Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 7
Sobrenome Desastre




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Eu estava me sentindo tão estranha. Após o meu "anti-encontro" com Malfoy, eu havia enlouquecido. Nada mais fazia sentido.

Quer dizer, Malfoy era possivelmente um cara legal (argh, que mau gosto), Penny nem parecia mais ser minha melhor amiga, e além de tudo, ainda havia Pandora que estava sempre em meu encalço, a procura de uma oportunidade para se aproximar de Albus. Fiquei imaginando se aquele era o motivo para Penny vir agindo daquela forma incomum – achando que repentinamente Pandora Zabini estivesse querendo tomar seu lugar –, porém lembrei-me de que sua mudança de comportamento era coisa mais antiga. Aliás, ela estava tão distante que era capaz de nem ter notado que Pandora havia surgido na minha vida. E todos já haviam percebido nosso distanciamento.

Enfim, aquilo tudo era demais para a minha pobre mente.

Eu queria sumir.

Por Merlin, era inaceitável. Malfoy ainda era o Malfoy, só que menos... Malfoy. Droga, isso fazia sequer algum sentido? E por que eu não conseguia deixar de olha-lo? Toda vez que eu o via agora, recordava-me dos últimos raios de sol de sábado iluminando seu rosto e de seu sorriso. Oh, aquele sorriso. Deixou-me completamente sem ar, não podia negar. O pior de tudo era que eu estava a cada segundo mais receptiva àquele pensamento e uma voz no fundo da minha cabeça gritava "Ficou doida?! Você odeia esse garoto! Ele é um sonserino esnobe e entediante. Você não o suporta... Se lembra?". Mas tal voz era quase que totalmente abafada por outra que dizia "Meu Deus, Rose! Como você não pôde ver todo esse tempo? Ele é tão diferente do que pensou. Deviam ter virado amigos há anos!". Como eu estava confusa.

Talvez devesse desconfiar. Malfoy poderia ter armado tudo, não é? Entretanto, para que ele faria aquilo? Certo, o garoto conseguiria meu apoio na sua causa de mudar a visão alheia e blá, blá, blá. Mas e daí? Eu era apenas mais uma. Até poderia nutrir um desgosto em especial por ele, mas não era exatamente importante.

É, quem sabe o loiro só estivesse mesmo interessado em ser meu amigo, ainda que fosse difícil de acreditar... E muito.

"Apenas dê-lhe uma chance." A voz dominante aconselhava, enquanto eu encarava as costas do sonserino nos jardins. "Ele não a desapontou no fim-de-semana. Ele merece isso."

Semicerrei os olhos, deixando a cabeça pender um pouquinho para a direita. Eu devia isso a Malfoy. A ideia de dever-lhe alguma coisa não era muito agradável, mas não importava. Era até que verdade.

Um tanto exasperada, fechei o livro de Runas Antigas em minhas mãos e me levantei do banco de pedra, indo em direção ao sonserino. Quando cheguei perto o suficiente, olhei por cima do seu ombro para ver o que ele fazia. Malfoy estava fazendo um esboço de alguma coisa em seu caderno de desenho. Observando com mais atenção, pude notar que se tratava de um rosto bastante conhecido...

– Por que você está desenhando a Dominique? – perguntei tão abruptamente que o fiz se sobressaltar. Ele abraçou o caderno por instinto, tendo necessidade de se agarrar a algo.

Finalmente, Malfoy viu quem o interrompera. E pareceu contente com isso. O cara era problemático.

– Ei, Rose – sorriu. Hunf, ele devia parar de fazer aquilo (eu continuava a ter uma sensação estranha ao ver seu sorriso).

Ainda encarando-o de cima, pus as mãos na cintura e questionei novamente.

– Por que estava desenhando-a?

Malfoy virou seu rosto e pôs-se a observar algo com um olhar contemplativo. Segui seu olhar para me deparar com a minha prima. Ali estava ela, conversando com suas duas leais e metidas seguidoras, digo, amigas a uns dez metros de distância de nós. Não havia nada demais naquela cena, porém.

– Bom, – ele iniciou, coçando o queixo. – às vezes, eu gosto de admira-la.

Revirei os olhos.

– Aff, você também? Certo, não o culpo tanto por isso – ela é um oitavo veela, alô? –, mas era só o que faltava. Pelo jeito, ninguém escapa das garras da maldita.

Ainda sem desviar sua atenção da loira, ele fez um movimento com a mão como se estivesse tentando retificar o que havia dito.

– Não é isso. Quero dizer, ela é uma garota atraente e tudo mais, mas há uma faceta dela... Bom, não acho que ela mostre com frequência e nem estou por perto para ver, em todo caso. Sei lá, é apenas... diferente. Eu estava tentando captura-la aqui – indicou o caderno, erguendo-o. –, porém foi tão breve que não consegui. Aquela garota realmente se esforça para não ser verdadeira.

Dei uma risada que pareceu mais um ronco.

– Verdadeira?! Ela é mais falsa que um galeão de prata.

Malfoy deu de ombros.

– Sei que isso vai soar meio esquisito, mas eu tenho esse costume de observar os outros. Pode ser só uma conclusão precipitada minha de qualquer maneira. Afinal, você é a prima dela.

Acomodei-me ao seu lado, olhando desconfiadamente para Dominique.

– É. Não consigo imagina-la fingindo todo esse tempo. Muito menos imaginar um motivo para que fizesse isso.

– Aí que está – ele voltou a me fitar, seus lábios levemente curvados para cima. – Se for verdade, você não teria como saber, pois já está cega pela antipatia que sente e não consegue pensar com imparcialidade.

Queria ter ficado mais irritada com seu comentário, mas fazia sentido o bastante para eu não retrucar.

Espichei um pouco o pescoço para ver o seu desenho.

– Apesar de não concordar com o motivo da sua inspiração, até que ficou bom – falei, tentando demonstrar pouco entusiasmo.

– Valeu – ele disse. Em seguida, ergueu uma sobrancelha petulante. – Então, quando é que vai cantar alguma coisa pra mim?

– Haha, que tal... Jamais?

– Uma amiga de verdade faria uma pequena demonstração...

– Sim, mas... Espere! Ah é, não somos amigos.

Malfoy riu, me cutucando com seu ombro. Limitei-me a bufar de irritação, apesar de ter precisado comprimir os lábios para não dar um sorriso em retorno.

Eu não seria vencida tão rapidamente. Ele podia ter se provado não tão ruim assim, contudo ainda precisaria me dar mais motivos para que eu pudesse finalmente me render. Seria uma tarefa exigente com certeza.

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"Constrangedor" era a palavra certa. Talvez tivesse sido uma má ideia. Bom, não seria a primeira vez que me comprometia com algo que tinha resultados desastrosos... Eu apenas não esperava que fosse ser assim.

Pandora não conseguia se controlar. Era pedir demais para a pobre garota. A sala comunal da Sonserina parecia estranhamente menor agora que estávamos apenas nós três a ocupando. Entretanto, a respiração irregular e audível da Zabini devia ter algo a ver com aquilo.

Certo, então era minha culpa. Armar esse esquema para parecer que Pandora passava por ali casualmente, quando avistou a mim e meu primo foi um erro.

Ok, vamos voltar um pouco no tempo.

Cinco minutos atrás...

A qualquer minuto, ela deveria aparecer. Até lá, só era preciso que eu mantivesse a conversa com meu primo. Nada demais, visto que era fácil falar com ele. Albus estava sentado em um sofá para dois e eu, numa poltrona. Isso fazia parte da estratégia, é claro.

– E é por isso que eu não suporto libélulas. – Concluiu Albus.

– Ah, entendi – fiz que sim com a cabeça. Com o canto do olho, pude ver que Pandora finalmente havia tomado coragem de sair de seu quarto. Ela andava vagarosamente para a saída. – Pandora!

A sonserina dos longos cabelos ondulados se virou para mim da forma mais natural que conseguiu.

– Oi, Rose – ela deu um rápido aceno.

E foi naquele momento que começou a dar errado. Albus ficou curioso para saber com quem eu falava e olhou por cima do ombro. Seu olhar encontrou o de Pandora. Ela ficou estática.

– Ah, você conhece o meu primo? Este é o Albus. Albus, essa é Pandora Zabini – apontei para ela.

– Eu sei, da aula de DCAT, não é? – meu primo comentou.

A garota não se moveu. Ele, consequentemente, ergueu as sobrancelhas, deu um leve sorriso e se endireitou no assento.

– Er... Pandora, aonde você estava indo? – perguntei, conforme o plano. Silêncio. Oh Deus. – Você quer sentar aqui um pouco conosco? – tentei mais uma vez, minha expressão beirando o desespero.

Ela não disse nenhuma palavra, mas ao menos balançou a cabeça em afirmação, seu olhar nunca deixando Albus. Pandora caminhava até nós mais lentamente que antes. Caramba, ela tinha que parar de olhar tanto ou...

Droga. Ela tropeçou.

Dei um tapa em minha testa, irritada. Albus correu para socorrê-la como um perfeito cavalheiro.

– Nossa, você tá legal? – ele perguntou, levantando-a pelo braço.

Pandora readquiria o controle da situação, um pouco zonza. Até que notou a mão de Albus sobre si e começou a fita-la fixamente, os olhos esbugalhados.

Ai, por Merlin! Por que ela não fingia ser normal por alguns minutinhos? Ou podia dizer alguma coisa, para variar.

Albus a guiou até o sofá e ambos se sentaram.

"Pare. De. Encara-lo." Eu rezava para que meus pensamentos de alguma forma fossem compreendidos por Pandora. Infelizmente, não foram.

– Na verdade, – Pandora iniciou. Ela não precisava piscar, não? – nós compartilhamos a aula de História da Magia também. E a de Astronomia. E a de Estudo dos Trouxas. E a de Feitiços. E a de...

– Wow, quantas aulas, não acham? – interrompi. Era isso ou ficaríamos ali até o dia seguinte.

– De fato – concordou Albus, só então percebendo o estranho comportamento de Pandora. Oh não, ele estava desconfiado.

– Ei, Albus, sabia que a Pandora também adora aquela banda estranha que você escuta?

Albus deixou a desconfiança de lado, enchendo-se de animação.

– Tá brincando! Você curte Troll Bomb?

– S-sim! – ela deu um jeito de responder, parecendo ter feito um enorme esforço.

– Que demais! E qual é o seu álbum favorito?

– Life in the Damned Woods, com certeza.

O sonserino boquiabriu-se.

– Você não pode estar falando sério... Esse é o meu álbum favorito! – ele sorria, eufórico.

– Claro que é – Pandora disse, totalmente fascinada com o sorriso do meu primo.

Antes que ele processasse o comentário dela, intervim mais uma vez.

– Que engraçado, quais são as chances, não é? Albus, por que não conta a Pandora sobre o último show deles que foi?

– Verdade, essa é uma boa história. Você, como uma fã, não vai acreditar...

Albus começou a narrar todo o episódio ocorrido nas férias de verão do quarto ano. Eu não saberia dizer se Pandora estava mesmo escutando-o, tamanha sua concentração em observar cada detalhe do rosto do garoto. Eu já começava a ficar receosa.

– Meu Deus... – a sonserina dizia, hipnotizada, quando ele finalmente terminou. – Você tem tanta sorte... Posso tocar os seus cílios?

– É, eu sei! Fiquei uma semana... Espera, o quê!?

Merda.

– Al, adivinha só! Saí com o Malfoy no sábado – falei, num ato de insanidade.

Meu tópico acabou chamando mais atenção que o pedido incabível de Pandora.

Ufa... Ah não, deixe para lá.

– Como é!? – nunca o vi tão confuso. – Sair, tipo um encontro?

– Hã? Não! Enlouqueceu? Imagine só, um encontro... Eu só estava dando a ele a oportunidade de subir no meu conceito e até que ele conseguiu, mas nem somos amigos apesar disso. Pfff... Encontro...

– E por que ninguém me disse nada? Eu sou o suposto melhor amigo dele e você é a minha prima mais próxima.

– Calma, é que não foi nada de importante. Não querendo defender o Malfoy, mas ele provavelmente só não quis me constranger. E, bom, eu não vi motivo para falar...

– Você passou o dia com o garoto que mais odeia por pura e espontânea vontade, e isso não vale sequer um comentário? – Albus ergueu uma sobrancelha, incrédulo.

– Ok, talvez eu não quisesse dizer mesmo. As coisas andam tão esquisitas, me dê um tempo, Al!

Cruzei os braços. Ele se encolheu no lugar, ressentido. Pandora continuava sinistra no seu canto.

É, voltamos ao momento constrangedor, tendo como trilha sonora a respiração ofegante da sonserina com desiquilíbrio psicológico.

Albus olhou de esguela para a garota e depois para mim.

– Por que será que estou com essa impressão de que você não me contou mais alguma coisa?

Voltei minha atenção brevemente para Pandora. Ela estava gradualmente se inclinando para Albus naquela sua maneira bizarra.

– Não tem nada, Albus.

– Mesmo? – é, eu não conseguiria engana-lo por mais tempo. Pandora estava quase o lambendo ou sei lá.

Inspirei fundo, derrotada.

– Pandora, pode nos dar licença, por favor? – pedi.

Albus deu-lhe um sorrisinho acanhado e isso bastou para que ela se fosse. Mal a morena deixou o recinto, meu primo arregalou os olhos para mim.

– Mas que droga foi essa?

Não podíamos conversar ali, afinal, as paredes ao redor de Albus tinham ouvidos.

– Venha, vamos comer alguma coisa – eu disse, puxando-o pelo punho.

Saímos da sala comunal e seguimos o trajeto normal para o Salão Principal. Até que, no meio do caminho, nos desviei para uma sala de aula vazia onde poderíamos falar com um pouco mais de privacidade. Ainda assim, fiquei próxima dele e aos sussurros. Eu não teria como ter certeza de que Pandora não havia nos seguido.

– Desculpe por isso, mas era necessário – eu disse.

– Por que está falando tão baixo? Aliás, e de que diabos você está falando?

– Certo, se lembra da sua mania de perseguição?

– Lembro, mas o que isso tem...?

– Escute, eu descobri o motivo. A verdade é que você tem uma fã muito devotada...

Albus franziu o cenho.

– Espera, você está dizendo que... – click. E a verdade vem à tona. – Aquela garota me persegue?

– Erm, essa é uma forma de ver as coisas... Mas sim, basicamente é isso.

– E você estava me apresentando para ela!?

– Olhe, antes não me parecia uma ideia ruim. Digo, ela é uma garota bonita e gosta de você, o que poderia dar errado?

– Que tal o fato de que ela é completamente doida?

– Um pouco instável mentalmente talvez, mas doida...? Observar os outros dormindo é meio estranho, verdade, mas...

Albus começou a rir histericamente. Em deboche.

– Você sabe quantas vezes questionei a minha própria sanidade por causa da minha paranoia?

– Eu sei, e...

– Não sabe, não. Por mais dignas que fossem suas intenções, você foi longe demais! E melhor dizer a tal Zabini que ela precisa primeiro passar por um tratamento intensivo antes de vir falar comigo.

Ugh, essa foi pesada. Tanto que formou um nó na minha garganta. De repente, me senti tão mal. Eu era uma idiota mesmo.

– Desculpe, Al – minha voz falhou um pouco.

As feições dele abrandaram.

– Ei – Albus me chamou. – Não precisa chorar também – limpou a área abaixo dos meus olhos.

– O quê? – nem havia me tocado que as lágrimas haviam surgido e fiquei um pouco sem jeito. – Não estou chorando – me afastei do garoto.

– Rose, não estou zangado... Digo, estou um pouquinho. Mas tudo que peço é que esclareça as coisas com a garota.

Concordei, não contendo um soluço.

– Ok.

Albus se aproximou, me envolvendo nos seus braços. Senti-me momentaneamente culpada por redirecionar o foco para mim, mas por alguma razão não conseguia me controlar.

– Vamos, não precisa ficar assim.

Afundei o rosto em seu tórax. Então, percebi porque realmente estava chorando. Minha vida estava de pernas para o ar.

– Não é isso...

– Então, o que é?

– Penny não está mais falando comigo. Ela é minha melhor amiga, Al.

– Tentou conversar para saber o que está rolando?

– Sim, mas ela me evita. Até vai dormir mais cedo para não precisar me ouvir...

– Isso é estranho. Eu ainda acho que precisa confronta-la de vez. Ela não pode fugir para sempre.

Então, fomos surpreendidos pelo rangido da porta.

Ali estava Fred, parecendo ligeiramente confuso com a cena que acabava de presenciar. Não demorou para que seu sorrisinho zombeteiro típico despontasse.

– Agora entendi. Esse tempo todo você tinha outro primo na mira...

Revirei os olhos, deixando o abraço de Albus.

– O que foi, Fred? – fui direto ao ponto.

– Eu voltei para buscar um livro, só me lembrei agora e... Esteve chorando, docinho?

Fiz menção de explicar, mas desisti. Dei simplesmente um suspiro de cansaço.

– Relaxe, não tem importância – falei.

– Oh.

Sem dizer mais nada, Fred foi até uma das mesas e pegou o livro que devia ter esquecido. Olhou distraidamente para a capa e depois para mim. Aparentava estar preocupado, coisa não muito frequente se tratando dele.

– Rose, posso falar com você por um minuto? – Fred pediu.

– Tudo bem, vou nessa... – Albus ia andando para a saída, mas o fiz parar.

– Espere, não vá, Al – virei-me para ele parecendo desesperada. E eu até que estava. Tinha medo de que Fred tentasse me beijar novamente, como fizera da última que estivemos a sós.

Fred e Albus trocaram um olhar de entendimento e, com um leve aceno de adeus, Albus nos deixou.

Droga, eu estava sozinha com Fred.

Já fazia um tempo desde o beijo à beira do lago. Não havíamos conversado propriamente desde então, logo, o clima estava desagradável. Mas havia mais por trás daquela situação incômoda do que um mero beijo.

Fred havia sido tão insistente nas últimas semanas que eu havia criado uma leve aversão por aquele que havia sido um dos meus mais queridos primos. Aquela tensão era apenas uma consequência.

– Desisto – Fred disse sucintamente.

Hã.

– Perdão? – realmente pensei ter escutado mal.

– Isso mesmo, eu desisto.

Pisquei os olhos repetidas vezes em descrença.

– Bem, Fred, isso é... um alívio. Afinal, você finalmente caiu em si.

– É, algo do tipo.

– Como assim?

– Escute, Rose. Isso tudo provavelmente é exagero da minha cabeça e eu não devia ficar presumindo as coisas assim... Mas de qualquer forma, não quero me sentir culpado por estragar amizades de longa data.

– Eu não entendo...

Fred bufou e me segurou pelos ombros.

– Vá falar com a Penny, ok? Não posso ser parte disso.

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As peças estavam se encaixando. Agora, olhando para a silhueta de Penny atrás das cortinas em volta de sua cama, eu começava a compreender. Porém, eu precisava ouvir da boca dela.

Quando nossa colega de quarto Andrea Coleman se retirou para tomar um banho, enxerguei a oportunidade para esclarecer toda aquela história.

Fui até sua cama e puxei a cortina azul para o lado. Penny estava lendo, mas parou, assustando-se ao me ver. Puxando o máximo de ar que pude para dentro dos pulmões, sentei-me sobre as cobertas. Penny deixou seu livro de lado, me encarando com um misto de receio e curiosidade.

Dei um sorriso de lado.

– Oi.

– Oi – ela respondeu, séria. Ao menos, ela havia respondido.

Penny Longbottom era muito delicada. Éramos tão opostas... Eu sabia como lidar com ela, precisava ser cuidadosa. Minha amiga nunca reagia bem a ações muito abruptas.

– Eu sinto sua falta – admiti.

Penny pareceu tocada por um instante, mas suas feições logo endureceram. Não me deixei intimidar, apenas sorri mais uma vez.

– Sabe, eu estava me lembrando daquela vez que a gente achou que conseguiria patinar no Lago Negro quando ele ficou congelado, e...

– Você que achou – ela me corrigiu.

Fiquei tão satisfeita que Penny tivesse me dito mais que uma palavra, que nem me importei que tivesse sido uma correção e prossegui.

– É verdade, e você sabe como é quando eu meto algo na cabeça. Eu estava tão determinada e tive que te arrastar junto, é claro. Meu Deus, como a água estava gelada... – fiz uma careta apenas com a lembrança de cada centímetro do meu corpo congelando.

Vi que os lábios de Penny se curvaram levemente para cima e quase me emocionei.

– Eu avisei que aquela parte estava muito fina para você patinar, não ia suportar o seu peso.

– Como sempre, tinha razão. Mas fui teimosa demais para dar ouvidos...

– Tudo bem. Já estava acostumada – ela disse. Aquela frase normalmente era dita com certo rancor pelos outros, mas quando vinda de Penny não passava de um simples comentário. Nem um pingo de ressentimento.

Isso porque aquele nunca fora o problema.

– Sabe, mesmo que eu nem sempre escute seus conselhos devido a minha natureza birrenta, nunca a considerei menos. Você é minha melhor amiga, Penny. Sabe disso, não é?

Ela desviou seu olhar e abraçou os joelhos. Então, simplesmente balançou a cabeça em confirmação.

– E, sabe, melhores amigas contam as coisas uma para a outra. Eu queria te contar muitas coisas, o que aconteceu nesse último mês e meio... Mas você anda tão distante. Simplesmente não encontro ocasião para conversarmos.

Penny não conseguia me olhar, dava para ver que estava ficando tensa.

– Penny, por favor – a chamei. Visivelmente se sentindo derrotada, ela enfim me mirou. Seus olhos estavam à beira das lágrimas. – Seja honesta comigo. Sei que odeia essa situação tanto quanto eu.

Ela esfregou as pálpebras inferiores, tentando conter seu pranto.

– Você quer honestidade? Muito bem. Olha, Rose, eu sempre estive a sua sombra. Não estou reclamando, muito pelo contrário... Lá era confortável, me sentia protegida. Você se sobressaía em quase tudo, porque era espontânea e segura de si, coisas que eu nunca fui. Mas, de novo, isso nunca me incomodou. Não gosto de atrair as atenções. Então, basicamente, posso assegurar que jamais senti inveja de você... Até agora.

"Fred é o único de quem já gostei. Quando éramos menores, ele me cativou com aquele jeito displicente e totalmente impossível. Você o provocava por causa disso. Já eu, o adorava. Crescemos, e eu apenas assistia enquanto ele partia corações a cada semana. Eu não sentia ciúmes, e com que direito poderia? Bom, não importava. Todas elas seriam dispensadas. Mas então, você me disse que ele havia te beijado." Ela deu uma risada delirante. Um pouco assustadora, até. "A princípio, tentei me convencer de que não era demais, sequer fiquei zangada com você. Digo, Fred sempre foi um galinha. Era questão de tempo até dar em cima de uma das primas... Mas ouvir que haviam se beijado foi muito menos impactante que vê-lo olhando e falando com você daquela maneira." Penny comprimiu os lábios, não podendo mais segurar o choro. "Foi cruel. Eu não podia mais ficar perto de você sem que me lembrasse da expressão de Fred. Por Merlin! Ele me pediu para ajuda-lo a ficar com você... Rose, eu queria saber separar as coisas, mas não dá. Sei que não é verdade, mas só consigo sentir que você tomou a única coisa que importava para mim."

Era uma compilação impressionante de sentimentos reprimidos. A parte mais estranha é que eu não tivesse percebido antes como eu a afetava. Sim, eu sempre a defendi, mas não sabia que a ofuscava. Sempre achei que estivéssemos par a par uma com a outra. Entretanto, isso não era verdade.

Sentia um incomum peso na consciência em relação a Fred, mas aquilo já não cabia a mim. E nunca coube. Sem contar que eu nunca soube de seus sentimentos para com ele.

– Eu agora entendo sua situação e compreendo porque fez o que fez. Só há uma coisa que não é justa aí... Você não pode deixar de ser minha amiga por isso, não é um motivo razoável. Você tinha razão, ele não me ama dessa forma...

– Como é que você sabia que eu havia dito isso?

– Eu os escutei noutro dia. Sim, sei que isso é ridículo, escutar as conversas alheias, mas enfim... Ele me disse que não insistiria mais. Bom, não sei para você, mas para mim, quando alguém desiste de outra pessoa, é porque não era tudo aquilo o sentimento. Ele só me pentelhou por tanto tempo, porque se divertia, mas a diversão eventualmente acaba quando se está lidando com alguém tão resistente como eu.

– É, você tem um ponto válido.

Eu sorri, tocando seu braço. Ela não se esquivou, bom sinal.

– Claro que tenho, porque é a verdade. Mas de qualquer forma, me desculpe pelo que a fiz passar, ainda que inconscientemente. Eu vou te ajudar, Penny. Você não pode viver a sombra de ninguém, tem que andar com os próprios pés, entende? Mas eu sei que você consegue, se enxergar que tem essa capacidade – eu disse. As palavras soavam como algum tipo de chavão, porém era de coração.

Penny ficou por alguns segundos em silêncio, mas logo o desfez.

– Eu também preciso pedir desculpas pela forma que a vim tratando. Você está certa, não foi muito justo. Meio egoísta, até...

Debrucei-me na cama, apoiando os cotovelos no colchão. Estiquei meu dedo mindinho para ela, com uma fisionomia esperançosa.

– Estamos numa boa de novo?

Penny analisava minha proposta, levemente apreensiva. Alarguei meu sorriso, encorajando-a. Ela sorriu de volta e uniu seu dedo mínimo com o meu.

– Estamos.

– Sabe do que mais? O Fred que é um cabeçudo por não perceber o quanto você é incrível. Apesar de que não é muita surpresa, pensando bem... Ele nunca foi o Sr. Genialidade, afinal.

Ela riu. Só Deus sabe como eu havia sentido saudades de rir com ela.

– É mesmo. Mas chega desse garoto. Vamos falar de outra coisa... – ela se recompôs. – O que aconteceu nesses praticamente dois meses que eu estive ausente da sua vida?

Mordi o lábio com a figura de Malfoy invadindo meus pensamentos.

– Digamos que eu tenho um novo quase amigo. Penny, se você soubesse... Eu sou tão hipócrita.

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Notas finais do capítulo

N/a: Faz mais ou menos um mês que eu não atualizo, né? Esse foi outro capítulo que ficou longo e serviu como resolução de alguns dos conflitos. Claro que alguns surgirão a partir deste, mas isso é história pra depois :) Tenham paciência com a fic, haha
Tenho um vestibular amanhã, torçam por mim *-* Não é muito difícil esse que eu vou prestar, mas nunca se sabe.
Hum... Deixe-me ver... Esqueci de alguma coisa? Acho que não. Pessoal, se tiverem alguma dúvida em relação a trama ou personagens, me avisem ^^
Beijooooos!



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