III. Momenti Feroce

Onde será que Anthony foi correndo daquela maneira?

Porque ele não volta logo? A chuva está muito intensa a fora.

Será que meu papà o pegou?!

Isabella estava inquieta passando de uma janela minúscula a outra da casinha humilde e miserável. Ela infelizmente tem muito em comum com crianças como, por exemplo, se apegar facilmente a uma pessoa, e havia acontecido isso perante Edward.

Ela agora não se agüentava em querer sair dali e ir atrás dele. Ela se lembrava da musica que sua mãe cantava para ela quando ainda era muito nova apenas para acalmá-la. É algo da infância, aquele momento supremo e sagrado ao qual nem que quiséssemos com todo fervor, conseguiríamos atirar fora de nossas cabeças. E sua musica acalentadora é um desses momentos onde ela ouve a suave voz de um soprano cálido que parecia pertencente apenas de sua mãe, que com lábios finos e olhos tão expressivos quanto os da própria Isabella, cantava fazendo a pequena aconchegar-se a ela e dormir um sono sem sonhos para lhe apavorar.

– Consegui – Edward chegou sorrindo com um saco branco em mãos e ensopado dos pés a cabeça, trêmulo pelo frio que a chuva estava lhe causando agora estando parado.

Ele foi surpreendido por Isabella que lhe deu um grande e afetuoso abraço. Ele não estava mais acostumado com afeto muito menos com abraços. Principalmente se vindo da pessoa ao qual ele seqüestrou em menos de 24 horas.

Edward permaneceu quieto, sem adornar seus braços ao redor de Isabella, mas também sem afastá-la. Em seu intimo ele sabia que estava precisando de algo que expressasse ainda alguma preocupação com sua pessoa. Ele já fora maltratado demais e também estava cansado de sempre esperar e praguejar pelo pior. O que há de vir, virá.

– Chega Isabella. Não demorei nem meia hora, eu estou bem – falou ele irritado pela preocupação da doce garota. Porque ela não pode berrar igual a uma dessas Princesas tolas e mesquinhas?

– Você demorou duas horas e dezessete minutos Anthony – Isabella esbravejou como uma mãe dando sua cálida e respeitosa bronca ao filho pequeno. Ela se sentia estranhamente – e sem motivo aparente – encarregada por ele. Era como se sua vida dependesse disso naquele momento – ou dias ao qual passasse na casa. E sem a pequena Isabella saber, era tecnicamente aquela a verdade.

– Isabella, eu estou bem – ele repetiu rolando os olhos nas orbitas e falando de um modo tentando soar gentil. – E eu trouxe também roupas para você. Vá... vá tomar um banho e vista-se rapidamente.

Os dois ficaram mergulhados no silencio. Isabella com o vestido de tecido de pano em mãos junto a uma longa e quente manta marrom e uma fina toalha. Os dois tremiam de bater os dentes; ele porque estava até este momento naquele temporal com a chuva devastando as ruas e o vento lhe empurrando. A água gelada escorria pelo seu corpo fazendo com que arrepios contínuos e finos transpassassem pelo seu esguio corpo.

Já Isabella estava molhada pelo contato que teve com Edward havia segundos. Seus cabelos úmidos, suas roupas úmidas e seu corpo molhado. Seus dentes batiam tão rápidos produzindo um barulho agudo e irritante que ela tentava os segurar para não importunar a si mesma. E seus olhos sempre com seu brilho de curiosidade agora também estavam confusos. O que há de errado com Anthony? Será que eu fiz algo de errado?

– Onde posso banhar-me? – ela perguntou tentando soar indiferente sob o olhar cauteloso e sempre frio que Edward lançava-lhe. Ele apontou para uma pequena e estreita cortina feita de renda na parte mais escura da casa. Isabella olhou-o com duvida.

– Não há nada lá, apenas o banheiro – ele disse como se falasse com uma criança. – E espero que não se importe em tomar um delicioso banho a balde – ele disse com escárnio saindo da sala e indo de volta ao cômodo que, em uma casa normal e bem vista, seria um escritório. Mas no cômodo havia apenas uma pequena mesa de madeira e uma cadeira baixa. Folhas e mais folhas estavam espalhadas pela mesinha.

A Princesa, com uma cautela exagerada para camponeses e homens como Edward, foi até o local onde é o suposto banheiro. Quando atravessou a cortina e parou dentro do cubículo, ela viu que ali apenas tinha uma banheira de lata grande, um balde com uma caneca de cobre amassada, e um pote contendo uma escova de dente e um fino pente com falta de muitos dentes.

– Oh Lord... – ela sussurrou para si mesma. Anthony vive realmente na precariedade. E pensando que eu havia feito algo de errado a ele. A vida fez algo de errado a ele.

Com certo receio, o que era de se esperar de uma nobre Princesa, Isabella tirou seu vestido. Sua maior dificuldade foi desprender o grande e extenso laço de seu corselet, mas ela conseguiu, e com extrema dificuldade de se habituar aquilo, ela tirou a água de um buraco que havia ao lado sendo no fundo do cubículo. Parecia como um reservatório onde a água até chegava a transbordar uma vez ou outra. Deve vir de algum riacho aqui perto ou até mesmo da nossa chuva; Isabella pensava enquanto derramava a água sobre si.

Dentro da caneca de cobre havia um sabonete que a princesa passou de modo áspero sobre a pele e depois o retirou. Lavou sua cabeça e pela primeira vez tendo uma ideia inteligente e corajosa para uma Princesa, na visão dos camponeses, ela passou o sabonete nos cabelos. No final, eles estavam um pouco ásperos, mas com um odor agradável assim como sua pele.

Isabella depois de seca avaliou o vestido que Edward havia lhe trago. Era um simples vestido de pano branco, mas que chegava a aquecer. Vendo que suas peças intimas estavam úmidas pensou no que fazer. Ela não ficaria sem suas roupas de baixo na presença de um homem. Na realidade, na presença de pessoa alguma! E foi com um grande alivio – e duvida – que ela viu haver roupas de baixo junto ao vestido. Ela não sabia a quem pertencia, mas Anthony não iria lhe levar roupas quaisquer. Iria?

Saindo do banheiro timidamente, a Princesa voltou para a sala e esperou por Anthony. Ela queria perguntar-lhe algo, só não sabia como ele iria reagir. E havia também uma outra pergunta que só agora estava começando a lhe preocupar e preencher a mente – generalizando, ela sabia a resposta de sua segunda pergunta, mas... E se fosse algo a mais?

– Vejo que já está limpa – Edward disse a assustando. Ela nem havia percebido que entrara em seu costumeiro transe.

Isabella apenas meneou a cabeça para ele que torceu a boca. Ele estava com fome, será que ela também estaria? Afinal agora ela estaria tomando o seu requintado café da manhã no palácio. Isso fez com que Edward se perguntasse se o Rei estava tão desesperado quanto ele presumia. E dando um passo demorado de cada vez – foram apenas quatro, mas suficientes para deixá-los próximos – ele perguntou a Isabella:

– Está com fome?

A Princesa pensou sobre isso.

– Não. Meu estomago está bem – respondeu baixo o olhando. Da visão de Edward, ela assemelhava-se a uma doce criança, com os olhos atravessando os espessos cílios e as bochechas rubras e proeminentes apontando para ele que esperava poder desviar o olhar mais rápido do que realmente pôde.

Minutos se passaram quando Edward decidiu voltar para os seus papeis. Logo ele teria de sair, mas antes que desse algum passo ou que sua mente se desviasse de Isabella, ele foi surpreendido.

– Por que você espera o pior de mim, Anthony?

A pergunta baixa da Princesa fez-lo engolir em seco. Ele não queria e nem iria responder, mas como explicar algo tão íntimo e ao mesmo tempo tão superficial a uma garota de apenas 15 anos e inexperiente na vida, sem noção alguma da realidade?