Acordei com a luz do sol entrando pela janela. Vi Rafaella com a coberta  sobre o rosto e me levantei para tirá-la. Ela relutou um pouco, mas com muito esforço eu consegui retirar do seu rosto o que a estava fazendo dormir.

- Nossa Bella, ainda são oito da manhã! Nem no feriado eu posso acordar tarde? - ela esbravejava comigo.

- Pra quê dormir mais? Eu dormi menos que você e já estou totalmente descansada.

- Está bem, eu estou de pé! - ela disse se levantando da cama.

- E agora, Dona Alegria? O que nós vamos fazer?

- Primeiro, um banho e café da manhã. Depois... - interrompi minha frase para deixá-la com raiva.

- Depois o quê Isabella? - ela disse revirando os olhos.

- Depois nós veremos o que o dia nos reserva! - disse pegando minha toalha e indo para o banho.

- Acho que eu não devia ter lhe falado aquilo ontem. - ela disse também indo tomar banho.

Tomei uma ducha rápida, só para me refrescar, Rafaella demorou somente um pouco mais do que eu. Mexi em seu celular enquanto ela trocava de roupa. Era de se admirar quantas mensagens duas pessoas podem trocar em apenas dois dias.

- Para de mexer no meu celular! - ela disse tentando pegá-lo.

- Deixa eu ver o resto das mensagens! - eu disse correndo pelo quarto.

- Não! Você não me deixa ver as suas.

- Eu não mando mensagens pro Justin. - disse confusa.

- Mas parece que ele te manda. Milhares!

- Eu nunca recebi mensagem dele. - disse mais confusa ainda.

- É por que você estava dormindo feito pedra ontem e com fone de ouvido. Eu tentei te acordar a primeira vez que seu celular tocou, mas não deu muito certo. Tentei te acordar de novo quando o celular tocou outra vez, mas você nem estava respirando! Daí eu desliguei o telefone e dormi. - ela disse irritada.

- Por que você não me avisou quando eu acordei? - disse tentando encontrar meu celular.

- Eu me esqueci. - ela disse como se nada tivesse acontecido.

- Aonde você o colocou?

- Em cima da televisão.

Fui até o pequeno rack onde estava a tv e encontrei meu celular. Rapidamente liguei e vi que realmente haviam muitas mensagens. Não milhares como minha amiga sonolenta havia dito, mas algumas. De todas eu li apenas a última.

" Se ainda quiser me ver, venha com a Rafaella ao ensaio para o show de hoje à noite. Estou esperando vocês nove horas naquela porta em que entramos na primeira vez, lembra? 

   Beijos, Justin. "

Fiquei curiosa para saber como ele havia conseguido o número do meu celular, já que eu não havia lhe dito. Com certeza Rafaella havia dito para Chaz e ele para Justin. Mas outra coisa me intrigou na mensagem: "se ainda quiser me ver". 

Queria ler as outras, mas nós realmente não tinhamos tempo, já eram oito e meia e ainda não haviamos tomado café da manhã.

- Estamos atrasadas. - disse pegando o telefone do hotel para pedir nosso café.

- Pra quê?

- A gente tem que ir ao ensaio pro show de hoje à noite e o Justin vai nos esperar nove horas.

- Onde?

- Lá onde a gente entrou no camarim dele da outra vez. - disse ainda esperando alguém me atender no outro lado da linha.

- E por acaso você sabe onde é? - ela perguntou com um tom meio sarcástico.

- Não, mas é no final do corredor do quinto andar.

Esperei mais um pouco e finalmete alguém me atendeu. Pedi nosso café e tomamos com pressa. Mandei uma mensagem para o Lucas avisando que estariamos no camarim do Justin caso papai perguntasse e fomos em busca da porta misteriosa no final do quinto andar. Não estava sendo tão fácil como eu pensei que seria.

- A gente está aqui há cinco minutos, essa porta não vai abrir. - ela disse se sentando no chão.

- Ela tem que abrir. Como é que ele havia feito da última vez mesmo? - eu disse tentando encontrar a porta com as mãos.

- Liga pro Chaz e fala pra ele que nós estamos esperando aqui na frente.

- Eu não, ele não me chamou pra vir aqui. - ela disse cruzando os braços.

- Mas o Justin nos chamou. - disse me virando pra ela.

- Então liga pra ele e fala que a gente esta esperando aqui. - ela disse se levantando.

- Mas eu não tenho o número dele.

- Ele não te mandou uma mensagem ontem? - ela me deu um tapa na cabeça.

- Disfarça. - disse pegando meu celular e discando o número.

Não demorou muito e ele atendeu com uma voz de cansaço.

- Alô, Bella?

- Bom dia. Tudo bem? - disse um pouco preocupada com seu tom de voz.

- Acho que sim. E com você?

- Estou ótima.

- Isso é bom.

- Er... Li suas mensagens hoje de manhã. - disse tentando animá-lo.

- Leu hoje? - ele disse meio assustado.

- É. Eu não ouvi meu celular tocando ontem. - disse com vontade maior de esganar a Rafaella.

- Ah... E então? - ele disse meio sem graça. Agora sim eu estava morrendo de vontade de ler as outras mensagens.

- Nós estamos aqui na porta, tentando encontrar um jeito de entrar. - disse com um meio sorriso. Realmente "não sei abrir uma porta" é uma coisa estranha de se dizer.

- Ah! - ele disse e riu. - O Chaz deve estar chegando aí, ele acabou de sair daqui.

- Então está bom, te vejo daqui a pouco.

- Até. - ele disse e desligou.

- E aí? - Rafaella perguntou quando eu desliguei o celular.

- O Chaz está vindo abrir a porta pra gente.

- Eu me sinto uma bobona. - ela disse rindo, provavelmente uma reação ao nome "Chaz".

- Eu também. - disse acompanhando-na.

Logo a porta começa a se abrir e ele aparece do lado de dentro do corredor. Lembrei da escuridão que era aquele lugar e minhas pernas estremeceram de novo. Por quê eu tinha tanto medo assim do escuro? Isso não é coisa de criança?

Chaz nos cumprimenta e nos chama para entrar, peguei o braço da Rafaella e fomos.

- Eu posso parecer muito intrometido perguntando isso, mas por que você está grudada no braço dela? - não consegui ver seu rosto para saber sua verdadeira reação, mas sua voz parecia um tanto zombeteira.

- Eu não vou te falar!

- Não vai me dizer que você tem medo do escuro? - ele disse já começando a rir.

- Chaz, deixa ela. - Rafa disse tentando me proteger. Minha raiva passou um pouco depois dessa atitude dela.

- Mas como assim você tem medo do escuro, Bella? - ele disse tentando segurar o riso, mas sem sucesso.

- Não sei, eu só... tenho medo. Pode me chamar de criançinha e tudo mais! 

Finalmente entramos no largo corredor dos camarins. Onde havia luz. Havia menos pessoas do que a última vez, na verdade o corredor estava deserto.

- Bella, o Justin está com a Mama Jan. - ele disse apontando para a porta.

- Qualquer coisa nós estaremos lá no camarim.

- Está bem. Cuide bem dela - disse para ele. Eu não estava brincando, eu realmente me importava com a Rafa mas ele levou na brincadeira.

- Pode deixar. - ele disse sorrindo e guiando Rafaella pelo corredor.

Cheguei mais perto da porta e pude ouvir o aquecimento de voz. Eu poderia escutar a voz dele todos os dias durante o resto da minha vida que nunca iria deixar de me surpreender.

Percebi que estava ali há algum tempo quando alguém me chama.

- Você precisa de alguma coisa? - uma voz doce me pergunta.

- Ah... Er... Não eu só... - Me virei vermelha de vergonha.

- Ah! Bella é você! - Pattie disse me cumprimentando.

- Olá. - disse ainda sem jeito.

- Eu te assustei? - ela disse com meio sorriso no rosto.

- Não eu só estava esperando o Justin terminar o aquecimento de voz. - tentei me explicar.

- Pode entrar, não tem problema. - ela disse abrindo a porta e me empurrando sala adentro.

- Não, Pattie. Não quero atrapalhar, eu espero aqui fora. - disse, mas já estava no meio da sala.

- Filho, olha só quem eu achei aqui do lado de fora!

- Bella! - Justin se levanta do sofá.

- Oi. - disse tentando esboçar um sorriso.

- Oi Bella. - Mama Jan se levantou e foi me cumprimentar.

- Tudo bem?

- Tudo e com você?

- Estou ótima. Veio...

- Bom, acho melhor a gente ir. - Justin disse interrompendo.

- Foi bom te ver de novo Bella. - Pattie disse se despedindo.

- Foi mesmo. Queria poder falar um pouco mais com você. - Mama disse fuzilando Jsutin com os olhos.

- Igualmente. - disse sendo arrastada sala a fora.

Ouvi a porta batendo forte e me virei para conferir se a parede ainda estava no mesmo lugar.

- Que raiva é essa? - disse assustada.

- Quase me mat...

Eu ia dizer, mas fui interrompida. Eu nunca havia sido calada durante uma fala com um beijo, mas poderia me acostumar com a ideia. 

Ele estava rindo no começo, o que me fez dar pequenas risadinhas também. Mas logo suas mãos ficaram firmes em minha cintura e as risadas cessaram. Senti meus pés se movendo e a parede se aproximando atrás das minhas costas enquanto sua mão fazia um percurso lento até meu rosto.Me arrepiei quando ela passou pelo meu pescoço. 

Seus lábios eram gentis apesar de seus braços me aproximarem urgentemente do seu corpo. O toque de suas mãos parecia gelo em minha pele pegando fogo. Pude sentir o cabelo de sua nuca, ele parecia seda fina. Seu corpo estava cada vez mais perto do meu quando tive que parar para recuperar o fôlego. 

Ele não me soltou. E eu não queria que soltasse. Suas mãos que antes estavam em minha cintura agora envolviam todo o meu corpo em forma de um abraço. Seu cheiro era inebriante e minhas mãos não conseguiam soltar seus cabelos macios. Acariciei-os mais um pouco até que ele me deu um beijo na bochecha e se afastou, ainda segurando meu rosto com uma das mãos.

- Desculpa, eu tinha que fazer isso. - ele disse me olhando nos olhos.

- Por que você está se desculpando? - disse sem entender.

- Eu não sabia se... Bom, falei com a Rafaella ontem pelo telefone. - A raiva que havia sumido por ela ter me defendido do Chaz? Voltou! - Não brigue com ela, foi eu quem a forçou a falar. Na verdade eu pedi pro Chaz força-la a dizer. Ela me disse que você estava chateada e... o que você estava... pensando de mim.

- Er... Eu não... - comecei a dizer mas seus dedos pousaram sobre os meus lábios.

- Eu sei que existem vários motivos para você pensar que eu estou mentindo, mas eu não sou desse jeito. Poderia até ter sido antes, mas não com você agora. - suas palavras saíram como jatos de sua boca. - Você é diferente. Eu ainda não te conheço muito bem, mas eu sei que é. 

" As outras meninas só estavam interessadas em ficar com o Justin Bieber e não comigo. Com você eu sinto que posso ser eu mesmo e deixar de lado por um tempo o garoto bajulado por todo mundo o tempo inteiro. 

Eu sei que é meio cedo para te falar isso, espero que não se assuste, mas eu acho que estou gostando de você. Gostando de verdade. Desculpa não ter respondido à pergunta ontem, mas eu também me assustei com ela. Eu nunca poderia te tratar como um passsatempo. Até porque eu acho que não conseguiria me esquecer de você depois. "

Eu realmente não estava esperando aquilo. As palavras me deixavam feliz e me incomodavam ao mesmo tempo. E se ele dissesse isso para todas as outras?

- Fala alguma coisa. - ele disse em reação ao meu silêncio.

- Olha eu... Eu não esperava que você me dissesse isso. - fui sincera.

- Ah. - ele disse soltando meu rosto e minha mão.

- Ainda bem que eu adoro surpresas.

Ele abriu um sorriso como eu nunca havia visto igual e me abraçou forte. Tão forte que meus pés saíram do chão. Ele me deu um beijo demorado na bochecha e me soltou para que meus pés tocassem terra firme. Não deu muito certo pois acabei batendo meu calcanhar na porta. Logo ouço o rangido de alguém a abrindo.

- Posso saber o que está acontecendo aqui? - Mama diz abrindo a porta.

- Nada, a gente só estava indo pro meu camarim. - Justin disse com um sorriso no rosto e meio vermelho. Poderia até dizer que ele estava envergonhado.

Tentei não pensar na cor das minhas bochechas agora.

- Aham. - ela disse desconfiada.

- Vamos Bella? - ele estendeu a mão para que eu peguasse.

- Claro! - Ouvi a porta bater atrás de nós.

Estava me sentindo nas nuvens e agradecia a Rafaella por isso. Nada disso teria acontecido se eu não a tivesse escutado. Aquela raiva que eu estava sentindo dela? Agora eu posso dizer que havia desaparecido.