Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 6
He's Got You High (And You Don't Even Know Yet)


Notas iniciais do capítulo

What's up bitches? (LOL brincadeira. Capítulo novo na área, bro)



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Sábado chegou mais rápido do que eu esperava. Quando olhei pela janela naquela manhã, o céu já estava claro apesar de nublado, indicando que em algumas horas teria que cumprir o combinado feito com Malfoy.

“Não é um encontro!” eu repetia para minha mente incontáveis vezes. “Sequer é uma saída entre amigos... Nós não somos amigos!”

Decidi que não iria me produzir por inteiro só para olhar para a cara daquele sonserino. Ele não valia todo o trabalho que eu teria me arrumando... Jeans, blusinha, um casaco, tênis e um gorrinho cor de rosa: estava mais do que bom. Por algum milagre divino, meu cabelo estava bastante decente, então me poupava de mais um problema. Olhei-me no espelho próximo à cômoda. Eu estava bem, ponto final. E ai se o Malfoy discordasse!

O meu relógio de pulso indicava onze e meia. Ainda tinha tempo de pegar o restinho do café-da-manhã. Segui para as escadas e fui descendo rapidamente, porém, tropecei no penúltimo degrau. Segurei-me num pilar de apoio para não cair, ficando ofegante graças ao susto. Foi quando ouvi vozes familiares por perto. Deviam estar a poucos metros de mim, na sala comunal. Agarrei-me firmemente ao pilar, curiosa para saber sobre o que falavam ainda que reprovasse ficar bisbilhotando. Bom, tive uma espécie de pressentimento.

– Desculpe-me, Fred, mas não vou ajudar – Penny dizia num tom irritado, o qual raramente usava.

– Como assim, Penny? O que custa? – Fred estava suplicante.

– Ela não está interessada! Quantas vezes terei que dizer? Minha resposta ainda é a mesma: não.

– Olha, Penny, escute... Você é a melhor amiga da Rose. Se alguém pode ter alguma influência sobre ela é você! Poxa, ajude um pobre amigo em necessidade. Estou desesperado! – ele usava sua velha tática de fazer-se de coitado.

Surpreendentemente, Penny não baixou a guarda.

– Pare de ser tão insistente, apenas aceite a recusa.

– Impossível, eu a amo...

– Não! – ela se exaltou ainda mais. – Você não a ama, nada! No máximo como prima, mas só. Eu o conheço, Fred. Você não está apaixonado coisa alguma, apenas se sentiu desafiado porque ela não o quis. O que você ama é a ideia de conquista-la.

Um silêncio se seguiu, eu podia sentir a tensão no ar.

– Mas... – ele iniciou.

– Somente esqueça.

Ouvi-o bufar de aborrecimento.

– Então, essa é a sua decisão final?

Penny levou um tempo para responder, mas prosseguiu.

– É – disse numa voz meio falha.

– Muito bem, então.

– Será que você podia sair da minha sala comunal agora? Falamos tudo o que tínhamos para falar, eu acho.

– Sim, falamos – e foi a última frase que o escutei dizendo.

Após isso, eu a ouvi soluçar. Aquele som partia meu coração: Penny estava chorando. Entretanto, eu não conseguia compreender. Havia ficado grata por ela escolher o meu lado, mas não entendia porque havia ficado triste com isso. Certo, era chato brigar com um amigo, porém, o jeito como ela argumentara... Era diferente.

Não tive tempo de concluir meu raciocínio. Seu pranto ficava cada vez mais audível, logo, presumi que ela estivesse se aproximando. Era improvável que eu chegasse ao topo das escadas antes que pudesse ser vista, então fingi que descia os últimos degraus justamente naquele momento.

Penny arregalou seus olhos castanhos marejados ao me notar.

– R-Rose? Está aqui há muito tempo? – ela tinha uma expressão preocupada no rosto.

– Er... Não, acabei de descer. Penny, por que está chorando?

Minha amiga enxugou os olhos de qualquer jeito, pois mais lágrimas vinham.

– Não é nada, eu bati o meu joelho na quina de uma mesa... Com licença – ela passou por mim, subindo a escadaria.

– Penny! – chamei-a inutilmente. Penny nem se virou.

Eu estava perdendo algum detalhe. Mas o que seria? Qual era o problema, afinal? Eu era a melhor amiga dela, por que não podia me contar?

A cada segundo ficava mais próximo o meio-dia. Tinha que ir logo para o Salão Principal.

Fiz meu trajeto numa velocidade acima do normal. Uma agitação incomum crescia em mim, fazendo meus passos serem mais rápidos. Assim que cheguei à mesa, fui devorando os cupcakes restantes sobre ela. Logo, a visão mudaria e seria hora do almoço.

– Cuidado, ou vai engasgar – alguém a minha frente disse.

Ergui o olhar e me deparei com os gêmeos Scamander.

– E aí? – cumprimentei, ainda com comida na boca. Pois é, sem classe nenhuma.

– Acho que vou chama-la de Cupcake – disse um deles, que presumi ser Lorcan por causa do assunto.

Engoli o que estava mastigando, encarando-o com uma sobrancelha levantada.

– Cupcake?

– É, pelo jeito você gosta de cupcakes – ele explicava. – E até que é um apelido bonitinho – fez uma careta torcendo os lábios que achei engraçada.

– E você até que é bonitinha – Lysander deu de ombros, falando num tom brincalhão. – Combina.

Dei um sorriso.

– Valeu. Vocês dois são gentis até demais. Se o meu apelido dependesse da minha prima Dominique, provavelmente seria algo como “porca faminta”, ou sei lá.

– Ela não parece muito simpática – comentou Lorcan.

– E não é, Lorc. Tenho uma séria desconfiança de que ela é a verdadeira encarnação do mal – eu disse, agarrando mais um cupcake. Antes que pudesse mordê-lo, vi a “dita cuja” vindo em nossa direção. – Falando no diabo...

Dominique batia seus enormes cílios para mim, fazendo sua cara de cínica.

– E eu achei que você não pudesse ir mais fundo no poço... – ela dizia, sentando-se ao meu lado. – Então, Debi e Lóide são seus novos melhores amigos? – olhava para os gêmeos maldosamente.

– Oh não, eu me chamo Lysander e esse é o meu irmão Lorcan – Lysander disse, nem se tocando da ofensa em forma de piada da sonserina.

Dominique o encarou por longos segundos, totalmente descrente.

– Você é tão idiota que nem tem graça tirar sarro – ela o olhava como se fosse digno de pena.

Os irmãos se fitaram, franzindo as testas. Mirei minha prima, com raiva.

– Se quiser, pode me encher à vontade. Mas faça o favor de não ser desagradável com os outros, ok?

– Trato-os como merecem.

– Você devia revisar seus conceitos sobre educação, então.

– Haha, aulas de etiquetas vindas de uma trasga feito você? Por favor, querida – ela estendeu a mão na frente do meu rosto, num sinal de “pare”.

Lysander apoiou os cotovelos sobre a mesa, fazendo os talheres e pratos por perto tremerem e também captando a atenção de nós duas.

– Isso tudo é muito fascinante, mas vocês sabiam que se pularem dezessete vezes numa perna só durante a lua cheia em frente a um unicórnio, enquanto cantarolam uma cantiga antiga e pensam na cor azul, podem ganhar um dia extra de vida? – terminou de falar parecendo ter revelado uma informação exclusiva e preciosa. – Isso salvou meu tio-avô da morte.

Certo, eu estava olhando-o de uma forma meio assustada e patética, como se Lysander possuísse três cabeças. Por que ele disse aquilo mesmo?

– Essa é a maior merda que eu já ouvi na vida – Dominique disse, erguendo uma das sobrancelhas, numa expressão beirando o nojo. – Seja lá quem disse isso, é um demente.

– Está chamando nossa mãe de demente mentirosa? – Lorcan pôs a mão sobre o lado esquerdo do peito, sentindo-se completamente ofendido.

Antes que Dominique dissesse algo mais ou que Lorcan a xingasse de volta, Lysander se pronunciou.

– Nem esquenta... Você sabe que eles nunca acreditam. Anda, vamos sair daqui – foi se levantando, puxando o irmão pelo suéter. – Até depois, Cupcake.

– Tchau, Red... E Lorc – acenei levemente, mas eles já estavam de costas mais à frente.

Dominique pôs-se de pé também, porém, insatisfeita e furiosa.

– Hey! Voltem aqui, seus anormais! Eu não tinha terminado... – a sonserina falava praticamente com as paredes.

Segurei o riso. Ela me olhou fatalmente, como se estivesse querendo arrancar minha cabeça.

– Ninguém me deixa falando sozinha. Eu quem saio de cena e dou a última palavra!

– Er... Não de acordo com o Lysander.

Dominique olhou para os gêmeos já distantes, possuída pela cólera. Tanto que seu rosto estava ficando todo vermelho.

– Isso não termina aqui – declarou, saindo dali.

Essa cena toda foi meio bizarra. Então, tá.

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Tão, mas tão frio. Péssima ideia economizar na produção, ou melhor, no cérebro. Eu tinha que ser tão teimosa, agora estava congelando, apenas criando coragem para entrar no Três Vassouras. Comecei a bater os dentes.

“Que maravilha, toda vez que eu o encontro estou tremendo de frio.” Parecer delicada e frágil era a última coisa que eu queria se tratando do Malfoy. Respirei fundo, tentando acalmar os músculos trêmulos. “Eu posso fazer isso, estou no controle.” E com esse pensamento, abri a porta do estabelecimento.

O lugar estava cheio, provavelmente as pessoas entraram para se abrigar e aproveitavam para tomar alguma coisa. Percorri o espaço com os olhos, à procura de Malfoy.

– Hey, Weasley! – era sua voz. Olhei para o lado esquerdo. Ele estava sentado a uma mesa da ponta.

Aproximei-me, tentando não demonstrar muita empolgação com a situação. Quando me sentei, ergui as sobrancelhas.

– Oi – eu disse simplesmente.

– Então, er... Como vai? – perguntou, parecendo meio incerto de como iniciar um diálogo.

Revirei os olhos.

– Malfoy, sem essa conversinha mole. Direto ao ponto, ok?

Ele suspirou, aliviado.

– Obrigado. Eu realmente sou péssimo com essa parte – admitiu, coçando a nuca. – Antes de irmos, beba alguma coisa. Fica por minha conta.

– Para você transformar isso numa oportunidade de ostentar seu dinheiro? Não mesmo. Eu pago o que consumir, entendeu?

Malfoy ergueu os braços como se estivesse se rendendo.

– Como quiser.

Dei de ombros e chamei alguém para me atender. Após pedir uma cerveja amanteigada, bebida que Malfoy também requisitou, comecei a encarar o loiro. Será que ele não diria nada? Era isso que eu odiava nele, sempre transformando os momentos em algo insu-...

– Gostei do seu gorro – ele disse, com um sorriso bem pequeno, mas em todo caso havia uma curvatura ali.

Tirei o gorro cor-de-rosa da cabeça e o analisei melhor. Não havia nada demais nele.

– É só um gorro simples. Minha avó que tricotou.

– Eu sei, mas sei lá. Eu gosto de como fica em você – apesar do elogio, suas feições estavam livres de qualquer emoção. Era como se tivesse feito um simples comentário sobre o tempo, exceto que causava um efeito totalmente oposto em mim.

Senti as bochechas queimando e enfiei o gorro de volta na cabeça.

– O que eu lhe disse sobre conversinha mole? – falei, rezando para que ele não reparasse no rubor da minha face.

Antes que eu ficasse mais constrangida, as bebidas chegaram e pude usar aquilo como desculpa para não dizer nada, apenas peguei meu copo e comecei a beber.

– Para facilitar as coisas, o que você considera “conversa mole”? – perguntou.

Repousei o copo na mesa de forma meio agressiva. Ele não se assustou. Droga.

– Qualquer coisa irritante.

– Terá que fazer melhor que isso.

Suspirei, aborrecida.

– Ok, perguntas idiotas como “Você tem cachorro?” ou “Chocolate ou morango?”, comentários sobre qualquer peça do meu vestuário, falar do clima, e finalmente, fazer qualquer crítica ao Chudley Cannons.

– Ah, claro, os invictos Cannons... – fez uma alusão de forma irônica ao fato do meu time sempre perder.

Semicerrei os olhos de forma mortífera.

– Não repetirei as regras – avisei.

– Foi mal. Recomeçarei... Rose Jean Weasley, certo? Esse é o seu nome?

Ele estava testando minha paciência. Respirei fundo para manter-me calma.

– Sim, que bom que sabe com quem está conversando.

– É sempre bom verificar... Prazer, Scorpius Hyperion Malfoy – estendeu a mão por cima da mesa.

Encarei a oferta, confusa e incrédula.

– Que droga é essa?

– Um recomeço, oras. Achei que fosse mais rápida de raciocínio que isso...

Mais uma vez rolei os olhos. De má vontade, aceitei o aperto de mão.

– Encantada – dei um sorrisinho irônico e recolhi minha mão.

– Bom, Rose...

– Você não vai realmente me chamar pelo meu primeiro nome, não é?

– Jean, quem sabe?

Dei um tapa de irritação na minha própria coxa. Ele estava querendo ter diversão às minhas custas.

– Não!

– E qual o problema com Rose?

Fiz um grunhido de aborrecimento.

– Ótimo! Chame-me como quiser – peguei a cerveja amanteigada e dei mais um gole para ver se o doce da bebida me distrairia, relaxando-me um pouco. Não fez muita diferença.

– Então, Rose, o que gosta de fazer?

– Hã... Coisas? – aonde ele queria chegar, afinal?

– Que tipo de coisas?

– Não sei, vários tipos, eu suponho – falei, me embolando nas palavras. Malfoy permaneceu em silêncio, esperando por algum complemento. – Gosto de ver filmes antigos trouxas, de colecionar figurinhas dos sapos de chocolate, de comer... Esse tipo de coisas.

Malfoy pôs-se a coçar o queixo, com uma expressão pensativa.

– Interessante...

Cruzei os braços, com um olhar desafiador.

– E você, Sr. Malfoy? O que tem de tão interessante sobre vossa pessoa?

Ele crispou os lábios, observando vagamente janela afora.

– De interessante? Honestamente, não muito. Gosto de ler, de escrever, de bancar o fotógrafo amador, e até mesmo tocar piano, mas isso sei que não faço muito bem.

Franzi o cenho, ficando intrigada – não podia negar.

– Você é esquisito, Malfoy.

– Sei disso.

– Tem certeza de que é um adolescente? Ou melhor, que nasceu na época certa?

– A cada dia fico mais convencido de que não.

– Eu também acho que não – ele de fato não se encaixava.

O sonserino se remexeu em seu lugar, procurando uma posição mais confortável.

– Tenho a sensação de que você tem outro hobbie – falou.

Senti o estômago revirar. O Albus devia ter contado, só podia ser.

– Não tenho – respondi firmemente.

– Mesmo?

– Sim. Não tenho talentos.

– Quem falou em talento?

Aquele olhar no seu rosto pressionava-me e encurtava minha paciência.

– Escute, eu não faço mais isso. Eu sei que meu primo comentou, mas já faz tempo. Eu parei.

– Wow, que carreira curta.

– Não é para tanto, francamente... Eu cantava por puro prazer, Malfoy.

– Então, o que mudou?

Não era da conta dele. Eu mal sabia como havia deixado esse assunto ir tão longe. Mas... Eu queria dizer. E ele estava interessado.

– Perdi a vontade. Bom, não sei explicar... Um dia levantei e não tinha mais motivação. O que me fazia feliz uma hora, na outra não fazia mais.

– Instável, entendo...

– Não sou nenhuma desiquilibrada, Malfoy! – não gostei do tom dele. Só então percebi que o meu era vinte vezes pior. – Ok, talvez eu seja um pouco estressada, ao menos se tratando de você.

Um sorriso curioso se espalhou em seu rosto. Eu não sabia se devia me sentir ofendida ou incomodada. Todavia, não senti nada disso. Aquele sorriso em particular me fazia querer sorrir também. Contive minha vontade, é claro.

– Bom... – o loiro iniciou. – Eu sei que é assunto proibido, mas se você olhar pela janela, notará que começou a nevar.

Primeiramente, não acreditei nele. Porém, bastou que eu virasse o rosto para ver os flocos caindo do céu. Arregalei os olhos e fiquei boquiaberta.

– Não... Não é possível... Ainda estamos em Outubro, pelo amor de Deus!

– Tem sido um outono congelante.

– Agora, literalmente.

– Tempo perfeito para a gente sair e cumprir o cronograma – ele disse na maior naturalidade.

Olhei-o como se fosse louco. Aliás, ele era completamente insano.

– Justo nesse momento que começou a cair neve? Pirou?

– Não, é que ficará muito tarde depois – levantou-se, deixando algumas moedas douradas sobre a mesa. – Venha, vou leva-la a um lugar.

Deixei meus sicles próximos ao pagamento dele e o segui.

– Posso saber aonde exatamente?

– Pode, mas será que não prefere o suspense? Não é mais emocionante assim?

Já estava cansada demais de retrucar todas as suas frases, por isso, deixei por aquilo mesmo.

Após algum tempo, percebi que íamos rumo ao castelo.

– Ei! Por que estamos voltando?

– É o único caminho.

Má hora para ficar fazendo perguntas. Talvez eu devesse apenas permanecer muda por alguns minutos. Não demorei a ver que não seria muito difícil se eu possuísse alguma distração, ainda que eu não a aprovasse.

Observava Malfoy enquanto o mesmo andava. Seu cabelo loiro platinado estava um pouco comprido, notei, e o vento forte o jogava para trás. Sua pele era tão alva, possivelmente da cor da neve ao nosso redor. Imaginei-o se virando para mim e dando aquele sorriso peculiar, e pela primeira vez, considerei-o... Bonito. Porém, despertei dos meus pensamentos ilógicos antes que piorassem e tentei focar em qualquer outra coisa.

Após entrarmos no castelo, reconheci o caminho que ele tomava. Estávamos indo para os fundos do castelo, onde ficava a cabana do Hagrid. Mas eu duvidava que seu propósito fosse fazermos uma visita ao meio-gigante.

Só quando chegamos lá que me toquei.

– Você não está pensando no que eu acho que está pensando, certo?

– E no que acha que eu estou pensando? – olhou ligeiramente para mim por cima do ombro, não diminuindo o passo.

– É proibido, Malfoy! Está inclusive no nome: “Floresta Proibida”.

– Ninguém nos verá.

– E daí? A gente pode morrer, ou sei lá!

– Relaxe, isso não vai acontecer. Sei o que estou fazendo.

Não pude protestar novamente. Quando vi, já estávamos adentrando na floresta e o cheiro de planta invadiu minhas narinas.

– Se algum bicho vier me morder, juro que faço picadinho do seu fígado – ameacei, desviando das árvores abundantes.

– Lembrarei-me disso, pode deixar.

Malfoy parecia saber mesmo para onde íamos, ainda que eu achasse que quanto mais adentrávamos na natureza, mais perdidos ficávamos.

– Há um prazer nas florestas desconhecidas, um entusiasmo na costa solitária... – ele falava consigo mesmo, olhando ao redor com fascinação.

Aquelas palavras pareciam-me estranhamente familiares. Onde eu as ouvira antes?

– Ei, Malfoy, de onde é isso que você falou?

– O quê? Ah... É Lord Byron. Já ouviu falar dele?

– O poeta romântico? Sim, acho que estava no seu livro.

– Hum, verdade. Agora, me recordo.

Mas que cara sinistro. Ficava citando gente morta enquanto andava numa floresta escura. Bom, era um poema bonito, em todo caso.

A caminhada parecia nunca ter fim.

– Já estamos chegando seja lá aonde? – questionei, cansando-me.

– Quase...

De repente, o loiro estacou no lugar. Havíamos parado numa clareira. Estava vazia, ainda que eu ouvisse ruídos, mas deviam ser apenas os animais selvagens da floresta... Esse pensamento não era nada reconfortante, para falar a verdade. Malfoy pegou a varinha e a usou a para fazer um pequeno corte na ponta do dedo. Eu obviamente fiquei ainda mais desconfiada, certa de que ele me envolveria em algum ritual voodoo.

– É isso aí – o garoto disse, parecendo satisfeito e andando para o centro.

Dei mais alguns passos, mas ainda incomodada por não estar entendendo nada, parei cruzando os braços.

– Qual é o truque, Malfoy?

Ele girou nos calcanhares e me fitou, um pouco confuso.

– Truque?

– É, o truque! Para que me traria para um lugar desses, totalmente deserto? Não sou idiota – saquei a varinha, apontando em sua direção. – Se tentar qualquer coisa, vai descobrir que eu não sou nada inofensiva se tratando de feitiços de duelo.

Ele deu um sorriso levemente intimidador.

– Quem disse que o lugar está deserto?

Apenas para confirmar, dei mais uma fiscalizada ao redor. Eu não via nada além de Malfoy.

– Está vazio, não enxergo coisa alguma.

– Mas pode sentir. Vem cá – fez sinal para que eu me aproximasse.

Ponderei antes de dar o primeiro passo, porém, comecei a seguir em sua direção.

– Está tudo bem, venha.

Agora, praticamente lado a lado com ele, minha ansiedade estava no auge e meu estômago irrequieto. Olhei para ele, querendo saber o que fazer em procedência.

Malfoy então agarrou meu pulso. Puxei-o de volta, assustada.

– O que está fazendo?

– Confie em mim.

– Eu não confio – lancei um olhar de suspeita.

– Por favor? – pediu num tom sério e firme.

Permaneci calada. Ele deu meu silêncio como consentimento, pegando novamente meu pulso. Ergueu-o na altura da minha cabeça, esticando minha mão para frente. Surpreendentemente, senti alguma coisa.

Dei um gritinho abafado, espantando-me.

– Calma, não vai feri-la – Malfoy disse de forma tranquilizante.

– O-o que é isso?

– Lembra-se do primeiro dia de aula? Das carruagens?

– Os testrálios – as memórias vieram à tona. Virei o rosto para olha-lo. – Então, eles existem mesmo?

– Sim, por que eu mentiria?

Rapidamente, encarei os pés, constrangida.

– Eu não sei. Não faça perguntas difíceis.

Ele soltou meu pulso.

– Pode passar a mão nele.

– Mas eu nem consigo vê-lo...

– Não entendo como isso pode impedi-la.

Mesmo apreensiva, tentei acaricia-lo. Ri de leve.

– Ele é meio áspero – pude constatar.

– É, são as escamas.

– E bem ossudo também – estranhei.

– O couro é praticamente grudado no esqueleto. Ele não é muito bem nutrido, se é que me entende.

Estava maravilhada com aquilo. Ainda que não enxergasse o testrálio, ou que pela descrição de Malfoy, ele não fosse um animal dos mais fofinhos, eu sentia que era um ser dócil.

– Acho que ele gosta de você – comentou o sonserino.

– Por que diz isso?

– Bem, ele não recuou nem um passo quando você chegou perto e... Ah, ele parece contente de algum jeito.

Sorri, satisfeita.

– Queria ver isso.

– Não, não queria – Malfoy disse de forma um pouco rude para seu tom habitual.

Eu ia reclamar, mas entendi sua reação.

– Desculpe-me, tinha me esquecido de como alguém se torna capaz de vê-los.

– Tudo bem – deu de ombros. – Principalmente, porque não é todo dia que Rose Weasley me pede desculpas.

Nem era preciso olhar para o sonserino para saber que ele estava com um sorriso convencido.

– Ah, cala a boca – eu disse, mas não conseguia disfarça o meu próprio sorriso.

– E aí? Quer dar uma voltinha?

– Como é?

– Você sabe, ele é tipo um cavalo. Dá pra montar e...

– Haha, não, não, não e não! Fazer carinho até vai. Foi legal, mas andar nesse negócio está fora de cogitação.

Malfoy foi um pouco mais para frente e fez menção de subir em alguma coisa, que imaginei serem as costas do animal.

– Você não pode estar falando sério – o encarava com descrença.

Quando vi, o loiro já estava flutuando, ou melhor, sentado no animal invisível. Aquilo era completamente aterrorizante.

– Eu não posso vê-lo, não vou subir em algo que não posso ver – sabia que minha expressão de medo estava me entregando, mas eu estava mesmo receosa.

– Rose? – Malfoy me chamou e tive que olha-lo.

Aquela cara... Como dizer “não” para aquela cara? E quando é que uma expressãozinha de dar dó teve algum efeito sobre mim? Bom, havia uma primeira vez para tudo.

– Eu não acredito que farei isso – aproximei-me, já me arrependendo antes mesmo de subir.

– Não se preocupe, eu sou bom em equitação – ele falou, me ajudando a montar.

Argh, que assento duro.

– Ele não é muito confortável – eu disse. Olhei para o chão e senti tontura. – Não dá, não tem nada em baixo, parece que vou cair...

– Já some essa sensação. Pronta?

– Será que não podemos ficar aqui mais um pouquinho?

– Não – ele respondeu, parecendo estar se divertindo com meu sofrimento.

– Malf... – não pude concluir minha frase.

Por algum comando do garoto, o testrálio começou a se mover. Gritei, pois fui pega tão de surpresa que quase me desiquilibrei. Para evitar o tombo, agarrei-me com toda a firmeza do mundo em Malfoy. Fechei os olhos fortemente, sem coragem de ver o que estava acontecendo, apenas sentia uma incrível leveza.

– Hey, tudo bem aí? – o ouvi falando.

– Não, eu quero sair – apertei meus olhos ainda mais.

– Mas você já deu uma olhada em volta?

– Não, e nem vou.

– Ah, só olha vai...

– Não, eu já disse!

– Anda logo.

Fui abrindo os olhos lentamente, apreensiva. Foi quando percebi que estávamos voando. É, eu gritei de novo.

– Malfoy, seu imbecil! – berrava com ele, escondendo o rosto atrás de seu ombro para me poupar da visão. – Você não me disse que esse troço voava!

– Você não perguntou...

– E precisava? Tenha o mínimo do bom senso!

– Aprecie a vista, Rose...

– Não tem o que apreciar, nós vamos morrer! Ah, eu sou tão nova, tinha tantos planos...! Todos arruinados por você!

Escutei-o rindo. Maldito.

– Se vamos morrer, a única coisa que resta é você aproveitar o momento então.

Não havia o que discutir com aquele ponto. Espiei de leve, ainda enlaçando firmemente seu tronco. Ah meu Deus, estávamos a dezenas de metros do chão! Eu via a neve caindo como se fosse eu a despeja-la por toda extensão dos terrenos de Hogwarts. Falando na escola, eu podia vê-la por completo dali. As torres, os jardins... Os alunos pareciam formiguinhas circulando de um lado para o outro.

O horizonte era belíssimo, provavelmente a paisagem mais linda que já havia visto. A maneira como as montanhas ficavam daquela altitude, as nuvens tão próximas... Sentia que poderia toca-las. O único revés era que o ar ficava muuuito mais gelado lá no alto. “Por sorte, Malfoy até que é bem quente... Não acredito que pensei nisso.”

– Nada mal, não é? – perguntou, com uma pitada de orgulho.

– É legalzinho... – eu disse e ele me olhou por cima do ombro. – Ok, certo, é incrível. Admito, é fantástico.

– Só para você saber, fiz o corte no dedo mais cedo, porque eles são atraídos pelo cheiro do sangue. Mas não se preocupe, pois só comem carne de animais mortos.

– Bom, isso é um alívio – falei.

Senti seu peito vibrar com mais uma pequena risada.

– Sabe, esse tipo de coisa é emocionante demais para alguém como você – eu disse.

– Alguém como eu?

– É, você entende, alguém que prefere ficar num canto lendo, que não fala com ninguém, que sequer sabe nadar...

– Bom, você ficaria surpresa. Eu acho que não sou bom nas coisas normais, as que todos gostam de fazer, porque tenho outros interesses...

– E isso faz parte da sua determinação em mudar o pensamento alheio sobre quem você é?

– Nah, eu gostava dessas coisas antes.

– Aposto que você era uma criança muito estranha.

– Ah sim – ele balançou a cabeça em afirmação. – Às vezes, meus parentes me olhavam como se eu fosse um alienígena no planeta errado. Mas não tinha o que fazer, afinal eu era assim mesmo.

– Isso os aborrecia?

– É, na verdade, aborrecia – sua voz adquiriu um tom sombrio repentinamente e eu soube que havia pisado em território proibido. – Não tem importância de qualquer forma – deu-me um sorriso bondoso, porém levemente melancólico. – Bom, vamos ver o quão alto o meu amigo aqui consegue chegar.

Não tive tempo de argumentar, então apenas o segurei mais firme quando ganhamos mais altitude. Sentia-me um pouco mais segura assim. A última coisa que eu queria era admitir, mas até que estava me divertindo com o loiro. Ele até que sabia ser... aturável. Além disso, o passeio no testrálio era algo completamente inédito e eu duvidava que muitos bruxos já tivessem experimentado aquilo. Chega de negação: o Malfoy havia me impressionado.

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Havia parado de nevar. Pousamos fora dos limites de Hogwarts, porém não muito distantes. Já estava entardecendo e uma camada fina de rosa cortava o céu, separando-o em duas partes: uma que era tingida de azul cobalto, dominando gradualmente a paisagem e a outra laranja, sumindo atrás das colinas.

Reprimi um suspiro de admiração, pois Malfoy estava logo ao meu lado. Foi quando me toquei que estávamos sentados com uma distância desconfortável entre nós, nossas coxas quase se tocavam. Além disso, o momento era todo muito estranho. Era como em uma daquelas cenas perfeitas de filmes trouxas, nas quais há uma belíssima vista e nada mais importa além daquele segundo, daquela ocasião em especial. A diferença é que eu ainda estava em companhia do Malfoy e aquilo não condizia com o meu ideal de “cena perfeita”. Na realidade, havia imperfeições demais para ignorar.

Ao menos, eu tentei me convencer daquilo naquele breve instante de lucidez. Bastou eu olhar para o jovem sonserino à minha esquerda e deixei o ar do meu suspiro contido escapar. Aquela luz do fim de tarde caía-lhe irresistivelmente bem e, de repente, ele não era apenas “bonito”. Malfoy fazia parte daquele cenário dos sonhos e, aliás, era uma peça insubstituível dele. Talvez se o garoto se movesse, estragasse. Mas então foi o que ele fez. Sorriu para mim com seus dentes impecáveis. Ah, eu havia me enganado. Agora sim a cena estava completa.


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Notas finais do capítulo

N/a: Uuuufa! Terminei! Eita, esse ficou enorme em comparação aos outros. Mas o importante é que tenha ficado legal. Então, don't be shy, sou toda ouvidos (olhos?)! Quem disse que a Penny tinha uma quedinha pelo Fred, acertou! (Weeee) E quem não disse, bom, não ganhou um biscoito, hunf. E sim, o Scorpius tem talentos totalmente aleatórios, mas e daí? lol O menino é prendado, oras bolas. Sem contar que é gatinho. Agora, me diga, quando é que viram um garoto que saber falar três línguas, tocar piano, andar a cavalo, que tem cultura, é todo fofo e gentil, e ainda por cima bonito?? Eu diria que ele é um perfeito Gary Stu (dúvidas? google it) se não fosse pelo que ainda vem por aí. Afinal, ele não pode ser só rosas, certo? Então, se você não aguenta mais ver o Scorpius dando uma de Sr. Não-Tenho-Defeitos, seu desespero terá fim. Em alguns capítulos, porém.
Quanto a Rose, não é necessário dizer que esse título é totalmente para ela ao fim do capítulo. E pode ser que a ruivinha tenha problemas em aceitar essa nova e diferente visão do Scorpius em sua mente. Afinal, estamos falando da personagem mais cabeça-dura da fanfic. Dai-me paciência, esses personagens me deixam louca! Por que simplesmente não deixam tudo pra lá e se agarram logo? Ah é, a tensão é divertida :B
Bom, é isso aí, muchachos! Hasta la vista!
Besitoooos para ustedes!
(Crianças, não comam brigadeiro com maionese. Pode causar problemas mentais como veem e tem gosto ruim pra dedéu. Eu bem sei.)



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