Voltamos para a casa dos meninos uns dez minutos depois que Niall, o que pediu mais comida que todos, terminou de comer. Já eram quase três horas da tarde, e eu não fazia a mínima idéia do que faríamos no resto da tarde. Subi para o meu quarto e coloquei meu moletom favorito, e então fui até a sala. Os meninos estavam assistindo televisão, no maior tédio, todos reunidos em um colchão improvisado. 

- Então... – eu comecei a dizer. – O que vamos fazer hoje a tarde? 

- Pensei em assistirmos um filme. – Liam sugeriu. – Que tal... Toy Story?

- De novo não! – Niall reclamou. 

- Eu adoro Toy Story! – eu disse, animada. Me sentei ao lado de Liam. 

- Não pode ser um filme de terror? – Zayn perguntou. Ele sabia que eu odiava filmes de terror.

- Zaza! – eu briguei com ele, e os meninos riram do seu apelido.

– Que tal... aventura?

- Eu voto por Harry Potter. – Harry disse.

- Eu também. – eu concordei.

- Que tal se a gente fizer uma maratona, com todos os filmes? – Harry propôs.

- Amei essa idéia! – eu disse, abismada.

- Mas não é todo mundo que gosta de Harry Potter... – Louis reclamou. 

- Um filme de romance? – Niall disse, e todos riram.

- Romance? Com cinco meninos e uma garota? Não vai dar muito certo. – Harry falou, sorrindo para mim. 

- O que nos resta é ação e suspense. – eu disse. 

- Voto por suspense. – Zayn respondeu. 

- Eu também. – disseram Louis, Liam, Niall e eu ao mesmo tempo.

- Pode ser, mas qual? – Harry perguntou.

- Tanto faz. – eu disse. – Onde vamos locar? 

- Tem uma locadora a duas quadras daqui. – Zayn respondeu. 

- Quem vai lá? – eu perguntei. 

- Eu vou. – Niall disse, já se levantando. – Eles tem um balcão com doces, que só de pensar me dá fome. 

Niall foi para a locadora sozinho, enquanto eu fiquei com os meninos. Dei a idéia de fazermos algo para comer, e Harry foi até a cozinha me ajudar a preparar pipoca e a pegar alguns refrigerantes. Enquanto eu derretia a manteiga, ele parou atrás de mim e sussurrou algo no meu ouvido. Não consegui entender, e a única coisa que eu consigo dizer foi que aquilo me deixou completamente arrepiada. Aquela voz grossa e rouca num sussurro era... encantadora. 

- Yay! – Niall gritou, assim que voltou da locadora com um filme na mão e uma sacola gigantesca de doces. – Tudo pronto? Espera... Isso é cheiro de pipoca com manteiga? Alguém me passa o pote! 

- Alguém me explica como esse menino é magro? – eu perguntei, rindo. 

Me deitei entre Harry e Zayn durante o filme. O filme era de suspense realmente forte, quase terror. Eu sempre fui muito medrosa, portanto me assustava repetidamente. Quando isso acontecia, Zayn segurava a minha mão e eu ficava repentinamente melhor. Quando o filme acabou, eu estava quase dormindo no ombro de Zayn. Ele me acordou fazendo cócegas, e eu fiquei irritada. Guardei o pote vazio de pipoca na cozinha e fui até o meu quarto, pronta para tomar um banho quando a porta se abriu. Imaginei ser Zayn, mas quem entrou foi Harry. Ele fechou a porta e eu me sentei na cama. 

- Acho que agora teremos aquele tempo pra conversar. – ele disse, e eu ri. 

- Tudo bem, vamos falar sobre o quê? – eu perguntei. 

Harry foi até as gavetas que eu havia preenchido com algumas coisas, já que não tinha tido tempo para arrumar muito. Ele pegou um caderno qualquer, e de lá caíram alguns papéis. Eu pensei que eram papéis comuns, mas ai me lembrei do meu estúpido dom de compor músicas. Dei um berro e arranquei-os da mão de Harry, mas ele já havia lido o suficiente para me fazer perguntas. 

- Você compõe também? – ele me perguntou, sorrindo. 

- Sim. – eu respondi, corando. – Mas é só por hobbie, igual a bateria. 

- Desculpe ter visto suas músicas. – ele disse, constrangido. – Mas elas são muito bonitas. Sério.

- Eu não acho. – confessei. 

- Porque você nunca acha que o que faz é bom? – ele me perguntou, e aquilo deu uma pontada no meu coração. Havia uma razão. Eu não havia contado nem para Zayn, mas como estava tentando conhecer Harry, talvez fosse um bom jeito. 

- É que... – eu comecei, e ele se sentou ao meu lado, chegando cada vez mais perto. – Bem, você ouviu o que eu contei a Zayn no carro. Sobre a Jéssica e tudo mais. Depois daquilo... Eu nunca mais fui a mesma. Como não tinha nenhum amigo de verdade a não ser Zayn, eu não tinha com quem procurar apoio ou pedir opiniões sobre as minhas coisas. Então eu mostrava-as ao público de uma vez, sem saber se estavam exageradas demais, melancólicas demais ou ruins demais. E as vezes elas tinham defeitos que as pessoas apontavam sem a menor culpa, já que eu era odiada por todos. E então, depois de inúmeras vezes que isso aconteceu, eu passei a guardar esse tipo de criação minha só pra mim. Sem mostrar pra ninguém, nem mesmo para Zayn. Porque essas críticas me deixaram inseguras sobre a minha própria capacidade, por isso eu nunca acho que o que eu faço é o bastante. Depois que alguém diz que algo é ruim, você nunca mais o acha bom o suficiente. 

- Olha, eu sei que nos conhecemos há poucos dias atrás, mesmo com Zayn mencionando você a todo momento, mas vou te dar um conselho. Se você permitir, é claro. 

- Tudo bem. 

- Você não pode mais deixar esse tipo de coisa te impedir de fazer o que gosta. Não pode mais ligar tanto assim pra opinião das pessoas, ou para o que elas vão falar. Se importe com a sua opinião. Faça o que você quer. Faça se está bom para você, e não para os outros. Porque você pode não ter ninguém no mundo, mas ainda terá que aceitar você mesma. Se você não se aceitar, não chegará a lugar nenhum. Insegurança é a pior coisa que pode haver dentro de um compositor, um cantor ou escritor. Esteja segura de si mesma que tudo ficará bem. 

- Você é o melhor conselheiro do mundo, Styles. – eu disse, sorrindo. Ele mostrou suas covinhas em um belo sorriso que me prendeu por alguns instantes. Quando voltei a realidade, percebi que precisava desfazer minhas malas. – É... Agora eu acho que vou começar a arrumar o meu quarto. 

- Você quer ajuda? – ele me perguntou.

- Acho que eu não preciso. – eu disse, e ele saiu do quarto, me deixando sozinha. 

Demorei mais ou menos uma hora e meia para tirar tudo das malas e arrumar no quarto novo. Colocar as roupas nas gavetas, no closet, deixar meus livros organizados, posicionar todos os meus objetos... E ainda tinham coisas que eu precisava pegar na minha antiga casa, o que eu faria no dia seguinte, depois da aula. Olhei para o calendário no meu celular e me dei conta de que só tinha mais uma semana de aula, a qual eu não tinha exatamente obrigação de ir, pois as provas já tinham acabado e, bem, eu só queria ir amanhã para ver qual comentário estúpido Jéssica faria quando me visse saindo do carro de Zayn. 

Estava sem nada para fazer, então peguei um livro antigo e decidi ler. Li duas páginas antes de, praticamente, cair no sono. Estava entrando no universo paralelo da minha mente quando ouvi seis batidas e um chute na porta – minha identificação com Zayn. Dei um sorriso ao perceber que ele ainda lembrava isso, e fui abrir. 

- E ai, o que você ta fazendo Miles? – ele me perguntou, entrando. – Caramba, isso aqui ta incrível! 

- Obrigada, Zaza. – eu agradeci. – Bem, eu tentei ler um pouco e acabei quase dormindo. Porque? 

- Acho que nós vamos sair hoje a noite. – ele respondeu, erguendo as sobrancelhas. – O que você acha?

- Para onde vamos? – eu perguntei. Não sou muito fã de sair, como ir para festas ou algo do tipo, mas para matar a saudade de Zayn eu iria para qualquer lugar. 

- Ainda estamos decidindo. – ele disse. – Você tem aula amanhã?

- Não preciso ir, necessariamente. – eu disse. – Mas eu gostaria de ir como um último dia de aula. Problemas? 

- Não. – ele respondeu. – Então acho que hoje vamos pedir pizza, porque faço questão de te levar para a escola amanhã, maninha. 

- Tudo bem, irmão mais velho. – eu disse, sarcasticamente. Nos chamávamos de irmãos desde que uma velhinha perguntou se Zayn era meu pai, e ele respondera rapidamente que era meu irmão mais velho. 

Fui com Zayn até o andar debaixo para pedirmos a pizza. Eu, totalmente birrenta, queria uma pizza de frango com catupiry, e Zayn, todo teimoso, queria uma de calabresa. Como não faziam pizzas meio-a-meio, pedimos duas pizzas grandes, sem nem perguntar aos outros meninos. Meia hora depois a pizza chegou, e Zayn foi chamar todos para comer, enquanto eu pegava um pedaço e ia até a sala, ligando em Toy Story.

- Ah não, de novo? – Louis perguntou, ao me ver assistindo aquilo. 

- Essa é a voz do Andy? – Liam perguntou, pegando um pedaço de pizza de calabresa e pulando para o meu lado, para assistirmos juntos.

- Sem essa, Louis. – eu disse. – Hoje nós vamos ver Toy Story e é isso ai. 

- Não pode ser Bob Esponja? – Harry perguntou.

- Não! – eu e Liam gritamos, com a boca cheia de pizza. Caímos na gargalhada, deixando os outros sem entender nada. 

As onze horas da noite eu decidi subir para o meu quarto, até porque no dia seguinte teria que ir para a escola. Zayn me deu um beijo de boa noite, enquanto eu arrumava minhas cobertas. Dormi feito um anjo, com exceção de uma coisa: os sonhos. Tive um sonho com Harry. Sonhei com nós dois na praia, conversando sobre The Hunger Games, quando uma onda gigante atingiu Louis, que tentava surfar, e nós fomos tentar ajudá-lo. Mas no meio do caminho eu me afoguei e Harry me salvou, e aquilo foi acompanhado de um beijo. Não sei exatamente porque nos beijamos, e eu não estava acostumada com sonhos como aquele. 

Meu maldito despertador me acordou, e eu me arrumei o mais rápido possível. Um Zayn sonolento me esperava na mesa para tomar café-da-manhã. Era um café-da-manhã totalmente reforçado: com queijos, pães, waffles, panquecas, bacon, ovos, café e chocolate quente. Peguei uma panqueca e um copo de café e tomei rapidamente. Zayn me levou até a escola com seu carro. Desci de lá e ele me deu um beijo na bochecha, me deixando corada. Pude ver a cara de Jéssica e Laureen ficar totalmente vermelha de raiva, ou inveja.