Uma Estranha No Meu Quarto escrita por Damn Girl


Capítulo 47
Capítulo 41 - O Final (parte 02)


Notas iniciais do capítulo

Ai meu coração... quero deixar avisado que vai ter epílogo tá, não sumam kkkkkkk
Boa leitura!!



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         Roosevelt checa o corpo de Jaynet pela milésima vez, dentro do círculo. A cada minuto que passa, sem nenhum em que Jaynet continua sendo um fantasma minha cabeça parece cada vez mais próxima de explodir. Ele toca seu tosto, abre as pálpebras e os olhos azuis continuam sem vida. Então pega a folha e verifica o passo a passo das inscrições, suspirando e murmurando coisas sem sentindo a cada volta no círculo. É Ana quem toca seu ombro, quebrando a aflição e silencio do ambiente.

— Precisamos congelar o corpo dela novamente até saber o que aconteceu.

— Eu não entendo, está tudo certo. — A voz dele saí esganiçada, como um reflexo de meu próprio desespero. — Não podemos congelar de novo Ana, não é assim que as coisas funcionam.

— Mas tem aquela coisa no tubo prateado. Podemos jogar no corpo dela, não?

— Acabou o nitrogênio, Ana. — Suspiro. — O cilindro que tem dá para uma ou duas horas no máximo, não temos como voltar a empresa do Becker e devolvê-la a sua câmara.

— Mas pelo menos é um tempo a mais.

— Tempo a mais para que? — Repreendo um soluço, e limpo uma lágrima solitária em meu rosto. — O Ritual não funciona, simples assim. Estragamos a possibilidade dela reviver através da ciência um dia, por uma coisa inútil.

— Vamos fazer de novo, você derrama mais sangue no centro... não sei. O corpo dela está aqui, agora, não podemos simplesmente desistir!!

            Seu otimismo me irrita, sobretudo quando sei que não há mais nenhuma esperança. Esfrego as têmporas tentando me manter sob controle, e é Roosevelt quem explode com ela, iniciando uma calorosa discussão. Logo Xerife intervém e a coisa se expande para Jason e Hugo, que culpam Roosevelt pelo fracasso. Deixo meu corpo cair no chão e abraço meus joelhos, abaixando minha cabeça. Não consigo pensar em nada que possa vira a ajudar. A vertigem toma conta de mim enquanto ouço as vozes em meio a escuridão.

— Se arrumarmos outro Helicóptero podemos levar o corpo de volta antes que ele apodreça. — Sugere a voz de Hugo.

— Olha o estado dele. — Sinto olhares em mim, mas mantenho minha cabeça abaixada enquanto Ana rebate. — Ele não tem condições de pilotar aquela coisa assim!

— Ele precisa de um médico. — Jason é o mais calmo. — Ele está bem pálido.

            A discursão continua por mais alguns minutos até que ouço Jaynet gritar. Ergo os olhos e vejo-a caminhar até seu corpo e se abaixar, fitando de perto sua outra versão. Ela acaricia seu rosto inconsciente e abre uma sorriso carregado de muito carinho e...  felicidade.

— Por favor, parem. Vocês fizeram o que puderam e eu nunca poderei agradecer o suficiente. Tenho amigos que se preocupam muito comigo e isso é suficiente. — Ela volta o olhar diretamente para mim. — Obrigada Christian. Agora por favor, vá cuidar de seu braço meu amor.

— Mas seu corpo... vai estragar... — Minha voz sai entrecortada.

— Pelo menos eu posso me despedir. — Ela deu de ombros. — E meu pai está finalmente livre do peso, de ter que ficar horas e horas naquele laboratório procurando uma solução para algo irremediável. Estou finalmente bem com a minha morte, pois sei que agora ele pode retomar sua vida de onde parou. Só vamos enterrar meu corpo aqui mesmo e deixar tudo para lá.

            Ela desistiu. Isso se estendia ao nosso relacionamento também?

            Vendo minha confusão, Jaynet se aproximou de mim, tocando meus braços.

— Levante-se, Christian.

            Sua voz era tão doce que eu prontamente atendi seu pedido. Com certa dificuldade levantei do chão e a puxei para um abraço. Deixei que minhas lágrimas caíssem enquanto sentia seu aperto espectral em volta de mim. Queria tanto que ela revivesse que por mais que tentasse, não conseguia aceitar que esse era o fim do nosso sonho. Senti ela acariciar minhas costas num gesto carinhoso.

— Está tudo bem Christian, ainda posso bagunçar seu quarto e roubar seus livros.

            Mesmo chateado não pude deixar de rir com seu comentário. Ficamos abraçados ainda por algum tempo e quando ela me afastou, pôs a mão na boca, consternada.

— O que foi?

— Estou... enjoada? — Sussurrou mais para si mesma, contudo li seus lábios.  Ela levantou o olhar e me encarou com o semblante apavorado. — Estou enjoada. Eu nem me lembrava mais dessa sensação...  — Ela segurou meus dois antebraços, me fazendo de apoio. — Não estou me sentindo muito bem, Christian.

            Jaynet se desequilibra e cai em meus braços. Pego ela em meu colo e a levo até a escada, colocando-a sentada. Os outros fantasmas voltam a murmurar e sinto a confusão nos olhos de Roosevelt. Volto o olhar para o corpo dela, e não há de diferente ali.

— Fique sentada aí. — Jaynet assente, recostando a cabeça na parede.

            Penso em examiná-lo mais de perto, contudo quando avanço um passo um barulho estridente chama minha atenção. O Som se propaga pelo assoalho e ecoa pelas paredes, no entanto é a voz feminina que me faz congelar no lugar.

— Christian... Nossa que lugar sujo e escuro... — A voz foi ficando mais próxima. — Christian...

            Os cabelos cor de fogo ultrapassam o batente da porta devagar e minha respiração sai errada enquanto seus olhos encontram com os meus.

— O dono do hotel disse que você e os meninos costumam vir para cá todos os dias. — Ela meneou as mãos pelo ar. — Essa casa é de quem?

            Heather então continuou caminhando para dentro da sala nervoso, observei seus saltos cruzarem o círculo, derrubando algumas das velas, e a ponta da sandália tocar o ombro de Jaynet. Sentindo a obstrução em seu caminho, ela parou e seus olhos desceram para o corpo a seus pés, finalmente percebendo a mulher loira deitada ao chão. Suas pupilas se dilataram e ela deu um passo para trás, ainda dentro do enorme círculo.

— Ai meu deus, o que é isso?!! Ela desmaiou? — Heather então cobriu a boca ao notar as velas em volta de si e me encarou desconfiada. — Faltou luz aqui ou o quê?

— Heather, eu posso explicar.

            Nenhum dos fantasmas se moveram. Fitei Jaynet e ela continuava na escada, aparentemente melhor. Ela gesticulou para que eu a enrolasse, no entanto eu não conseguia pensar em nada que justificasse isso. A situação piorou quando Heather apontou para o corpo e sentenciou horrorizada:

— É a moça do noticiário!!! — Ela agora emanava medo. — Meu deus, é ela sim! Que tipo de pervertido é você? Em que eu fui me meter ... ah meu deus!!

            Dei um passo para frente e Heather puxou o celular do bolso da calça, apontando para mim como se segurasse uma arma.

— Não chega perto ou eu vou ligar para a polícia.

— Não Heather, me escuta. — Passei a mão pelo rosto, tentando pôr os pensamentos em ordem. — Lembra do que eu te falei ao telefone, que eu tinha arranjado uma nova namorada...

— Ela está morta!!           

— Bem... Sim, mas..

— Ai meu deus. — Heather me interrompeu. Seu peito subia de forma descompassada e ela pôs a mão sob o coração. — Você é um necrófilo?! Que horror.

— Não é isso!!! Eu...

            Heather então estremeceu e caiu ao chão inconsciente, sob o corpo da minha fantasma. Tentei ir ao encontro dela, mas o que aconteceu a seguir foi extremamente rápido:

            Cacos de vidro e um objeto preto e pequeno pousaram ao chão, vindos da janela. Estreitei os olhos e tudo que consegui fazer foi me jogar ao chão quando percebi que o objeto misterioso se tratava de nada mais nada menos que uma granada. O objeto “explodiu” e para meu alívio o que saíra dele não era algo letal e sim fumaça. Roosevelt correu até a porta. E então vi ele ser atingido por um soco em sua face e cambalear para trás.

            Um Carlisle extremamente confiante adentrou o cômodo, seguido por outros fantasmas e um homem vivo. O homem alto, de semblante arrogante encarou o corpo de Jaynet com um semblante satisfeito e então voltou o olhar para mim, enquanto Carlisle e Roosevelt brigavam atrás de si.

— Olá meu nome é Theodoro. Eu sou um cientista. E sou um mediador, assim como você. — Ele me estendeu a mão, a qual não fiz nenhuma questão de pegar. — Vejo que ainda não conseguiu reviver a garota.

            Carlisle com a ajuda de seus comparsas, deu uma chave de braço em seu irmão, prendendo-o pelo pescoço. Roosevelt se sacudiu, tentando se libertar no entanto os fantasmas estavam em maior quantidade que ele. Jason, Xerife e Hugo travavam uma batalha contra outros fantasmas, enquanto Ana se mantinha encolhida no canto do cômodo.

            Meus olhos então voltaram para a escada onde eu havia deixado Jeynat e senti o pânico crescer em minha garganta ao notar o degrau que ela estava sentada completamente vazio. Fitei cada centímetro do lugar, mas ela havia evaporado.

— O que você fez com ela? — Perguntei a Theodoro que simplesmente deu de ombros. — Se fizer algo a ela..

— Você não está em condições de me ameaçar, garoto. Perto de mim, você é apenas uma criança. — Ele se aproximou, tocando meu ombro. — Pode ficar com sua preciosa Jaynet, tudo que precisa fazer é me entregar o livro.

            O livro com os rituais. Era por isso então que eles estavam aqui. Mas eu não podia entregar, primeiro por que era algo perigoso demais para ser entregue a um desconhecido e, segundo, por que era Roosevelt quem detinha sua guarda sobre absoluto sigilo. O fato desse homem ser aliado de Carlisle só reforçava que ele não era boa pessoa.

— Não posso entregar para você.

            Uma centelha de raiva percorreu seu rosto até que e frieza o preencheu novamente.

— Não me desafie, criança.

— Carlisle o que significa isso? — Questionou Ana.

— Ora cunhada, nada demais. — Ele apertou o pescoço de Roosevelt que gemeu com a nova força exercida. — Quero o livro para reviver com sua irmã. Se se aliar a mim prometo que viverá também.

— Nunca!!! Você destruiu a vida dela..

            Ana encarou a Roosevelt de forma apreensiva e ele se desmaterializou. O fantasma então apareceu um pouco mais a frente e voltou a lutar, imobilizando os dois fantasmas que ajudavam seu irmão. Assim que se livrou deles ele voltou para Carlisle, chutando suas pernas e jogando-o ao chão. O fantasma rival riu, enquanto seu irmão deferia socos e mais socos em sua face.

— Me entregue o livro, Roosevelt!

— Eu nunca deixaria algo do tipo nas mãos de alguém tão invejoso e de alma podre como você.

— É sua palavra final? — Perguntou dentre um soco e outro que recebia.

— Sim, por mim você viverá a eternidade assim! Você é uma desonra ao nosso pai e merece estar assim, Carlisle. E no que depender de mim você nunca colocará a mão nesse livro nem em qualquer outra coisa que possa te tirar da condição que merece. Nem que eu tenha que permanecer como um fantasma

— Ótimo então, meu irmão! Mas lembre-se que foi você quem escolheu por isto. — Carlisle voltou o olhar para Theodoro com raiva. — Faça.

            Theodoro então retirou do bolso uma máscara e a colocou no rosto, apertando um botão lateral em seu celular. Outras granadas entraram pela janela, depositando mais fumaça no ambiente, enquanto ele desenhava algo na parede com as pontas do dedo. Meus vista começou a ficar turva e percebi que aquela fumaça não era normal; ele havia botado algo nela.

            Me apoiei na parede fitando a confusão de fantasmas brigando e procurei com o olhar por algum sinal de Jaynet, de que ela estivesse brigando com eles e novamente nada.

— Jaynet?! — Gritei tentando me desvencilhar da confronto. — Jaynet?!!

            Por onde eu olhasse eu não a encontrava. Minha cabeça começou a girar enquanto perdia minha visão cada vez mais. Abaixei e segui em direção ao centro da sala, onde Heather e o corpo de Jaynet estavam, e ao me aproximar deles vi Theodore pôr a palma da mão em seu desenho de forma decidida, e um brilho intenso ofuscou tudo ao redor.

            Quando tornei a enxergar todos os fantasmas haviam sumido, restando apenas eu e ele no aposento. Uma ventania poderosa abriu todas as janelas, apagando as velas que ainda queimavam. Theodore riu pela minha expressão abobalhada.

— Um pequeno truque, estava um caos aqui. — Vi ele sorrir sobre a máscara, sua voz abafada. — Todos vão aparecer mais tarde. Pensei que conhecesse. — Neguei com a cabeça. — Bem, acho que no final você não passa mesmo de um moleque. Um com sorte, mais ainda inexperiente. Diga a Roosevelt, quando ele retornar, que quero o livro pela garota.

            Franzi o cenho mas não tive nem tempo de retrucar. Mais homens adentraram a porta, dessa vez trajados com uma roupa de contenção branca que cobriam cem por cento do corpo. O visor espelhado na altura do rosto e a dificuldade com a qual eles andavam, me faziam lembrar os astronautas dos filmes.

            Desde que me tornei um mediador sempre imaginei o dia em que eu encontraria outra pessoa que enxergasse espíritos. Pensei nas situações mais bizarras em que eu poderia encontrar alguém como eu, mas absolutamente nada chegava perto de Theodoro. O outro mediador riu e apontou para o centro da sala.

— Ela está ali, a loira por baixo da mulher ruiva.

            Percebendo o que ia acontecer, me joguei na direção das duas, segurando o braço de Jaynet com força. Os homens vieram em nossa direção e retiraram Heather de cima dela com facilidade. Um deles pisou no ferimento em meu braço, aumentando a tontura em minha cabeça.  Gritei agoniado mas não soltei o braço de Jaynet. Contudo a cada segundo que passava me sentia mais próximo de desfalecer.

— Desista Christian, o ar foi contaminado com uma substância que o fará desmaiar em breve. — Os homens me chutaram e mesmo assim mantive Jaynet comigo. — Como eu disse a você, sou também um cientista.

— Não a leve, por favor.

— É só me entregar o livro e eu a devolverei intacta.

            Minhas forças se esvaíram rapidamente, não sabia se por conta da substância na fumaça, por conta do sono ou de todo o sangue que perdi a noite. Contudo senti meus olhos arderem ao sentir sua pele gelada escapar de meus dedos. Um dos homens pegou Jaynet do colo e o segui rastejando enquanto ele tentava leva-la para longe de mim. Pontos pretos dançavam em meu âmbito de visão, e os homens saíram pela porta. Theordore me lançou um último olhar antes de sair.

— O livro, Christian, quero o livro.

            O cômodo ficou silencioso. A única coisa que restavam eram velas destruídas e minha ex namorada.

            Pensei em todo trabalho que tive para roubar Jaynet de um lugar onde ela estava segura e em tudo que poderiam fazer com ela agora graças a mim, e meus olhos se encheram de lágrimas. Cruzei as mãos no chão, apoiando o rosto em meu antebraço e deixei que elas corressem livre pela minha face. Fiquei ali, chorando sozinho, soluçando alto em meio a casa velha e destruída. Ela se assemelhava muito ao meu interior.

— Jaynet... Jaynet. — Supliquei em meio a um soluço, esperando que ela me envolver em seus braços novamente e dizer que estava tudo bem, como fizera mais cedo.

            No entanto não havia mais qualquer traço dela, ou mesmo de seu corpo, ou ainda de qualquer outro fantasma. Tudo que obtive em resposta foi o som do vento soprando lá fora, sussurrando que eu estava completamente sozinho e que assim eu deveria ficar.

O cansaço e fraqueza me impediram de defender a pessoa que eu mais amava. Solucei novamente e encarei meu ferimento, agora reaberto, socando o chão com raiva. E com a fumaça esvaindo o resto de minha visão, cai num sono profundo do qual eu desejava jamais acordar.


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Notas finais do capítulo

E então gente o que acharam? Qualquer coisa podem me dizer que eu aguento, mas falem comigo.
Ainda teremos um epílogo ok? onde o final vai ficar claro feito água, mas façam suas apostas e me contem.
Beijão e até 2018!!!