Hesitate To Fall escrita por Anna C


Capítulo 8
Halloween


Notas iniciais do capítulo

Caramba, nunca na minha vida escrevi algo tão longo. Pensei até em cortar em dois, mas achei melhor mantê-lo assim. Se capítulos muito compridos são um problema, posso diminuir os próximos...
Sei que é bastante informação para um capítulo só, mas cada trecho é importante por alguma razão. Logo, vale a pena prestar atenção aos detalhes ;D
A gente se vê lá embaixo, hehe.



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O Halloween não era tão assustador assim para os jovens bruxos. Na verdade, nem um pouco se levar em consideração que recebíamos quilos de doces e as aulas terminavam mais cedo em Hogwarts. Era um dia bastante confortável para ser sincera.

A noite também não seria como qualquer outra. Bom, não que eu soubesse disso ainda.

Certo, do começo então. Era dia 31 de Outubro, o castelo estava decorado com as cores laranja e roxa, havia abóboras entalhadas flutuando por cada corredor. Não seria surpresa se eu dissesse que de todas as datas comemorativas, depois do Natal, o Halloween era o meu favorito. Como eu já citei, nós podíamos comer o quanto de doce que nossos estômagos aguentassem. E comer era uma das minhas atividades mais praticadas – sim, comer é um atividade, hunf.

– Então, vocês vão? - Hugo perguntava se eu e Penny compareceríamos a uma festinha que rolaria na sala comunal da Grifinória. Enquanto isso, Lily saltitava próxima a nós naquele corredor, tentando alcançar as abóboras iluminadas.

Por Morgana, ela era mesmo uma perfeita criança.

Não tenho certeza – respondeu Penny e eu notei seu olhar. Oh sim, Fred provavelmente estaria por lá; era grifinório, afinal.

É, talvez depois. Sabe como é, vai ter um banquete enorme no Salão Principal e tudo mais... Se der tempo, quem sabe – falei, deixando a dúvida no ar. Se Penny quisesse ficar no quarto naquela noite, eu entenderia e a apoiaria.

Lily deu um rodopio e uniu suas mãos como se estivesse para rezar.

– Ora, Rosie, você tem que ir! - Lily choramingou, postando-se a minha frente e nos fazendo parar. - Você também, Penny. Será mega divertido! O James disse que terá muitos jogos legais e...

– Haha, jogos? Se foi o James quem disse, espere só por strip poker – disse Hugo, revirando os olhos.

As feições de Lily contraíram numa expressão de dúvida.

E o que é isso?

Hugo ficou completamente corado, enquanto eu e Penny explodíamos em risadinhas.

Se você não sabe, não serei eu a te dizer. Não quero ser responsável por destruir sua inocência – Hugo logo declarou, evitando o olhar de Lily.

Ela não parecia nem um pouquinho mais esclarecida.

– Ah, por que você não pode me contar? Se você sabe, eu também quero saber – Lily cruzou os braços, fazendo bico.

– Não – ele disse firmemente.

– Sim!

– Eu disse que não.

– Rose me contará, então... - ela foi se inclinando para o meu lado.

– Não, ela não vai! - Hugo começava a se irritar, agora mirando nossa prima severamente.

Pisquei assustada para ele. Lily torceu ainda mais a boca numa careta.

– Eu ordeno que me conte, Hugo! Sou quatro meses mais velha que você – Lily dizia como se aquele fosse um incrível trunfo.

– E daí? - questionou, desdenhoso.

– E daí que tem que me obedecer – Lily esticou o braço para poder puxar a orelha do meu irmão.

– Ai ai! Me solte!

Era uma cena cômica visto que ele era quase meio metro maior que a ruiva. Pelo menos, era o que as gargalhadas ao nosso redor indicavam.

– Tudo bem, eu explico! Mas me largue, por favor – Hugo disse.

Lily fez como lhe foi pedido e sorriu, satisfeita. Hugo olhou furtivamente para os lados e curvou o corpo, gesticulando que minha prima chegasse mais perto. Adquirindo um brilho curioso no olhar, ela se aproximou. Então, ele sussurrou algo em seu ouvido que nem eu e minha amiga conseguimos ouvir.

Quando ele terminou, Lily parecia absolutamente devastada.

– Como alguém pode fazer uma coisa dessas? – perguntou, pondo a mão sobre o coração.

Ele deu os ombros. Lily recomeçou a andar um tanto desorientada.

Olhamos para o garoto, o qual tinha um sorrisinho travesso nos lábios.

– Você não disse o significado de verdade, não é? - falou Penny, erguendo uma sobrancelha.

– O que ela não sabe, não pode afetá-la. E eu acabo de garantir que ela nunca peça pra jogar esse negócio...

– Por que ficar a protegendo? Lily tem que crescer uma hora... - eu disse.

– Eu sei, mas a pureza é a coisa mais preciosa que ela tem. Seria justo lhe tirar isso?

– Pureza é uma coisa, mas às vezes é ingenuidade demais para uma garota de catorze anos.

Hugo bufou, zangado.

– Ah, você não entenderia! - ele foi andando na frente com passos pesados.

E, para variar, eu realmente não entendia.

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Só porque eu talvez não comparecesse à festa, não significava que eu ficaria completamente de fora dos planos. Bom, mas é claro que eu ficaria com a pior parte: a organização.

James veio pouco antes do meio-dia com seus grandes olhos castanhos me pedir encarecidamente que o ajudasse na decoração, com direito a todos os tipos de frases apelativas, como“não conseguiremos sem você”, “você é a melhor prima do mundo” e “anda, eu te dou três galeões”. A última com certeza teve um efeito sobre mim.

– Você é a melhor, Rosie – James bagunçou meu cabelo, enquanto eu recortava alguns enfeites coloridos. Revirei os olhos.

– Tudo por meu primo querido.

– Isso quer dizer que não estou mais te devendo aqueles galeões? – ele perguntou, esperançoso.

– Er... Não. Eu ainda quero.

James bufou.

– É claro que quer.

– Só mais uma coisinha, Jay. Como conseguiu acesso livre assim para a sala comunal da Grifinória? – eu quis saber, indicando o restante da sala.

Sim, estávamos picotando papel em território grifinório.

– Ah fala sério, uma vez um leão, sempre um leão.

Ergui uma sobrancelha, desconfiada.

– Tá, isso ajuda, mas eu pedi ao Fred. Bom, ninguém aqui se incomoda com a minha presença. Muito pelo contrário, eles me idolatram – ele olhou ao longe, estufando o peito com orgulho.

– Menos, James, menos...

– Que foi? É verdade, eu sou um exemplo para todos.

Inspirei fundo, colocando de lado um enfeite roxo com formato de aranha.

– Ouça, James. Eu acho ótimo que seja assistente da professora de voo e também acho que tem muito jeito para ter o cargo dela um dia, mas vou te dizer a verdade. Sabe, talvez isso tudo não seja mais apropriado.

– Isso tudo o quê?

– Festas, sair com os alunos – e alunas–, entrar na sala comunal quando bem entende... Isso é passado. Você teve seu tempo como estudante, foi muito bom, mas passou. É claro que pode ter uma vida fora do trabalho, mas... Não sei. Só acho que não está certo.

– Como é? Você não pode estar dizendo isso...

Então, percebi que James e Lily tinham algo em comum: a recusa em crescer. Mas claro, de maneiras diferentes. James estava mais em negação que qualquer coisa. Lily apenas não havia visto necessidade em amadurecer ainda.

Deixei o assunto morrer ali. Ele não estava disposto a conversar ou enxergar seus problemas.

Não muito tempo depois, Fred surgiu descendo as escadas do dormitório. Eu lhe dei um leve sorriso quando nossos olhares se encontraram.

– Oi – Fred disse, sorrindo de volta.

James e eu nos sentávamos de frente para o outro, então Fred ocupou uma cadeira numa outra lateral da mesa.

– Você vem hoje? – ele me perguntou. Notei que estava em expectativa, mas preferi ignorar isso.

– Ainda não sei.

– Eu entendo... Legal que esteja ajudando de qualquer forma.

Sorri novamente.

– Bom, James pode ser bastante persuasivo.

Fred olhou para nosso primo, mas este estava um pouco carrancudo.

– O que ele tem? – Fred sussurrou sua dúvida para mim.

– Nada não, deixe-o.

– Se você diz... Er, Rose, tem outra coisa que eu queria saber.

– Vá em frente.

– Como ela está?

Só havia uma pessoa de quem ele poderia estar falando.

– Está bem – fiquei na realidade satisfeita que ele tivesse perguntado. Era como ver um lado novo de Fred, um lado mais sensível.

– Ótimo, ótimo... Então, isso quer dizer que as duas fizeram as pazes.

– Algo assim.

– Me desculpe sobre...

– Ah, está tudo bem. Sério, não se preocupe.

– Mesmo assim, não podia dizer isso a Penny também por mim?

Franzi a testa.

Eu? Por quê?

Bom, eu devo desculpas, mas sou provavelmente a última pessoa que ela quer ver. Seria constrangedor...

– As desculpas não valerão de nada se eu disser por você.

– Acho que sou o grifinório mais covarde que já existiu – ele afundou o rosto numa das mãos.

– Não... Houve piores.

Fred deu uma risada fraca.

– Bom incentivo.

– Só estou tentando dizer que você que precisa fazer isso.

– Eu sei! Mas é complicado...

– Rose devia convencer Penny a vir hoje à noite, assim vocês poderiam conversar – sugeriu James inesperadamente.

Fred abriu um grande sorriso.

– Boa ideia, Jay! Você faria isso por mim, Rose?

Oh Merlin, sempre sobrava para mim. Eu sabia que Penny não estava muito inclinada a participar da festa de Halloween, porém me parecia justo que Fred tivesse uma oportunidade para falar com ela, pôr tudo em pratos limpos. Além disso, eu tinha culpa naquela história também. Decisões, decisões..

– Sim, eu tentarei – eu disse por fim.

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Após o almoço, me deparei com Lysander e Lorcan rondando o castelo vestidos de vampiros. E, quando eu digo vampiros, não me refiro a famosa idealização trouxa que os retrata como seres, apesar de bebedores de sangue, extremamente sensuais e atraentes. Os vampiros no mundo da magia eram na verdade criaturas semi-humanas e, em geral, sem cabelo, pálidas, de orelhas pontudas e dentes tão afiados quanto os de um crocodilo... De fato, uma fantasia bem assustadora e apropriada para a ocasião. Apenas um pouco... inusitada.

– Vocês escolheram vampiros porque metem medo e são legais, ou...

– Na verdade, que bom que perguntou, Cupcake – Lysander deu um sorriso satisfeito, ajeitando a longa capa que compunha seu traje. - Escolhemos os vampiros, porque são incompreendidos e merecem algum reconhecimento.

– Isso é algum tipo de metáfora, hein Red? - perguntei, achando aquele discurso familiar.

Os gêmeos se entreolharam de sobrancelhas erguidas.

– Então? - insisti.

Eles deram de ombros.

– É – Lorcan coçava o queixo.

– Mas foi meio inconsciente.

Fazia mais sentido. Eu já havia percebido que às vezes eles se importavam com a incredulidade dos outros com relação as coisas que diziam. Aquilo os incomodava um pouquinho, afinal (ainda que negassem). Não que eles realmente se irritassem com o que todos achavam sobre suas crenças, era mais por não serem levados a sério praticamente nunca graças a elas.

– Você é bem-vinda a se juntar a nós – Lorcan sorriu gentilmente.

– Dessa vez eu passo, mas obrigada pelo convite, Lorc. Em todo caso, eu gostei da ideia, então vão em frente!

– Nós certamente iremos – disse Lysander. - E, falando em coisas assustadoras, acho que gostaria de saber que encontramos aquela sua prima nem-tão-simpática há alguns minutos, perto da Torre de Astronomia.

– É, ela não parecia muito feliz – acrescentou seu irmão.

– Não mesmo. Tentamos animá-la com as nossas fantasias, mas...

– Ou ela não gosta de vampiros...

– Ou da gente.

Bufei, imaginando a reação daquela sonserina problemática.

– É a Dominique, gente. Ela não gosta de nada.

De fato, Dominique tinha uma repulsa incomum por quase tudo e todos – por alguns mais que por outros -, mas não era de seu feitio ficar cabisbaixa pelos cantos. Havia algo de errado naquela história. Provavelmente, ir atrás de Dominique resultaria em problemas, porém, era a minha consciência que comandava meus pés e eles iam direto para aquela torre.

Malditos laços de sangue.

Quando finalmente cheguei àquela área do castelo, percebi o quão vazia se encontrava. Todo mundo devia estar na ala oposta, preparando-se para a diversão que a noite traria. Bufei, um pouco contrariada. O que eu estava fazendo?

Então, escutei ruídos vindos da minha direita. Só poderia ser ela. Segui o barulho até achar sua fonte de origem e fiquei boquiaberta ao ver Dominique encolhida atrás de um velho armário. Ela... Ela estava chorando? Eu realmente não sabia que ela tinha tal capacidade.

– Você está legal? – perguntei.

No mesmo segundo, a loira ergueu os olhos assustados para mim e pôs-se de pé.

– VOCÊ! - Dominique sacou sua varinha das vestes e apontou bem para o meio do meu rosto.

Comecei a recuar com as mãos na altura da cabeça.

– Ei, não vá fazer nenhuma coisa que possa se arrepender depois. - Alertei-a.

– Eu não sentiria nem o menor dos remorsos – havia ressentimento em suas feições inchadas pelo choro.

– O quê? Mas eu não fiz nada!

– Você fez sim, você fez!

– Se acalme, Dominique. Está fora de si.

– Talvez eu esteja, e daí? Você mereceria no mínimo uma Azaração Ferreteante por tudo que já aconteceu!

– Certo, se eu mereço ser azarada, poderia me dizer pelo menos o motivo?

A mão da sonserina começou a tremer e ela baixou a varinha. Porém, não relaxou nem um pouco. Adquiriu uma fisionomia raivosa e arremessou sua varinha contra o chão com toda a força. A madeira se partiu ao meio.

Olhei para os pedaços do que já fora uma cara varinha e depois mirei o rosto de minha prima. Ela havia ficado louca ou o quê?

– Por que fez isso? – questionei, espantada.

Ela se ajoelhou para recolher sua bagunça. Os cabelos caíram em cascata em frente ao seu rosto.

– Vá embora – Dominique ordenou com a voz rouca.

Dei um passo para trás, mas me mantive firme.

– Estou falando sério, não me faça pedir de novo.

Receber ordens de Dominique não era exatamente minha coisa preferida no mundo, porém não havia o que fazer ali.

Afastei-me.

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Fui para o dormitório vestir algo um pouco mais especial – ainda que eu não tivesse certeza se iria à festa na Grifinória ou não – e estranhei o fato de Penny não estar lá. Era costume antigo irmos juntas ao Salão Principal para jantarmos... De todo jeito, tentei não me preocupar. Afinal, aquele dia podia ser uma exceção.

Depois de me trocar, segui caminho para o jantar de Halloween (ou melhor, a montanha deliciosa de doces e tranqueiras). Minha boca quase espumava só de imaginar as maravilhas que eu encontraria sobre a mesa e...

– Por favor, me deixem ir...

Era a voz de Penny. Ela havia falado tão baixo que só alguém com anos de convivência poderia ter escutado e reconhecido. Olhei ao meu redor, em alerta. Era apenas um corredor vazio do primeiro andar.

– Penny? Penny! - eu a chamava, aguardando alguma resposta.

Alguns segundos de silêncio se seguiram, até que finalmente...

– Rose! Estou aqui!

Sua voz vinha de um banheiro feminino. Corri para dentro o mais rápido que pude, não encontrando ninguém a princípio.

– Penny, você está em algum dos boxes? – comecei a vasculhar um por um.

– Sim, no último!

Aquela informação agilizava minha busca. Para o meu azar, a porta do último boxe não abria de jeito nenhum, apesar de eu tê-la forçado.

– Elas enfeitiçaram, tenta usar a varinha – Penny sugeriu.

Usei um “Alohomora” básico e felizmente funcionou. Quando abri o compartimento, dei de cara com Penny e seus pés grudados no chão.

– Ma-mas o que aconteceu? - perguntei, preocupada.

– Aquelas garotas do sétimo ano que implicam comigo resolveram pregar uma peça de Halloween... - Penny respondeu. Estava constrangida, eu podia ver.

– E por que não saiu daí antes?

– Elas pegaram a minha varinha. Francamente, estou até que feliz por não terem me colado ao vaso...

– Sua varinha está na pia – ouvi uma voz chorosa a poucos metros acima de nossas cabeças. Estreitei os olhos para aquele espectro.

– Er... Murta? arrisquei.

O fantasma de uma menina mais nova que nós descia aos poucos até ficar olho a olho conosco. Percebi que Penny estremeceu ao meu lado. Aquelas garotas não deviam ter escolhido aquele banheiro por acaso.

– Como é que me conhece? Nunca a vi por aqui no meu banheiro... Apesar de suas feições serem bem familiares.

– Eu ouvi algumas histórias sobre você. Deve me achar familiar, pois conheceu meus pais... De qualquer forma, obrigada por achar a varinha da Penny.

– Só não quero os outros deixem coisas espalhadas pelo meu território... Basta eu dar uma saída para o banheiro dos monitores que os malditos pestinhas me desrespeitam – Murta então começou a chorar, e que pranto mais irritante era aquele.

– Certo, certo... Melhor irmos nessa, Penny – eu aconselhei, após desfazer o feitiço que prendia seus pés ao chão.

O choro da Murta Que Geme podia ser ouvido até do lado de fora, mas obviamente não voltaríamos para consolá-la.

– Obrigada – disse minha amiga timidamente.

– Não tem de quê.

Senti-me tentada a iniciar um discurso sobre como ela deveria se impor mais e não permitir que fizessem o quisessem dela, porém tive um pressentimento de que aquela não era a hora certa.

– Está com fome? - perguntei.

– Um pouco.

– Vamos ao banquete nos empanturrar, então – dei-lhe um sorriso amigável.

E foi o que fizemos. Ou melhor, eu fiz.

Por todos os grandes bruxos que já pisaram na Terra, o que era aquilo!? Que comida dos deuses! Só após uns vinte minutos comendo, que meus instintos animais se acalmaram – talvez Dominique tivesse alguma razão quando disse que eu ficava irracional no momento das refeições.

Finalmente e com certo esforço, transferi minha atenção da comida para minha amiga. Ela não havia tocado em quase nada do prato.

– Hey, Penny – chamei-a. A garota ergueu o rosto devagar e sem ânimo. - Acho que devíamos ir à festa que vai rolar daqui a pouco.

Penny pareceu um pouco menos desanimada, mas acreditei que fosse por nervosismo mesmo. Aquele assunto lhe provocava tal reação.

– Eu não sei...

– Olha, compreendo perfeitamente seus motivos para não ir, mas acho que dessa vez vai valer a pena. Além disso, Fred quer falar com você.

Ela não conseguiria disfarçar nem se estivesse de máscara. Ficou incrivelmente corada.

– Não vejo como isso poderia ser uma boa ideia – Penny disse, desviando seu olhar. Se ela estava evitando me encarar, era porque não pensava totalmente assim. - Não quero escutar um pedido de desculpas fingido, ou...

– Mesmo? Ele parecia bastante sério quando conversamos. Não sei, alguma coisa nele mudou depois de toda aquela história.

Penny cutucou o pernil com garfo, pensativa. Ela estava considerando minha proposta, eu sabia disso.

– Mudado como? Para melhor?

– Certamente – respondi com toda a convicção. - Não acho que você deva cortar relações por causa de um grande mal entendido.

– Nisso deve ter razão... Ah, está bem, eu irei com você – Penny deu um leve sorriso, dando-se por vencida.

– Não se arrependerá, eu tenho certeza.

Voltamos para o dormitório, assim Penny poderia vestir algo mais adequado para uma festa. Ajudei-a a escolher uma peça de roupa mais social, ao invés de um vestido esquisito que ela havia sugerido, o qual estava mais para camisolão da vovó.

Quando chegamos a entrada da sala comunal da Grifinória, virei-me para ela com um sorriso.

– Você está ótima, a blusa ficou muito bem em você.

– Acha mesmo? - Penny agitava os braços cobertos pelas longas mangas. O detalhe que eu mais gostava eram as rendas nas extremidades e no colo da blusa. De qualquer forma...

– Com certeza. Bom, vamos entrando – enlacei meu braço ao dela e, então, adentamos a sala.

Wow. Wow. Woooooow. Não estava assim quando eu deixei os enfeitezinhos de Halloween sobre a mesa. Alguém havia expandido o local por magia, sendo assim, a sala estava com pelo menos três vezes sua capacidade normal. As paredes e até mesmo o teto – ou as luzes me confudiam? – estavam decorados com os enfeites temáticos que eu ajudara a preparar. Havia uma mesa de salgadinhos e bebidas no extremo oposto da sala, além de assentos improvisados espalhados pelos cantos. Ah, e é claro, o ambiente estava recheado de risadas e conversas.

– É difícil acreditar que a diretora tenha permitido uma coisa dessas – comentou Penny, que parecia estar tão impressionada quanto preocupada.

– Não acho que ela soubesse a que proporções essa festinha chegaria.

– Mas e os monitores? Será que não a avisarão?

Antes que eu pudesse responder, dei um salto para trás graças a um louco que veio voando na velocidade da luz – ou quase –, sem prestar atenção no que havia em sua frente e segurando um canecão de cerveja amanteigada. Aquele era o monitor-chefe da escola.

– Respondendo sua pergunta... Olha, eu acho pouco provável – dei de ombros.

– Vocês vieram! - ouvi a voz meiga, porém estridente de Lily.

A ruiva abraçou a nós duas de uma só vez, apesar dos curtos braços. Ela usava um vestido cheio de babados e fitas, tendo como cor predominante o rosa. Fiquei me perguntando se aquilo era uma fantasia ou se Lily realmente havia escolhido um modelito tão excêntrico para aquela ocasião.

– Ah, estou tão contente! Você viu só, Hugo? Rosie e Penny estão aqui.

Logo atrás, surgiu meu irmão com aquela cara de poucos amigos. Ele nunca gostara de ambientes lotados.

– Oi – Hugo disse secamente para nós.

Será que ainda estava zangado por causa do que eu havia dito pela manhã? Não... Era a zona do lugar mesmo.

– Rose, tenho uma pergunta para fazer a você – Lily falou, sustentando seu olhar inocente e segurando as mãos atrás das costas.

– Pode perguntar – dei-lhe um sorriso encorajador.

Lily ficou em silêncio por alguns segundos para tentar criar um suspense.

– Er... Lily?

– Certo, lá vai... O que... O que acontece com os dragões que viram adultos?

Hã... Quê.

– Sei lá, ficam maiores? Mas que tipo de pergunta...?

Ela suspirou, parecendo decepcionada.

– Todos respondem isso. Obviamente, não entenderam o sentido da questão.

– Não mesmo, eu... - pensando bem, adiantaria discutir? - Sinto muito, Lily. Quem sabe alguém ainda responda direito essa sua dúvida.

– É... Vamos atrás do James! - Lily agarrou a manga de Penny e a puxou para o meio da multidão. Pobre Penny.

– Acho que é melhor segui-las – disse Hugo.

Acenei positivamente e o acompanhei. Ele estava tão sério... Dava para ver que não queria estar ali. Mas então por quê...?

– Hugo.

Ele virou seu rosto para mim, mas continuava a caminhar.

– Você detesta isso, não?

Seu olhar vagueou brevemente pela sala e depois retornou a mim.

– Deu pra notar?

Não exatamente. Você está sempre de mau humor – brinquei.

Ele apenas revirou os olhos.

– Mas agora, falando sério... Se não gosta de festas, por que veio?

Hugo parou tão abruptamente de andar que acabei esbarrando nele. Sua cabeça estava baixa, os cabelos castanhos cobriam seus olhos. Fiquei um pouco atordoada com sua reação, por isso, toquei seu ombro com cautela.

– Hugo...

– Porque ela queria vir.

– Ela quem?

Meu irmão ergueu o rosto e me fitou com toda a seriedade.

– A ingênua – disse e, então, recomeçou a andar.

Seus olhos. Eu nunca havia visto seus olhos azuis daquela forma.

Ele se referia à Lily? Só podia ser. Por que ele a protegia tanto? Ou talvez, desta vez, Hugo apenas quisesse lhe fazer companhia. Eu não sabia de nada. Uma hora, ele estava irritado por causa de alguma coisa que a ruiva fazia; na outra, tentava animá-la. É verdade que Lily era a única que recebia um tratamento gentil por parte daquele grifinório.

– Ei, gente! Eu o encontrei! - vi uma cabecinha laranja pulando entre um grupo de pessoas. Eram James e alguns amigos.

Quando alcancei o grupo, vi que Penny estava paralisada e com o olhar fixo. Antes que pudesse perguntar o que havia de errado, pude perceber Fred na mesma posição que minha amiga. Er, isso era constrangedor mesmo. O rosto de Penny enrubesceu, porém ela logo desviou o olhar de forma um pouco ressentida. Fred fez o mesmo, só que não com ressentimento, mas sim vergonha.

– Jay-jay! - Lily abraçou o irmão.

– O quê? Os pirralhos também vieram? – James perguntou, olhando para Lily agarrada a si e para Hugo.

Hugo fechou parcialmente os olhos, irritado.

– Somos grifinórios, temos todo o direito de estar nessa sala. Mas e você? Talvez devêssemos ter convidado a família toda já que qualquer ex-grifinório pode entrar.

James deu uma risada em deboche e ignorou meu irmão, que pareceu ficar ainda mais enfurecido. Eu revirei os olhos.

– Oi, Penny – disse Fred, tentando criar coragem para encará-la.

– Oi – ela só conseguia mirar o chão.

Um clima pesado pairava no ar. James, porém, deu um sorriso muito semelhante ao de Fred quanto tinha uma ideia “brilhante”.

– Que tal jogarmos um jogo? - o garoto de cabelos castanhos avermelhados sugeriu.

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma palavra, Hugo já havia sumido com Lily, pareceu até um relâmpago. Aquilo causou um instante de confusão e espanto no grupo.

– Bom, hã, repetindo a proposta, o que acham de um jogo?

Os dois garotos e a garota que estavam com meus primos antes de chegarmos murmuraram confirmações.

– Já me junto a vocês, mas será que posso conversar com você antes, Penny? - perguntou Fred, visivelmente sem jeito. Fred perdendo a pose? Coisa rara, viu? Coisa rara.

Sem nada a dizer, ela apenas fez que sim com a cabeça. Eles foram procurar um lugar menos barulhento, porém sempre mantendo uma distância de dois palmos um do outro. Que aquele garoto não dissesse nenhuma besteira, senão...

– Que maravilha, Rose. Sobrou você – James passou um braço por cima dos meus ombros.

Engoli à seco. O que ele estaria planejando?

– Haha, jogos? Se foi o James quem disse, espere só por strip poker.” lembrei-me das palavras de Hugo. Oh não, eu não me submeteria a nada daquele gênero, ele que tirasse o cavalinho da chuva...

James nos guiou até um canto com cadeiras e sofazinhos vagos.

– Façam um círculo – ele pediu. - Isso vai ser divertido...

– Espera, o que você pretende? – fui logo querendo saber ao me sentar.

– Relaxa, Rose. Não vou forçá-la a nada potencialmente perigoso.

– Por que será que isso não soa nada tranquilizante?

– Já disse, relaxa. Só nós cinco é pouco... Vou ver se mais alguém quer participar – disse ele, me deixando com a trinca de estranhos.

Você é impossível, James.” pensei, planejando uma maneira de fazê-lo pagar por aquilo mais tarde.

– Rose Weasley, né? Tudo bem? Meu nome é Ariana, mas se quiser pode ser só Aria – disse a garota do grupo.

Ariana? Ah, mas é claro! Como pude me esquecer? Era Ariana Wyatt do meu ano. Ela estava nos testes de Quadribol da Grifinória naquele dia e conseguiu a posição de goleira. Ariana era uma garota alta de cabelos castanhos escuros e olhos violetas, com um rosto em formato triangular.

Agora que estava os observando com mais atenção, caso eu não estivesse enganada, os dois garotos conosco também eram do time – talvez artilheiros?

Ariana grunhiu em irritação e deu um tapa na cabeça daquele que estava mais próximo de si.

– Ô seus sem educação! Nem pra se apresentarem pra garota?

– Por que você tem que ser sempre tão grossa? Bom, de qualquer forma, prazer. Sou Bryce Banks. Mais conhecido como o incrível e ilustríssimo artilheiro da Grifinória – o tal Bryce se introduziu, enquanto massageava o lugar do tapa.

Será que ele queria um prêmio ou algo assim?

– Incrível e ilustríssimo? Sabe que o time te chama de “o panaca de uniforme”, certo? - Ariana riu maldosamente. Bryce ia abrir a boca, mas Ariana prosseguiu antes que ele pudesse falar. - Este aqui é o Hunter Corner, também artilheiro. Ele não é de falar muito, mas tem uma mira divina.

O garoto moreno ao lado de Bryce deu um vago aceno com a mão. Dava para ver que era um cara bem forte, seu arremesso devia ser bastante potente (e, provavelmente, capaz de causar uma contusão grave).

– Muito prazer – eu disse a eles.

– De fato, se eu estivesse me conhecendo, também estaria emocionado – comentou Bryce, que recebeu um segundo tapa da grifinória. - Ei!

Ariana inspirou fundo, se espalhando na poltrona.

– James, James... O que será que esse moleque está tramando? Mal faz dois meses que nos tornamos amigos e ele já me meteu em um monte de confusões. Bom, mas não posso negar que o cara é gente fina.

– Ele é meu ídolo – Hunter se pronunciou inesperadamente. Todos o olhamos com certa estranheza. Aparentemente, ele estava falando sério.

– Tá legal... Isso foi tocante, Hunter – disse Ariana, erguendo uma sobrancelha.

– E aí, pessoal, estou de volta! - James apareceu. - E olha quem eu trouxe... O meu maninho e o amigo esquisitão.

Ele se referia a Albus e a Malfoy, naturalmente.

– Sério, Scorpius, você não precisa aturá-lo – disse Albus, olhando com censura para o irmão.

– Relaxa, Al – falou Malfoy.

– Sintam-se em casa, por favor – James brincou, apontando para os lugares desocupados.

É óbvio que Malfoy se sentou ao meu lado, ele tinha que fazer isso.

– Oi, Rose – o loiro me disse. Ele também tinha que falar comigo.

– Está tentando me bajular?

– Er, não. Eu só estava cumprimentando mesmo.

– Oipravocêtambém – falei, atropelando as palavras e sentindo a face esquentar.

Malfoy me deu um sorriso gentil. “Ai, quer parar de sorrir assim?pedi mentalmente, sabendo que meu rubor apenas iria piorar.

– E vamos jogar “Gire a Varinha”! - anunciou James, que, fazendo um barulho irritante, arrastou uma mesa para o meio da roda.

– Tipo um verdade e desafio? Mas não é com uma garrafa? - estranhei.

– Não temos garrafas vazias pra usar.

– Sabe, se me derem uma cheia de firewhisky, podem deixar comigo que eu esvazio – Ariana comentou como quem não queria nada.

– E você acha que se tivesse uma garrafa de firewhisky por aqui, eu deixaria sobrar alguma gota pra você?

– Nossa, como você é cruel, Jimmy... - a garota fingiu choramingar.

Percebi que Albus prendeu o riso.

– Não me chama de Jimmy!

– Mas combina com você, Jimmy...

– Ok, ok, tanto faz! Vamos ao que interessa – James tirou a varinha do bolso e ia a colocando sobre a mesa.

– Por que não simplesmente conjura a garrafa? - disse Bryce com um tom de “estou cercado por idiotas”.

– Tá certo, que se dane! Faz você aí – James mandou, já bastante irritado.

Bryce obedeceu, contrariado. Pronto! Finalmente, podíamos começar.

– Seria melhor se tivesse mais garotas...

– James... - usei um tom ameaçador.

– Certo, certo. Vou começar – ele girou a garrafa então.

Ai ai, que tenso! Voltas e voltas, quem seria escolhido? Não podia negar que estava nervosa, essas brincadeiras sempre davam em porcaria no fim.

Finalmente, a garrafa parou. Ela apontava para...

– Só podem estar de sacanagem comigo – Ariana resmungou, olhando feio para James. Ele deu uma risada maléfica.

– Hum, que interessante. Verdade ou desafio?

– Desafio.

– Tire a blusa.

POW! É, aquela garota tinha força.

– Você sabe que mereceu – comentou Albus.

James, que caíra no chão com o impacto do punho de Ariana contra o seu rosto, se levantava com dificuldade. Assim que se sentou em seu lugar novamente, fez uma careta para a morena.

– Você é um pervertido nojento, Jimmy – ela disse, mas parecia satisfeita com a marca que seu soco deixara no rosto do meu primo. Entretanto, Ariana suspirou. - Infelizmente, desafio é desafio.

A garota agarrou a beirada da blusa e fez menção de puxar. Ela iria mesmo...? Na frente de todo mundo? Além disso, tinha um monte de gente por perto!

Os garotos estavam de olhos arregalados, surpresos e cheios de expectativa.

– Ei, se algum palhaço ficar encarando meu sutiã, vai conhecer as estrelas! Sacaram? E é só por uma rodada.

E não é que ela cumpriu o desafio? Eu jamais teria tido coragem. Está certo que ela era a grifinória da história. Em todo caso, não parecia envergonhada como seria de se esperar.

– Será que eu vou ter que repetir a ameaça? - disse Ariana incisivamente, erguendo o punho fechado.

Os garotos desviaram os olhares, temendo receber o mesmo tratamento que James.

– Seu nariz está sangrando – disse Hunter para Bryce.

Bryce cobriu suas vias respiratórias com as mãos.

– Está nada!

– Chega de papo furado! Vou girar – disse Ariana, rodando a garrafa.

E, então, assim que parou, a garrafa ficou virada para Albus.

– É a vez do irmãozinho. Certo, verdade ou desafio?

– Verdade.

Qual é o segredo mais terrível do James? - perguntou Ariana com um sorriso malicioso no rosto.

– Ei, isso não vale! - protestou James.

– É claro que vale, você me fez ficar seminua em público!

– Aff, mas que exagero...

– Eu não posso fazer isso com meu próprio irmão... - foi dizendo Albus, como se aquilo fosse uma traição. Antes que James pudesse respirar aliviado, Albus gargalhou. - É claro que posso. Mas James não tem segredos terríveis... O pior que consigo pensar é que ele tem motefobia.

– E que diabos é isso?

– Medo irracional de borboletas.

Pus a mão na frente da boca, tentando disfarçar o riso. Tudo bem que meu pai tinha pavor de aranhas, mas borboletas? Aquelas coisinhas coloridas que voavam por aí? Pelo jeito, eu não era a única a achar graça.

– Ei, podem parar de zoar. Isso é um problema muito sério.

– Own, Jimmy, não fica chateado... - Ariana bagunçou o cabelo de James.

Ele ajeitou o penteado, irritado, enquanto ela vestia novamente sua blusa.

– Pronto, o show acabou. Agora gira aí, Potter Dois.

Por que sempre que a garrafa estava girando eu sentia um embrulho no estômago? Ah! Era por isso.

– Rose, mas que coisa! - Albus exclamou. Achei que seu tom fora meio exagerado, mas devia ser por causa da minha fisionomia aterrorizada. - E o que vai ser?

O que seria menos pior? Com “Verdade”, talvez meu primo me forçasse a dizer alguma coisa muito embaraçosa, pois ele sabia bem dos meus podres – eu não conseguiria mentir. Já com “Desafio”, o pior que ele poderia fazer é me mandar dar três cambalhotas ou lamber a sola do sapato (apesar de que “eca!”).

– Hã... Desafio.

Albus deu um sorriso tão perverso, que nem combinava com seu rosto. Agora que eu estava mesmo morrendo de medo.

– Quero que você beije o Scorpius.

Meu queixo foi parar no chão. Eu sabia! Conspiração!

– O QUÊ!? levantei-me num salto. - Mas nem por uma torta de abóbora com ricota!

– Qual é a da torta? perguntou Bryce.

– Rose tem um estômago sem fundo. - Respondeu James.

– É, Albus. Acho que você foi longe demais – comentou Malfoy, sustentando um olhar de repreensão para o amigo.

– É né, por favor! Até ele sabe que isso é insanidade – falei. Droga, meu rosto e minhas orelhas estavam fervendo.

– Ah, anda! Se o garoto ainda fosse feio... Mas ele é uma gracinha – disse Ariana, cruzando os braços com indiferença.

– Mas, mas... - eu apontava insistentemente para o loiro.

Eu não podia dizer que o odiava, porque não era mais verdade. Não depois do nosso “anti-encontro”... E também não poderia dizer que me sentia repudiada por sua aparência, pois aquilo também seria conversa fiada. Porém, eu mal havia superado minhas diferenças com o sonserino e queriam que eu trocasse saliva com ele? Ah, francamente...

Praticamente todos me mandavam ir em frente, menos o próprio Malfoy.

– Vai logo!

– É só um beijo, deixa de ser frouxa!

– Por que não termina de uma vez com isso?

Juntei o máximo de ar que meus pulmões podiam comportar.

– ESTÁ BEM!

Nossa roda caiu em profundo silêncio – um silêncio maldito que me deixava uma pilha de nervos.

Sentei-me novamente e encarei Malfoy por alguns segundos. Sua expressão estava indecifrável para variar. Inclinei-me rapidamente e depositei um beijo em sua bochecha.

A vaia foi geral.

– Ei, não foi para isso que eu paguei – Albus reclamou, indignado.

– Você nem devia estar aqui, ô monitor – eu argumentei.

– Rose, dê um beijo decente no garoto – Ariana disse.

– Se ela tivesse que me beijar, não estaria protestando tanto – falou Bryce, convencido.

– Vão pensar que você é covarde, Rosie – provocou James.

Mas não dava! Eu não poderia beijá-lo! Nosso grupo começava a atrair vários olhares de fora do círculo, tinha uma música irritante daquela banda esquisita do Albus tocando no fundo, as vozes ao meu redor me confundiam, todo mundo começou a virar um grande borrão, o sangue borbulhava dentro de minhas veias...

Então, alguém virou meu rosto inesperadamente. Sua mão puxou-me para perto pela nuca e fez nossos lábios se chocarem. Eu não conseguia reagir. Ele pressionava sua boca contra a minha com entusiasmo e o aperto de sua mão sobre o meu pescoço aumentou. Minha consciência ordenava que eu parasse por ali, porém quando ele quis permissão para aprofundar o beijo, eu concedi. “Eu o detesto, detesto...” Mas então por que não conseguia me afastar? O bom senso morreu ali.

Meu corpo se movia por instinto, eu já não o controlava. Eu precisava sentir seus cabelos entre meus dedos, mas antes de chegar a suas madeixas minhas mãos percorreram os ombros, a clavícula e o pescoço até finalmente se estabilizarem. Seu cheiro estava me inebriando.

Não havia nada de errado naquilo, - não poderia haver - afinal, a sensação era tão boa... Mas oxigênio ainda era uma necessidade fisiológica.

Deixamos um pequeno espaço surgir entre nós, porém ainda segurando um ao outro. Eu sentia a respiração ofegante de Malfoy contra o meu rosto e supunha que ele podia sentir o mesmo. Quando nossos olhos se encontraram, fiquei numa espécie de transe hipnótico.

– Uhuuul! - alguém gritou. Não parecia com a voz de ninguém do grupo.

Com o susto, comecei a me tornar mais consciente da minha posição e percebi que eu havia em algum momento ficado de joelhos sobre o sofá e estava praticamente debruçada sobre o garoto.

É, isso serviu como um belo balde de água fria.

Pelas barbas de Merlin! Metade da sala devia estar nos observando (ou eu estava tão em pânico que via dobrado). Assim que recobrei meus movimentos, sentei-me bruscamente, ajeitando a saia de qualquer jeito.

– Nooossa! - exclamou James.

– Para quem não queria beijá-lo, até que você quase engoliu a cara dele – comentou Ariana, rindo.

– Por favor, Rose, conte-me mais sobre como você despreza o Scorpius – Albus ironizou e eu comecei a encarar o colo, absolutamente constrangida.

– Como você fez aquilo, cara? Você ficou com ela na mão só com um bei...

– Dá para calarem a boca!? Vou rodar essa porcaria! - eu me fiz ouvida pelos cinco continentes.

Depois daquele episódio, continuamos o jogo por mais algumas rodadas. Um número significativo de pessoas se juntou a nós, vendo que o negócio estava animado. Eu não consegui proferir uma palavra sequer pelo resto da brincadeira.

Por que não me refreei? Como eu poderia ter perdido a razão de tal forma?

Quando finalmente me separei do grupo, fui procurar por Penny, mas pelo horário talvez ela já tivesse voltado para o dormitório. Era hora de eu ir também.

– Ei – alguém tocou meu ombro.

Olhei para a pessoa, assustada.

Malfoy.

– Desculpe se eu fui indelicado aquela hora, só queria que parassem logo de encher.

– É mesmo? E que tal isso agora? Vão pegar no meu pé pelo resto da vida! - falei, corando furiosamente.

– Eu sinto muito, eu...

– Malfoy, – minha voz enfraqueceu de maneira considerável. - não fala comigo, tá? Esse papo de sermos amigos já estava estranho, mas, depois do que houve, nem sei o que pensar. Talvez eu só precise de uma boa noite de sono, sei lá. Em todo caso, vamos nos manter afastados até as coisas esfriarem, certo?

Malfoy me encarava, parecendo... O que seria aquilo? Decepção? Inconformação? Desta vez, não decifrei seus olhos. Talvez minha mente estivesse cansada.

Por fim, ele concordou com a cabeça.

– Tudo bem, é justo – disse, dando um sorriso sem animação. - Bom, então boa noite.

Até naquelas horas ele tinha que ser todo cordial? Eu queria reação, mas ele me desejou uma boa noite. Aquilo me deixava tão zangada, ainda que eu não entendesse a razão.

– Por que você sempre respeita o que eu digo? Por que não faz nada?

Eu o empurrei para trás e saí correndo. Precisava fugir dali, meus olhos estavam começando a marejar. Deixei a sala a tempo de controlar as glândulas lacrimais.

O que estava acontecendo?



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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, meus parabéns. Deve ter levado uma meia hora lol Novamente, malz aí pelo capítulo gigantesco. Vou tentar não exagerar nos outros, mas pode ser que eles comecem a ser grandinhos mesmo. É que estamos num ponto da história em que as tramas mais importantes vão se desenrolar. Prometo tentar não deixar a leitura maçante!
Outra coisa que queria dizer é que ando sentindo falta dos comentários. Eu entendo que não há tempo sempre, mas nem que seja pra falar um "oi", por favor. Estou preocupada, sempre gosto de saber o que se passa na mente dos leitores e saber suas opiniões :)
A barrinha do capítulo tá meio ruim de enxergar, mas é a Penny (a atriz é a AnnaSophia Robb).
TRÍVIA (ou quase):
Não é necessário ler, a maior parte é curiosidade.
- Hugo age assim só com a Lily, é verdade. Mas a Lily é daquele jeito com todo mundo, ela é assim mesmo. (Digo isso para não confundirem a maneira naturalmente afetuosa dela)
- Nossa, Fred. Nem parece o garoto cheio de si do capítulo 3... O que dar uma bola fora não faz com uma pessoa?
- Tá, então a Dominique tem raiva da Rose por alguma razão. Legal, mas... Por quê? Bom, dezembro está chegando para os personagens também (Sim, isso é uma dica).
- Penny precisava aprender a se impor, fato.
- Além disso, ela não liga para moda (não que importe, só quis dizer).
- No capítulo 5, eu tinha colocado que a Rose era grifinória. Falha minha! Ela é da Corvinal e com muito orgulho.
- Lily tem um motivo para fazer a pergunta dos dragões.
- Por quanto tempo James irá fingir ser só mais um aluno? Ou melhor, por quanto tempo permitirão isso?
- Sobre os três personagens novos, eles não aparecerão muito. Ariana provavelmente será a que mais aparecerá deles. Não a vejam como alguém "sem vergonha", penso que ela simplesmente não está nem aí pro que pensam dela (o que é tirar a blusa em público, não é mesmo?). Ela não é uma pessoa muito sensível a maior parte do tempo. E, afinal, quem não conhece um "Bryce" da vida? Ele não é convencido da mesma maneira que o Fred e o James, ele não está com essa bola toda. Mas ainda assim acha que é a última bolacha do pacote. Bom, por que não deixá-lo sonhar? Por último, o caladão Hunter. Ah, o Hunter é pra ser meio aleatório mesmo. Ele é filho do Michael Corner.
- Na parte em que o nariz do Bryce começa a sangrar é uma referência a animes. (Pode dizer, eu sou muito besta)
- O Albus parece muito bonzinho e inocente, mas um pouco disso é fachada... Uma importante qualidade dos sonserinos é a astúcia, não se esqueçam.
- Pandora não apareceu, mas não se esqueçam dela também.
- Cenas de beijo são terríveis! Eu hei de acertar um dia...
- Rose está confusa em relação a seus sentimentos. E Scorpius? Como ele se sente? Aliás, o que ele pensa sobre a ruiva?
Ah, fiz de novo. Escrevi uma bíblia, desculpem.
Por hoje é só. As saídas ficam nas laterais. Agradecemos sua preferência *sorriso de 32 dentes*
Beijos! :*