Blizzard escrita por LyaraCR


Capítulo 1
01




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Blizzard

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— Tudo bem mãe, nós já vamos!

Sasuke gritou de seu quarto, no andar de cima de sua casa. Iriam viajar, apenas ele e Itachi. As férias estavam chegando e enquanto seus pais ainda tivessem o que resolver, era fato que não poderiam ir cuidar do chalé onde encontrariam os outros parentes para longos dias de família e diversão; juntou suas poucas malas e desceu as escadas, dificuldade gritando com seu pobre ser. Ter quase quatorze anos não significava que tinha que ter forças para carregar toneladas.

Logo que ajeitou suas coisas no bagageiro, pôde ver seu irmão mais velho vindo junto a seu pai, sorrindo, carregando suas malas enquanto ouvia instruções.

— Não vá pela estrada, pegue atalhos nas vias rurais. Cuidado com os pneus e caso a polícia te parar ligue para mim. São oito horas de viagem, não esqueça de alimentar seu irmão e colocar gasolina. Se chegarem vivos, me liguem.

Fugaku disse enquanto via seu filho mais velho adentrar o carro. Mikoto acenou da janela e logo puderam partir. Sentiam que tudo seria deliciosamente perfeito. Estariam perto da natureza, poderiam beber, se divertir enquanto arrumavam um lugar que pelas descrições, parecia estar quase aos pedaços.

Sasuke prestava atenção à estrada enquanto o mais velho procurava uma estação de rádio boa o bastante para embalar o longo caminho para fora da cidade. Levariam pelo menos uma hora para realmente sair daquele caos.

— Como acha que vai ser lá?

Perguntou ao outro, quem pareceu não entender.

— Acho que vai ser bom.

— Mesmo quando todos eles chegarem?

— Acho que sim, Sasuke... Só penso que deveríamos deixar tudo perfeito. Do contrário, pode ter certeza que o papai não vai deixar a gente em paz.

— Madara também vai?

— Pode ter certeza que sim.

— Acha que vamos conseguir arrumar tudo? Até o encanamento?

— Da última vez a banheira da sala de banho não funcionava com água quente...

Riram ao lembrar das últimas férias. O charlatão que haviam contratado para cuidar do encanamento mais parecia um enganador, e não encanador. Ainda se lembravam também da pintura das paredes num estado deplorável, dos móveis caindo aos pedaços, do guarda-roupa que quase engoliu Sasuke por falta de óleo na porta falsa que dava para o banheiro...

— Eu definitivamente não sei no que vai dar, Sasuke... Só espero que possamos sobreviver.

— Pelo menos o papai disse que a estrutura do imóvel está boa. Acho que não vai cair sobre nossas cabeças.

O caminho parecia se tornar cada vez menos enfadonho enquanto assuntos banais tomavam conta do espaço. As horas foram passando, escorrendo um tanto que devagar até que deram por si. Estavam fora da cidade. Apenas a estrada, mato, muito mato e um cenário semelhante demais ao do último filme de terror que haviam assistido.

— Tem impressão de que a cada cem metros tem uma coisa observando a gente?

O mais novo perguntou. Sabendo do que a dita “coisa” se tratava, Itachi, mesmo amedrontado como o mais novo, tentou acalmá-lo.

— Você tá impressionado, otouto. Não tem nada na mata. Sei que parece estranho e que nem dá vontade de ir pra fora, muito menos de olhar, mas te asseguro que não tem nada de sobrenatural lá.

— Se lembra da última vez em que saímos de noite e ficamos presos no meio do nada?

— Sim, eu me lembro.

— Acha que também não havia nada sobrenatural alí, Aniki?

Calou o mais velho com sua indagação. Era estranho demais pensar nessas coisas quando se estava dirigindo para o nada com um irmão de treze anos do seu lado, mais inteligente que qualquer adolescente de sua própria idade.

— E-eu não sei, tá bom? Vai que tinha! Sobrevivemos! E eu to começando a ficar desconfortável com esse assunto.

— Tá ficando assustado, você quer dizer.

Calados, transcorreram mais uma boa parte do percurso sem parar, evitando pensar em coisas estranhas, evitando observarem a mata ou qualquer outra coisa que dissipasse estranheza pelo ambiente, até mesmo carros que vinham em maior velocidade e do nada ultrapassavam. E sim, mantiveram as janelas fechadas. No mais, o caminho foi tranquilo nas primeiras quatro horas. Depois disso, ambos custaram a suportar o resto. Sasuke até se cansara de dirigir para o irmão! Isso era quase que um milagre, visto que todos os fins de semana implorava ao pai que emprestasse o carro para ir praticar nos arredores da cidade.

Quando a casa foi ficando visível de longe, ambos sorriram. Já estava perto do entardecer e haviam ganhado tempo por terem vindo quase sem parar, demorando pouco menos que o necessário em cada local que se deixaram descansar um pouco.

O mais novo estacionou o carro próximo a porta. As outras casas do local estavam vazias. Encheriam provavelmente dentro de uma ou duas semanas, então por enquanto eram só eles, e isso, claro, os assustava um pouco.

— Essa casa tá parecendo assombrada. Não acha melhor a gente ficar num hotel por esses dias? Pelo menos enquanto a gente arruma?

— Qual é, otouto! Perdeu o senso de diversão?

— Não, Aniki... Adquiri o de autopreservação.

— Está ficando velho... — riu do outro — Te garanto que não vamos morrer, okay?

Desceram do carro. Teriam apenas alguns minutos para descarregar as bagagens do SUV antes de escurecer.

— Está frio.

— Eu sei... Estranho... Nessa época do ano costuma ser mais quente. Deve ser porque estávamos fechados no carro esse tempo todo.

Constatou o mais velho. Entregou as chaves ao outro enquanto abria o porta-malas e colocava tudo na varanda. Por sorte ainda haviam trazido gás e água mineral. Vai saber se os sistemas ainda funcionavam...

— Credo! Esse lugar me dá arrepios! Parece que morreu alguém aqui! Veja, todos os móveis estão cobertos!

— Eu sei, otouto! Coloque as malas para dentro. Tudo está assim para que não percamos os móveis! O que acha que acontece com um móvel que é usado apenas uma vez por ano?

O pequeno nada respondeu enquanto carregava as coisas. Pelo menos tinham energia elétrica, constatou ao remexer o interruptor.

— Uau! Vamos ter que limpar isso aqui pelo menos por cima se não quisermos sufocar na poeira...

Disse o mais velho após travar o alarme do carro, adentrando a sala principal.

— Não acha que ficaríamos realmente melhor num hotel?

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Estava com uma vassoura em mãos. Já eram mais de nove da noite em seu relógio de pulso e haviam acabado justo agora. Queriam tomar banho, mas sabiam que precisavam comer qualquer coisa antes disso ou morreriam de inanição.

Itachi terminou de varrer a varanda e entrou, trancando a porta atrás de si e disfarçando o calafrio assustador que o abatera. Tantos comentários de Sasuke o estavam deixando meio que... paranoico.

— O que quer comer?

Perguntou ao mais novo, quem terminava de guardar todos aqueles lençóis no armário da sala, dobrados um por um, tão caprichados quanto os cristais que ele havia lavado mais cedo e mais organizados que a prataria, também arrumada por ele.

— Eu não sei... O que temos?

— Eu trouxe torta doce, trouxe pizzas para assar, trouxe coisas para preparar massas e trouxe vinhos também. Isso para o jantar. Claro que amanhã teremos outras coisas pra comer.

— Por um acaso tem sorvete?

— Sabe que a caixa térmica é incapaz de conservar isso. Isso já é querer um milagre, otouto.

Disse, enquanto observava o assoalho brilhar. Tudo estava impecavelmente limpo, as luzes acesas num tom de chama que deixava tudo mais confortável. Estava cansado. Sasuke também estava, com certeza.

— O que acha de uma pizza?

— Pelo menos sai mais rápido, não é mesmo?

Foram até a cozinha, perdendo incríveis minutos num mundo só deles enquanto arrumavam as coisas para o jantar. Ao menos o micro-ondas ainda funcionava. Não podiam dizer o mesmo do encanamento, que por vezes funcionava quente, por vezes frio, tudo a seu próprio modo, justo como e quando queria.

Assentaram-se frente a frente, a mesa posta, os olhos cansados e famintos em busca de saciedade. Seria impossível não devorar tudo o que estava alí. O aroma da refeição era algo que os fazia salivar; era como se não comessem há dias.

Ver o irmão tão feliz, tão empenhado em comer e depois tomar banho sem resmungar e parecer uma garota anoréxica deixava Itachi mais feliz. Às vezes pensava que tudo o que Sasuke realmente precisava era de atenção, de sentir-se útil e não apenas um adolescente preso num mundo onde tinha que exalar glamour e esnobismo...

— Por que tá olhando assim pra mim?

— Por que estou te achando bonito.

O mais novo corou. Desde quando Itachi era gentil e sincero daquele modo?

— Qual é! Olha pra você! Parece outra pessoa, otouto...

— Eu acho que é impressão sua. Não tem nada diferente em mim, eu te juro.

Acabaram por rir. Pelo visto, o primeiro de muitos dias dentro daquela casa acabara sendo de todo interessante para ambos.

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Sasuke havia acabado de adentrar o banheiro. Jurava que tudo estaria perfeito para um bom e demorado banho. Enrolado apenas da cintura para baixo numa toalha branca, alcançou a válvula do grande chuveiro prateado. A abriu. Permaneceu alí por alguns segundos até ficar impaciente. Por que diabos a água não estava esquentando?

Levou sua mão até o metal prata, batendo contra ele algumas vezes. Inútil.

— Droga. Itachi!

Chamou o mais velho, quem apareceu em alguns instantes com uma adorável cara de sono. Provavelmente estaria cochilando no sofá ou no quarto onde dormiriam, o único onde as trancas das janelas e da porta ainda funcionavam direito.

— Por que veio tomar banho no corredor?

Indagou o mais velho, estranhando além da escolha do outro, o fato do banheiro estar sendo mantido numa penumbra um tanto que agradável.

— Eu pensei que você fosse usar o outro.

Disse, saindo do box.

— O que tá acontecendo?

— Ele não liga. Eu já esperei esquentar e nada. Poxa, tá frio demais pra encarar assim!

— Eu sei... — o mais velho coçou a nuca por um instante antes de tentar todos os processos já experimentados pelo irmão e constatar que nem um santo faria aquele maldito objeto funcionar direito. Tirou sua camisa e aproximou-se do problema mais uma vez — Se eu me molhar e você rir, te juro que te levo pra fora e te dou banho na mangueira.

O mais novo já ria. Enrolou-se na camisa do outro sentindo o perfume amadeirado que desprendia da peça. Gostava tanto do cheiro dele... O fazia sentir-se protegido, como se fosse tê-lo para cuidar de sí para sempre.

Observou o que ele fazia. Com muito esforço, conseguiu girar o objeto em alguns centímetros, fazendo com que os fios ficassem puxados dentro do cano de metal, deixando que talvez a energia passasse melhor por alí. Quando girou a válvula, por um instante, sentiu-se a bordo de um navio em meio a uma tempestade. O jato fora tão forte que acabara por encharcar tanto sua pessoa quanto Sasuke e todo o banheiro. Riram.

— Pelo menos tá quente! — Praticamente gritou enquanto tentava conter a força da água com as mãos de alguma forma — Deve ter soltado o redutor...

— Redutor? Acho que isso é um gêiser! Deixa eu ajudar...

O mais novo jogou a camisa sobre a pia e parou ao lado de Itachi, molhando-se ainda mais enquanto o outro sacudia o cano, tentando fazer um milagre que reduzisse a pressão da água.

— Otouto.. Isso não vai prestar.

— E-eu sei, mas...

Viu a mão pálida de Itachi fechar a válvula. Ainda riam um pouco. Riram ainda mais quando viram o estado deplorável no qual se encontravam.

— Dá pra torcer até minha alma!

— Pelo menos eu já ia tomar banho.

— Vem...

Tomou a mão do mais novo, levando-o para o quarto, para o banheiro do mesmo. Observou o olhar confuso do outro quando começou a encher a banheira.

— O que?

— Eu não vou entrar nisso aí! Se o chuveiro tava daquele jeito a hidromassagem deve cortar a pele!

— Deixa de frescura... Ou prefere tomar banho meio quente meio frio?

— Tudo bem... — assentou-se na borda da banheira, olhando para Itachi — Se quiser pode tomar primeiro.

— Não. Enquanto você toma, eu vou até lá ajeitar aquela baderna.

— Vai congelar nii-san.

— Não, não vou.

— Onegai... — os olhinhos pediam para que lhe desse atenção. Talvez estivesse realmente com medo de entrar sozinho naquilo. Em pouco tempo a banheira já havia enchido! Só por isso dava pra perceber a pressão da água — Por que não entra aqui comigo e amanhã eu te ajudo a arrumar aquilo lá? Tá muito frio.

Dando-se por vencido, Itachi sorriu enquanto se deixava despir o resto da roupa molhada, ficando apenas em roupa íntima antes de enrolar os ombros em uma toalha. Juntou alguns sais de banho, sabonetes e foi até o quarto trancar a porta e buscar os produtos com cheiro doce que sempre usava nos cabelos. Quando voltou, Sasuke já estava dentro da água, o ambiente esfumaçado, parecendo estar extremamente convidativo. Apagou a maioria das luzes, deixando apenas a de cima do espelho acesa, formando uma penumbra bem mais agradável que toda aquela luminescência anterior, bem mais agradável do que aquela do outro banheiro.

— Por que apagou as luzes?

— Se vou tomar banho com você, não quero que me veja. Sou um produto muito caro para seus olhos.

Sasuke caiu na risada levando o irmão que já entrava na água consigo. Logo viram-se um de cada lado da banheira. Realmente, havia sido uma idéia bem melhor do que ficar no chuveiro do corredor...

— Aniki... Será que vamos sobreviver até amanhã?

Indagou o mais novo enquanto esfregava os cabelos com um pouco de shampoo.

— Acho que sim. Temos que ver logo cedo se os aquecedores funcionam, porque o tempo está estranho demais. Acho que pode chover, ou então nevar. — puxou o outro para si, lavando seus cabelos negros como fazia quando ainda eram crianças — Lá fora faz muito frio, olhe pela névoa que se formou na janela...

— Eu sei. M-mas... e a lareira?

— Primeiro, ela não é capaz de esquentar todo o ambiente. Segundo, nós não queremos aspirar dióxido de carbono e morrer sem ar. Terceiro, sabe que as trancas da sala não estão tão boas e que não são prioridade na reforma. Vai querer dormir lá por causa da lareira?

Enxaguou os fios curtos do outro, quase que numa carícia.

— Não... É, tem razão. Precisamos acordar cedo pra ajeitar os aquecedores.

Sorriu minimamente e afastou-se do mais velho. Logo estavam esfregando os corpos com todos aqueles sabonetes cheirosos. Sempre deixavam essas coisas pela casa quando iam embora, e reencontrar esses pertences era sempre divertido demais.

— Acha que vamos conseguir ficar aqui até eles chegarem?

— Por que não?

— Eu não sei... às vezes sinto falta de mais pessoas, sabe...

— Eu não sou companhia suficiente otouto? — fingindo-se ofendido, o mais velho jogou um jato d’água contra o irmão, quem retribuiu, e num instante estavam brincando, desperdiçando o resto das energias que ainda possuíam — Que absurdo! É isso que ganho por gostar tanto de você!

Puxou-o para si mais uma vez, agora fazendo cócegas na cintura fina enquanto ele ria alto, perdido, sem conseguir fazer coisa alguma para se soltar.

— Aniki! Para!

Gritou em meio às gargalhadas. O outro o fez, já estava cansado também. O acolheu contra seu corpo, a cabeça dele apoiada em seu ombro.

— Vamos ficar bem, mas tem que me prometer que vai me ajudar a arrumar tudo direitinho...

— Tá me tratando como criança.

— Ué, qual o problema? Você só tem treze anos mesmo!

O beliscão que tomou na barriga foi o bastante para que Itachi risse, calando todas as suas alfinetadas posteriores. Sentiu em algum tempo a respiração de Sasuke se acalmando, pouco a pouco. Olhou para ele. Adormecera.

— Ah, que ótimo...

Sorriu de canto. Pouco sabia como se viraria para sair dali com ele no colo, porque não, não queria que acordasse. Sabia que estava mais cansado que sí mesmo, pelo fato de ser mais novo e ter feito mais coisas.

— Otouto... — sussurrou, acariciando os fios negros — Tem sorte de eu ser bonzinho e não querer te acordar.

Deu um jeito de logo se levantar com ele, carregando-o até a cama já arrumada, deitando-o sobre os edredons no escuro enquanto enxugava o corpo pálido. O vestiu apenas com um short branco que encontrara numa das malas, sentindo seu rosto esquentar estranhamente, e o colocou no lugar que ocuparia na cama. Logo se aprontou também e depois de secar um pouco seus cabelos arrastou sua calça negra até a cama, deitando-se ao lado dele, acolhendo-o e sendo acolhido pelo mesmo. Fechou seus olhos, e com o cheiro doce e o calor inebriante que desprendia do momento, deixou-se entregar ao mundo dos sonhos.

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Continua...


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