Blizzard escrita por LyaraCR


Capítulo 2
02




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/228172/chapter/2

Mais um capítulo de Blizzard pra todos que estão por aqui, comigo!

Hope you like it!

XXX

Blizzard

XXX

— Aniki...

Abriu os olhos. Tudo parecia escuro demais para já ter acordado. Escuro demais e frio demais. Logo sentiu-se acolhido pelos braços do outro.

— O que foi?

— E-eu não sei. Será que ainda é muito cedo?

— Provavelmente cinco da manhã. Por quê? Não consegue mais dormir?

— Eu não sei. Tem algo me incomodando, mas não sei explicar o que é.

— Você deve estar estranhando o ambiente. Vem cá.

O puxou contra o próprio corpo, acariciando os fios tão negros quanto os seus.

— Por que você sempre me protege?

— Por que eu amo você.

Sasuke sentiu-se corar. Itachi jamais falaria essas coisas em circunstâncias normais, nem mesmo quando ia se esconder na cama dele das trovoadas infernais que vez ou outra assolavam a cidade.

O mais velho esfregou os olhos. Havia tido uns sonhos estranhos, e ter Sasuke tão perto tornava as coisas um pouco desconfortáveis. Mas não, não podia afastá-lo agora, porque ele estava com medo do mundo lá fora, e pra ser sincero, também estava. Tinha que se conter, já era homem o bastante pra isso. Beijou-lhe o topo da cabeça e se levantou indo até a janela, abrindo as cortinas apenas para se deparar com algo que realmente o assustou. O céu estava tenebrosamente escuro, muitas nuvens quase negras tomando todo o espaço visível, uma névoa grossa na paisagem que o fez se lembrar de filmes de terror, gelo sobre a grama verde, tornando-a acinzentada. Um arrepio percorreu sua espinha. Voltou para a cama com o celular em mãos.

— O que está acontecendo? Parece assustado.

— Não estou assustado, otouto.. estou apreensivo. Do lado de fora parece um filme de terror, tá cheio de nuvens medonhas, com muita névoa densa e com gelo sobre o gramado.

— Nessa época do ano não neva, Aniki...

Constatou, ainda que um tanto adormecido.

— Eu sei, mas... — suspirou exasperado — Enfim, não dá pra explicar. Acho que vou ligar para casa.

— Acho que vai assustá-los sem motivo, isso sim.

— Não importa. Eu preciso de algumas informações e preciso dizer aos nossos pais o que tá acontecendo lá fora.

Abiu o celular. Sasuke estava deitado sobre seu peito, abraçando-lhe as pernas com uma das suas. O aparelho não demonstrava sinal algum.

— Estamos sem antena. Ilhados, que ótimo!

Praguejou. O outro olhou em seus olhos antes de tentar acalmá-lo. Se sentia bem assustado, mas não podia demonstrar.

— Calma, tá tudo bem! Deve ser porque ontem tava muito frio, daí esfriou mais ainda com a madrugada e por isso tem tanta neblina. Aniki, somos crescidos, temos lenha seca e comida! Poderíamos sobreviver até mesmo numa tempestade!

Sorriu tentando, em vão, acalmar o mais velho.

— Por que a gente não se levanta? Temos cômodos pra descascar, pintar, aquecedores pra arrumar, móveis pra pintar e reformar...

— Tudo bem, vamos lá. Temos muito trabalho e pouco tempo.

XXX

Quando deram por sí, já eram altas da tarde, mas nem mesmo haviam percebido quantas coisas fizeram. Sasuke parou para olhar em volta e se viu em meio a um ambiente totalmente renovado, até mesmo os móveis. Itachi, por sua vez, ao ver o irmão mais novo perder-se no ambiente, deixou-se descansar um pouco também. Havia terminado há pouco o último retoque de verniz na mesa de centro e sentia que precisava de ar fresco em seu rosto. Seus passos o levaram a algo que fez seus olhos se arregalarem por um mísero instante.

— Nevasca...

Sussurrou mais para sí mesmo. O lado de fora parecia surreal, coberto por criaturas aladas que se misturavam umas às outras em meio a toda aquela turvação do ambiente. Sentiu seu coração disparar. Sabia que se tratava apenas do clima, mas depois de ouvir tantas coisas pelo mundo, tinha todo o direito de se assustar, afinal, nessa época, nem mesmo tinham frio naquela região. Era tudo sempre muito ameno. Sem frio, sem chuva e quase sem sol.

— Aniki... — sentiu braços envolverem sua cintura e olhou para a face do menor — A porta não quer se abrir. Acho que fiz algo errado.

— Não Sasuke, não fez. É o frio... Não me peça para explicar, e eu peço para que não se assuste, mas acho que pelo menos até as coisas melhorarem lá fora, estamos meio que presos aqui, otouto...

O acariciava a face, os cabelos... Podia sentir a respiração alterada, era claro que ele estava à beira de um ataque de pânico.

— P-presos?

— Sim. Fique calmo, tudo está bem. Vai passar a qualquer instante, toda essa névoa vai desaparecer e vamos poder correr daqui.

Tentou, inutilmente, assegurar.

— Por que é que eu to achando que eu tava certo quando disse que ficaríamos melhor num hotel?

— Eu sei que estava, eu sei que ainda está, mas tudo o que podemos fazer é ligar para casa e avisar que estamos enfrentando uma aparente nevasca. Eles virão nos buscar, otouto...

Alcançou o celular e o abriu. Para desespero de seu pobre ser, ainda estava ilhado, sem sinal. Então não tinha como ligar para casa nem mesmo se estivessem morrendo congelados. Não, não podia pensar assim e se deixar assustar, não. Tinha que passar toda a firmeza que decerto não tinha no momento para o mais novo. Não o queria desesperado. Caso fosse necessário, ele teria que tomar certas decisões que exigiriam frieza o bastante que o desespero de fato afetaria.

— Escuta, porque não procuramos alguma coisa pra comer? Já acabei a mesa, então podemos sentar perto da lareira e comer muitas e muitas coisas até o tempo melhorar. O que acha disso?

— Eu acho bom...

Para afirmar o que dissera, Sasuke tentou sorrir com sinceridade, quase que falhando miseravelmente.

Deu um abraço apertado no mais velho enquanto iam até o sofá. Se assentaram e enquanto conversavam, Itachi foi até a cozinha pegar todas aquelas guloseimas que ambos tanto adoravam. Quando voltou, começaram a comer e então esqueceram do tempo falando coisas banais, comentando sobre como a casa estava ficando bonita, comentando sobre a eficiência de todo aquele trabalho, sobre a habilidade de Sasuke com fechaduras... Até mesmo as trancas de todas as portas e janelas já estavam arrumadas! É, até que dava pra sentir segurança alí agora... O único detalhe que realmente incomodava Itachi era o fato de estar cada vez mais frio, mesmo com a lareira funcionando.

— Eu vou pegar alguns edredons... Já ví que vamos passar bastante tempo aqui e tá ficando cada vez pior...

— Eu sei. Mesmo com a lareira, com toda a roupa e ainda com o chocolate eu to sentindo frio.

Enquanto o outro se levantou, Sasuke ligou a TV. Ótimo, estava sem sinal também. Será que pelo menos algum dos seus cd's funcionava alí? Resolveu tentar. Logo o ambiente fora tomado por músicas que o faziam sentir-se em casa, perdendo-se por um momento na familiaridade que naquele instante, não existia realmente ali.

Quando voltou para o sofá, se viu envolto em melodias num volume considerável. Deixou-se encolher no móvel gigante, abraçando o próprio corpo. Estava frio o bastante para que pensasse em passar mal se continuasse tremendo como estava.

— Sasuke... — o encobriu, sorrindo de forma sutil. Itachi gostava de cuidar do irmão.. era de todo gratificante — Logo vai melhorar, pode ter certeza.

— Aniki... Venha se deitar..

O outro atendeu ao pedido. Deveria ser assustador para Sasuke passar por uma situação assim com a pouca idade que tinha. Se para si mesmo já o era... Apagou as luzes, apenas a lareira iluminando sutilmente agora. Deitou-se com ele sob o edredom grosso. Deixou os outros ao lado do sofá. Caso o frio não melhorasse, o levaria para a cama ou podiam se deitar perto da lareira com eles. O abraçou, puxando para perto, bem perto. Podia sentir a respiração fraca em seu pescoço, o que indicava que ele estava sonolento, quase dormindo.

— Sasuke... Não durma, não agora... Eu não quero ficar sozinho com suas músicas nesse frio, porque não tem castigo pior.

Riram. Sasuke acabou por se apoiar em um dos cotovelos e olhar diretamente nos olhos do irmão. Eles eram de uma cor tão bonita... Um tom de ônix único, que não era capaz de reconhecer nem mesmo em seus próprios. Acariciou a face pálida e o viu esconder tais ônix por detrás de pálpebras sonolentas. Acariciou também os cabelos negros. Eram tão macios quanto os seus, tão macios quanto pelos de gato, quanto seda. Gostava de tocar os cabelos de Itachi. Deitou-se sobre ele, escondendo o rosto no pescoço pálido mais uma vez, como sempre fazia. Logo o notou mover-se lenta e levemente, como se quisesse se afastar apenas o bastante para observá-lo. E foi isso que fez.

Sasuke deixou-se fechar os olhos enquanto era observado. Olhar o mais velho tão de perto o fazia corar, e não, não entendia porque diabos. Era estranho, afinal, Itachi era seu irmão, e era também acostumado a olhá-lo tão de perto quanto quisesse desde sempre. Mas agora... Era diferente. Era como se tivesse outro sentido, ao menos para o disparar de seu pequeno coração.

Abriu os olhos. Tinha que deixar de bobeira. Mesmo. Abriu os olhos apenas para notar que ele estava perto demais. Sentiu-se automaticamente prender a respiração.

— Otouto... — sua voz era sussurrada, como se fosse pecado dizer o que diria e sim Itachi sabia, que do modo que seu coração queria dizer, talvez fosse realmente — Eu te amo tanto... E estou com medo...

— M-medo?

Questionou, trêmulo, tentando disfarçar seu nervosismo.

— Sim... Eu.. não sei o que pode acontecer com todo esse gelo lá fora e era pra eu estar me mantendo firme, sem medo para ser seu porto seguro, mas não posso mais fingir. Eu não quero te perder.

— Eu também te amo, Aniki, e mesmo com todo esse gelo, você não vai me perder. Eu vou estar aqui enquanto você estiver.

Sentiu Itachi se aproximar apenas um pouco mais, olhos nos olhos, até que suas testas se encontrassem, como numa forma de prometer que tudo ficaria bem no final das contas.

— Otouto... — sussurrou enquanto deixava que seus lábios tocassem a pele alva da face do mais novo. Repetiu o contato de forma lenta mais algumas vezes e Deus, aquilo era tão bom! Não dava pra explicar, só queria sentir mais e mais e mais — Será que... pode me perdoar por... ter ficado tão distante... nos últimos tempos?

— H-hai... posso, Aniki... E-eu... sei que foi por causa da escola...

Os sussurros eram ouvidos apenas por eles mesmos, por estarem próximos. E bem próximos. Uma proximidade tão convidativa, que nenhum deles pensava em se afastar ao menos um pouco.

Sasuke fechou os olhos e deixou-se apenas imaginar. E se... Arregalou os olhos. Não, não podia pensar em certas coisas, não. Não podia pensar em sentir ainda mais o calor do corpo do irmão, sentir ainda mais o toque dos lábios macios como pêssegos contra a pele, sentir.. um beijo. Tentou refrear seus pensamentos, mas como estava antes, claro como água, era impossível. Tinha que, de alguma forma, parar, deixar de querer agir como sua má conduta mental mandava, tinha que se distrair, deixar qualquer coisa evidentemente forte sobre Itachi de lado. Não perderia apenas sua sanidade se algo acontecesse. Isso era o de menos. Perderia a amizade dele, as palavras doces que toda vez o confortavam, os abraços carinhosos, a proximidade. Perderia Itachi. Morreria.

O mais velho notou que Sasuke estava preso em divagações assim como ele e notou que ele lutava para sair das mesmas, mas era meio que.. impossível. Será que estava pensando nas mesmas coisas? Será que pensava nele? Daquela forma?

— Otouto... No que tanto pensa?

— Err... Em casa...

— Não minta. Até hoje não entendeu que é um péssimo mentiroso?

Disse, o rosto colado ao pescoço do outro, fazendo com que se deitasse, deixando o mais velho parcialmente por cima, o rosto ainda escondido contra aquele calor confortável.

— E-eu.. não sei no que penso. São... coisas... sabe...

— Não, não sei.

— Será que vamos sair daqui?

— Eu acho que sim, mas só se conseguirmos ficar até os adultos chegarem. Sair agora é suicídio. Viu como estava o lado de fora, agora deve estar pior...

— Por que uma nevasca justo nessa época? Por quê? Aniki, eu estou com medo de verdade. Eu acho que a gente podia sair e...

— Não Sasuke. — o interrompeu. Afastou-se, olhando naqueles olhos assustados. A nevasca não era de todo o motivo. Tinha um brilho que era incapaz de traduzir. Ele começaria a divagar até encontrar a forma mais suicida possível para escapar dali e talvez obter êxito — Não podemos sair. Primeiro, somos muito magros, muito fracos para esse tipo de clima. Segundo, o carro está com as rodas encobertas de gelo. Duvido que consigamos abrir até mesmo o porta malas. Terceiro: Mesmo com medo, aqui temos lenha seca, comida e alguns aquecedores prestando. Temos um teto também. Então por pior que pareça, temos mais chances presos aqui do que do lado de fora. E sabe-se lá quantas vezes mais forte essa nevasca vai ficar...

— Aniki, eu não quero...

— Pshhh... — colocou um dedo ante os lábios rosados do mais novo — Me perdoe.

— Por...

Aproximou-se como se fosse beijá-lo, refreando-se a tempo. Viu os olhos negros se arregalarem. Ele precisava esquecer da nevasca de alguma forma, não é mesmo? Sentiu que ele tremia, sentiu que seu coração batia rápido demais, viu que os lábios dele se moviam sutilmente como se quisesse dizer algo.. Forçou-se a pensar e logo teve uma ideia que talvez salvasse aquele momento, que talvez o afastasse de toda aquela estranheza.

— Acho que precisamos de vinho! Vamos nos embebedar que tudo vai parecer mais fácil.

O mais novo forçou-se a rir também. Que diabos de frase desconexa fora aquela? E por que seus pensamentos gritavam que Itachi, de fato, queria fazer o que imaginara? Não sabia, não queria saber.

— Só espero que não seja vinho seco!

Dito isso, o outro se levantou, caminhando até a cozinha, até Sasuke não mais vê-lo. Seu coração estava tão rápido quanto sua respiração, tão descompassado quanto a mesma. E sentir-se daquele modo era bom, ao mesmo tempo que ruim. Realmente, não sabia definir o que sentia.

Logo ele estava de volta, duas taças em uma mão e a garrafa em outra. Os cabelos soltos e um sorriso sutil no rosto. Era raro vê-lo desse jeito, quase que sem compostura. Era até um pouco estranho, porque não parecia o mesmo garoto rude, responsável demais, que costumava ver pela casa. Talvez o fato de estarem longe dos pais tornasse mais fácil a aparição da verdadeira personalidade.

— Acho que não vamos precisar de taças.

Disse, e Itachi ponderou por alguns instantes antes de abandoná-las sobre a mesa de centro. Realmente, fazia sentido. Como é que beberiam no sofá, quase que deitados, com taças daquele tamanho?

— É verdade...

Disse, adentrando mais uma vez o edredom, sendo recebido pelos braços de Sasuke e recostando-se ao braço do sofá, numa posição confortável, que o permitia sorver o líquido adocicado sem dificuldades, e compartilhá-lo com o mais novo, que parecia sedento, pela quantidade que sorvera de uma só vez, arrancando uma risada do outro.

— Vai ficar bêbado assim.

— Não me importo. Já está tarde, e se é pra esquentar, o álcool ajuda.

— Otouto, isso não é Whiskey.

— Já disse, não me importo.

Teve a garrafa tomada de suas mãos e o outro sorveu uma golada um tanto que maior, recebendo um olhar surpreso.

— Também não me importo. Quem sabe isso não nos ajuda a dormir e amanhecer com um milagre, não é mesmo?

Sasuke riu.

— É assim que se fala!

Bebeu mais alguns goles e recostou-se novamente ao mais velho. Era muito bom estar ali com ele, daquele modo. Só ficavam tão próximos quando não havia ninguém por perto. Era uma espécie de defesa, talvez por medo de se mostrarem fracos, talvez por necessidade de se fazerem frios, ou talvez fosse medo, talvez por isso só se deixassem ficar assim quando havia um medo ainda maior por perto, para soterrar todos os outros medos e poderem, enfim, se preocuparem com algo que não fossem as máscaras com as quais se criavam desde seus dias no fim da infância.

Itachi observava o mais novo. Seus pensamentos estavam a mil, e se algo fosse acontecer, pediu ao que quer que fosse, para esperar mais um pouco, porque todo o tempo que tivera que se obrigar a ficar distante, queria compensar, estando perto do modo que sabia, era compartilhado pelo gosto de ambos. Queria olhar mais algumas vezes nos olhos de Sasuke e ter a certeza de que o que sentia não era louco demais, e que ele compartilhava, e que mesmo que por um ou outro momentos, poderiam ser felizes, juntos, de um modo só deles.

XXX

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Blizzard" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.