- Você é um... Um... Maluco! O que pensou quando pulou para cima do árabe? Achou que poderia com sua inútil descarga de raiva e desespero dar conta dessa espada? - Perguntei mostrando-a para ele.

- Não pensei em nada. Só queria poder fazer alguma coisa. 

- Acho que a única coisa lógica que poderia ter feito era correr. 

- É mesmo? Então da próxima vez, mestre, você lute com o inimigo porque eu não estou aqui para ficar ouvindo bronca depois de quase ter uma espada enfiada na barriga. - Respondeu Ichigo rispidamente. 

Yuna assustou-se com a resposta. Foi inesperado que ocorresse uma briga logo depois de uma situação onde ambos poderiam sair machucados ou mortos. "Normalmente, irmãos estariam se abraçando e contando todos os pecados, mas, acho que fui um pouco rude." - pensei.

Depois de andarmos toda a noite por medo do inimigo vir atrás de nós, só paramos para dormir quando o sol já aparecia lá no fundo, atrás das montanhas. 

Joguei-me no chão exausta de manter os olhos abertos e fazer parte do estúpido silêncio de um Ichigo com o ego ferido. Não me importava se ele queria continuar, eu simplesmente precisava dormir.

Puxei um dos lençois de dentro da trouxa e me cobri, fazendo do chão a melhor das camas e da brisa gélida da manhã o companheiro mais querido para um sono profundo.

A última coisa que vi antes de fechar completamente os olhos foi Ichigo sentando no chão, alongando os braços. Ah, sim, ele também se renderia... Ichigo, seu idiota, eu só quero te proteger de sua loucura.

 Não me lembro de sonhar com nada até ouvir o barulho de algo se partindo, como um pedaço de madeira bem oco que você apoia na perna e força. Aquele som se repetiu diversas vezes até parar de repente e recomeçar... 

O vento gelado jogava poeira no meu rosto. Já era mais do que a hora de acordar, o chão esfriara, com certeza o sol tinha se posto. Abri os olhos lentamente e vi Ichigo batendo, em posição de luta, numa árvore não muito distante.

Não sabia se treinava ou se cortava pequenos galhos para suprir a fogueira acesa a minha frente. 

Assim que levantei, posicionei os pães próximos a fogueira e preparei um tipo de pasta com as frutas maduras da trouxa. Logo teríamos de inventar um modo de conservar a comida já que não tínhamos a mínima noção da distancia entre uma vila e outra. 

Ainda havia tanto a aprender que se eu fosse brigar com Ichigo por tudo, garantiria a pior e mais silenciosa viagem de todos os tempos - e talvez a última que fizéssemos juntos.  

Ele se aproximou, enxugando a testa suada com a manga da camisa e sentou-se ao meu lado.

- Obrigado pela fogueira. - Agradeci.

Abriu um sorrisinho e essa foi a minha deixa para pular em seu colo e o abraçar.