Anjo da Música escrita por Valentinnes


Capítulo 10
Capítulo 10




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(Chaerin's POV)


Incidentes a parte, depois de muito esforço, paramos com a lavagem de carro quando o sol começou a se pôr. Lavar carros no escuro não seria nada legal e nossos braços também estavam cansados, então guardamos os materiais usados na limpeza e subimos para o apartamento dos meninos.

– Quantos arrecadamos? – perguntei para a unnie, enquanto alongava meus braços doloridos.

– Bastante - foi tudo o que a mais velha respondeu ainda contando o dinheiro.

– E o que pretendem fazer com o dinheiro? – perguntou o líder Suho, que nada sabia de nosso plano de sermos uma única trainee. Na verdade ninguém ali além do Kai sabia que apenas uma de nós havia entrado para a SM, eles deviam achar que as duas estavam na empresa.

– Comprar roupas – fui rápida ao responder, passando os olhos por minha roupa úmida e suja da poeira dos carros. Era muito ruim mentir, mas aquilo era algo realmente necessário, então encarrei como uma meia mentira e embora um pouco desconfortável, fitei ao Kai oppa que deixava a cozinha e o chamei – Oppa! Empreste-me uma roupa sua?

Por segundos o silêncio prevaleceu, mas Kai conseguiu quebra-lo tossindo ruidosamente. Franzi o cenho observando ao mais velho, mas quando ele parou disse que eu podia ir a seu guarda-roupa e escolher qualquer peça. Muito agradecida, fiz uma reverência para o mais velho e segui para o seu quarto. Como seu colega de quarto estava na sala não me importei em ir entrando e em segundos eu passava os olhos por aquele extenso guarda-roupa que estava entupido de peças. Sem delongas escolhi uma simples camiseta listrada de branco e preto com mangas compridas e uma bermuda simples na cor marrom, que provavelmente ficaria um pouco grande, mas eu estava na esperança que o elástico da cintura, fosse se ajustar a minha. Mal sai do quarto dos meninos que ficava defronte com o banheiro e ChanYeol me entregou uma toalha branca, alegando que ela estava limpa. Agradecida pela preocupação do oppa, por lembrar-se de algo que nem eu mesma havia lembrado, fiz uma rápida reverência e entrei no banheiro.

Assim que a água quente tocou meus cabelos longos, pude relaxar um pouco. Até meus músculos tensionados, relaxaram diante daquele banho, mas minha mente não queria parar. Não sei exatamente o porquê, mas ela vagava de cena em cena buscando algo que fizesse a diferença. Quando terminei o banho, vesti a roupa que havia pegado de Kai oppa e sequei meu cabelo da melhor forma possível para não molhar a camiseta do mais velho. Obviamente a bermuda havia ficado um pouco larga, mas o importante naquela situação era ter algo para vestir. Assim que deixei o banheiro indo em direção à sala, escutei uma voz indignada dizer:

– Omo! Além de ladrona de camas agora é ladrona de roupas? – perguntou Sehun me espreitando com os olhos, enquanto eu paralisei no estreito corredor – Tire já minha roupa! – ordenou ele bufando.

Meus punhos cerrados haviam ido parar diante da minha face, cobrindo sutilmente minha boca e parte do meu nariz. Por que as pessoas famosas implicavam tanto por causa de roupa? Pensei fazendo um enorme bico e dei as costas cabisbaixa, mas antes mesmo que conseguisse dar um passo para o quarto do Kai oppa, senti uma mão pousar em meu ombro direito.

– Omo Sehun dongsaeng! Eu que falei para a... – houve um silêncio tão constrangedor, que fui obrigada a olhar para trás, para ter certeza de quem falava aquelas palavras. Do outro lado da sala estava Kai com cara de pensativo. Apenas balancei a cabeça negativamente, enquanto ChanYeol tirava a mão do meu ombro – Chaerin, é eu disse para a Chaerin que ela podia pegar uma roupa minha no guarda-roupa, ela apenas se confundiu com as roupas, não a porque ficar com tanto escândalo, é apenas uma roupa.

– Mas é a minha roupa! – retrucou o maknae parecendo mais uma criança de cinco anos.

– Maknae! Não trate nossas fãs mal! – exclamou Chanyeol oppa novamente tocando meu ombro direito, mas como agora eu estava fitando a sala, seu braço direito sutilmente me abraçava – Vem Chaerin, vamos ver o que está passando na televisão.

Embora relutante, deixei que o oppa me conduzisse para o sofá. Sehun me acompanhou com os olhos, que estavam semicerrados, e pela sua expressão nada amigável, pensei que se não fosse por ChanYeol, ele já teria arrancando minha roupa, ou no caso a sua, na unha. Como estava passando um dorama, me acomodei melhor ao lado do maior e esperei que o jantar ficasse pronto. Depois da refeição, Baekhyun deu a ideia de assistirmos a um filme ou até mesmo jogar vídeo game, mas Suho mandou que fossemos dormir já que o dia seguinte seria longo e eu e minha unnie voltamos para a SM em um táxi pago pelo Kai oppa.

– Unnie – chamei a mais velha enquanto seguíamos para a empresa. Ela mantinha seus olhos na janela de vidro transparente, mas assim que a chamei, ela pousou seus olhos escuros em minha face e soltou um baixo e desorientado ‘o quê?’ – Estamos nos aproximando dos oppas do Exo K, isso é bom, mas acho que o Kai oppa não gosta muito disso.

– Por quê? – perguntou a unnie franzindo o cenho confusa.

– Por que ele estava agindo estranho, ele não parecia feliz ao observa-la com o Baekhyun oppa – disse fazendo um beicinho manhoso.

– Isso é coisa da sua cabeça Chaerin, por enquanto temos que nos concentrar em outras coisas, como procurar um quarto para alugar. Fiquei pensando em alugar um quarto em uma daquelas repúblicas sabe? – perguntou ela com sua mente voando solta para o lado ocidental da terra – O problema é achar uma que fique perto da SM... Mas o mais importante é que dinheiro nós temos, pelo menos para um, dois meses de aluguel, e ainda sobra para o almoço.

– Tudo bem unnie, então amanhã irei para o treino de manhã, enquanto você procura um quarto para alugar e no horário de almoço nós fazemos a troca. E a propósito, me lembre de lhe entregar sua identidade, está no meio das minhas coisas no dormitório unnie.

– Certo – respondeu a mais velha com um sorriso torto nos lábios e afagou meus cabelos.

Como eu treinaria pela manhã acabei ficando no dormitório, enquanto Nuri teve que procurar uma sala vazia para dormir, mas dessa vez levei meu cobertor e meu travesseiro para a unnie, para que ela tivesse um pouco mais de conforto. Quando voltei para o quarto, minha colega de quarto estava lá.

– Boa noite Sandara – falei com um sorriso torto e desconfortável e passei entre o espaço entre as camas, indo direto para o banheiro. Ela apenas me observou com o canto dos olhos e voltou a ler o livro que estava em mãos.

Pensei em tomar mais um banho, apenas para relaxar, mas pelo horário, decide apenas escovar os dentes e me deitar. Outro fato que também havia percebido com essa ideia de tomar banho era que estávamos praticamente sem roupas. As nossas precisavam ser lavadas e como de tarde eu trabalharia, pensaria num jeito de avisar a Nuri, antes de ir para o treino, que ela devia levar nossas roupas para uma lavanderia, algo assim.


***


Acordei pela manhã bem mais tranquila. Eu ainda usava as roupas de Sehun e não tinha a intenção de tira-las tão cedo, e depois do banho, e até mesmo por não saber exatamente do que seria o treino, acabei vestindo novamente a camiseta do maknae. Depois que Sandara deixou o dormitório, juntei todas as roupas sujas e coloquei dentro da minha mochila. Sobre a mesma deixei um papel pedindo para Nuri levar as roupas à lavanderia e deixei tudo sobre a cama. Só então deixei o dormitório e segui direto para o refeitório onde encontrei as duas garotas que eram amigas da minha irmã.

– Hey Chaerin! – disse a loira acenando para mim de uma das mesas, enquanto eu andava pelo refeitório com minha bandeja em mãos. Abrindo um sorriso torto, cumprimentei a ela e a outra jovem e me sentei defronte com a loira – Como aproveitou o dia ontem? Não vimos você em momento algum, não me diga que estava treinando com o Kai novamente, estava? – completou a loira com uma risada abafada.

– Treinando com o Kai? – perguntei confusa.

– Acho que eles estavam fazendo outras coisas... – retrucou a jovem de cabelos curtos, Amber se não estou enganada, fazendo um sorriso crescer nos lábios da loira.

Fiquei sem entender aquela história de treino, mas também não me mantive muito no assunto por causa do horário. Assim que terminamos o café da manhã seguimos para uma das salas da SM. A sala onde entramos era ampla, fria, paredes brancas e piso de madeira. Na frente da sala havia um piano com um homem de meia idade atrás. Ele olhava uma porção de folhas, como se procurasse a partitura certa. Atrás dele estava uma enorme janela de vidro fechada e na parede ao lado um enorme quadro-negro. Conforme os outros trainees adentravam a sala, notei que a maioria usava calça, então estava mais do que óbvio que não dançaríamos, o que me deixou um pouco aliviada, já que estava com uma camiseta de mangas longas, mas minha felicidade logo acabaria.

– Todos sentados – ordenou o ajusshi quando a sala estava lotada. Muito obedientes os trainees que estavam de pé sentaram-se nas banquetas dispostas em filas – Temos duas trainees novas, não temos? Quem são Lee Chaerin e Park Sandara? – perguntou o homem passando seus olhos cautelosos pelas faces dos jovens.

– Sou Park Sandara, senhor – disse a minha colega de quarto completando com uma curta e polida reverência.

Ao contrário da minha colega, apenas ergui a mão esquerda e acenei para o homem com um sorriso enquanto dizia meu nome de modo fofo.

– Sandara e Chaerin... – disse o homem passando os olhos novamente pelas folhas – Que venha a mais velha – pediu ele fazendo eu e a minha colega nos entreolharmos confusas. Não havíamos conversando em momento algum, então eu não fazia ideia de sua idade e nem ela da minha. O professor pareceu reparar nisso, porque ele revirou os olhos e bufou – Sandara – chamou ele fazendo a minha colega caminhar em direção ao piano – Aqui diz que você tem aptidão para raps... Faça um.

A jovem concordou com a cabeça e depois de pensar por alguns instantes começou a cantar o rap de No Other, do Super Junior. Achei bem legal da parte dela cantar um rap deles, ainda mais com algumas palavras em inglês, mas o professor não parecia tão entusiasmado.

– Sua afinação não é ruim, mas precisamos melhorar sua respiração... – comentou ele sério, fazendo os olhos da mais velha buscarem pelo chão – Chaerin – chamou ele fazendo um frio percorrer minha espinha.

– Fighting! – escutei Amber sussurrar ao meu lado e me ergui da banqueta.

Sandara passou ao meu lado bufando, certamente devia receber elogios pela sua bela voz, meu mesmo a elogiaria se não estivesse morrendo de medo. Assim que parei defronte com o piano, escutei o professor dizer:

– Você deve conhecer Super Junior não é mesmo? Então cante o refrão dessa música para nós – pediu o ajusshi sério.

O nervosismo que eu tentava esconder estava visível em minhas mãos trêmulas e respiração ofegante, mas seu pedido havia sido tão simples que apenas suspirei aliviada e comecei a cantar a música mentalmente. Não havia como eu errar, não mesmo, e tomando um pouco de fôlego, comecei a cantar no ritmo perfeito da música, pelo menos na minha cabeça eu estava no ritmo.

Neo gateun saram tto eopseo, juwireul dureobwado geujeo georeohdeongeol, eodiseo channi, neo gatchi joheun saram, neo gatchi joheun saram, neo gatchi joheun ma, eum neo gatchi joheun seonmul... – eu continuaria se o ajusshi não tivesse erguido a mão e feito sinal para que eu parasse.

– Você entrou cantando? – perguntou o homem pausadamente me espreitando com os olhos. Apenas agitei a cabeça dizendo que sim – Isso está errado, muito errado – disse o homem se erguendo – Você não tem talento algum, nem se você fizer aulas por anos você conseguirá cantar, eu vou falar com diretor – disse ele atravessando a sala apressado e saiu com uma folha, provavelmente do meu perfil, em mãos.

Permaneci paralisada por alguns instantes, sem conseguir mover um músculo sequer. Eu não esperava por aquele tipo de reação, afinal, eu havia entrado para a SM, eu achava que quando chegasse às aulas de canto o máximo que o professor diria era que eu precisava de muitas aulas, não aquilo. Quando olhei em volta completamente atônita, notei os olhares surpresos e até mesmo debochados em minha face. Sentindo minhas bochechas queimarem, abaixei a cabeça e deixei a sala correndo. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis? Perguntei em pensamento enquanto atravessava os corredores em direção ao dormitório. Quem sabe se eu chegasse a tempo, a Nuri não tivesse saído ainda e quando o professor trouxesse o diretor, ele se surpreenderia com a voz da minha irmã, mas como ficava o meu sonho no meio de tudo isso? Como eu cantaria para uma grande plateia sem ter uma bela voz?

Entrei no meu quarto correndo e bati a porta atrás de mim. Por sorte não havia ninguém me seguindo, pelo menos eu não havia ouvido barulhos de passos atrás de mim, mas mesmo assim me encostei à porta e deslizei até o chão sentindo os olhos umedecerem. Aquela não era a primeira vez que me diziam que eu não possuía talento, então por que eu insistia?

– Por que insistir? – perguntei em voz alta afundando minha face em meus braços, que agora estava cruzando sobre meus joelhos.

Eu queria ficar ali chorando, mas não queria de modo algum ser descoberta, então me ergui novamente. Eu precisava sair do prédio da SM, pensar um pouco e principalmente eu precisava encontrar a Nuri, mas antes que me virasse para a porta vi a mochila em cima da cama com o pequeno pedaço de papel intocado. Estranhei um pouco, pois achava que Nuri passaria no dormitório para tomar um banho antes de sair da empresa. Mesmo sem saber se ela ainda estava no prédio ou não, entortei os lábios pensativa e peguei a mochila. Se eu tinha que pensar, por que não fazer isso em uma lavanderia?

Meu coração batia acelerado enquanto atravessava os corredores do prédio, mas depois de tanto andar por eles, eu começava a conhecer aquele prédio tão bem, que rapidamente consegui deixa-lo. Nas ruas pude respirar mais aliviada e comecei minha busca por uma lavanderia. Não demorou para que eu encontrasse e lá fui esperar um longo tempo enquanto a roupa batia na máquina de lavar.

Finalmente me sentei em uma das cadeiras brancas de espera e olhei para o lado respirando pesadamente. A três cadeiras de mim havia uma garota usando uma blusa de frio cinza com capuz na cabeça, óculos escuros e mexendo concentrada em seu smartphone. Primeiramente estranhei o fato de ela estar tão bem disfarçada, mas depois me lembrei do meu próprio celular e em sequência do meu irmão Taemin. Busquei meu celular e o carregador em minha bolsa, mas não consegui encontrar ao segundo, então fazendo uma careta, voltei a observar a garota. Talvez ela fosse legal o suficiente para me deixar mandar uma mensagem para o meu irmão, pensei comigo mesma otimista, e além do mais uma mensagem nem era tão cara assim.

– Bom dia – disse parando defronte com a jovem, que muito lentamente pousou seus olhos em minha face - Você pode me emprestar seu celular por alguns segundos para que eu mande uma mensagem para o meu irmão? É um assunto muito importante, por favor – implorei com olhos.

A jovem baixou o celular e olhou em volta confusa.

– Você quer meu celular emprestado? – perguntou ela pausadamente me observando por cima dos óculos escuro, pelo menos de uma coisa eu tinha certeza, ela era coreana.

– Por alguns segundos, só quero mandar uma mensagem para o meu irmão dizendo que estou bem, porque... – relutei alguns segundos para falar. Eu tinha que controlar melhor a minha boca, mas agora que já tinha começado, só me restava terminar com a esperança de conseguir o aparelho emprestado - ...eu fugi de casa e esqueci o carregador do meu celular e meu irmão mais velho deve estar uma pilha de nervos.

– Ahn... – e agora quem relutava por alguns instantes era a jovem, enquanto passava seus olhos desconfortavelmente pelo piso – Tudo bem, só espere que eu termine esta mensagem – pediu ela com um sorriso torto em seus lábios rosados.

– Certo – respondi abrindo um animado sorriso e me sentei na cadeira ao seu lado. A jovem ainda me observou com o canto de olhos, ela parecia desconfiada de algo, mas vendo minha animação e até mesmo inocência, ela voltou a sua mensagem e assim que terminou passou o celular para mim.

Depois que mandei a mensagem comecei a conversar com aquela simpática garota. Embora ela parecesse desconfortável quando pedi que falasse mais sobre ela, descobri que seu nome era Kim Dasom e ela era minha unnie. Como ela estava ali há mais tempo, suas roupas ficaram prontas mais cedo e antes de deixar a lavanderia, ela me passou seu número, caso eu, uma perdida em Seoul, precisasse de ajuda.

Depois de lavadas e secas as roupas, as dobrei cuidadosamente e as coloquei na mochila. Eu sabia que aquilo não daria muito certo, considerando que devido à demora na lavanderia eu seguiria direto para o meu trabalho, mas as roupas ainda precisavam ser passadas, então mais amassadas elas não ficariam, pensei de forma otimista.

– Por que tão cedo? – perguntou o JongJin oppa franzindo o cenho, assim que parei defronte com o balcão onde ele estava.

– Não sei ao certo, acho que lhe devo desculpas oppa pelo o que aconteceu com a soshi e bem, um dia de folga me fez bem, mas acho que eu não devia deixar o trabalho assim dessa forma. Devo trabalhar bastante para compensar meu erro e me tornar uma boa garçonete – disse abrindo um torto sorriso que se misturava ao meu bico de criança manhosa.

– Garçonete? É isso que quer ser pelo resto da vida? – perguntou o oppa fazendo meus olhos buscarem pelo chão. Era óbvio que eu queria ser muito mais do que uma simples garçonete, na verdade eu sonhava tão alto, que a queda poderia ser fatal, mas diante da pergunta do oppa, palavras vieram em minha mente, palavras de um certo avaliador que me mandara ser exatamente isto que eu estava sendo: Uma simples e pequena garçonete – Você é jovem Nuri, ainda tem muito chão pela frente, mas chega de papo e vamos trabalhar, ontem você me fez uma falta enorme – disse o oppa conseguindo abrir um sorriso leve em minha face.

Pelo menos para algo eu era necessária, pensei seguindo em direção ao mais velho e durante a tarde inteira eu só conseguia pensar no nosso pequeno diálogo e na minha fracassada carreira como cantora. Por mais que houvesse críticos que diziam que no mundo dos famosos ser bonito às vezes era mais importante que ser talentoso, eu carecia da primeira opção e necessitava da segunda. Talvez eu ter nascido em uma cidade do interior fosse apenas uma dica do destino me mandando desistir desse meu sonho descabido de ser cantora sem saber cantar e mais aérea do que nunca durante o trabalho, tomei uma decisão, eu sairia da SM.

Se a Nuri unnie quisesse continuar na empresa sob seu próprio nome, eu não me importava, eu tinha mesmo era que voltar para casa, pois aquele não era o meu lugar, mas durante a volta para a empresa foi impossível conter as lágrimas diante de uma decisão tão radical.

Já no prédio da SM entrei pela porta dos fundos secando as lágrimas das minhas bochechas com o dorso das mãos e apressei meus passos até a recepcionista. Eu não sabia ao certo com quem falar, mas esperava que ela fosse me indicar alguém que me orientasse a sair da empresa o mais rápido possível.

– Boa noite – disse me inclinando sobre o balcão um pouco ofegante, fazendo a mulher levar um susto.

– Em que posso ajuda-la? – perguntou a jovem que devia ter por volta de vinte e cinco anos após recuperar-se.

Foi então que eu arfei. Toda a minha coragem parecia ter desaparecido diante daquela pergunta. Quando se tem um sonho verdadeiro, desde a infância, desistir dele não é a coisa mais fácil do mundo. Senti por segundos meus olhos se encherem de lágrimas e minha respiração pesar, mas tomando fôlego, separei os lábios e...

– Chaerin...? – escutei uma voz masculina e familiar chamar meu nome nas minhas costas. Imediatamente me virei e encarrei ao Kai oppa que parecia um pouco receoso – Oi... – disse ele com um sorriso torto ameaçando se formar em seus lábios pequenos, mas apenas ameaçando.

– Como você sabe? – perguntei fazendo um ponto de interrogação se formar na face do mais velho – Como você sabe que sou eu, e não minha irmã? – perguntei me afastando sutilmente da recepção para que a mulher não conseguisse ouvir nosso diálogo e para me aproximar mais do mais velho.

Kai fez uma careta diante da minha pergunta.

– Ahn... Você ainda está com a camiseta do Sehun... – disse ele me parecendo constrangido.

– Ah! Claro – disse abaixando os olhos decepcionada, claro que ele nunca conseguiria me distinguir da minha irmã, por mais que nos vestíssemos de formas diferentes, nos portássemos de formas diferentes e até mesmo falássemos de forma diferente, ele parecia ver apenas nossos rostos idênticos – O que está fazendo aqui sozinho? – perguntei tentando não entrar em nenhum assunto com relação ao o que eu fazia – Onde estão os outros oppas?

– Não sei ao certo – e novamente ele franzia o nariz e entortava os lábios de forma muito fofa, mania que se bem eu me recordava ele fazia desde que era pequeno – Pelo o que entendi o Chanyeol e o Baekhyun vão ficar treinando até mais tarde, o Suho tem um compromisso particular e como os outros estavam demorando demais no vestiário acabei descendo sozinho.

– Ah, sim...

– Mas e você? O que está fazendo aqui na recepção? Você não devia estar no refeitório? Você tem que dormir cedo dongsaeng, amanhã tem treino e depois de amanhã também. Vida de trainee não é fácil e se quer um dia debutar, precisa se esforçar bastante – disse o mais velho abrindo um jovial e entusiasmado sorriso enquanto falava.

– Talvez seja melhor... – comecei minhas palavras com os olhos voltados para chão, mas sem mais nem menos as palavras pareciam tão pesadas que fui obrigada a fazer uma breve pausa – Kai, eu, você e a Nuri sabemos muito bem que eu não canto, então por que continuar com uma farsa que não dará frutos? Talvez seja melhor desistir e voltar para casa...

O sorriso do oppa lentamente foi morrendo em sua face.

– Não desista Chaerin, eu não quero... – ele passou olhos rapidamente pelo chão, enquanto entortava os lábios – Eu não quero que você vá embora – confessou o oppa fazendo meus olhos se iluminarem de forma mágica e buscarem pela face do mais velho - Fiquei Chaerin, por favor. Prometa que vai ficar, que vai lutar e enquanto não debutar não vai desistir. Fique pelo seu sonho, fique por mim... – seu olhar estava mais expressivo do que nunca, eu podia sentir um pesar em seus olhos, um pesar, misturado com medo e angústia.

Abrindo um torto sorriso, levei minhas mãos a do oppa e as segurei calmamente trazendo-as para cima. Imediatamente suas bochechas enrubesceram, uma das coisas mais encantadoras do mundo, mas tentei manter o que estava em mente.

– Oppa... - o chamei bem baixinho, fazendo seus olhos saírem de nossas mãos entrelaçadas e pousarem sobre os meus – Eu prometo que não desistirei, porque eu tenho um sonho e... Eu ficarei por você oppa – disse abrindo um leve sorriso, enquanto sentia o constrangimento alcançar minhas bochechas, fazendo-as arderem. O oppa também sorriu me deixando completamente sem fôlego, mas antes que eu caísse na entrada da SM, juntei forças para dizer – É melhor eu ir – falei recuando alguns passos desajeitadamente e soltando nossas mãos.

– Espere – pediu ele voltando a me olhar nos olhos com um bobo sorriso – Você quer sair comigo?

Se segundos atrás meu corpo ameaçava perder todo o oxigênio, agora eu arfava completamente atônita. Um sorriso automático e descontrolado cresceu em meus lábios expressando toda minha felicidade e mesmo com a voz bem fraca consegui responder:

– Sim Kai oppa.


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Notas finais do capítulo

Kai oppa arrasando corações sempre ^-^ . Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]



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