro de barro. Uma substância marrom escorria por sua testa.

Dos destroços do muro de Dallas, surgiram três formas.

Eram DAL’s, eu podia dizer pelos olhos amarelados e as pupilas estranhas. Mas estavam nas formas humanas. O do meio, vestindo uma armadura de rocha sólida e polida, era o mais velho. Parecia ter uns trinta anos, era alto e musculoso e tinha os cabelos ruivos amarrados num rabo de cavalo sob o elmo. Os outros pareciam cópias do primeiro, com as mesmas roupas, só que mais novos; o da esquerda parecia ter vinte e cinco anos, e o da direita parecia ter quinze. Eles me lembravam Dallas em seus traços faciais.

– Ora, ora, ora – Zombou o mais velho. – O fraco retornou.

– Fraco. – Disseram os outros dois em uníssono.

– Posso ser fraco, Daryl, mas não estou lutando pelas causas erradas. – Respondeu Dallas. – Você não vê?  Estamos lutando por nosso orgulho contra os plêiades! É vergonhoso, irmão.

– Cale-se, fraco! – Daryl se aproximou, retirando o elmo. – Você falar em orgulho chega a ser engraçado, não é? Você só está do lado deles – Ele me encarou como se tivesse nojo de mim. – Por causa de nosso pai. Sua fraqueza o fez desafiá-lo. Ele morreu de desgosto quando você partiu! Fraco!

– Fraco! – Adicionaram os mais novos.

– Parem de chamá-lo de fraco! – Gritei eu.

Um pistão de terra me atingiu na barriga.

– Não lhe dirigi a palavra, verme. – Disse Daryl. – Espere sua vez.

Ele se aproximou de Dallas, que parecia sem ação. A notícia da morte de seu pai pareceu deixá-lo simplesmente espantado demais para fazer qualquer coisa.

– Não deixe eles te machucarem, Dallas! – Tentei me por de pé, mas a pancada mais recente havia tirado todo o ar de meus pulmões. – Eles são os fracos! Eles têm inveja de você porque seu pai te amava mais do que eles!

Eu havia inventado aquilo, mas parecia ser verdade. Daryl me encarou como se estivesse considerando mudar de alvo. Eu ignorei o olhar mortal de Daryl.

– Dallas, você não é fraco. Você é o DAL mais corajoso de todos. – Tentei libertá-lo do transe. – Você pode vencê-los, Dallas. Ignore o que eles pensam sobre você. Seu pai te amava, Dallas!

Um pistão de terra ergue-se do chão, mas não chegou a me acertar. Dallas não estava olhando para mim, mas eu podia ver a fúria em seus olhos. Daryl ficou tão surpreso que deixou seu pistão de terra se dissolver.

Dallas mirou a mão em Daryl, e eu percebi sua armadura tremendo.

– Boa tentativa, fraco. – Riu-se Daryl. – Mas essas araduras não podem ser destruídas. Foram confeccionadas por nosso pai. Apenas ele pode...

Uma rachadura surgiu na placa de sua armadura, e ele emudeceu.

– Não... Não é possível! – Gritou Daryl. – Você não é capaz disso! Você é fraco, fraco!

– Fraco! – Adicionaram os irmãos de Dallas.

Mas ele não estava mais ligando para isso. Com o fechar de seu punho e um nauseante Crack, seus três irmãos foram suprimidos por suas próprias armaduras. Dallas não pôde aproveitar o momento. O esforço o exauriu, e ele caiu no chão, inerte.

Agora eu estava sozinha com dois alienígenas inconscientes e um exército se aproximando.

Senti uma presença atrás de mim. Clark, Shawus e Orson. Shawus carregava o corpo de Kovu, que não parecia nada bem. Suas asas estavam retorcidas e seus olhos estavam tão revirados quanto os de Josh. Genevra também estava sem forças. Ela recuou até nós, usando o que restavam de sua energia afastar as primeiras tropas. Mas era só. Os tiros dos canhões não seriam capazes de manter aquele exército inteiro afastado, mas os três continuavam atirando.

Ninguém trocou uma palavra. Genevra sentou-se perto do corpo de Kovu, lágrimas azuis vertendo de seus olhos. Clark continuava atirando, seu olhar fixo nos inimigos. Eu segurava a mão de Josh, que estava fria como metal. Havia apenas a erteza pairando por nós: morreríamos sem nem chegar à metade do plano. Não seria culpa de Clark, e sim da força de Kratos.

Seríamos vencidos. Nossos esforços não seriam considerados.

Outros pensamentos depressivos ocuparam minha mente. Meus pais. Eles nunca saberiam o que houve. Eu morreria como uma ninguém. Como uma indigente. E minha história como heroína nunca seria lembrada.

Então houve um som.

Era um grito. Pensei que era meu, mas então vieram outros como o primeiro. Não eram gritos alienígenas. Eram humanos. Gritos humanos carregados de esperança.

Olhei para trás, apenas para ver um exército surgindo dos escombros, saindo do túnel Lincoln, subindo das margens do rio. Humanos. Humanos armados com facas, pistolas e até bazucas. A resistência humana ainda estava ali. Ainda estava firme. Eu havia dado a eles um novo motivo para lutarem.

Eles avançaram como uma enxurrada, chocando-se com os invasores antes mesmo que eles chegassem a nós. A surpresa fez com que a maioria deles se esquecesse de que tinha armas de destruição em massa. Talvez eles até se lembrassem, mas aqueles seres humanos com rostos enraivecidos podiam paralisar qualquer um.

O exército inimigo recuou. E recuou. E, só no Empire State, eles começaram a reagir. Mas não conseguiam se organizar. Havia gente de mais.

Senti meus olhos exprimirem toda a minha felicidade com lágrimas involuntárias. Clark riu como se não conseguisse acreditar, e Genevra conseguiu ignorar o estado de Kovu por um instante.

Um dos combatentes veio até nós. Depois de nos observar atentamente, se apresentou.

– Sou o General Steel – Ele bateu continência. – Líder da resistência. Eu não sei quem ou o que vocês são, mas deram a meus homens um novo ânimo para lutarem. Eu normalmente perguntaria como diabos vocês fizeram tudo aquilo, mas não há tempo. Vocês têm um plano, não tem?

– Sim, senhor. – Disse Clark. Ele estava recuperado do êxtase do quase-morte mais rápido do que nós. – Precisamos chegar à torre de transmissão do Empire State.

– Entendido. – Ele assentiu. – Vejo muitos soldados fora de combate por aqui. Algo que possa fazer?

– Eles só precisam de descanso. – Respondeu Genevra, fazendo seu sabre de coral brotar de suas mãos. – E o loirinho precisa ser jogado numa fogueira. O resto de nós pode ajudar.

O General não discutiu. Virou-se para um combatente qualquer eu passava e pediu que lhe fizesse uma fogueira. Depois de nos certificarmos de que os feridos seriam devidamente cuidados, Genevra, Clark, Orson e eu avançamos.

A resistência sabia o que estavam fazendo. Eles sabiam como incapacitar reptilianos a despeito de suas armaduras e matar o Grays com facilidade. Conseguimos dominar o prédio em algumas horas sofridas. Ao fim do dia, Manhattan era nossa novamente.

Chegamos à sala de transmissão, que havia sido artesanalmente confeccionada no último andar do Empire State. Havia um enorme monitor, mas Clark o descartou. Só precisaríamos de uma mensagem de voz. Depois de configurar o destinatário corretamente, Clark pediu para que eu falasse ao microfone. Depois de juntar todo o estresse daquele dia em minha garganta, desafiei Kratos, o senhor dos Grays:

– Espero que esteja vendo seus exércitos correndo, Kratos. – Disse eu. – Se acostume com a imagem, porque isso vai se repetir. A não ser que queira ser terrivelmente humilhado por um bando de adolescentes, aceite meu desafio; eu, Gwen Dobrev Parker, herdeira do povo plêiade, desafio-o, para restaurar a honra de meu pai e de meu planeta. Eu vou entender se estiver com medo, mas seria legal você adiantar seu chute no traseiro. Tenho andado ocupada.

Clark riu nervosamente.

– Estamos tão ferrados.

***

A noite se arrastou.

A maioria de nós tirou a noite para descansar, principalmente os humanos. Josh havia acordado, mas não conseguia se levantar. Clark dormiu como uma pedra, assim como Orson. Genevra passou toda a noite com Kovu, acompanhado sua recuperação. Depois de me certificar de que Dallas estava vivo e respirando, fui até uma das janelas do qüinquagésimo andar do Empire State, observando as estrelas.

Se tivéssemos sorte, a Fase Dois seria completa com sucesso. Kratos aceitaria meu desafio e eu poderia recuperar o anel de meu pai. Se tivéssemos azar, o que poderia acontecer, Kratos mandaria suas frotas para destruir Nova York conosco dentro. Tudo agora dependia da burrice do comandante dos Grays, que não era tão grande assim.

Mas eu rezava para que fosse.

– Você deveria dormir. – Era Shawus. – Vai salvar o mundo amanhã.

– Não consigo apagar a ideia de que vou ser executada amanhã. – Respondi. – Não me peça para dormir, Shawus. Por favor.

Ele meneou a cabeça em sinal afirmativo.

– Então apenas se sente. – Uma cadeira flutuou até mim quando ele disse as palavras. – Mantenha seu corpo forte.

Eu o encarei. Ele estava aceitando uma ideia minha?

– Tudo bem. – Relaxei na poltrona, sentindo os músculos relaxarem. – Se você alguma coisa... Qualquer coisa... Me avise, ok?

Ele sorriu e afagou meus cabelos.

– Sim. – Sua voz parecia distante. – Descanse. Eu cuido disso.

Então eu ouvi o comando em minha mente: durma. Não pude resistir. Sentindo os olhos pesados, afundei-me em minha própria inconsciência.

***

Não tive sonhos.

Acordei no dia seguinte, sentindo-me completamente revigorada. Eu não me sentia bem assim desde minha última noite de sono quando ainda pensava que era humana. Fora um sono inocente. Fora um sono simplesmente mágico. Eu deveria estar grata a Shawus por ele, mas...

– Shawus! – Gritei, levantando-me da cama. Sim, uma cama. Ele havia me transferido. – Eu disse que não queria dormir!

Saí do quarto, de repente ciente do silêncio ao meu redor. Enquanto descia as escadas freneticamente, comecei a imaginar várias teorias: eu estava morta, todos haviam morrido, todos estavam presos pelos homens de Kratos e ele estava apenas se divertindo comigo. Então todas as teorias se esvaíram quando achei todos os meus amigos e boa parte do exército humano de resistência observando pelas portas duplas de vidro do saguão principal.

Imediatamente, beijei Josh, abracei Clark e aceitei um soco muito bem dado em Shawus.

– Você não deveria ter feito isso. – Lembrei.

Shawus sorriu.

– Mas eu fiz. – Respondeu ele. – Você não perdeu nada, Gwen. E está recuperada. Na verdade... – Seus olhos se dirigiram à por alguns segundos – Você acordou a tempo da ação.

Pude sentir o medo em seus olhos, e corri para a porta.

Eu não sei bem o que esperava de Kratos.

Depois de ver seus consangüíneos, achei que ele fosse um Gray muito mais feio. Mas estava errada. Ele tinha a fisionomia de um fisiculturista humano, sem genitais e com a pele cinzenta. Seus olhos haviam reduzido de tamanho, mas dobrado a intensidade. Sua cabeça sem cabelos era menor e muito mais proporcional. Seus dentes brilhavam em um sorriso cínico. Ele se aproximava pela Broadway, andando casualmente enquanto empurrava carros tombados como se fossem folhas secas. Ele não usava roupas ou acessórios além de um ponto dourado em um dedo de sua mão direita.

O anel de meu pai.

– O anel o deixou mais forte. – Murmurou Shawus. – Sua mente agora flui por todo o seu corpo, e não apenas em sua cabeça. Ele...

– Ele é invencível. – Completei. – Bem, é isso. – Olhei para todos ao meu redor. – Me desejem sorte.

Josh me beijou ardentemente, e eu fui abastecida com mais confiança do que teria normalmente. Todos me deram tapinhas nas costas, e Clark acenou com a cabeça enquanto eu saía. De alguma forma, ele tinha conseguido transmitir sua própria fé em mim num único olhar.

Comecei a andar pela Broadway, em direção a Kratos. O sorriso asqueroso dele conseguiu se tornar pior.

– A híbrida! – Gritou ele para mim. – A última esperança da Terra! Que tal deixar seus amiguinhos lutarem comigo antes, hã? Assim você pensaria com mais respeito numa possível rendição.

Como resposta, comecei a correr em sua direção.

– Sem diálogos? – Zombou Kratos. – Que tipo de heroína é você?

Com uma risada estridente, ele avançou contra mim. Pude sentir seus passos fazerem o chão tremer. Pude sentir a força de sua mente se tornando mais palpável. Mas eu apenas estava tentando encontrar meu poder plêiade. Centralizar a energia e... Canalizar.

Antes mesmo que pudéssemos nos tocar, nossos campos mentais se retardaram, atirando-nos nas direções opostas. Enquanto me recuperava, pude sentir Kratos tentando invadir minha mente. Que descarado. Concentrei mais minha força mental, criando um escudo independente. Agora eu precisava cansá-lo.

Arremessei um carro contra Kratos, que se partiu em milhões de pedaços antes mesmo de tocá-lo. Levantei metade de um prédio e deixei cair nele, mas tudo o que consegui foi espalhar poeira. Era inútil.

– Por favor. – Murmurou ele. – Morra de forma honrada.

Alcei vôo, mais para tentar pensar do que para começar uma batalha aérea. Kratos me seguiu, e começamos a brincar de pega-pega nos céus da área dos Três Estados. Eu já estava ficando fatigada, mas Kratos ria mais a cada vez que eu era forçada a desviar dele. Ele não ficaria cansado apenas tentando se erguer. Se eu pudesse... Fazê-lo erguer alguma coisa maior.

Levantei minha altitude. Começou a ficar frio, mas consegui criar um campo de calor ao meu redor. Esse campo também permitiu que eu saísse da atmosfera terrestre sem sofrer avarias. Estávamos no espaço. Eu respirava normalmente, mas não sabia por quanto tempo. Tinha de fazer aquilo rápido.

Comecei a voar mais rapidamente no local sem gravidade, mas aquilo não seria o suficiente. Mentalizei propulsores enormes me impulsionando, e minha velocidade se multiplicou em cem. Kratos teve de se esforçar para me acompanhar, e aquilo já estava realizando boa parte do plano. Enfim, diminuí minha velocidade.

Estávamos no cinturão de asteróides que dividia o Sistema Solar e dois. Era absurdamente distante da terra, e eu mesma fiquei impressionada com meus poderes. Meus pulmões começaram a fazer força para respirar. Eu tinha de correr contra o tempo agora.

Entrei no cinturão, desviando dos meteoros em velocidade lenta. Kratos entrou logo atrás. O plano consistia em forçar Kratos a usar seus poderes mentais ao máximo possível. Isso talvez o cansasse. Talvez não funcionasse, mas era minha melhor escolha.

Comecei a fugir. Kratos veio logo atrás, e, conforme a velocidade aumentava, ele começava a se chocar com os meteoros. Ele não sofria danos, mas sua mente seria desgastada. Podia até parecer, mas aqueles meteoros estavam a uma velocidade enorme. E assim continuou por um tempo que pareceu uma eternidade, até que o ar não entrava mais em meus pulmões.

Se o plano tivesse dado certo ou não, eu teria de finalizá-lo.

Imaginando o dobro de propulsores agora, me dirigi de volta à Terra. Não estava ligando se Kratos estava vindo atrás de mim ou não. Eu simplesmente queria chegar lá. O ar começou a desaparecer. Quando eu finalmente passei pela atmosfera terrestre e pude desfazer meu campo de força, fiquei inconsciente por alguns segundos.

Voltei à consciência quando uma dor lancinante explodiu em meu ombro direito. Eu havia caído no chão, em cima de uma estaca de ferro. Por sorte, ele estava alojado num ponto não-mortal. Por azar, era um ponto que me prendia. E que poderia se tornar mortal se eu continuasse perdendo sangue.

Kratos aterrissou em algum lugar próximo. Eu não podia vê-lo, mas sua risada o revelava. Minha visão estava embaçada, mas eu percebi que estava em Nova York, numa área devastada do East Side. A estaca doía ainda mais se eu tentasse retirá-la, então tudo o que eu pude fazer foi choramingar de dor.

Boa parte de mim queria desmaiar. Mas eu não iria dar esse prazer a Kratos.

– Boa tentativa, plêiade. – Riu-se Kratos. – Mas você precisa de muito mais para cansar essa mente aqui.

Gemi em resposta. Eu me sentia patética.

– Agora... Que tal aquela rendição? – Ele se posicionou à minha frente. – Você é poderosa. Assumo isso. Imagine o que poderíamos fazer juntos? As pessoas que poderíamos manter vivas?

Gritei. A dor e raiva se misturaram. Ele estava tentando me chantagear?

– Desculpe – Gritou alguém, uma voz que se aproximava rápido. – Ela está comprometida!

Uma bola de fogo atingiu Kratos, mas este a segurou com as mãos nuas. Então eu percebi. Não era só uma bola de fogo. Era Josh. Kratos o segurava pelo pescoço, extinguindo seu fogo. Josh não olhava para o alienígena assassino que o segurava, mas sim para mim. Seus olhos pareciam se desculpar. Então eles se fecharam.

Josh caiu no chão, inerte.

– Mais alguém? – Urrou Kratos.

Uma montanha se ergueu para atingi-lo, mas ele se desviou. Com um soco no chão, Kratos conseguiu retirar Dallas do subsolo e descordá-lo. Kovu tentou um vôo rasante, mas Kratos só precisou formar uma parede metal para nocauteá-lo. Genevra tentou usar a distração para furá-lo com seu sabre, mas este se partiu. Kratos só precisou de um empurrão para vencê-la.

E o silêncio reinou.

Eu observei meus amigos, meus melhores amigos, sucumbirem. Eu poderia salvá-los. Poderia evitar mais sofrimento. Meus lábios formaram as palavras, e eu estava pronta para cuspi-las quando Kratos foi sacudido por um tiro de canhão. Com a distração, percebi que Kratos estava influenciando minha mente.

Desgraçado.

O tiro parecia ter vindo de lugar nenhum, o que confundiu tanto a Kratos quanto a mim. Outro tiro o atingiu, vindo de lugar nenhum. E mais outro. E mais outro. Então, do nada, surgiu um garoto de cabelos cacheados e roupas rasgadas empunhando um canhão retrátil. Clark. Ele disparou mais um tiro e, quando Kratos tentou varrê-lo com seus braços, ele desapareceu para surgir atrás dele. Mais um tiro foi disparado, e Kratos desabou.

Clark reapareceu à minha frente, seu olhar preocupado observando cada parte de mim.

– Você está... – Ele percebeu meu ferimento. – Não, não está.

– C-como... – Meus lábios tremiam. – Como você fez isso?

– Fiz o quê? – Indagou ele. Então o brilho de reconhecimento passou por seus olhos, e ele ficou estático. – Eu... Eu não...

Foi um momento de distração que não podíamos ter. Kratos surgiu atrás dele, numa aproximação sorrateira, socando Clark para longe. Tentei seguir sua trajetória com os olhos, mas a estaca de metal limitava meus movimentos. Agora eu sentia ódio de Kratos. Mais ódio do que eu imaginava ser possível. Seu sorriso despertava em mim desejs assustadores de vingança. 

– Então... E aquela rendição? – Seu rosto estava bem próximo ao meu, e eu pude sentir seu fedor.

Cuspi em seu olho direito.

– Nunca.

Ele piscou por alguns segundos. Então se afastou.

– Péssima ideia.

Ele mirou o anel dourado em mim, e eu pude sentir sua energia sendo direcionada. Eu seria explodida.

E, justamente quando eu queria que tudo fosse bem rápido, o tempo começou a passar mais divagar. Pude ver novamente meus amigos abatidos. Pude ver todo o cenário de destruição novamente. Pude sentir minha esperança sendo destruída pela aceitação de que morreria naquele momento. Então ouvi uma voz em minha cabeça.

Agüente firme, disse a voz. Era meu pai.

Mesmo naquele milésimo de segundo que me separava da morte, pude sentir o efeito caloroso de sua voz. Ainda poderíamos vencer. Meu pai estava ali. Se eu pudesse trazer o anel para ele... Uma tempestade de idéias surgiu em minha mente. Todos os momentos e idéias se misturaram, e eu tive um flashback de toda aquela loucura, desde seu início. Então eu me lembrei.

Quando Clark e eu invadimos a escola em busca de pistas sobre minha origem, eu havia colocado a chave do zelador da escola em seu bolso apenas com o poder da mente. Eu podia tentar algo assim. Não pensei se o escudo mental de Kratos o protegeria disso. Apenas... Fiz.

Centralizei a estaca de metal que me perfurava em minha mente. Então olhei para Kratos. Ele tinha baixado a guarda enquanto olhava para a enorme nave prateada que surgia no horizonte. A nave de meu pai. Ele estava distraído. Era a minha chance. Imaginei a estaca de metal no peito de meu inimigo.

Crunch.

Kratos caiu. Não queria ver de que modo, não queria saber se tinha caído permanentemente. Arranquei o anel dele e corri em direção à nave que aterrissava. Todo o meu corpo se negava a fazer o esforço, mas eu continuava. Tudo doía. Eu não conseguia exprimir aquela dor em gritos porque meu cérebro simplesmente não conseguia pensar em mais nada senão correr. Correr. Correr.

Quando estava a quinhentos metros da nave, comecei a saltar usando minha mente para me impulsionar para frente e para cima. Agora só faltavam vinte metros. A porta frontal da nave se abriu, emanando luz de seu interior. Uma rampa projetou-se dela, e um homem começou a descer.

Meu pai em sua forma humana.

Ele tinha cabelos loiros, como os meus, e olhos brilhantes. Sua pele era bronzeada e saudável, e seu rosto parecia adaptado para sorrir. Era isso que ele fazia agora. Por mais que sua armadura biológica fosse medonha, seu sorriso conseguia superar isso. Corri para ele. Corri mais e mais, sentindo minhas pernas fraquejarem, meus olhos soltarem as primeiras lágrimas. Sentia o êxtase da vitória, da sobrevivência.

Então algo aconteceu.

O sorriso de meu pai começou a se dissolver. Sua expressão tornou-se confusa, e todo o seu corpo desmoronou. Ele rolou rampa abaixo, até estar aos meus pés. Uma poça de um líquido esverdeado se formou debaixo de meu pai, e eu reconheci o líquido. Era sangue.

E, alojada em seu peito, estava a estaca de ferro, cruel e insensível como aquele que a jogara.  

  

                         


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