Durch Den Monsun - Tudo O Que Restou escrita por seethehalo


Capítulo 2
Running Up that Hill


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, crianças!
É, eu postando fic de sexta-feira e de manhã. k/
-
Bommm, essa música é do Placebo mas de novo: conheço na voz da Kerli, então vai Kerli *-*
A ideia inicial era que essa fosse a música do primeiro capítulo, mas eu acabei fazendo diferente e empurrei ela pro segundo.
E sim, esse capítulo vai falar bastante sobre a Maria. O próximo também.
Curiosidades nas notas finais ^^
-
Enjoy :D



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E se eu apenas pudesse
Eu faria um trato com Deus
Eu pediria a ele para trocar os nossos lugares
Continue correndo estrada a fora
Continue correndo colina acima
Continue correndo pelo prédio
Se eu pudesse...
Você não quer me machucar
Mas veja o quão profundo as balas mentem
Running Up That Hill - Kerli

*-*-*-*-*

     - Eu temia que você dissesse isso.

     - Eu também. Mas tudo são fatos com os quais temos que lidar.

     Silêncio. Um de nós ia falar. Um de nós tinha que falar. Mas não sabíamos o que dizer.

     Desconversei:

     - E o seu filho? Com quantos anos ele está?

     - Com cinco. E adivinha o dia em que ele faz seis.

     - Primeiro de setembro? Não, é muito pra minha cabeça.

     - Quase. Dia dois.

     - Nossa... E você...?

     - Bom, tive que recolher os cacos que sobraram da minha vida.

     Mais silêncio. Eu queria perguntar e acabar logo com isso, estava escolhendo as palavras. Por fim, indaguei:

     - Maria, posso te fazer uma pergunta sincera?

     - Diga. – respondeu ela sem hesitar.

     - Você se culpa pela morte do Bill?

     - Como não me culpar? Ele morreu por causa da minha teimosia.

     - A culpa não foi sua se ele descontrolou o volante e foi de encontro com o barranco.

     - Mas a culpa foi minha por ele estar lá. Se eu não tivesse dado uma de louca e dirigido à toda em direção ao interior fugindo da martelada de razão que ele tinha que me dar, isso não teria acontecido.

     - Por que exatamente você foi atrás de nós aquele dia?

     - Porque eu tinha acabado de prometer pra mim mesma. – pausa. – Naquela manhã, eu me revi. Quer dizer, quando eu voltei pro meu tempo, em 2009, eu viajei pra 2020 pra devolver a geringoncinha. Eu tava muito transtornada, e falando comigo mesma, contei que vocês estavam no país e... bom, ela, digo, eu me intimei a procurar o Bill sob ameaça de que me mataria em 2009 se eu não o fizesse. Era a quarta vez que vocês vinham pra cá. E eu passei mesmo a vida toda me coçando de não saber como ir atrás de vocês... então eu fui. Porque eu sabia o que seriam os onze anos seguintes porque já tinha vivido aquilo.

     - Você foi ameaçada de morte por si mesma... E prometeu nos procurar pra aliviar a dor que sentiu quando foi embora daqui, é isso mesmo?

     - É. Como dá pra notar, essa coisa é um círculo vicioso: eu com quinze anos me visito com vinte e seis fazendo um ultimato que é aceito por saber o futuro da que intima. E a Maria de quinze volta ao seu lugar, vive a amargura destinada e, quando chega aos vinte e seis, recebe a visita de si mesma e começa tudo de novo.

     - Porra... Uma coisa dessas fritaria os miolos até de um gênio.

     - Com toda a certeza. E enfim, eu fui procurar vocês completamente no impulso; porque na minha cabeça, naquele momento, eu consertaria as coisas impulsivamente porque fora assim que eu as havia estragado. Eu não tava muito em sã consciência. Mas tinha que fazê-lo.

     - E você... se arrepende de ter ido atrás de nós? Teria ido mesmo assim se soubesse o que estava por vir em seguida?

     - Não me arrependo de ter ido atrás de vocês. Estava cumprindo uma promessa feita a mim mesma multiplicada por uma sequência infinita... Mas se eu soubesse que o meu ato estava condenando o Bill, eu teria agido de forma diferente a partir do momento em que o vi.

     A câmera não me deixara ver quando seus olhos começaram a lacrimejar; mas agora era visível que ela chorava, pois perdeu o incrível controle da voz que vinha mantendo e pôs-se também a fungar. E continuou:

     - Se eu soubesse, Tom... Acho que se eu pudesse eu trocaria os nossos papeis. Sei lá; que eu estivesse atrás dele pra libertar todo aquele amor sufocado e ele fosse teimoso em não aceitar, talvez eu tivesse morrido no lugar dele...

     - Não fala assim – pedi sentindo um aperto na garganta.

     - Você tá se divertindo me ouvindo contar tudo isso? Não preferiria que o seu irmão estivesse com você, vocês dois tocando junto com Gustav e Georg e encantando o mundo inteiro como fizeram a vida inteira? De qualquer forma, não estariam livres do pesadelo absurdo que perseguia vocês desde que eu entrei nas suas vidas?

     Não havia resposta, então eu fiquei calado.

     - Tom, morrer não coloca fim aos problemas de ninguém. Mas se fosse eu no lugar do Bill, teria trazido um certo alívio pra todo mundo. Vocês poderiam esquecer o meu maldito segredo e seguir em frente; e eu estaria livre de ter que escondê-lo. Acho que você conhece a minha biografia melhor do que ninguém, sabe que durante a minha vida inteira eu carreguei comigo uma completa amargura. Passei a infância acreditando que eu era um estorvo. A adolescência sentindo que eu era uma aberração. O início da vida adulta marcado pela solidão. E agora que estou perto da idade balzaquiana, arrasto um buraco na alma por conta da morte do Bill. Seu irmão foi a única pessoa que me amou de verdade nessa vida, e se ele morreu, eu tenho culpa no cartório sim!

     Ela começou a se debulhar em copiosas lágrimas do outro lado da tela. Eu, sem saber o que fazer, pensava que se estivesse a lado dela lhe daria um abraço muito forte. Mas não estava. E ela parecia estar firmemente convicta de que sua existência era inútil. Veio-me então à mente um último recurso:

     - Maria! Mas o que seria do seu filho sem você? Penso que, se você cuida dele sozinha, o imbecil do pai deve ser um pária; então para onde iria a criança se você morresse?

     - E o é. – disse enxugando as lágrimas e recuperando um pouco o controle da voz. – Tem razão, Tom; você sempre tem toda a razão. O Lucas é o único motivo pelo qual eu ainda estou de pé.

     - Então. Você já parou pra pensar, sei lá; claro que você pensa no futuro do seu filho, então... Bom, vai saber pra que motivo você não foi escolhida pra parir o garoto, cuidar dele e etc... Agora não me vem nenhuma ideia de destino pra ele; mas vai saber, todos nós viemos pra ter um lugar no mundo.

     - Você tem razão. Obrigada. Por mim eu ainda acharia melhor se eu pudesse trocar de lugar com o Bill. Mas como eu não tenho o direito de ser egoísta desde que tenho um filho, o jeito é ir em frente com e por ele.

     - É. Bem isso. Bom, eu gostaria de continuar aqui conversando contigo, mas tá ficando tarde e bom, segunda-feira é um dia cheio.

     - Realmente. Aqui ela vai demorar um pouco ainda, mas enfim.

     - Então a gente se fala aí durante a semana e quando der tempo marcamos outra dessa. Pode ser?

     - Pra mim está ótimo. Tom...

     - Diga.

     - Muito obrigada. Foi muito bom desabafar direito, mesmo depois de tanto tempo.

     - Disponha. Precisando, sabe que estou aqui. Tchau. – dizendo isso, cortei a nossa conexão e desliguei tudo. Estava realmente entardecendo, mas não sei se meus pensamentos me deixariam dormir.

     Dormi. Que nem uma pedra. E sonhei com a época imediatamente anterior à que conhecemos a Maria. Estranho. Parecia dejavú. Caí da cama no meio da madrugada, mas dormi de novo e não sonhei mais.

     Esta semana trocamos mais alguns e-mails. Num deles ela me contou que, além de também trabalhar na Volkswagen, talvez viria para a Alemanha no próximo ano. Não sei descrever exatamente o que eu senti quando li isso. Acho que eu me apavorei.

     Não foi de imediato que notei a aparência dela. Na verdade, não foi muito o que mudou. Reparei que agora ela usa os cabelos curtos, na altura dos ombros. Perguntei-lhe, quando lembrei deste detalhe, o porquê de ter cortado as madeixas. Ela respondeu que mantivera os cabelos compridos desde que voltara ao seu tempo porque sabia que Bill gostava deles assim. E que, logo após a fatídica ocasião, havia cortado-os bem curtos, quase ralos, pois não havia mais motivos para deixá-los grandes; e desde então não cortou mais. Compreensível. Foi um reflexo.

     Voltamos a nos encontrar na webcam um mês mais tarde. O assunto não variou quanto ao da outra vez.

     - Sério, Tom. Se eu pudesse, sei lá, fazer um trato com Deus e trocar os nossos lugares, eu não hesitaria.

     - Já falei pra você não falar desse jeito. Não se condene à infelicidade. Eu, que sou irmão dele, tentei recomeçar debaixo do zero... Eu nem sei mais o que te dizer, só queria que você parasse de se culpar.

     - Eu não consigo.

     - Faz um esforço. Olha... que tal a gente parar de pensar nessa desgraça e lembrar o que o Bill foi e sempre será pra gente?

     - Tem razão. Ficar chorando porque ele não está mais conosco faz mal até pra ele, onde quer que esteja.

     - Então. Eu lembro como ele enchia o meu saco por causa de você. Uma vez ele entrou no meu quarto no meio da noite pra me pedir dicas de como “se aproximar” de você. Nossa, que lembrança aquela casa em Magdeburg.

     - Jura que ele fez isso? – ela riu-se – Nossa... É sério? É difícil de acreditar.

     - Mas é verdade.

     - Eu adorava ir à casa de vocês. O que foi dela?

     - Foi vendida, há anos. Nem sei se ainda existe. Acho que eu teria um choque nostálgico só de passar em frente, quantas recordações a simples menção daquela casa não me traz!

     - Minha infância tá conservada, minha tia ainda mora na mesma casa em Floripa, onde eu cresci. Bom, eu lembro... da primeira vez que a gente saiu junto e ele me deu aquela jaqueta. Acredita se eu disser que ainda guardo?

     - Era de se imaginar. É uma coisa importante pra você.

     - Assim como o single que você me deu. Eu avisei que guardaria pra sempre.

     - Eu acreditei. Deixa eu ver... Eu lembro de como ele ficava pau da vida quando vinha falar comigo e eu não tirava a cara do videogame.

     - Você era um viciado. E eu lembro de quando deixei os dois no chinelo jogando Sonic.

     - Ah, qual é. Ninguém além de nós três nunca soube disso.

     - Tudo bem, eu não me importo com os créditos.

     - Eu lembro das piadas retardadas dele. Acho que você não pegou essa época, foi um tempo antes de você chegar e depois voltou com essa mania quando já andávamos em turnê com a banda. Bill contava cada piada estúpida. A gente ria de imbecilidade, porque não tinha graça nenhuma.

     - Tô imaginando a cena de vocês caindo de rir e o Bill com cara de tacho. – quem quase caiu de rir foi ela. – Eu lembro de quando pedi pra ele pintar o meu cabelo.

     - Ele deve ter ficado no céu naquele dia, ele já tinha um tombo por você. Lembra aquela vez que você cantou na escola?

     - Lembro sim. Eu já tinha uma ligação bem forte com ele. Eu lembro daquela vez que eu me afastei de vocês por medo do Bill descobrir meu segredo. Aí, depois daquele surto, ele veio todo marrento querendo que eu fosse pra casa de vocês. Suspeito que eu já tinha baixado a guarda nessa época.

     - Quando foi que você começou a corresponder o sentimento dele? Se é que com você não foi antes, né.

     - Sinceramente? Não sei exatamente. Eu só me dei conta mesmo quando voltei a morar com a D. Silvíe. Um pouco depois disso, na verdade.

     - E você não percebia nada, as investidas dele...?

     - Por que ficar falando disso? Faz tanto tempo...

     - Só me responde. É só uma curiosidade.

     - Bom... Eu comecei a desconfiar levemente quando... quando ele me beijou no dia do meu aniversário. Eu tava com a cabeça completamente perdida e me custava ter admitido pra mim mesma que estava apaixonada. Achei até que fosse paranoia minha. Enfim, é isso.

     - Entendi.

     Silêncio. Tinha outra pergunta na garganta mas achei melhor ficar quieta. Ela já tinha dito que não gostava de falar no assunto, e podia, sei lá, se ofender.

     - Bom, pelo menos eu consegui te fazer rir um pouco. – falei de repente.

     - Tem razão. Eu tava precisando.

     Eu ia dizer alguma coisa quando uma voz de criança emitiu um grito do outro lado. Devia ser o filho da Maria chamando pela mãe. Tinha certa curiosidade em conhecer o garoto, por isso fiquei em silêncio torcendo para que ele viesse para aquele cômodo e eu pudesse vê-lo pela câmera.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho que anotar o que eu pretendo escrever aqui, senão acabo esquecendo tudo. Dorgas
-
Mais alguém além do Tom curioso em conhecer o filho da Maria?
-
Essa reta final de fic anda me deixando meio... hmm... triste :S Ultimamente, além de alimentar meu vício em Florence + the Machine, o que eu mais tenho escutado é Paramore. Adivinha, usei quase a discografia toda deles (e mais um pouco) nessa história (e o próximo capítulo...... Paramore HFUDSFHUDS), então cada música que eu escuto eu lembro de alguma coisa... No começo da semana mesmo, eu peguei os cadernos e reli váááários trechos, desde o comecinho de GF até os estágios que estou escrevendo agora...
Já falei que estou no último capítulo? Na semana passada eu me segurei pra não escrever, mas nessa semana eu tive foi dó. Estou me vendo com uma depressão pós-fic quando eu terminar. :c
Enquanto isso, ao passo em que eu não escrevo, vou imaginando o que eu quero escrever, e já imaginei tanta coisa que eu acho que esse último capítulo vai daaaaaaaaaar pano pra manga.
Bom, vou parar de falar no último capítulo e anotar tudo o que eu queria lhes contar via notas finais.
Até semana que vem, galerinha do mal :3



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