Observei Harry dormindo em um dia comum que não seria um dia comum. Era o dia do casamento de Draco.

Era estranho ir ao casamento de Draco, eu não devo contar mentiras.

É estranho ir ao casamento do seu ex-namorado, mesmo que vocês sejam grandes amigos e você já esteja casada. Não é estranho no sentido estou-pirando-e-quero-que-ele-não-case, mas sim estranho porque numa realidade alternativa com escolhas diferentes, aquela seria eu. Não Astória. E eu não estaria grávida de sete meses de um filho de Harry Potter.

Embora eu estivesse estranhando o acontecimento, eu também estava extremamente feliz por ele. Draco precisava de alguém doce que abraçasse todo o seu ser, que era um ser muito adorável embaixo de todas aquelas crises do passado. Astória era esse alguém.

Draco e Astória haviam se conhecido em uma festa. Não uma festa-balada, numa festa de adulto. Quase como uma reunião do Clube do Slug. Narcisa havia pedido para que ele a acompanhasse, mas ele havia descoberto tarde demais (ou seja, assim que chegou na festa) que era uma festa cheia de senhoras adultas. Narcisa não era tão velha, ela tinha uns 50 anos, mas ela e todas as suas amigas eram velhas o bastante para ignorarem Draco durante toda a festa. Felizmente, uma das amigas havia levado a filha, Astória Greengrass.

Ela e Draco passaram a a festa toda conversando e, embora Draco relute em admitir isso, eu tinha certeza de que ele havia se dado conta de que já estava apaixonado por ela assim que se despediram naquele dia. O jeito que os olhos dele brilharam ao me contar essa historia o denunciavam.

Ele demorou um pouco para nos apresentar para ela. Ela estava um pouco nervosa em nos conhecer. Eu não a culpava. Ela havia ido para Hogwarts ao mesmo tempo que eu. Eu tenho certeza absoluta de que eu e meus amigos conseguimos traumatizar todos os alunos que tiveram anos em conjunto conosco. Astória havia perdido os episódios da Pedra e da Câmara, que haviam sido bem divertidos, mas os dementadores e o Torneio Tribuxo também poderiam ser considerados eventos de grande porte. A morte de Dumbledore também havia sido um evento e tanto, mas ela não devia ter ficado impressionada com isso, afinal Draco estava envolvido muito mais do que eu.

Astória era dois anos mais nova que a gente. Ela era extremamente bonita e extremamente gentil. Ela sempre estava disposta a me ajudar, e eu já havia pedido umas coisas estranhíssimas para ela. Ela tinha uma irmã que estava no mesmo ano que eu em Hogwarts, Daphne Greengrass, mas ela era do clique de (argh) Pansy Parkinson. Logo, fica bem claro que eu não tive nenhum tipo de contato amistoso com ela. Eu não lembrava de Astória em Hogwarts, e eu imaginava que ela também era da Sonserina até Draco me contar que, na verdade, ela havia sido da Corvinal.

— Chocante, não é? Draco Malfoy apaixonado por alguém que não era da Sonserina. - comentei com Harry, quando Draco nos contou.

— Alice, você não é da Sonserina. - ele disse, confuso.

Não consegui contra-argumentar depois daquilo.

…

Draco havia decidido que iria se casar com Astória.

Eles estavam juntos há mais ou menos um ano, eles se amavam, eles se divertiam juntos e tudo estava lindo.

Draco acordou em um dia, no seu apartamento, e decidiu que a pediria em casamento naquele mesmo dia. É claro que ele não havia decidido, de fato. Porque Draco nunca decidia nada sem me perguntar se ele estava decidindo.

Ele acordou, teve uma crise e usou sua lareira para ir para a minha casa sem nem trocar de roupa.

A parte engraçada dessa história é que eu e Harry estávamos no sofá da nossa sala. Teddy havia dormido na casa de meus pais e nós estávamos no nosso sofa…

Como dizer o que estávamos fazendo de forma elegante?

Nos despindo para fazermos amor logo em seguida.

Outra parte engraçada era a que aquilo foi perto de quando eu fiquei grávida de James. Talvez eu estivesse quase ficando grávida de James naquele dia.

Harry e eu estávamos lá, com roupas de baixo bonitas, quando Draco escorrega pela lareira da sala. Nos dando um enorme, gigante e massivo susto.

— Eu preciso casar com ela! - ele gritou, ainda deitado no chão, sem perceber que estávamos ao seu lado.

— Draco! - exclamei

Harry suspirou, tentando não matar alguém.

— Céus, vocês não têm um quarto? - riu Draco - Ou um filho?

— Temos. - disse Harry - Também temos uma porta de entrada. Uma campainha. Telefones. E o filho está em outro lugar para que nós dois possamos ficar juntos. Bem juntos. Com mais ninguém.

— Certo. - disse ele - Me desculpem, mas eu preciso de ajuda.

— Agora? - perguntou Harry

Draco assentiu.

Suspirei, beijei o nariz de Harry e me sentei no sofá.

— Qual é o problema, Draco? - perguntei

— Eu quero me casar com ela. - ele disse

— Ela sendo a Astória, eu imagino. - disse Harry

— É claro que é a Astória, Potter. - disse Draco

— Malfoy, você não tem direito de ser insolente comigo nesse momento. - disse Harry - Termine sua crise e vá embora.

Draco bufou.

— E qual é o problema, Draco? - perguntei, novamente.

— Eu já disse. - ele murmurou

— E qual é o problema de você se casar com ela? - ri - Se você quer, peça a mão dela!

— O que você quer que a gente faça? - riu Harry

Draco deu de ombros.

— Digam que é uma péssima ideia? - ele disse - Que eu não mereço amor? Que eu devia me dedicar ao celibato? Que eu não fico bem sem camisa?

— Eu nunca te vi sem camisa. - disse Harry

— Eu já. - sorri

Draco riu.

— Eu não acredito que estamos tendo essa discussão. - disse Harry - Draco, você quer se casar com Astória?

— Quero. - ele disse

— Então peça ela em casamento. - disse ele, exasperado. - Bem simples!

Draco cobriu o rosto com suas mãos e gemeu.

— Certo. - ele disse - Vou pedir ela em casamento.

Sorri.

— Se ela aceitar, você quer ser meu padrinho? - ele perguntou

Fiquei esperando Harry responder mas me toquei que os dois olhavam para mim.

— Eu? - perguntei

— Quem mais? - Draco sorriu

— Quero. - sorri

Draco assentiu.

Me levantei rapidamente e o abracei com força.

— Lizzie está te abraçando quase nua. - disse Harry. - Feliz festa de despedida de solteiro.

Draco riu.

— Obrigado, Harry. - ele disse - E Lizzie.

Ele me soltou e se dirigiu à lareira, antes dando um peteleco na testa de Harry.

— Ouch. - disse Harry - É uma área sensível.

— Voltem a fazer o que vocês estavam fazendo. - disse Draco com uma perna na lareira - Tentem não pensar em mim.

— Não podemos pensar em você, é a regra número um da casa. - Harry deu de ombros

— “Não pensar em Draco Malfoy enquanto nos despimos ou em qualquer momento depois disso.” - eu disse

Draco arregalou os olhos e levou uma mão ao peito.

— Eu me sinto lisonjeado. - ele disse - Sério.

Harry revirou os olhos e Draco foi engolido por chamas verdes.

…

E então ele a pediu em casamento. E ela aceitou.

O que me levou a entrar em um altar com vestido, paletó e uma melancia na barriga e me posicionar ao seu lado.

Draco sorriu para mim e segurou minha mão por alguns instantes. Ele estava nervoso. Draco tinha uma auto-estima bastante frágil. Não no sentido de se achar bonito ou feio, mas no sentido de se achar merecedor de amor ou amizades. Ele sempre achava que estava incomodando, sempre achava que não pertencia a certos grupos. Ele estava melhorando, com o tempo, mas eu sempre precisava conversar com ele e eu não podia soltar sua mão em eventos para que ele não se excluísse, algumas vezes.

A música parou por um segundo e Astória entrou no nosso campo de visão. Ela estava absolutamente linda, mais do que o normal.

Draco soltou minha mão e abriu a boca, impressionado.

Harry deu uma piscadela para mim, da primeira fileira.

Lembrei do casamento de Gui e Fleur, mil anos atrás, que eu havia visto Harry sentado perto de mim daquele mesmo jeito. Um pouco diferente, é claro, levando em conta que ele estava usando a aparência de Josh naquele dia.

Astória veio até nós e eles se casaram.

Quando Draco a beijou, eu o vi beijá-la de uma forma que eu nunca o havia visto beijar ninguém. Nem mesmo quando ele me beijava, o que posso garantir que eram beijos ótimos. Ele segurou seu rosto com uma delicadeza e uma ternura que eu me fizeram sorrir e suspirar.

Depois disso, a festa começou. Tirei o paletó e o coloquei na minha bolsinha. Puxei Harry para perto e o obriguei a achar algum lugar para sentar comigo. Eu não sabia que iria estar tão pesada quando concordei que ficaria em pé, sendo padrinha.

Sentei com Harry e ele ficava me trazendo toda a sorte de docinhos que os Malfoy haviam encomendado. Todos os meus amigos também me traziam comida, mas eles eram menos entusiasmados que Harry. Até Draco sempre trazia coisas, ele havia até encomendado alguns dos meus doces favoritos. Ele disse que era porque também eram os doces favoritos dele e de Astória, mas eu continuei acreditando que eram meus doces. Ei, não discordem com a mulher grávida!

No final da festa, Draco se sentou ao meu lado, visivelmente exausto.

— Você não sabe o quanto é sortuda por ter ficado a festa inteira sentada. - ele disse

Bufei.

— Eu não acredito que fiquei seu casamento inteiro sentada! - eu disse - Eu só não fico brava porque eu gosto muito muito mesmo da minha melanciazinha.

Passei a mão por James.

Draco sorriu.

— Logo teremos mais um Potter no mundo. - ele disse, passando a mão pela minha barriga.

Sorri.

— É. - suspirei - Você acha que ele vai ser parecido comigo?

— Não. - disse ele - Ele vai ser igual ao Potter, tenho certeza.

Ri.

— Por que? - perguntei

— Não sei. - ele deu de ombros - Só tenho essa imagem dele quando penso no James. Talvez ele tenha alguma coisinha sua. Como a cor do cabelo, ou dos olhos. Ou a unha do mindinho do pé feia.

Exclamei.

— Minha unha do dedinho não é feia! - eu disse

Draco riu.

— É horrível. - ele disse - Harry e eu já concordamos nesse tópico.

— Vocês são horríveis. - eu disse - É por isso que nossos relacionamentos amorosos terminaram em Hogwarts.

Draco deu uma gargalhada.

— Certo. - ele disse - Você e Potter terminaram no quarto ano, nós dois no sexto e depois disso ninguém nunca mais fez contato.

— Exatamente. - sorri

Draco passou a mão pelo meu cabelo.

— Quer mais doces? - ele perguntou

— Quero. - eu disse - Mas eu preciso ir ao banheiro.

Ele me ajudou a levantar.

— Você acabou de ir ao banheiro. - ele disse

— Eu tenho uma criança espremendo minha bexiga, Draco Malfoy. - eu disse

— Certo, certo. - ele disse - Precisa de ajuda?

Ri.

— Não. Eu sou bem forte, posso fazer xixi e amarrar minhas sandálias sozinha. - eu disse

Ele me levou até a porta do banheiro e beijou minha mão, se afastando em seguida. Entrei no banheiro e fiz, mais uma vez, aquela tarefa impossível.

Eu havia acordado naquele dia achando aquilo estranho, mas não havia mais nenhum sentimento de estranheza em mim. Eu estava muito feliz pelo meu amigo. Eu queria muito que ele fosse muito amado pelo resto de sua vida e eu tenho certeza de que isso aconteceria. Dois anos depois, aconteceria o apocalipse em que eu ficaria grávida junto com Hermione, Astória e Gina, mas isso fica para outra história.