Durch Den Monsun - Tudo O Que Restou escrita por seethehalo


Capítulo 4
Love is Noise


Notas iniciais do capítulo

Vou fazer uma nota inicial em estilo de epígrafe daquelas que o autor coloca e o leitor fica refletindo.
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-- As palavras são o tipo de arte mais perigoso, mas também o que tem o resultado mais mágico no final.



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Eu estava cego - não poderia ver
O que estava aqui em mim
Eu estava cego - inseguro
Senti como se a estrada fosse muito longa, sim
Porque o amor é barulho e o amor é dor
O amor é essa tristeza que eu estou cantando novamente
Love is Noise - The Verve

*-*-*-*-*

     - Vem pra minha formatura em dezembro.

     - Hã? – disse ela – Desculpa, sua voz veio toda cortada.

     Eu sabia que era blefe, mas mesmo assim repeti a frase:

     - Vem pra minha formatura em dezembro. Estou propondo uma forma da gente recomeçar..., quer dizer, continuar sem dar tanta importância ao que já passou, há tanto tempo.

     - Eu... tenho que verificar a minha agenda, mas... eu aceito a proposta. Por enquanto, acho melhor você ir dormir um pouco que já deve ser quase meia-noite.

     - Hmm, tem razão. Então tá. Eu vou cobrar a sua resposta. Amanhã podemos nos falar?

     - Nem vai dar. Amanhã eu vou pro interior com o Lucas. Aliás, vamos dormir daqui a pouco, porque vamos acordar cedo. Então é, acho que é melhor eu sair também.

     - Ok.

     - Até mais, Tom.

     - Até.

     Desliguei tudo e fui dormir. A madrugada seria longa.

     Rareamos um pouco o contato devido ao trabalho de ambos. Em meados de novembro ela confirmou que vinha e brincou, dizendo que dançaria a valsa comigo no baile de formatura. Fiquei meia hora rindo, não sei dançar valsa.

     O tempo correu mais rápido do que eu pude acompanhar e quando eu vi, dezembro já tinha chegado. Entreguei o TCC, tirei uma nota maior até do que eu esperava. Vou me formar. E junto com dezembro, vem a Maria.

     Vim buscá-la no aeroporto, fiquei um tempo esperando plantado no portão de desembarque. Alguns minutos após o anúncio do pouso do voo que vinha do Brasil, ela surgiu carregando um carrinho com duas malas numa mão e trazendo o filho com a outra.

     - Maria? – chamei quando ela se aproximou.

     - Tom! É você mesmo?! – disse ela.

     - Ao vivo, a cores e em três dimensões.

     - Nossa, nossa! – exclamou me abraçando. Retribuí sorrindo.

     - Então você cortou o cabelo...

     - Pois é. Tinha que vir decente pra um evento desses, né...

     - Que bonitinho que você se importa. Mas e aí, como foram de viagem?

     - Foi bem tranquilo até. Esse aqui tinha medo de avião que nem você.

     - Ih, nem me lembre disso, dá calafrio só de pensar. Mas por que “tinha”?

     - Diz ele que não tem mais. – Maria agachou-se, falou alguma coisa para o filho, que acenou com a cabeça positivamente. Logo depois fez as apresentações: - Tom, esse é o meu filhote, Lucas; e filho, esse é o Tom, aquele com quem a gente tava conversando na web.

     Minha vez de agachar.

     - E aí, rapaz, tudo em cima? – cumprimentei.

     - Tô bem – ele respondeu. – E o senhor?

     - Senhor? Eu tenho essa cara de velho? – brinquei – Pode me chamar de você, combinado? Muito prazer, Tom.

     - Tá bom. Lucas. Prazer. – ele riu.

     - Vam’bora? – levantei olhando pra ela.

     - Hm, você nos dá uma carona até o hotel?

     - Hotel? Achei que... você fosse ficar lá em casa.

     - Tom, por Deus. Vim te fazer uma visita e assistir à tua formatura, não invadir a tua vida. Já tá tudo certo, não precisava se incomodar conosco.

     - Então... ok, te levo pra fazer o check-in no seu hotel, mas vocês almoçam comigo. – peguei o carrinho pra conduzir até o estacionamento.

     - Combinado.

     - Pra que hotel estamos indo? – perguntei já abrindo o porta-malas do carro.

     - Para o Ibis.

     - Hm, boa escolha. Perto de casa, adoro aqueles lados – entramos no carro.

     Trocamos algumas impressões no caminho. Acompanhei-a no check-in, e ela já aproveitou pra me passar os números do celular e do telefone do quarto: 89. Coincidência ou destino? Deixei-a subir para que se instalasse com Lucas e avisei que ligava quando viesse buscá-los para o almoço.

     - Quando você confirmou que vinha, não pensei que seria tão cedo. – confessei.

     - Como assim?

     - Achei que você ia vir uns dois dias antes só. A cerimônia vai ser no dia 10.

     - Bom, eu não vim dois dias antes, mas vou voltar três dias depois. Mas enfim... eu vim mais cedo pra poder aproveitar um pouco mais a viagem. Até porque eu trouxe o Lucas, e vir e voltar correndo talvez não fizesse muito bem a ele.

     - É... – olhei para o garoto, que almoçava plácido como se estivesse em outro mundo.

     - Mas e aí, Tom, o que conta sobre a sensação de estar prestes a se formar?

     - Ansiedade. Expectativa. Uma luz no fim do túnel. Tudo misturado. Sei lá.

     Ela riu.

     - Bem isso.

     Terminamos de comer em silêncio. Pedi a conta e insisti em pagar (já que fui eu que convidei).

     Pelos três dias seguintes, só nos falamos pelo telefone. Chamei-a para passar a noite aqui em casa na segunda, e para minha surpresa ela concordou. Chegou no início da noite com o filho, e primeiro ofereci um jantar para depois mostrar a casa.

     - Hã, a sala e a cozinha você já conhece, então vamos lá em cima – falei já subindo a escada. – Aqui tem o banheiro... O primeiro quarto é o meu, o último é o de hóspedes e o do meio era o do Bill.

     - O que você fez com o quarto? – ela perguntou, meio apreensiva, em frente à porta.

     - Na verdade, nada. Continua exatamente do jeito que estava da última vez que ele fechou a porta. Bom, mais ou menos. Eu mando limpar, trocar os lençóis da cama... Eu mesmo entro aqui às vezes e troco algumas coisas de lugar. Dá impressão de que ele ainda tá por aqui, sabe?

     - Entendi.

     - Quer entrar? – convidei girando a maçaneta.

     - Eu... posso?

     - Claro. Fica à vontade. Vou lá ver um pouco de tevê com o Lucas enquanto isso.

     - Ok.

     POV MARIA

     Tom virou e desceu a escada, e eu olhei para dentro do quarto pela fresta da porta entreaberta. Dei um passo à frente e terminei de abrir a porta. Adentrei o quarto. Sentia o silêncio cortante enquanto olhava para cada cantinho. Deixei entrar a sensação de familiaridade quando soltei o ar que mantinha preso no peito. Fechei a porta atrás de mim.

     Caminhei até a janela e afastei as cortinas. A claridade evidente ficou ainda mais brilhante. Eu já conhecia um quarto que fora do Bill, daí o conforto sufocado que me invadia. Mas eu precisava de um outro tipo de ar pra continuar nessa situação, então sem pensar eu me joguei de bruços na enorme cama que Bill chamara de sua.

     Fiquei assim imóvel durante um tempo que não me ocorreu contar. De repente ouvi batidas e a porta se abriu. Tom colocou a cabeça para dentro (Lucas fez a mesma coisa um metro abaixo) e disse:

     - Quem está com fome? Vem ver uns blu-rays com a gente.

     Levantei e me recompus rapidamente. Alisei os lençóis na cama e segui-os perguntando o que iam assistir.

     - Lucas viu as fotos na estante e quer saber mais sobre a banda. Aí achei que você ia querer ajudar a contar algumas histórias de bastidores.

     - Com certeza!

     - Óh, escolham aqui – disse ele. – A gaveta da direita tem filmes, séries, documentários, shows e CDs do nosso gosto. A da esquerda tem tudo o que lançamos da banda: CDs, singles, DVDs, blu-rays e até um vinil promocional. Um item de cada – abriu a gaveta. – E muito mais.

     - Tom... você é o cúmulo do egocentrismo. A ponto de ter um santuário de produtos da própria banda numa gaveta da estante!... – falei ajoelhando ao lado dele.

     - Escolhe aí que eu vou estourar pipoca pra gente.

     Ele foi pra cozinha e eu estacionei os dedos exatamente no que eu queria. Ele tem que ter um aparelho de DVD, senão não teria sentido guardar tudo isso. O som de pipoca estourando no micro-ondas e o cheiro do tempero invadiram a sala enquanto eu escolhia mais dois ou três e olhei no relógio que também estava na estante. Quase dez horas. Em condições normais de temperatura e pressão, mandaria o Lucas ir dormir – mas abri uma exceção, porque estamos de férias e longe de casa, então não faz mal.

     Logo tom voltou trazendo uma tigela de pipocas em cada mão e perguntando o que tínhamos escolhido.

     - Espero que você tenha equipamento pra rodar esta pérola aqui. – respondi erguendo o primeiro DVD que tirei da gaveta.

     - Não acredito. Caught On Camera! Maria!

     - Isso é épico! Não tem como conhecer a história do Tokio Hotel sem passar por capítulos como THTV, Leb die Sekunde e 100% Tokio Hotel!

     - Tá bom, deixa eu desocultar meu DVD pra gente assistir isso!

     Ele mexeu aqui e ali na estante e apareceu um aparelho de DVD que ele ligou e pôs pra funcionar num minuto.

     - Vamos lá, é pra eu contar histórias de bastidores? Pois bem. Lembra quando vocês foram sei-lá-pra-onde e durante uma entrevista você soltou um “you don’t are”?

     - Puta que pariu! Opa, desculpa... Mas essa você desenterrou, hein!

     - Eu sei! – disse rindo – Mas é inesquecível, eu fiquei meia hora rindo quando vi o vídeo da entrevista!

     - Ok, mas para o seu governo, meu inglês melhorou bastante desde esse episódio. Deixa eu ver o que mais você escolheu.

     - Que bom, hein!

     - Humanoid City Live? Algum motivo especial pra essa escolha?

     - Sim. Foi a primeira turnê de vocês que foi pro Brasil.

     - Oh. É mesmo. 2010, né? Você foi?

     - Aham. Eu ainda morava em Santa Catarina, viajei pra São Paulo só pra ir no show.

     - Ual. E em que setor você estava?

     - Pista Premium, lá na frente. Não exatamente na grade, mas eu fiquei no seu lado. Até hoje eu me pergunto como você aguentou ficar o show inteiro de gorro e moletom. Tava muito quente, não tinha ar condicionado lá dentro.

     - Sei lá. Faz tanto tempo. Bom, vamos ver os DVDs e inteirar o garoto sobre a maior banda que a Alemanha concebeu.

     - Egocêntrico.

     Passamos assim boa parte da noite relembrando o melhor da história da banda em DVD e blu-ray. Fomos dormir já era de madrugada.

     O quarto de hóspedes de Tom tinha uma bicama de solteiro, duas cômodas, um cabideiro, um banquinho e uma tevê. Tipicamente projetado para que os hóspedes fossem Georg e Gustav – aliás tratei de manter em mente de perguntar a Tom sobre eles de manhã. Coloquei Lucas pra dormir na cama de baixo e dormi eu na cama de cima.

     MARIA OFF

     A casa acordou era mais de meio-dia. Fizemos uma refeição meio almoço, meio café da manhã. Lucas foi o primeiro a terminar de comer e foi para a sala. A segunda foi a Maria, que ficou à mesa me esperando.

     - Tudo bem? – perguntei me recostando na cadeira, satisfeito.

     - Tudo. – respondeu. – Er... Tom, posso perguntar uma coisa?

     - Claro. O que é?

     - Eu queria saber... onde o Bill foi enterrado.

     - Ah... Bom... ele está no Cemitério do Jardim Angélica.

     - Eu queria vê-lo.

     - Eu posso te levar lá de tarde.

     - Tem certeza, Tom? Você...

     - Não tem problema nenhum. Eu realmente ia lá essa semana.


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Notas finais do capítulo

Minha pontualidade maldita ainda está aqui apesar de reviews que é bom...
Sabe, que diabos; estou muito sobrecarregada de coisas pra fazer e, se eu achar que não vou conseguir continuar conciliando tudo, o nyah é a primeira coisa que eu vou chutar a toalha.
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Curi #01: Essa música me persegue pra ser colocada em fic desde GF. É a única música dessa banda que eu conheço, tá no CD de A Favorita, o mesmo que tem Monsoon :3
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Curi #02: Ibis é uma rede mundial de hotéis. Tem vários só em São Paulo, por exemplo. Imagino que deva ter um em Berlin também -q
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Curi #03: Eu não sabia nada de formaturas quando escrevi isso. Já fui numa colação de grau e realmente não achei entediante (só a parte que chamam todos os formandos pra solenidade - e que, pombas, é justamente o que interessa QQQ). Descobri que geralmente elas se realizam em dois ou três dias (num dia a missa, noutro a colação e noutro o baile), mas deixa essa parte em off.
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Enfim, por hoje é isso.
E pelo amor dos Kaulitz, deixem reviews! Senão eu paro de postar e removo o Nyah do meu histórico. xo