O parque era basicamente um clareira com um riacho passando pelo meio e alguns pequenos arbustos com flores de todas as cores. Como uma coisa tão simples poderia ser assim tão linda? O ângulo que os raios do sol faziam com a água deixavam o parque com uma iluminação única e havia uma árvore à esquerda que fazia uma grande sombra na grama, acho que é ali que faremos o piquenique.

- Bella? Está tudo bem? - ele perguntou me sacudindo de leve.

- Hã? Er... o que você perguntou? - disse tentando fazê-lo repetir.

- Viu um fantasma foi? - ele disse me soltando.

- Não eu só... Eu estava só observando. Aqui é muito lindo, Justin. - disse olhando ao meu redor.

- Ah tá. Achei que você tinha entrado em transe ou ficado hipnotizada, sei lá. - ele disse indo em direção à sombra.

- Muito engraçado. - disse seguindo-o.

- Então nem vou perguntar se você gostou, acho que a resposta está um pouco óbvia. - ele disse abrindo a grande toalha no chão.

- Adorei. É muito bonito.- disse ajudando-o.

- Então vamos ao café! - ele disse se sentando e abrindo a cesta.

Me sentei, esperei que ele retirasse o café e se servisse. Enquanto isso dei mais uma olhadinha no parque, haviam alguns pássaros pequenos e coloridos cantando na copa da árvore e alguns voando acima do riacho.

- Este aqui é pra você. Eu trouxe suco porque eu não sabia se você gostava de café. - ele disse me entregando o copo.

- E não gosto mesmo. - disse dando um gole.

- Hum... está muito bom!

- Eu sei que eu sou um ótimo cozinheiro. - ele disse com tom de vitorioso.

- E modesto também. O que é isso? - disse olhando o pão um tanto estranho em sua mão.

- É um bagel. Conhece? - ele disse dando uma mordida.

- Só por filmes.

- Experimenta. - ele disse me oferecendo a travessa.

Peguei o menor. Não devia ser tão diferente do pão que eu estava acostumada a comer, mas preferi não me arriscar.

- Gostoso. - disse engolindo o pequeno pedaço que estava em minha boca. - É meio diferente, mas é gostoso.

- Será que o Chaz deu conta de acordar a Rafaella?

- Provavelmente não. Ele vai ficar no mínimo meia hora lá na porta gritando. Isso se o segurança não tirar ele de lá primeiro. - disse dando outra mordida.

- Parece que ela tem um sono bem pesado. - ele disse terminando o seu pão.

- Você já comeu um inteiro? - eu disse assustada.

- Já. Esses pãezinhos são muito pequenos. - ele disse limpando a boca.

- Não, não são. Você que é muito esgabilado. Credo! - disse colocando o bagel no prato.

- Esgab... o quê? - ele disse sem entender.

- Esgabilado. Uma pessoa que come rápido de mais. - expliquei.

- Esguabil... como é mesmo? - ele tentou repetir com o cenho franzido.

- E-S-G-A-B-I-L-A-D-O. - soletrei rindo da sua tentativa falha de repetir a palavra.

- Para de rir de mim. É uma palavra em português eu nunca ouvi na vida. E eu nem sei por que você falou isso. - ele disse começando a fazer um biquinho.

- Desculpa. - disse tentando conter o riso.

Não deu certo da primeira vez. Tentei segurar o riso de novo e não consegui. Coloquei minhas mãos sobre a boca, mas também não deu certo. Logo Justin cedeu e começou a rir também. Ficamos rindo e só paramos quando ele começou a observar meu braço.

- Que pulseira é essa? - ele disse levantando o meu braço para analisar mais de perto.

- É uma pulseirinha da amizade. A Rafa tem uma igual, só que com o meu nome.

- Gostei dessas letrinhas em alto relevo. - ele disse passando o dedo em cima da pulseira azul.

- A gente quem fez.

- Sério? - ele disse levantando a cabeça.

- Aham. - disse recolhendo o meu braço.

- Legal. Eu também tenho um. - ele disse tirando a camiseta e me mostrando o colar.

Fiquei paralisada por um momento, tentando me lembrar de como se repira. Eu ainda não era imune às suas retiradas de roupa.

- O Chaz e o Ryan tem um igual, está vendo? - ele disse aproximando o colar dos meus olhos.

- Er... Deixa eu ver. - disse desviando minha atenção de seus músculos ainda pequenos mas mesmo assim admiráveis.

- É uma foto de nós três na praia. - ele disse me olhando.

- Que lindo! - disse analisando a foto mais de perto.

- Eu sei que eu sou irresistível não precisa falar isso o tempo inteiro. - ele disse recolhendo a corrente e deitando sobre a toalha.

- Idiota! - disse empurrando ele de leve.

- Devia ter trazido um óculos. O sol está radiante de mais para o dia frio, não acha?. - ele disse tapando os olhos com a mão.

- Acho sim. E você parece que não sente frio né? - disse e também me deitei sobre a toalha.

- Acostumei a ficar sem camisa.

- Hum... - eu disse fechando os olhos. Na verdade eu não achei esse hábito muito ruim.

- Quer dar um mergulho no rio?

- Eu não! Aquele rio é muito fundo, a gente corre perigo de se afogar. - disse sarcástica.

- Anda logo sua bobinha, vamos pelo menos colocar os pés dentro d'água. - ele disse se levantando.

- Se meus pés couberem lá né.

- Levanta Isabella, acho que o riacho bate no joelho, não é tão raso assim.

- Eu não trouxe roupa. - disse com os olhos ainda fechados. - E sai da frente que você está tampando o sol.

- Eu vou ter mesmo que te levar a força? - ele disse se agachando ao meu lado.

- Justin! Nem pense nisso está me escutando? - eu disse me levantando rapidamente.

- Eu pedi pra você vir educadamente e você não me escutou. A culpa não é minha.

Foram suas últimas palavras antes de pegar em seu colo e correr para o riacho. Tentei de todas as maneiras descer de seus braços e voltar para a sombra, mas só pirou o meu estado por que ele me colocou em seu ombro. Gritei, fiz birra, dei tapas em suas costas mas ele continuava a andar como se ele nem estivesse me carregando.

- Justin me desce agora! Eu não trouxe roupa.

- Tem umas roupas da minha mãe no carro.

- Eu não vou usar as roupas da sua mãe! - disse batendo o mais forte que conseguia.

Todas as minhas tentativas foram em vão e logo eu estava sentada dentro do riacho com Justin rindo de mim toda molhada.

- Agora vai ter revanche. - disse me levantando.

Levantei e comecei a jogar água em sua direção com todas as forças que encontrei. Ele não deixou barato e começou a jogar água em mim também. Os seus "jatos" estavam bem mais fortes que os meus então comecei a correr pelo leito. Ele começou a correr atrás de mim e voltei para a toalha na árvore. No meio do caminho sinto algo me puxar derrubando-me no chão. Cai e ouço Justin cair também rindo ao meu lado. Seu sorriso era encantador, impossível não rir com ele rindo por perto. 

- Pensei que você fosse me afogar agora. - disse parando de rir e me virando para ele.

- Não foi tão ruim assim. Eu achei divertido. - ele disse se virando pra mim.

- Nunca mais faça isso. - disse olhando em seus olhos.

- Isso o quê? - ele perguntou com cara de inocente.

- Me fazer correr dentro de um rio.

- Você quem decidiu sair correndo.

- Se não você me matava afogada. - disse encerrando a conversa.

Desde que tinha o visto pela primeira vez nunca tinha parado pra reparar em seu rosto, essa atitude poderia ter me trazido sérios problemas de saúde há poucos dias atrás. Agora percebi, não que eu nunca tivesse os visto antes, que seus olhos eram lindos. Tinham um tom de castanho claro brilhante e único. Seu cabelo, que antes fazia um topete agora desmanchado, estava sobre sua testa e fazia contraste com sua pele clara e macia. Seu nariz estava um pouco enrugado por causa do pequeno sorriso em seus lábios, mas mesmo assim parecia perfeito em seu rosto.

Vejo a sua mão vindo de encontro ao meu rosto. Ele afastou uma mecha de cabelo que estava tapando um dos meus olhos e agora acariciava minha bochecha. Seu rosto estava mais perto do meu do que a dois segundos atrás e seus olhos estavam  praticamente fechados. Percebi o que estava acontecendo e também fechei meus olhos para que eu pudesse aproveitar cada segundo desse momento. Seus lábios roçaram os meus, mas interrompi o beijo quando senti algo cair sobre o meu cabelo.

- Ai credo, o que é isso no meu cabelo? - disse assustada me sentando na relva agora molhada.

Me virei e vi Justin ainda deitado de olhos fechados e murmurando palavras ininteligíveis. Ele percebeu que eu estava olhando e se levantou para me ajudar a encontrar o que havia caído em meu cabelo.

- Me desculpe. - disse vendo o seu semblante.

- A culpa não é sua. - ele disse vasculhando as pontas do meu cabelo. - Acho que você foi premiada.

- Como? - perguntei sem entender.

Olhei suas mãos e estavam apontando uma gosma branca e preta no meio de uma mecha.
- Não me diga que isso é...

- Caca de passarinho? É bem provável. - ele disse rindo.

- Eca! Vou tentar tirar com água. - disse me levantando.

- E eu vou ali no carro pegar roupas secas pra gente. - ele disse se levantando e indo na direção do monstro preto gigante.

Andei até o riacho e me ajoelhei em seu leito para retirar o cocô de pássaro do meu cabelo, não estava muito difícil. As imagens do último minuto começaram a passar em minha cabeça como num flash back. Apesar de estar rindo acho que nunca senti tanta raiva de um pássaro quanto agora. Me lembrei também do "quase beijo" na porta do nosso quarto e uma sensação boa tomou conta de mim, era engraçado.

- Vai ficar lavando o cabelo a tarde toda, Bella? - ele gritou da árvore.

- Já estou indo, Justin.

Me levantei e fui ao seu encontro. Não sabia o que o resto da tarde reservava, mas tinha certeza que deixaria boas lembranças em minha memória.