- Yuna... Yuna! Vá mais devagar. Já estamos bem longe do povoado. 

Ichigo vinha logo atrás de mim, arrastando sua trouxa de panos. Não sabia o quanto já tínhamos andado, não havia olhado para trás uma vez se quer. Por mais que fosse necessário eu ainda me sentia um pouco culpada.

Minhas mãos estavam avermelhadas, o sangue deveria estar com dificuldade de passar. O povoado tinha poucas pessoas, mas o varal farto, para minha alegria.

- Yuna! - Ele gritou atrás de mim novamente.

- Ai! Como você é chato, Ichigo! - Disse parando de caminhar. 

Ele jogou o saco no chão e deitou de braços abertos, rindo. 

- Você é muito medrosa, Yuna... Aposto que sairia correndo com esses dois sacos de pano na cabeça se eu dissesse que os aldeões estão correndo atrás de nós.

Joguei meu saco de pano sobre a barriga dele e coloquei as mãos na cintura.

- Você não faria uma coisa dessas. 

- Ah, você duvida?

Agachei ao lado dele puxando uma coberta de dentro da trouxa e me enrolei.

- Tenho certeza de que não me trairia. 

- Sabe, Yuna, gosto da confiança que deposita em mim. Apesar de eu ser um homem.

- Não confio nos homens, confio em você. Só.

Ele sorriu aumentando as bochechas, cerrando ainda mais seus olhinhos pretos. 

- Agora, levante-se. Temos que andar o mais longe que conseguirmos daqui.

Quando saí de casa nessa aventura, construí uma imagem de que seríamos sérios samurais peregrinos, amantes da espada - mesmo que ainda não soubéssemos manejá-la corretamente - e toda aquela glória. Mas, lá estava Ichigo, com vários panos amarrados na cabeça, enrolando a língua, imitando os árabes.

- Eu sei que você quer rir. 

- Pare com isso. Respeite a religião dos outros. - Disse prendendo o riso.

Ele pulou na minha frente, dançando e cantando como os árabes. Não sabia qual era o motivo para ele estar tão feliz, mas, não era algo que perdurasse até ele ver um homem nos encarando feio, alguns metros a frente.

 O homem tinha um imenso bigode e roupas largas. Não dava para ver muito mais pela escuridão da noite e por Ichigo ora ou outra tapando minha visão com suas palhaçadas.

- Você prefere correr ou apanhar? - Perguntei ao notar que o homem estava tomando posição de luta.

- Eu o que? 

- Escolhe rápido. 

Continuei olhando fixamente na direção do homem, buscando seus olhos, na vã esperança de intimidá-lo com o olhar como se faz com os bois.

- Do que você está falando?

- Estamos sendo vigiados e ele não parece estar muito contente com nossa presença.