O Clube 5 escrita por marvinkira


Capítulo 9
A Humilhação de Pedro




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Lilith me puxou pelo braço em direção do centro do parque. Tinha uma roda não tão gigante, uma pequena montanha russa, entre outros brinquedos.

-Você está me levando para onde? – perguntei.

-Oras, pro carrossel. – Lilith respondeu rindo.

-Ótimo. – respondi irônico.

“Essa vampira é fraca como você. Vocês dois combinam muito bem” – ouvi a voz da besta na minha cabeça.

-Mas o que diabos? – tomei um enorme susto com aquilo.

-O que foi? Não gosta do carrossel? – Lilith perguntou.

-O que? Não. Não foi nada. Eu acho. – respondi para ela, que ficou me olhando intrigada.

“Mentir é feio, Tiago. Não devia fazer isso, principalmente para pessoas importantes para você. Mas, se você continuar assim, eu vou acabar gostando de você. HAHAHAHAHA” – a Besta apenas estava brincando comigo.

-Você é irritante. – sussurrei para que Lilith não ouvisse.

Sentamos-nos em um tipo de xícara que tinha no carrossel. Lilith ficou abraçada comigo, na hora, fiquei totalmente sem graça. Tinha uma família sentada junto com a gente. O homem e a mulher nos olharam sorridente e sorrimos de volta. Foi então que Lilith virou o rosto para o meu e sussurrou.

-A Besta está falando com você? – ela perguntou em um sussurro.

-Como você sabe? – perguntei.

-Você é esquisito até certo ponto, mas falar sozinho já é demais. – Lilith respondeu rindo.

-Obrigado pela parte que me toca. – respondi irônico.

“Hehe gostei dessa garota”

Depois de alguns minutos girando no carrossel, o brinquedo finalmente parou.

Saímos e fomos até a barraca de tiro. Para surpresa de todos, Lilith atirou nos cinco frascos de vidro para ganhar um enorme ursinho de pelúcia, e com a maior facilidade do mundo.

-Você vai aprender a atirar assim também. – ela me disse sorrindo.

-Aonde você quer ir agora? – perguntei.

-No carrinho de horrores. – ela disse – E você?

-Vou aos espelhos mágicos. – respondi.

-Não se preocupe você pode ver seu reflexo. – ela riu.

-Eu sei, por isso quero ir. A gente se encontra perto do pipoqueiro. – eu marquei com ela.

Fui caminhando com as mãos no bolso, em direção da casa onde ficavam os espelhos, quando ouvi uma voz conhecida e irritante atrás de mim.

-Autista. O que faz aqui sozinho? – era Pedro.

Não virei para olhar aquela cara feia dele, continuei seguindo em direção da casa dos espelhos.

“Você não gosta nem um pouco desse humano. Eu posso sentir isso.”

-Autista, está me ouvindo? – Pedro continuou – Cadê a gatinha da sua prima?

Pedro começou a me seguir. Entrei na casa dos espelhos, provavelmente eu iria escapar dele lá. E ele entrou também.

Fui caminhando entre os espelhos mágicos. Os reflexos distorcidos e estranhos que eles formavam de mim, davam um clima bizarro à ocasião. Senti alguém bater no meu ombro e me virar. Era Pedro.

-Autista. Quando eu penso que só iria te ver amanhã, você aparece aqui no parque. Está sozinho? – ele me perguntou.

-Infelizmente. – respondi – O que você quer?

“Esse cara quer problemas. Eu posso ouvir os batimentos cardíacos dele. Rápido e furioso. Ele está com muita raiva. Você pode ouvir também, não é? Tiago.”

A Besta tinha razão. Só pelos batimentos de Pedro, dava para ver que ele queria confusão. E pelo seu rosto, ele realmente estava com raiva.

-Eu vim aqui só para saber. – Pedro respondeu – Por que você fez aquilo com a minha deusa?

-Como é? Deusa? Que Deusa? – perguntei.

-A Patrícia. Por que você fez aquilo com ela? Ela está tão furiosa e me pediu para que eu te matasse. – Pedro, ao falar isso, puxou uma faca do casaco que usava.

-Opa. Calma aí. Eu não fiz nada. – eu disse, mas parecia que Pedro não me ouvia.

“Essa Patrícia o persuadiu. Que humano babaca.”

Pedro tentou me cortar com a faca, mas eu me desviei. Quando ele tentou de novo, eu me desviei e segurei seu braço.

Devido o fato de eu ser bem mais forte que Pedro, apertei seu braço, para que ele soltasse a faca, o que ele fez.

-Calma Pedro, eu não quero te machucar. – eu disse e depois soltei o braço dele.

Pedro ficou alisando o pulso, onde eu tinha apertado e ficou me olhando.

-Você se acha melhor só porque saiu com a deusa e depois a largou. Isso não é justo. – Pedro gritou comigo.

-Eu não larguei ninguém, foi a Patrícia que me largou. – eu respondi – A Patrícia está te enganando.

-Mentira. A minha deusa nunca faria isso comigo. – Pedro gritou.

-Calma. – eu disse para ele abaixar a voz.

-Calma nada. Eu não sou como você, Tiago. Eu não sou fraco como você. Eu não deixaria minha deusa como você. Foi por sua culpa que sua mãe se matou. Você é o culpado de tudo. Eu te odeio por isso. – Pedro gritou mais ainda.

As palavras de Pedro me trouxeram antigas lembranças que eu queria ter esquecido. Meu pai tinha acabado de sair para o serviço e eu estava sozinho com a minha mãe, em casa.

Na época eu era muito pequeno e meus pais estavam sofrendo uma crise no relacionamento. Minha mãe tinha sofrido um aborto natural, o feto dentro de sua barriga estava morto e seu organismo o empurrou para fora. Eu iria ter um irmão pequeno se não fosse por isso.

Minha mãe estava sofrendo muito com isso e entrou em depressão. Meu pai tentou de tudo para ajudá-la, mas não conseguia fazer nada. E nesse dia, eu estava brincando no meu quarto, tinha uns nove anos, e minha mãe estava na cozinha.

De repente eu ouvi o barulho de panelas caindo no chão. Desci correndo as escadas e encontrei a minha mãe caída no chão, com o pescoço cortado e uma poça de sangue embaixo dela. Eu gritei e chorei naquela hora. E com as palavras de Pedro, essa lembrança voltou a minha cabeça.

“Disso eu não sabia. A raiva que você sente pela morte da sua mãe, é quase, intoxicante. Eu estou até ficando excitado” – a besta falava.

-Você não sabe nada sobre minha vida, nem sobre meus pais, então não fale deles na minha frente, principalmente da minha mãe. – eu disse quase em um grunhido, tanto para a Besta dentro da minha cabeça, quanto para Pedro.

-O que foi? Está com raiva? – Pedro perguntou.

Na verdade eu estava com muita raiva. Por culpa dele, eu tinha visto a imagem da minha mãe morta na minha cabeça. Fechei os olhos tentando apagar essa imagem.

“Isso! Bate nele. Você viu o que ele fez! Tira o sangue dele! É isso que você quer, eu posso sentir Tiago. Vamos lá Tiago, eu te ajudo.”

A Besta tinha razão, eu queria muito fazer isso, mas eu não era assim. A Besta não podia me controlar e nem me dar idéias. Eu sou o dono da minha cabeça.

-Pedro, você está fora de si, é melhor você ir embora. – eu disse tentando na verdade me acalmar.

-Cala a boca, você não manda em mim. Eu não recebo ordens de fracotes. – Pedro disse isso e saiu correndo para cima de mim.

“Você é mesmo muito fraco. Deixa isso comigo.”

Nesse momento eu perdi o controle do meu corpo. Quando Pedro caiu em cima de mim, eu o segurei e o joguei longe, contra um espelho, que se rachou todo e quebrou em cima de Pedro.

Meu corpo se moveu até Pedro, rapidamente, e o pegou de novo pelo pescoço. Pedro estava com o rosto e os braços um pouco cortados pelo vidro e eu ouvi a risada da Besta saindo da minha boca.

-Humanos são tão fracos. – rindo – Você nem merece ser sugado por mim.

A Besta lançou Pedro como se ele fosse papel, até outros espelhos. A Besta foi se aproximando até o corpo imóvel de Pedro no chão. Pedro me olhou assustado.

-Que... Que monstro é você? – ele perguntou com dificuldade.

-Monstro? Eu não sou um monstro. Eu sou a Besta! – rindo.

Foi nesse momento que a Besta me fez olhar para baixo e eu vi em um pedaço de espelho quebrado o meu reflexo. Era a mesma visão que eu tive no meu pesadelo. Os olhos vermelhos e sedentos por sangue e os dentes finos e pontudos como presas. Essa era a imagem da besta. E foi com essa imagem que me fez acordar de novo do transe. Eu recuperei o controle do meu corpo.

“Você tem que aprender a lutar e superar seus sentimentos humanos, só assim você será forte.”

Sentei-me no chão. Minha cabeça parecia que estava em chamas. Foi então que eu ouvi alguém se aproximando e me puxando para fora. Era Lilith.

-O foi que você fez? – ela perguntou.

Eu nem tive a chance de responder, pois nessa hora, eu apaguei.


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