Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 29
Blood of the covenant


Notas iniciais do capítulo

O que é isso, produção? Um capítulo? De Kolybel'naya? Pode isso? É possível?



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Quando Abraxas Malfoy foi a primeira pessoa que Hermione viu ao sair da torre da Grifinória, ela sabia que algo errado estava acontecendo. Na verdade, tal percepção foi mais por conta da expressão séria no rosto do rapaz, pois era difícil ver aquele Malfoy sem um sorriso no rosto, diferente de seu futuro neto, que parecia ter uma eterna expressão de desgosto. Mas ali estava Abraxas, de cara fechada, encostado em uma das paredes do corredor e sem nem ao menos trocar uma palavra sequer de brincadeira com o quadro da Mulher Gorda. Havia algo muito errado.

“Boa noite?” disse a garota, pulando para fora do retrato que cobria a entrada da torre e dando uma última olhada para dentro. Minerva a olhava um tanto apreensiva. Ela também devia ter percebido alguma coisa estranha quando Malfoy lhe pediu para chamar Hermione. “O que aconteceu?”

“Você sabia?” o rapaz perguntou abruptamente assim que o retrato da Mulher Gorda se fechou atrás dela. “Sobre o Tom. Você sabia que ele era um mestiço?”

A bruxa sentiu seu estômago revirar enquanto abria a boca para tentar responder. Não queria admitir que aquilo a pegara de surpresa e que, agora, parte de si estava começando a se sentir apreensiva por Riddle.

“Abraxas,” ela murmurou, aproximando-se dele com cuidado. O outro continuava sério, com os lábios pressionados firmes um contra o outro enquanto ele a encarava.

“Você sabia,” ele falou, desviando o olhar para uma das janelas do corredor e mordendo o lábio inferior.

“Só porque ele tem um pai trouxa não significa que Riddle é inferior-“ a garota começou a falar, tentando manter o tom de voz firme. Apesar de ele ser um Malfoy, não esperava que Abraxas reagisse mal ao saber que Tom Riddle era um mestiço, afinal, os dois pareciam muito mais íntimos do que o restante dos rapazes da Sonserina.

O garoto riu de uma forma desdenhosa, sacudindo a cabeça e depois esfregando os olhos com os dedos.

“Eu não acredito nisso,” ele murmurou, ainda com o rosto escondido.

“Não faz a menor diferença,” disse Hermione, não acreditando que estava tentando defender Riddle. Ele não merecia isso, mas ao mesmo tempo, depois de ver os dois rapazes interagindo, era possível ver que um afastamento por parte de Abraxas seria doloroso demais. “Só porque ele não é o seu ideal sangue-puro-“

“Eu estou pouco me importando para o pai dele ser um trouxa, Elston,” disse Malfoy, finalmente erguendo o rosto e a encarando com os olhos brilhando mais do que o normal. “Ele podia ser um nascido trouxa completo e eu não me importaria. Merda!”

Hermione parou a poucos metros dele, observando enquanto o sonserino começava a andar para lá e para cá, respirando fundo e alternando entre pressionar os lábios e mordê-los.

“Por que ele não falou antes?” A voz de Malfoy saiu tão baixa, quase um sussurro, que por pouco a garota não o ouviu. Então era aquilo que o estava incomodando. Não o fato de Tom Riddle não ter o sangue puro mágico que os sonserinos tanto prezavam e que o próprio tanto enaltecia, mas sim a ideia de que o rapaz havia escondido essa informação. Riddle ter mentido para ele era uma ofensa maior, aos olhos de Abraxas, do que a mentira em si. “Por que ele não me falou?”

A bruxa suspirou, finalmente se aproximando do outro e arriscando apoiar uma mão no ombro dele. Malfoy agora parecia mais desapontado do que irritado, olhando-a com as sobrancelhas franzidas e os olhos brilhando.

“Seus colegas não são muito gentis com nascidos trouxas ou mestiços,” ela falou. “É só ver como tratam a Minerva.”

“Mas-“

“Você uma vez disse que começou a falar com Riddle quando estavam no terceiro ano. Como era antes disso?”

“Ele quase não falava com ninguém,” Malfoy explicou. “Sempre quieto no seu canto. Atlas e Canopus não confiavam nele. Ele... Ele era estranho. Ele falava... Estranho...” o rapaz murmurou, mais lentamente, como se alguma coisa estivesse começando a fazer sentido em sua cabeça. “Ele tinha um sotaque estranho. Mudou com o tempo. No terceiro ano era como se fosse outra pessoa falando...”

Hermione suspirou. É claro, Tom crescera em uma parte pobre de Londres e seu sotaque devia denotar isso quando mais novo. Mas viver entre um bando de sonserinos ricos e pomposos não permitia alguém não falar o inglês mais correto, não quando esse alguém queria ser respeitado.

“As roupas dele,” Abraxas começou a falar.

“Vestes de segunda mão ou feitas por alguém muito menos experiente que a Madame Malkin,” disse Hermione, afastando a mão do ombro do outro quando este a olhou. “Tom está longe de ser o príncipe sonserino que vocês imaginam.”

“Isso não faz sentido,” ele resmungou. “Sou amigo dele desde os treze anos e nem sei quem ele realmente é...”

“Ele tinha medo do que vocês iriam pensar caso descobrissem,” ela explicou. “Acho que... Arrisco dizer que é de você que ele tinha mais medo, no fundo.”

“De mim?” O loiro riu, voltando a se encostar na parede de pedra.

“Tom gosta muito de você, o que é bem estranho. Confesso que, desde que o conheci, não achei que Tom Riddle era capaz de sentir alguma coisa genuína por ninguém, a não ser ódio ou inveja ou irritação, mas ele parece mais relaxado na sua presença,” Hermione falou, indo se apoiar ao lado dele. “Ele o deixa falar sobre os seus livros, o deixa fazer brincadeiras... Ele até deixou que você o beijasse e nem ameaçou te azarar depois!” Uma risada fraca escapou do rapaz. “Acho que é o jeito dele de dizer que gosta da sua presença. Tom é muito orgulhoso para dizer que o tem como amigo ou que gosta de você, mas... Acho que é com esses detalhes que ele demonstra isso.”

O sonserino a encarou por um longo momento, antes de suspirar e esticar a mão para segurar a de Hermione, erguendo o braço dela e empurrando a manga da camisa para cima. A cicatriz deixada por Bellatrix ainda era visível, mas agora era apenas marcas esbranquiçadas e elevadas em sua pele.

“Eu realmente quero acreditar que você esteja certa, Elston,” ele murmurou, seus olhos fixos no antebraço dela.

“Os outros não vão ser como você, não é?” a garota perguntou. “Eles não vão ficar magoado por ele ter mentido.”

“Eles vão ficar irados por causa da verdade,” ele explicou. “Walburga só faltou cuspir em Tom quando descobriu. Por sorte Alphard estava no salão comunal e conseguiu acalmá-la... Bom, ele a fez ficar irritada com ele e esquecer de Tom por um segundo.”

“Avery e Lestrange?”

“Só vi Lestrange desde então. Ele já sabia e não parecia contente,” o rapaz falou. “O problema não é só isso. É que Tom...” ele começou a falar, mas se interrompeu. Hermione se perguntou se ele iria falar sobre as ideologias de Riddle. “Tom não titubeou em aceitar tudo o que falam sobre trouxas. Ele simplesmente... Ele... Dá corda.”

“O medo e o orgulho fazem coisas incríveis com uma pessoa, não é?”

Abraxas deixou a mão cair ao lado do corpo, ainda segurando a de Hermione. Ficaram ali por longos minutos, em silêncio, apenas olhando o resquício das estrelas que eram vistas através das janelas do corredor.

“Eu não devia me preocupar com ele,” a bruxa murmurou, sentindo os dedos do outro apertarem de leve os seus. “Como você disse, ele deu corda para essa bobagem purista de vocês, ele mentiu e foi hipócrita. Mas... Acho que ele vai precisar de você agora. Riddle é instável e, no fundo, morre de medo de perder o controle das coisas. E ele vai perder muito o controle de tudo que construiu até agora.”

“Está jogando para mim o trabalho de evitar que ele surte?” Malfoy arqueou uma sobrancelha.

“Eu te dou cobertura, fico a postos para lançar um feitiço sedativo caso ele decida dar o bote,” a garota falou, sorrindo de lado ao ver o outro rir.

“Tom não é de todo o mal, sabe?” Abraxas murmurou. “Está longe de ser um santo, mas ele é... Uma pessoa, como eu e você.”

Hermione sentiu o sorriso em seu rosto tremer, mas por fim conseguiu mantê-lo ali. Não podia negar que estava sendo cada vez mais fácil dissociar a imagem de Voldemort de Tom Riddle, mas ainda se lembrava de como estaria o mundo bruxo no futuro, do que aconteceria com os pais de Harry, do que ela teria de fazer com os seus pais para mantê-los a salvo. Ela sabia o que Tom Riddle já havia feito ali, mas, mesmo assim, era mais fácil aceitar o ponto de vista de Malfoy agora e, de certa forma, uma pequena fagulha de esperança parecia surgir dessa crença que o outro rapaz tinha do amigo.

“Eu realmente quero acreditar que você esteja certo, Malfoy.”

***

Quando tinha cinco anos, Tom Riddle ficou sem dormir pela primeira vez na vida. Naquela época, não havia NOMs ou NIEMs para ocupar a sua cabeça e roubar-lhe o sono, não, a razão para a sua falta de sono era o medo, pois havia acabado de voltar do enterro de uma das crianças do orfanato. Não se lembrava o nome do garotinho, nem como ele morrera, só se lembrava da cerimonia, do rosto pálido e sem vida e do caixão sendo abaixado na cova. Aquilo o fizera tremer de medo a noite inteira.

Aos quinze anos, Tom Riddle adoeceu durante as férias de verão. Longe de Hogwarts e longe do Curandeiro Octavian, uma infecção que poderia ter sido tratada facilmente com poções e feitiços acabou fazendo com que o rapaz quase morresse, tossindo catarro misturado à sangue enquanto não conseguia respirar sem sentir dor e alucinava por conta da febre. Foi a segunda vez que Tom ficara sem dormir por conta do medo, um medo profundo de pregar os olhos e não acordar mais. 

Dois anos antes, ele passara diversas noites sem dormir por conta de uma mistura de medo e agonia. Fora depois de visitar Little Hangleton, depois de conhecer o seu pai e avós. O rosto marcado pelas lágrimas de seu pai, com os olhos fitando o nada na morte, o assombrava. Os pedidos do homem ecoavam em sua cabeça (os pedidos que ele entendera errado, agoar ele sabia), a expressão nos rostos de seus avós ficavam marcadas em sua memória. As noites sem dormir foram tanto pelo medo instigado pela imagem daquele homem morto que tanto parecia consigo, quanto pela agonia dos eternos ‘e se...’ que rodeavam a sua mente.

Agora, Tom Riddle não sabia exatamente se era medo que o mantinha acordado. Podia ser raiva ou frustração, mas o medo estava ali, em algum lugar, mesmo que soterrado pelos outros sentimentos. O medo era o que acordava a ansiedade, que agora fazia com que sua mente não parasse de repassar o que havia acontecido no salão comunal da Sonserina e impedia que seu pé parasse quieto na cama. Seu estômago parecia ter dado um nó em volta de si mesmo e, por mais que tivesse vontade, sabia que vomitar não ajudaria em nada.

Tom estava com medo. Era estranho pensar que não sabia o que iria ver quando saísse daquele dormitório. Era horrível pensar que talvez tivesse voltado à estaca zero, que agora a única pessoa que lhe daria algum valor seria o fantasma de uma garota morta há quase mil anos, como fora no seu primeiro ano em Hogwarts.

Tom estava envergonhado. O jeito como Walburga Black praticamente cuspiu as palavras em si depois de ver os cortes em seu braço, o olhar que Abraxas lhe lançou ao entender a situação, a expressão cheia de pena com o qual Alphard o olhou... Aquilo tudo o fazia querer vomitar. Ele não precisava daquilo, não precisava de gente se compadecendo por ele e nem de gente o olhando como se ele fosse inferior quando, claramente, a situação era a inversa.

Naquele momento, Tom Riddle queria, mais do que tudo, não ter aquele nome trouxa e nem aquele rosto que deixava tão claro quem ele era. Ele não queria aqueles olhos azuis que vira em seu avô, o nariz reto e delicado que encontrara no rosto de sua avó e nem mesmo os cabelos castanhos escuros que cacheavam quando muito longos e não arrumados que encontrara ao ver seu pai. O seu eu de dez anos talvez fosse fascinado por sua aparência, a única coisa que tinha de seu pai, além do nome, mas agora ele só queria se livrar de tudo isso para não ter mais o que os outros apontarem como prova do seu sangue sujo.

Seus pensamentos ainda estavam atulhados de raiva e vergonha e medo e frustração quando sua porta sacudiu no batente com alguém batendo nela do lado de fora. Talvez, se ficasse bem quietinho, McGonagall o deixaria em paz, acharia que ele estava dormindo. Mas não, o barulho continuou.

“Minerva, por favor,” ele resmungou, antes de se levantar e ir até a porta, abrindo-a com força.

“Acho que Minerva vai passar a noite na torre da Grifinória.” Riddle sentiu-se empalidecer ao ver Abraxas Malfoy parado na sua frente. “Vi ela lá em cima agora a pouco.”

“O que você quer?” Tom se forçou a falar, evitando a vontade de fechar a porta.

“Lembrei que você ainda está me devendo um passeio pela floresta. Tinha me dito que havia um lugar com oraqui-oralás, lembra? Queria vê-los,” o loiro falou, encolhendo os ombros, logo antes de soltar uma exclamação quando viu a porta sendo fechada na sua cara. “Tom!”

“Ir na floresta e deixar que você me leve até Avery e Lestrange para eles darem um jeito no mestiço que mentiu para vocês?” o rapaz rosnou, empurrando a porta que estava sendo segurada pelo ombro do outro. “Eu tenho sangue trouxa, mas não sou burro, Malfoy.”

“Quem falou alguma coisa de Atlas e Canopus?” Abraxas falou, mantendo-se firme contra a porta. “Certo, esquece a floresta! Só achei que fosse gostar de sair do castelo! Eu só quero conversar, Tom!”

Riddle continuou forçando a porta, agora jogando todo o peso do corpo contra a madeira. Abraxas, do outro lado, não havia desistido de seus esforços e continuava tentando forçar a porta a abrir.

“Tom, por favor,” o loiro falou.

“Maldição,” Tom sussurrou, soltando a porta e se afastando rapidamente, a tempo de não ter um Malfoy caindo em cima de si quando perdeu o apoio. “Seja rápido.”

Quando o outro rapaz se ajeitou outra vez, arrumando a postura enquanto o olhava, Riddle voltou a sentir seu estômago revirar. Não queria admitir que a reação de Malfoy podia ter tanto efeito sobre si.

“Por que não me falou?”

Ao ouvir as palavras do rapaz, Tom franziu o cenho. Aquilo não estava certo, não era o que esperava ouvir saindo da boca de Abraxas. Esperava algo parecido com o que Walburga havia falado, algo ruim e cruel.

“Como é?”

“Por que você não me falou que era mestiço?” o loiro insistiu, fechando a porta atrás de si e se aproximando com cautela. “Eu entendo mentir para Atlas e Canopus... E pra Walburga, se você tivesse algum interesse nela, mas...”

“Você é puro-sangue como eles,” disse Riddle, estranhando o jeito fraco como sua voz saíra. “Sua família é rica e antiga e purista como as deles.”

“Mas eu sou seu amigo,” Malfoy murmurou, alternando entre olhar para os próprios sapatos e lançar olhares rápidos para o colega. “Eu sei que você gosta de nos ver como servos, mas... Eu o considero meu amigo, além de ser a pessoa que eu seguiria seja lá aonde você for parar com as suas ideias mirabolantes. Eu achei que você soubesse disso.”

Tom observou o outro, boquiaberto. Realmente não esperava isso. E realmente não queria admitir que aquilo estava fazendo com que seu peito doesse um pouquinho, que seu lábio tremesse no que ele sabia que podia ser um prenuncio de choro.

“Acho que...” o loiro começou a falar, aproximando-se e apoiando uma mão no ombro do outro. Ele o empurrou até Riddle estar sentado na beirada da cama, o que foi bom, pois estava começando a achar que iria passar mal. “Podemos começar com você me explicando quem você realmente é. Não a parte que eu já conheço... Pode pular todo o discurso sobre como você é um legilimente, um grande bruxo, ótimo com encantamentos e poções, blablabla.” Abraxas riu fraco e então suspirou. “Onde você nasceu, Tom?”

“Londres,” o rapaz respondeu, automaticamente, mantendo o olhar fixo no chão à sua frente. “Vauxhall Bridge Road, n˚ 13. Orfanato Wool’s.”

“Ainda mora lá?” Malfoy perguntou e Tom agradeceu mentalmente pelo outro não ter demonstrado qualquer tipo de comoção ao ouvir sobre o orfanato.

“Sim,” ele falou. “Assim que arranjar um emprego depois de Hogwarts, vou sair.”

“E seus... Seus pais?”

“Minha mãe era uma bruxa. Merope Gaunt, o nome dela. Morreu quando eu nasci,” ele explicou, sentindo seus olhos arderem e sua garganta ficar apertada quando percebeu que não teria escapatória: teria que falar de seu pai. “Meu pai nunca apareceu no orfanato, mas descobri que ele era um trouxa: Thomas Felix Riddle...”

“Era...?”

“Ele morreu,” o garoto falou, sua voz saindo cada vez mais baixa e sua visão ficando cada vez mais turva. “Em 1943... Foi encontrado morto em... Em East Yorkshire.”

“Merlin,” Abraxas sussurrou e demorou um momento até voltar a falar: “East Yorkshire?”

“Uma vila chamada Little... Little Hangleton.”

O loiro ficou em silêncio e Tom quase podia ouvir os pensamentos dele trabalhando para juntar as peças. Abraxas não era idiota e, quando queria, conseguia resolver um quebra-cabeça bem rápido. E, para a sua própria surpresa, Riddle queria que ele resolvesse essa situação, queria que ele soubesse. Quando tudo aconteceu, quando ficou dias sem dormir por conta do que aconteceu na casa dos Riddle, parte de si tinha vontade de ir atrás de Abraxas, sabendo que ele seria o único que o ouviria e não falaria nada.

“Os trouxas mortos pelo louco que o Ministério prendeu,” disse Malfoy. “Tom...”

“Morfin Gaunt nunca conseguiria fazer aquilo,” o rapaz murmurou. “Desastrado, bêbado. Todos iriam ouvir ele entrando na casa.”

“Gaunt... Espera, é o mesmo nome da sua mãe.”

“Meu tio.” Tom riu fraco. “Como pode ver, minha herança genética é incrível: trouxa de um lado, mágico de um outro. Loucura de ambos os lados.”

“Ele te conhecia? O assassino?”

“Eu o conheci, mas ele não vai se lembrar de mim tão cedo,” disse Riddle, arriscando uma olhadela para o outro. “A legilimência sempre ajuda nos feitiços de memória...”

Mais um momento de silêncio, antes de Malfoy puxar o ar de uma forma mais arrastada. Tom sabia que foi naquele exato momento que ele entendeu o que havia acontecido. Agora o loiro sabia quem Tom Riddle realmente era e do que ele era capaz. E, mesmo assim, ele continuou ali, sentado sem se afastar nem um centímetro.

“Você tinha planejado?”

“Não,” Tom confessou. Talvez fosse a primeira vez que deixasse isso escapar de sua boca. “Eu não sei o que eu queria indo lá. Queria vê-lo, eu acho.”

“E o que encontrou?” Abraxas agora estava meio inclinado para a frente, tentando enxergar melhor o seu rosto.

“Um trouxa muito parecido comigo que ficou com os olhos arregalados assim que me viu. Surpreso. Com medo... Apavorado. Ele chorou tanto, Brax, foi ridículo,” o garoto falou, sentindo os próprios olhos ardendo e se odiando por isso. Suas mãos, apoiadas em seus joelhos, tremiam. “Ele implorou. Ele ergueu a cabeça, me olhou no fundo do olho e implorou.”

“O pobre coitado devia saber que não iria ajudar em nada,” disse Abraxas, que arqueou uma sobrancelha ao ouvir a risada do outro.

“Essa é a pior parte!” Tom riu, sacudindo a cabeça e rindo mais ao notar que seu rosto estava molhado agora. “Ele estava pedindo aquilo. Estava implorando para eu o matar e eu... Eu achei o contrário. Eu fiz o que ele quis, Brax.”

Malfoy respirou fundo ao seu lado e Riddle fechou os olhos, apoiando a cabeça nas mãos.

“Por que não me falou tudo isso antes, seu idiota?”

“Como todo amigo faz, não é? Bater na porta da sua mansão no meio da noite, usando as roupas terríveis do orfanato, para dizer que havia acabado de matar três pessoas.”

“Você se arrepende?” Aí estava outra coisa que não esperava ouvir naquele momento e, para a sua surpresa, descobriu que a resposta era mais difícil do que imaginava.

“Não sei,” ele murmurou, com o rosto ainda afundado nas mãos.

Ouviu a respiração pesada do loiro novamente, logo antes de sentir as mãos dele em seus ombros, puxando-o para se sentar reto. Com muito cuidado, como se estivesse com medo de que qualquer movimento brusco pudesse causar algum desastre, Abraxas o puxou novamente, passando um braço ao redor dos ombros do rapaz. Era um abraço estranho e desajeitado, mas era estranhamente reconfortante. Tom ainda estava chorando, mesmo que fraco e em silêncio, mas era estranho saber que estava em um estado tão fragilizado, tão vulnerável, e estava se deixando ficar assim na frente de outra pessoa.

“Atlas e Canopus não vão deixar isso passar,” Malfoy murmurou enquanto seus dedos apertavam de leve o ombro do amigo. “Principalmente Atlas. Já faz algum tempo que ele tem estado rancoroso em relação a você. Saber que você é um mestiço vai ser uma desculpa para ele o humilhar.”

“Eu sei...”

“Walburga vai fazer questão de espalhar para os outros círculos sociais dela. Alphard não está se importando muito,” o loiro continuou. “Dorea... Espere, como foi que Dorea dizia ter conhecido os seus pais?”

“Dorea irá me odiar,” Riddle falou, encolhendo os ombros.

“Você... Inventou uma memória?” Tom sorriu. Sim, Abraxas conseguia ser bem rápido quando queria. “Inventou uma memória falsa e a fez acreditar nela com legilimência.”

“Eu precisava de alguém dizendo que os havia conhecido. E Dorea sempre foi tranquila, não se importava muito com tudo isso.”

“Dorea irá ficar irritada, com certeza, mas acredito que possamos falar com ela depois.” Os dedos de Malfoy em seu ombro estavam agora o acariciando devagar. “Tom?” ele chamou, baixo e fraco. “Tome cuidado daqui por diante.”

O rapaz assentiu, antes de suspirar e ajeitar-se melhor contra o amigo.  


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Notas finais do capítulo

É, eu sei, eu sumi por um ano. Nesse meio tempo comecei outras fics, atualizei outras e larguei Koly. Shame on me. Estou tentando voltar, devagar, com calma, então tenham paciência, por favor. Eu sei também que esse capítulo não teve interação de Tom e Hermione, mas é que, pra mim, essa situação que se desenrolou precisava do Abraxas e não da Hermione.

Eu nem sei o que falar porque estou com vergonha de aparecer aqui depois de tanto tempo. Acho que só... Desculpe? Aulas, provas, saúde mental de merda e tudo isso contribuíram para a demora e falta de motivação. Espero que entendam e desculpem isso.

Como sempre, reviews sempre ajudam. Eu sei que demorou, mas o que me impediu de simplesmente abandonar e/ou deletar foram os reviews esporádicos que chegavam, as mensagens de gente no inbox e coisas assim.



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