Laura escrevia mais frequentemente em seu caderno depois das revelações no hospital. No último dia, havia escrito sobre as confissões que fizeram um ao outro naquele quarto de hospital, e como o médico havia dito que ele precisaria ficar de observação por mais um dia ela decidiu que iria acompanhá-lo no outro dia.

Ela demonstrou um enorme alívio enquanto escrevia. Falar, desabafar tudo a ele foi uma das coisas em que ela imaginou nunca ser capaz de conseguir realizar, assim como nunca imaginou ficar calada e sofrer. Mais uma vez, só que por motivo diferente. Então, optou pela melhor opção: contar tudo.

E o que recebeu em troca? Uma revelação maravilhosa!

Naquele dia escreveu em seu caderno sobre tudo, tudo o que ele disse, sobre tudo o que sentiu e tudo o que havia acontecido. Detalhadamente. Era como se um peso houvesse saído de cima dela. Ela havia arranjado tamanha coragem em dizer aquilo porque sabia que “quase perdê-lo” novamente sem que ele soubesse do que precisava seria desastroso.

No outro dia ela levantou cedo para ir ao hospital ao encontro de quem mais queria ver. “Encontro” e “hospital” na mesma frase não se encaixam vem, é verdade, mas realmente era isso. Infelizmente.

No fim do dia ela voltou, novamente, a escrever em seu caderno. Havia virado um grande hábito. Ela não passava um dia sem escrever no pequeno “diário”.

1 semana depois...

“25 de outubro

Hoje foi um dos melhores dias de minha vida!

Guilherme me pediu em N-A-M-O-R-O!!!

Estávamos na praça, como em nosso primeiro encontro, e ele me fez o pedido!

Aceitei na hora, obviamente! Não poderia deixar de responder e nem adiar a resposta que eu sabia que para ele era tão importante.

Ele me disse que vai pedir a meu pai, no 2º jantar, a permissão. Estou completamente louca e feliz! Se isso inclui estar apaixonada será sempre assim que me descreverei!

O anel de compromisso tem nossos nomes e o dia em que nos conhecemos no ônibus gravados. Melhorar ainda mais esse dia é impossível!”

“30 de outubro

Guilherme veio jantar em casa, hoje, para que pudesse conhecer meus pais e vice-versa.

Minha mãe adorou Guilherme, acredito que pelo fato de ele ser o milagre a causa de eu não me trancar mais no quarto. Observei que quando meu pai olhava para ele, via certa “esperança”. Certamente eram os mesmos pensamentos de minha mãe.

Minha gata também obteve os mesmos efeitos: adorou Guilherme. Acredito que tanto quanto meus pais. Brincava com ele como se o conhecesse fizesse anos, como se ele fosse seu verdadeiro dono. Óbvio que gatos não tem ‘donos’, ou melhor, dizem que eles quem escolhem seus donos.  Minha gata deve ter escolhido Guilherme.

Foi um ótimo e maravilhoso dia, amanhã irei conhecer a família dele. Minha ansiosidade é imensa!”

“31 de outubro

Fui conhecer os pais de Guilherme hoje. E fiquei feliz com o resultado!

Logo no início me receberam muito bem! O pai de Guilherme, alto e magro, é um professor, mas não bravo, é daqueles professores ‘brincalhões’, sempre alegres. A mãe de Guilherme, baixa e linda por sinal, é uma dona de casa que herdou do marido o mesmo senso de humor, receptiva e simpática! A pequena irmã de Guilherme, Giulia, de 4 anos, é adorável e linda!

Todos gostaram de mim e me senti querida naquele almoço. Meu medo era que, logo de primeira, não fossem com a minha cara, mas estava completamente errada. Fico feliz por isso! Muito feliz!”

“13 de novembro

Hoje estamos namorando, realmente!

Meu pai aceitou o pedido e agora já estamos namorando! Que alívio!

Foi um momento tão romântico e marcante!

E quem diria? Eu? Namorando? Aquela garota ruiva, cheia de sardas, alvo de piadas, que se cortava e chorava todo dia, namorando?

Inacreditável!”

1 ano depois...

“03 de outubro

Hoje faz um ano que nós nos conhecemos!

Daqui a algumas semanas irá fazer 1 ano do acidente e assim, depois daquele pesadelo, vamos completar um ano de namoro!

Um ano antes eu me via no chão de meu banheiro chorando e com os pulsos cortados. Agora me vejo ao encontro de um garoto que amo, que me compreende, me corresponde, continuo escrevendo neste caderno e agora mais feliz do que nunca!”

10 anos depois

“19 de julho

Completo 25 anos hoje e quando acordei vi ao meu lado um urso de pelúcia. Ele trazia algo nas mãos, quando peguei a caixinha preta e pequena que ele carregava consigo e abri havia um anel dentro, lindo e dourado, dentro da caixinha havia também um único e minúsculo papel perfeitamente dobrado e que quando desdobrei pude ler:

“Aceita ser minha noiva, para sempre?”