Secrets escrita por Sky


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Mais um, meus amigos.
Leiam as notas finais, por favor :)



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Hugo Weasley

Não dava mais. Dois meses tinham-se passado desde que havíamos trocado nossas últimas palavras amigáveis. Dois meses infinitos e tremendamente entediantes. Já não suportava não tê-la perto de mim fazendo-me companhia ou ajudando-me em um feitiço complicado. Lily Luna era minha parceira. Fim de história.

Não que não tivesse tentado uma aproximação direta, mas todas às vezes era ignorado miseravelmente. Lily queria tirar-me do sério. Algo que só ela conseguia.

Até aquele quarto ano, não tinha me dado conta ao quanto eu era acostumado a tê-la sempre presente. E talvez não tivesse percebido que o que eu sentia por ela talvez fosse um pouquinho mais do que amor fraternal. A ideia me parecia absurda ainda, e eu estava determinado a ignorá-la. Primeiro tinha que fazê-la recobrar os sentidos e me perdoar. Aquilo tinha que acabar.

Ainda por cima, Lily Luna continuava a andar com aquele garoto sonserino, Zabine, o que deixava-me num estado ainda pior, corroendo-me de ciúmes (de amigos, claro. Nada mais). E ela sabia. Sabia o que isso causava em mim. Fazia de propósito, fosse para me causar ciúmes ou para me irritar (sucesso nas duas opções). Nas poucas vezes em que nossos olhares se cruzaram pude ver sua teimosia colossal, mas também a mágoa, refletidos nos belos olhos castanhos.

Merda.

Agora eu pensava nos olhos de Lily como belos. Aquilo já estava indo longe demais. Ela era minha melhor amiga prima. Um fruto proibido, sendo muito gentil com as palavras. Não queria nem imaginar o pandemônio que eu criaria caso minha família um dia soubesse daquilo.

Pelo menos aquilo era apenas hipotético, afinal, eu não estava apaixonado pela minha prima. Claro que não.

E já tinha problemas reais e imediatos a tratar, já que com a “ajuda” daquela aposta, Lily não queria me ver nem que estivesse coberto de Chocobolas, o doce preferido dela. Nem que eu fosse uma Chocobola.

Balancei a cabeça para espantar os pensamentos malucos por alguns instantes. Lá estava eu, em meus breves quatorze anos, pensando em me tornar um bolinho açucarado recheado de mousse de morango e creme de leite só para agradar uma garota. Por Dumbleddore, era muito novo para estar entrando num estado de insanidade por tempo indeterminado.

Sabia que tinha de tomar alguma atitude. Não ter Lily comigo simplesmente não era uma opção. Mesmo que eu tivesse motivos altamente plausíveis para esperar que ela viesse pedir desculpas para mim, Lily tivera a audácia de perdoar nosso amigo idiota, Lorcan Scamander quase que imediatamente, enquanto provavelmente fingia que eu não passava de uma mancha alaranjada e sardenta na paisagem de Hogwarts.

 Só porque ela era mesmo irritante desse jeito.

 Seja como for, ela me lançava aquele olhar traído e atrevido enquanto andava para cima e para baixo com o cara grandalhão da Sonserina. 

Seria difícil competir com aquele cara. Afinal ele era tudo que as garotas procuravam em um cara. Atlético, podre de rico, não era burro, educado e atraente. Além de um idiota de carteirinha.

Eu era apenas Hugo. Não era lá muito bom Quadribol (ok, ok, eu nem ao menos conseguia me manter estável em uma vassoura), não tinha uma herança me aguardando no Gringotes, e por algum motivo, nenhuma garota parecia sentir-se atraída por um garoto branquelo e magricela (loucas, somos o melhor tipo). Podia não gostar, no entanto, não culpava a Potter por querer um cara como Thomas Zabine como companhia. Ao invés do primo irritante que eu era.

Passei a me lembrar das coisas simples que faziam Lily ser tão especial. Seu cheiro sempre doce e fresco, se eu fechasse os olhos podia pensar que acabara de entrar na Dedos de Mel; seu sorriso travesso; os olhos castanhos e em todas as sardas salpicadas em cada centímetro da pele. Adorava vê-la cantando pelos corredores do castelo distraidamente, ou pregando peças junto a mim e Lorcan.

Nunca se preocupava se tinha se sujado ao comer, nunca penteava os cabelos quando acordava muito cedo, nunca usava maquiagem por não ter jeito com aquelas coisas. Lily era real. Era sincera em tudo que fazia.

Tudo bem, Hugo. Melhor parar por aí, pensei.

Eu estava caminhando em direção ao Salão Principal, com a esperança de que a comida pudesse me animar, geralmente fazia efeito. Sentei-me entre Rose, que brincava com sua sobremesa, e Lorcan, que lia uma revista, girando-a em oitenta graus repetidas vezes.

— Você está péssimo – disse Rose sem cerimônia.

Não que ela estivesse melhor. Os olhos estavam vermelhos e inchados. Bolsas fundas abaixo dos olhos azuis como os meus. Ela esteve chorando, com certeza.    

— Você também – respondi sem emoção. Ela deu de ombros e continuou a brincar com o pudim a sua frente.

— Devem ser mosquitinhos do amor. – começou Scamander com seu melhor tom irônico – Não conhecem? Ah, eles são ótimos! Tem uns arquinhos e flechas minúsculas, são bem legais e saem por ai e-e...

O olhar que eu e minha irmã lançamos para ele foi cortante e o suficiente para fazê-lo calar aquela grande boca idiota. Resmungou algo sobre “falta de senso de humor” e se levantou para sair do Salão, agora lendo sua revista de ponta cabeça.

Era tarde para almoçar, logo poucas pessoas continuavam ali. Eu preferia daquele jeito. A aglomeração de alunos eufóricos só iria atrapalhar minha linha de raciocínio.

Olhei novamente para minha irmã. Ela realmente não parecia nada bem (nem aquele pudim, agora todo picotado e amassado e parecendo nojento, não mais delicioso). Eu seria um péssimo irmão se não procurasse saber pelo menos o que estava acontecendo.

— Então. – comecei – Vai me dizer o que houve?

Rose me encarou carrancuda suspirando logo em seguida.

— Você primeiro.

Não estava com a mínima vontade de fazer segredo com aquilo, até porque aquela altura, todos já tinham conhecimento da “desavença dos Weasley”. Rose era uma boa ouvinte, poderia até mesmo oferecer uma solução engenhosa para meus problemas com mulheres.

— Lily – disse eu. Rose riu sem humor.

— Scorpius – tinha que ser. Os dois não tinham se resolvido até aquele momento. E agora andava por aí como uma sósia não tão irritante da Murta-Que-Geme. Se meu pai soubesse o quanto eu tinha falhado em “proteger” minha irmã esse ano, iria cobrar todos os galeões que me deu, e com juros.

— Vocês meninas são muito estranhas.

Minha irmã apenas riu e bagunçou meus cabelos, como se eu ainda tivesse cinco anos de idade.

— Não vejo graça nenhuma.

— Ah, mas tem sim! – respondeu ela ainda rindo. – Se você se esforçar, vai ver que não precisa de muito para resolver tudo.

Devo ter feito uma careta bem ridícula, Rose tornou a rir. Pelo menos minha desgraça alegrava alguém.

— Sei. – disse eu.

— Sério, Hugo. As coisas não estão tão ruins quanto você pode estar pensando.

— Parece até que sabe de alguma coisa que eu não sei. – Respondi desconfiado.

Ela apenas piscou um dos olhos para mim e sorriu.

— Talvez eu saiba.

Peguei um pedaço do pudim, um inteiro que não tinha sofrido a ira de uma menina ruiva enigmática.

— Obrigada pela sua sabedoria... – resmunguei. Ela suspirou e voltou o rosto para frente.

— Faça algo que vá surpreendê-la, Hugo.

— Como se fosse fácil. – disse eu – Ela nem ao menos olha para mim!

— Vamos, não seja exagerado.

— E ainda por cima, sai se arrastando atrás daquele cara...

— Amargura não combina com seu charme Weasley, meu irmão. – ela ainda ria.

— Ah, cale a boca.

Permanecemos em silêncio por algum tempo, comendo e soltando suspiros miseráveis e inúteis. Rose recolheu seus pertences e se levantou, antes que ela deixasse o Salão, deu alguns passos na minha direção e parou ao meu lado novamente.

— Lily sente tanto a sua falta quanto você a dela. Só não quer dar o braço a torcer.

Abri minha boca algumas vezes sem conseguir pensar em algo inteligente o suficiente para dizer. Era mesmo verdade? Rose andou até as portas de entrada do Salão Principal e virou-se uma última vez para seu irmão sagaz quanto uma porta, eu.

— Você vai ter que arriscar, Hugo! – ela disse alto o bastante para que eu me sobressaltasse.

Então era isso. Precisa de um plano brilhante. Ou um estupidamente idiota. Graças aos meus anos de experiência, planos com pouca probabilidade de sucesso era uma de minhas especialidades.

Thomas Zabine

Lily Luna era uma criatura estranha.

Tinha chegado a essa conclusão quase no mesmo minuto em que a vi, anos antes.

Por ser um Zabine, cresci num mundo de festas elegantes com seda fina e cara enfeitando as paredes, lotada de pessoas com muito dinheiro nos bolsos, mas nenhuma riqueza na alma. Acostumara-me aquele ambiente e a aquelas pessoas. Era fácil para mim decifrar suas motivações. Não agradável, mas previsível de certa forma.

Mesquinhos eram seus objetivos e cruéis eram os métodos que usavam para alcançá-los, não importava a quem iriam ferir na jornada. Era um mundo calculista, cheio de pessoas calculistas. Sem mais. Essa era minha concepção da sociedade.

Meus pais nunca tinham mostrado-me um caminho diferente, agiam como qualquer outro casal puro sangue que freqüentava seu círculo de amizade, aqueles que compareciam para chás da tarde com biscoitos e conversas mordazes sobre a vida alheia.

Tinha acostumado-me aquele sistema egoísta e frio em que eu vivia. Afinal, na Escola de Magia e Bruxaria as coisas também não eram muito diferentes. Crianças eram cruéis umas com as outras, gostavam de diminuir as outras para sentirem-se melhor com elas mesmas. Dando pequenos passos para tornarem-se adultos sem alma, como seus próprios pais, provavelmente.

Aquela realidade não me agradava de forma alguma, mas como já disse, nunca passara pela minha cabeça existir uma outra forma de ser. Optei por tornar-me um bom aluno, mas uma criança isolada das outras. Não queria misturar-me com aquelas pessoas. Ninguém era confiável aos meus olhos inexperientes.

Até que conheci a menina Potter. Tão pequena e cheia de energia que parecia saltar a cada passo que dava. Ela era diferente de várias formas. Podia sentir aquilo em meu âmago. Sempre sentira-me compelido a entender aquela estranha aparição que era a ruiva sardenta da Grifinória. Mesmo que ela tivesse outras primas com semelhanças marcantes na fisionomia, Lily era singular para mim.

Por algum motivo, eu via algo mais em seus gestos e ações. Em meu terceiro ano em Hogwarts, encontrei num dia qualquer, uma menina caminhando sozinha perto ao lago. Ela andava e deixava um objeto escapar pelos dedos finos. Um pomo de ouro, que voava preguiçosamente a alguns centímetros de distância da menina. No outro segundo, ela capturava-o. Seguia naquele estranho ritual, sempre rindo. Ria sozinha e sem motivo aparente. Em um momento de deslize, a garota escorregou nos próprios pés e caiu, estatelada na grama.

Dei um passo em sua direção, pensando em ajudá-la, mas a menina ruiva simplesmente desatou a rir. Ria tão genuinamente que não tive coragem de entrar em sua bolha particular e pacífica.

— Lily, você deveria prestar mais atenção onde coloca esses seus pés desastrados. – ela disse.

Lembro-me de ter olhado para os lados algumas vezes, no entanto, não havia mesmo ninguém mais por perto. Ela falava sozinha e não se importava.

Continuou seu pequeno jogo, agora com as vestes da Escola um pouco sujas de lama. Deu mais alguns passos e percebeu minha presença intrusa, observando-a abismado. Ao contrário do que eu imaginava, a menina não constrangeu-se, apenas acenou e mostrou a língua para mim, um completo estranho.

Depois daquele dia passei a sempre observá-la quando tinha a chance. Eu não a entendia de forma alguma, ela era para mim um tipo de fenômeno da natureza. Lily Luna Potter era uma criatura muito estranha. Era a mais maravilhosa que eu já tinha tido a chance de conhecer. Simples assim.

Era a única pessoa que eu conhecia que não maquinava seus próximos passos, visando suas prioridades. Mesmo que eu não a conhecesse de fato até aquele momento, tinha certeza de que era verdade.

Então, pouco tempo depois, vi Lily entrando na Floresta Proibida sozinha e zangada. Pela primeira vez em minha vida, não pensei nas conseqüências e nem no porque eu seguia aquela grifinória em terrenos proibidos da Escola. Foi uma das melhores escolhas já tinha feito em minha vida.

Depois de nosso episódio desastroso naquele dia, Lily e eu passamos de estranhos a amigos inesperados. E eu só conseguia pensar no tempo que passáramos na Ala Hospitalar, brincando despreocupadamente e trocando beijos escondidos e secretos.

Aquela menina conseguia fazer-me acreditar que nem tudo estava perdido para os seres humanos. Ainda havia esperança de melhora, Lily era a minha prova de que pessoas boas ainda existiam. E eu queria mantê-la sempre perto de mim, onde eu pudesse apreciá-la e cuidar para que aquela esperança nunca se esvaísse de seus olhos. Queria protegê-la e amá-la.

No entanto, desconfiava de que Lily não tinha os mesmos planos para o futuro. Por um tempo aquilo não me incomodara de verdade, sua amizade era suficiente para mim. Mas depois do sexto ano, comecei a almejar algo mais. Queria deixar de ser seu “parceiro das sombras” trancado a sete chaves.

No entanto, quando tinha finalmente tomado minha decisão de contar tudo á ela, Lily Luna estava em frangalhos. Não ria mais com a mesma facilidade, raramente fazia algum comentário idiota e engraçado como de praxe. Alguma coisa séria estava acontecendo com ela, e eu não queria colocar ainda mais coisas para preocupar-se sobre suas costas. Ela era frágil, no final das contas.

Eu sempre fui uma pessoa sensata e muito observadora, sabia que ela talvez não sentisse o mesmo por mim, mas precisava tentar. Apenas desisti de meus planos quando ela confiara a mim o motivo de sua mudança naquele ano.

— Eu e Hugo não estamos nos falando. – dissera ela com lágrimas escorrendo pelo rosto delicado.

Tinha que ser aquele garoto. Era sempre ele.

Uma raiva incomum tomou posse de meu corpo, podia senti-la em minhas veias, pedindo por algo que não poderia ter a força. Lily. Hugo Weasley não fazia ideia do quanto tinha sorte. Aquele projeto de garoto nem ao menos se dava conta de tamanha riqueza que tinha. Ele nem ligava! Não merecia Lily Luna. Fazia-a sofrer quase que de propósito. 

Passei a mão por meus cabelos negros, descontente. Aquilo não levaria a nada.

Como eu poderia se quer pensar em competir com aquele cara? Era óbvio que Lily Luna já tinha tomado sua decisão, talvez nunca nem tenha tido uma escolha, era mais como algo escrito em pedra. Eles eram para pertencer um ao outro.

Ele que era tudo que eu nunca seria. Confiava cegamente nas pessoas, não importava-se muito com as consequências de suas brincadeiras durante o período escolar, ria e fazia Lily feliz como nenhum outro. Como eu nunca fiz.

Em todos aqueles anos de amizade confusa, Lily colocava sempre seu primo em primeiro lugar. Era sempre “ah, vou ver se não marquei algo com Hugo”, “não posso, Hugo ficaria uma fera” ou ainda “que ótima ideia, vou ver se Hugo não gostaria de ir comigo”...

Era doloroso ver como ela nem ao menos reparava no quanto eu a amava, aquele menina era de fato muito avoada.

Poderia até chamá-la de insensível, mas sabia que ela nunca falava por mal, era aquilo que ela queria de verdade. E eu ficaria sempre em segundo plano, independente do que eu fizesse.

Admito, mesmo que ela estivesse muito infeliz nos últimos meses, uma centelha de esperança parecia crescer dentro de mim.

Talvez, depois de tudo aquilo, a Grifinória finalmente percebesse que poderia ser muito feliz ao meu lado. Talvez, depois de algum tempo, ela pudesse entender aquilo que eu sempre tentara dizer, o quanto era linda e mais do que suficiente para mim.

Era uma esperança vã e egoísta, e eu odiava-me por se quer pensar sobre fazê-la sofrer só pela ínfima chance de que ela sentisse algo por mim, ocasionalmente.

Mesmo assim, não era capaz de exterminar aquela fagulha. Se havia qualquer chance de ter Lily Potter ao meu lado, eu lutaria com tudo que tinha.


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Notas finais do capítulo

Pois é gente!
Resolvi fazer um pequeno mistério com nosso casal preferido, Rose e Scorpius ahahahuahau
Mas o que acharam do capítulo? Esses dois rapazes parecem realmente determinados a conquistar nossa Lily Luna, não é? Bom, que vença o melhor, é o que eu digo. Mentira, já me afeiçoei a essas duas versões dos personagens (Hugo e Thomas). Os dois são maravilhosos aos meus olhos.
Enfim, deixem seus comentários, vou amar saber o que estão achando da história!

Beijos da Sky .



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