Len POV




 Eu estava andando de mãos dadas com uma garota, andando por um mundo preto e branco. Ela olhava para mim com os grandes olhos infantis, sorrindo. Eu sentia como se devesse proteger ela.

 Nós andávamos na direção contrária do resto das pessoas, mas não ligávamos. Eu só queria estar com ela. Não, eu precisava.

 E então aconteceu. O mundo a nossa volta tremeu e se desintegrou aos poucos, até só sobrarmos os dois. A expressão apavorada dela foi como um soco no estômago, mas eu não pude fazer nada além de segurar a mão dela mais forte. Como que por ironia, algo a arrancou bruscamente de mim, nos afastando, e por mais que tentássemos juntar nossas mãos novamente, apenas ficávamos mais distantes.

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 Acordo de mal humor. Eu odiava aquele sonho, o que ele me fazia sentir, todo aquele desespero misturado com nostalgia. E últimamente eu tenho o tido com mais freqüência do que o comum.

 Eu não lembrava muito sobre a garota, mas sabia que conhecia ela e que era alguém extremamente importante pra mim, quando eu era menor. Eu só não sabia o porque desses sonhos... Principalmente, não sabia o porque desse sentimento de preocupação...Eu poderia dizer que me esqueci como é me preocupar com alguém, antes de começar a ter esse pesadelo maldito, toda a noite.

 Saio da cama preguiçosamente, havia acordado cedo demais, mas não ia conseguir dormir de novo. Vou preparar o meu café, e quando passo pela sala vejo o meu pai largado no sofá, cercado por garrafas de álcool. Esse bêbado estúpido. O xingo baixo enquanto continha a vontade de estourar uma daquelas garrafas de vidro na cabeça dele, e continuo o meu caminho até a cozinha. Algumas pessoas com certeza pensariam que eu não passo de um mal-agradecido, mas a verdade é que ele que não passa de um retardado que depois de trair a mulher e a largar na miséria, ficou desempregado e virou um bêbado sendo sustentado pela mãe. E ainda me arrastou junto com ele, o maldito.

 Eu não lembrava muito da minha mãe, já que fui tirado dela pelo imbecil que mora comigo. As únicas coisas que eu lembro é de ouvir ela chorar, enquanto eu estava no quarto do lado brincando com uma garota loira....A garota do sonho. Minha memória não funciona mais que isso, pra eu me lembrar o porque de ela estar ali. Depois do acidente de carro que eu e meu pai tivemos graças a bebedeira dele minha memória ficou confusa.

 Pego o meu material e o resto de água quente que sobrou do café, dando um sorriso sádico enquanto jogo a água em cima do bêbado no sofá, largando a caneca no chão e correndo para fora, logo em seguida escutando ele chiar uns palavrões, enquanto quebrava alguma coisa. A água estava bem quente, mas agora que eu pensei melhor devia ter jogado a caneca junto, com a parte de baixo encostada na testa dele. Ele iria ficar no mínimo com uma queimadura de segundo grau. Sorrio com a idéia e coloco meus fones de ouvido, enquanto vou andando para o colégio.

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 Quando pisei naquele lugar, sinceramente achei que nada ia ser diferente do meu outro colégio, provavelmente todos os alunos seriam babacas outra vez. Eu esperei fora da sala, enquanto o professor organizava a zorra que estava a sala. Quando finalmente conseguiu ainda ficou uns sete minutos dando bronca na turma. Ouço ele dizer sobre um aluno novo, e então entrei. Todas aquelas pessoa me olhando me irritava, principalmente porque eu não tinha nada a ver com elas, mas uma aluna isolada no fundo da sala me chamou a atenção. Ah, meu deus...Ela é extremamente parecida com a garota do sonho.

 - Meu nome é Kagamine Len. – Eu disse simplesmente, sem vontade de me apresentar para aquele bando de pessoas inúteis.

- Kagamine? – O professor pergunta – Por algum acaso tem parentesco com a Kagamine Rin-san?

Kagamine Rin? Esse nome me é familiar...Espere...Rin...Rin é o nome da garota de anos atrás!

 Nego com a cabeça, enquanto ouço burburinhos maldosos sobre ela. Sinto o meu sangue ferver, mas continuo aparentando calma.

- Ah, entendo...Kagamine é um sobrenome bem comum, não? De todos os modos, pode se sentar ao lado dela. – Ele disse, apontando para a garota isolada ao fundo

 Rin...Será que ela se lembraria de mim?

 De qualquer modo, me sento do lado dela, como o professor mandou. Me sinto um pouco desconfortável, e vejo que ela também. Mas mesmo conseguindo disfarçar o nervosismo, me pego olhando para ela algumas vezes durante a aula, ao mesmo tempo que ela olhava para mim.

 Logo o sinal do intervalo tocou, e as pessoas que estavam ali saem da sala parecendo mais uma manada furiosa de elefantes. Tudo bem que era mais ou menos isso que eles eram, mas poderiam ao menos tratar de disfarçar. Assim que ficamos só os dois na sala, vejo Rin se reencostar na carteira, pegar um caderno de artes e passar folha por folha. Eu observo rapidamente cada desenho dela, ela é realmente muito boa. Ela para em um que ainda não estava terminado e começa a fazer o acabamento. Ela parece ficar ainda mais desconfortável do que já estava, durante a aula.

- Porque não vai ficar com as outras pessoas e procurar se enturmar, ao invés de ficar aqui?

 Aquilo me surpreendeu um pouco, mas não deixei transparecer. Dei de ombros.

- Não quero me misturar com aquele tipo de gente estúpida.

 Ela olhou pra mim surpresa, pelo visto não esperava aquela resposta. Eu tinha certeza que ela pensava a mesma coisa que eu, então não havia porque me preocupar. Ficamos alguns segundos nos encarando, em um entendimento silencioso. Não consegui evitar de sorrir pra ela, e ela retribuiu o sorriso, tímida e corada, logo voltando a olhar para o desenho. Apesar de provavelmente querer mostrar o contrário com toda aquela maquiagem e acessórios, ela era uma garota bem fofa. Eu rio baixo com esse pensamento, notando ela corar ainda mais.



Continua....