Durch Den Monsun - Tudo O Que Restou escrita por seethehalo


Capítulo 3
Let This Go


Notas iniciais do capítulo

Sabe, essa semana não me veio nenhum e-mail do nyah avisando que alguém comentou em DDM. É, minha conta é bugada, e mesmo com os avisos desativados, nyah sempre me avisa toda vez que alguém gosta da minha existência e me manda um fulo dum review.
-
A preterência não é nenhuma surpresa masssssss como pontualidade é um princípio, cá estou eu.
Enjoy.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/226713/chapter/3

Um dia você vai ficar cansado de
Dizer que está tudo bem
E até lá eu tenho certeza que estarei fingindo
Do mesmo jeito como estou essa noite
Por favor, não me entenda mal
Porque eu nunca vou deixar isso pra lá
Mas eu não consigo encontrar as palavras pra te dizer
Eu não quero ficar sozinha
Mas agora eu sinto como se não te conhecesse
Let This Go - Paramore

*-*-*-*-*


Eu ia dizer alguma coisa quando uma voz de criança emitiu um grito do outro lado. Devia ser o filho da Maria chamando pela mãe. Tinha certa curiosidade em conhecer o garoto, por isso fiquei em silêncio torcendo para que ele viesse para aquele cômodo e eu pudesse vê-lo pela câmera.

Ela pediu licença, levantou-se e foi correndinho averiguar. Dali a um minuto e meio voltou com o menino nas costas, rindo-se e falando alguma coisa em português. Maria se sentou, ele desceu ao chão e sorriu para a câmera. Ela disse alguma coisa e ele falou “hallo”.

Pode falar que eu sou louco, mas o moleque parecia comigo quando eu tinha cinco. Ok que até eu achava a Maria parecida fisicamente com o Bill, e ainda parece, mas não deixa de ser estranho que o filho dela se pareça com a gente. Se não fossem os cabelos pretos bagunçados, eu podia achar que tinha sido clonado. Pensar nessa hipótese me fez descascar um riso espontâneo, e perguntei a ele como se chamava.

Como não entendesse, virou para a mãe, decerto querendo saber o que eu havia perguntado, e em seguida ela o ensinou a dizer como se chama em alemão.

- Ich heisse Lucas – respondeu, tão certinho que parecia nativo da língua. Eu ri. Perguntei também quantos anos tinha, e ao ouvir a tradução e mais alguma coisa, ergueu a mão aberta dizendo pausadamente: – Ich bin fünf Jahre alt.

- Ele tá adorando falar alemão pra você. – disse ela. – Eu mantenho o hábito de viajar pra Blumenau nas férias, mesmo morando em São Paulo, e alguma coisa por lá se aprende.

- Conheço todos os lugares que você falou aí. – ironizei.

- Besta. – ela riu. – Deixa eu te explicar. Eu morava em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, quando era mais nova. E durante as férias, eu ia pra uma cidade chamada Blumenau, no mesmo estado, que é onde tem a maior colônia alemã no país. Foi lá que eu aprendi a falar alemão e tal; minha prima tem família lá e a gente sempre vai junto. Já que eu sempre morei com a minha tia, antes dos dezoito, quando vim pra São Paulo estudar.

- Saquei. Mas se você vai sempre pra essa cidade, como me disse da outra vez que fazia tempo que não falava alemão? Os colonos aprenderam a falar português?

- Não, Tom – ela riu. – Aliás, eles sempre souberam. É que tem menos de dois anos que eu to trabalhando na Volks, e pedir férias logo no começo do emprego é chato, né.

- Sim. Então tá.

- Escuta, talvez eu fique um pouco ausente porque tá vindo uma bateria de trabalho atrás de mim.

- Ah, tudo bem, desde que você não evapore de novo.

- Ok. Mandarei notícia. Agora eu tenho que dar atenção pra esse guri, então eu vou sair.

- Certo. Até qualquer dia então.

- Até a vista, Tom. Abraço.

Ela então desconectou.

Tá; Lucas, o filho da Maria, parece comigo e com Bill quando éramos crianças. E daí? PARA DE NOIA, TOM. Eu hein.


Não falei mais com ela pelos próximos dois meses. Mas uma coisa muito estranha aconteceu: num sábado à tarde, quando saí para pegar umas coisas no mercado, tive a impressão de tê-la visto na rua. Como desconfiasse, segui discretamente a moça mas, quando dobrei a esquina atrás dela, tinha sumido. Olhei para os lados, apenas vitrines de lojas com poucos clientes dentro.

Era um dia frio fora de época; finalzinho de agosto, pleno verão. Eu tinha mandado um e-mail no aniversário dela, que ela só foi responder no meu aniversário,com a mesma finalidade. Mas bom, de qualquer forma, eu não poderia ficar jogando papo fora nem se a Maria quisesse falar comigo. Já estou no último semestre da faculdade e o TCC e a maratona de provas estão me consumindo até o limite. A formatura já está marcada para o dia 10 de dezembro. Nem parece verdade.

Eu não estava mais agüentando fritar os miolos com estudo e trabalho. Liguei o computador concluindo que preciso de férias. Maria estava online. Ela me chamou e ligamos a webcam.

- Você online a essa hora? – perguntou.

- É. Eu tava fazendo o meu TCC mas cansei de fritar os miolos. Que horas são aí?

- Sete em ponto. Concluo então que aí são onze da noite, certo?

Olhei o relógio no canto da tela e respondi:

- Sim. Eu devia ir dormir, mas quero esvaziar um pouco a cabeça antes.

- Você trabalha no domingo também?

- Não. Amanhã é domingo?

- É.

- Deus existe! – suspirei pendendo a cabeça para trás do encosto da cadeira. – Juro que eu estava achando que ia trabalhar amanhã.

Ela riu.

- Eu preciso de férias, estou estafado e sobrecarregado!

- Entendo. Sei o que você está passando. Mas quando tiver o diploma na mão, vai ver como tudo vai ter valido a pena.

- Eu espero...

- Sabe, Tom, mudando de assunto... Eu andei pensando sobre as conversas que a gente teve... Na verdade não nas mais recentes. As conversas que a gente tinha quando eu morava aí.

- É inevitável a gente lembrar daquela época, já que estamos aqui.

- É. Eu fiquei pensando, eu confiava tanto em você...

- Ei, ei, ei, o que foi? Nunca te dei motivo pra desconfiar. Guardei seu segredo como uma tumba guarda um defunto.

- Eu sei, Tom – ela riu. – Por isso mesmo. Nós éramos tão amigos e tão próximos... Fiquei pensando em tudo isso e cheguei a uma conclusão.

- Que conclusão?

- Como seria bom se disséssemos essa frase no presente.

- Eu pensei a mesma coisa quando você a disse.

- Você quer tentar?

- Não. Dizer é muito fácil e é a mesma coisa que nada. Tem que fazer acontecer. E se foi isso que você quis dizer... É, eu me proponho.

Sorrimos os dois.

- É, foi isso mesmo o que eu quis dizer. Posso começar contando uma coisa?

- Claro.

- Bom... Lembra que eu disse que talvez fosse pra Alemanha a trabalho no ano que vem?

- Lembro. Você vai vir?

- Na verdade eu já fui. Estive na Alemanha no fim de agosto.

- Quê? Poxa, por que não me avisou? A gente podia ter marcado de almoçar, sei lá... Pra onde você foi?

- Pra Berlin... E também fui um dia pra Hamburgo. Foi mal, mas eu nem sabia onde você tá morando também.

- Quer tentar adivinhar?

- Pela sua cara acho que Berlin, né.

- É. Ok, vamos nos considerar quites porque a culpa foi dos dois. Vamos dividir o fora.

- Certo.

- Agora... Você disse fim de agosto? Eu me lembrei agora de um dia que eu tava na rua e tive a impressão de ter te visto. Era um dia frio fora de época.

- Eu realmente estava em Berlin e fiz compras numa tarde em que fez frio. Vai ver era eu mesma, por que não me chamou?

- Eu fui atrás, tentando me certificar de que era você mesma, mas aí você sumiu depois de dobrar uma esquina...

- Devo ter entrado em alguma loja... Mas que desencontro.

- Pois é. E pensar que a gente estava a alguns metros de distância...

- Que coisa estranha, né? Tão perto... Não sei como eu teria reagido se você me chamasse.

- Sabe que nem eu? Acho que foi por isso que eu fiquei apreensivo.

- Acontece.

- Eu tô morando em Berlin na mesma casa que morava com o Bill desde que enjoamos da mansão que compramos quando voltamos de Los Angeles, em 2013. Deixa eu ver, nós moramos cinco anos naquele labirinto e depois compramos essa aqui, um pouco menor.

- Eu moro com o Lucas num apartamento de três quartos. Todos me dizem pra comprar uma casa maior; eu até tenho condição, mas não quero. A gente gosta do nosso cantinho, e eu não sou muito fã de casa muito grande. Dá impressão de que a gente fica mais distante.

- Bill achava a mesma coisa. – pausa. – Vocês têm tanta coisa em comum que até me assusta.

Silêncio. Ambos refletindo. Então ela disse:

- Talvez isso tenha a ver com a cruz que me foi entregue.

- Cruz?

- Você sabe... Ela também atende por máquina do tempo. Pensei aqui agora, com tanta gente nesse mundo, por que essa coisa teve que cair na minha mão? No fim das contas, eu não fiz “tudo errado”; mas qualquer outra pessoa no meu lugar... teria feito direito, não acha?

- Não pensa nisso como uma “cruz”.

- Qualquer outra pessoa não faria o que eu fiz. Não interferiria na de quem já tem o destino traçado. Leia-se você e o Bill.

- Você acredita em destino?

- Sim.

- Então devia acreditar no seu destino também. Percebe que você já devia estar predeterminada pra receber essa coisa na mão? Mesmo que usasse pra interferir na nossa história...

- Aí é que tá, Tom. Eu descobri que, apesar da interferência, eu não alterei nada, como era pra ter feito.

- Como assim? E toda a nossa história, nossas lembranças...?

- Tudo real. Tudo História. Tudo pertencente à ordem natural das coisas. Eu achei que tinha alterado a História, mas não. Tudo o que aconteceu simplesmente era pra acontecer, entende? Quando eu voltei pela primeira vez, disse pra mim mesma que não era pra mexer em nada justamente pra mudar tudo.

- Mas peraí; nessa condição, você não pensou em fazer nada? Sei lá, resistir à tentação de voltar no tempo e reiniciar esse círculo vicioso. Já estaria modificando.

- Pois é. Não pensei nisso. Mas a essa altura o ciclo já está correndo de novo lá atrás e eu já voltei a andar em linha reta.

- De qualquer forma... era o seu destino também. Além do mais, se você tivesse realmente alterado algo, nós não estaríamos aqui pra contar a história...

- Mais uma vez, você tem razão. Eu não deixo de pensar no rumo diferente em que tudo estaria agora... mas lamentar também não adianta nada.

- É isso aí. E como você mesma disse, estamos andando em linha reta. Vamos fazer isso de preferência pra frente? Eu começo.

- Como assim?

- Vem pra minha formatura em dezembro.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OHOHOHOHOH agora a coisa vai ficar emocionante! Conversar pela webcam é uma coisa, mas ir pra formatura do Tom.......... Será que ela vai? Hein?
-
Uma coisinha que eu acho interessante contar: eu já tentei fritar meus miolinhos arquitetando a maneira como a Maria teria descoberto que a viagem no tempo dela não alterou coisa alguma. Mas aí eu pensei... Bah, também quero ser deliciada pelo mistério, então deixa quieto; e até hoje eu também não sei como déabos ela ficou sabendo que tudo o qu eela fez era a ordem natural das coisas.
-
Agora... vocês acreditaram que eu fui anotar alguma coisa depois que postei o capítulo passado? Juro que eu considerei a opção, mas que naaaaaaaaaada. Não anotei uma vírgula xD
Acho que vou deixar pra ir lembrando ao que eu for postando, né... E falando o que vai acontecer no próximo capítulo porque eu decidi ser má. Vejamos... semana que vem vou deliciar vocês com uma sessão nostalgia. Mas até lá...
DEIXAR REVIEW NÃO MATA, OK?
Au revoir. :*