Anjos de Cera escrita por Redbird


Capítulo 34
Sobrevivendo


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores. Aqui vai mais um capitulo. Espero que gostem. Muitas surpresas para Katniss ehehee. Quero agradecer aos reviews, que como sempre foram maravilhosos. Pessoal eu amo vocês, sério. Obrigada de coração aos meus velhos e novos leitores por acompanharem a fic.



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Depois de algumas semanas trancada em casa, finalmente cedo a pressão de Irene para dar uma volta. Reconheço que faço isso por mim, eu não aguentava mais fica presa, respondendo perguntas, esperando o dia de depor. Só de pensar nisso sinto todo meu animo afundando. Vou ter que rever aqueles policiais. Os policiais que mataram Gale. E Snow.

Eu odiava admitir, mas o fato de ter que rever Snow depois de todas aquelas lembranças me dava náuseas. Ele foi mais umas duas vezes na minha casa depois da nossa conversa. Toda vez que ele aparecia eu me trancava no quarto e começava a tremer. Sorte que todo mundo achou que esse era mais um dos meus típicos comportamentos esquisitos e não levaram muito em conta meus pequenos ataques.

Não pensei que seria tão duro caminhar de novo pela cidade. Tudo agora é diferente. Tudo me lembra Gale. Quando dei por mim estava indo em direção a nossa macieira. Fico um tempo ali e depois saio correndo. É doloroso demais ficar ali. Tentei ir ao cinema para me distrair. Fiz tudo diferente do jeito que fazíamos, entrei decentemente dessa vez. Mas mesmo assim não foi uma boa ideia. Nem bem deu meia hora de filme eu sai da sala sentindo uma pontada no peito. Por que eu sabia que Gale iria adorar ver o filme que estava passando.

Resolvi então, que o melhor seria apenas caminhar. Irene dizia que eu estava passando cinco fases do luto. É engraçado como as pessoas tendem a simplificar as coisas. Teorizar tudo.

Negação: Eu ainda tinha esperança de que ele poderia estar na minha pequena cidadezinha, esperando por mim. Raiva: Eu, no momento, estava me odiando, e odiando Gale por ter me deixado. Barganha: OK, talvez, se eu voltar para casa agora, tiver coragem de encarar Snow, Gale volte. Depressão: Já fazia um mês que eu não saia de casa nem queria falar com ninguém. Aceitação: Não isso nunca vai acontecer. Simples. Ele não vai mais voltar.

Enquanto caminhava eu tentava entender como as coisas tinham chegado a esse ponto. Quando virei uma esquina, próxima a uma das ruas mais movimentadas da cidade encaro um lembrete em forma de pessoa. Effie, um pouco diferente da última vez que eu a vi na escola. Vê-la me lembra que na próxima segunda vou ter que voltar a escola. Vou voltar para onde as pessoas continuam condenando Gale pelo roubo, me condenando por ter fugido com ele.

Eu não queria voltar para a escola. Nunca mais. Não sem Gale. Mas minha mãe me convenceu me dizendo que pelo menos lá eu teria Percy, Annabeth e Rachel para me fazer companhia. Eu sei que ela queria que eu continuasse na mesma escola por causa de Irene. Ela confia cegamente na psicóloga. Eu ouvi meus pais comentando que, mesmo que lentamente, ela estava me ajudando. Como se alguém pudesse fazer isso. Eu não vou negar, às vezes me sentia melhor depois de conversar com ela. Mas outras vezes, era simplesmente insuportável.

Eu me viro para o outro lado da rua tentando evitar Effie. Mas não funciona. Tenho vontade de sair correndo quando escuto ela chamando meu nome.

–Katniss, ei Katniss.

Me obrigo a parar. Vai ser mais rápido se eu simplesmente gritar para me livrar dela.

–Eu sinto muito- Ela me olha com um olhar de quem realmente parece arrependida de alguma coisa.

–Obrigada- Fico surpresa. É difícil assimilar que Effie, a Effie que estava sempre me perseguindo, agora está pedindo desculpas.

– Eu não sei o que dizer sabe. Todos lá na escola estão chateados por causa do que houve com Gale.

–Ah é? Que estranho. Por que quando ele estava vivo ninguém parecia se importar muito com ele- digo no tom mais rude que posso.

– Bom isso é verdade. Ainda tem gente que considera ele um marginal e muita gente acredita que ele mereceu morrer.

Eu olho para ela.Dá para ver que ela está com um pouco de medo ou vergonha de mim. Isso é estranho e engraçado. Tenho vontade de rir da cara dela.

– Eu sei. E você? Também acha que ele mereceu morrer?

Effie morde os lábios.

–Olha Katniss, eu sinceramente não concordo com o que Gale fez. Mas sinceramente não acho que ele merecia morrer.

Agora eu estou totalmente surpresa. Effie, a menina que só se importava com roupas e liquidações. Sapatos caros e garotos bonitos. Essa mesma menina está agindo como um ser-humano. Me obrigo a engolir a surpresa.

– Bom, obrigada por me dar sua opinião.

Eu me afasto mas ela me segue.

–katniss, eu quero que você saiba que, mesmo que Gale tenha agido de forma errada, eu entendo por que ele fez o que fez. Mas não importa. O que quero lhe dizer é que meu tio é advogado. Ele vai representar o pessoal que precisa de remédio. Eu espero que a morte de Gale não tenha sido em vão.

Eu não sei o que dizer. Isso seria realmente maravilhoso. Pensar em Hazelle tendo um tratamento digno e podendo cuidar dos filhos me deixa feliz. Hazelle. Eu não fui falar com ela em nenhum momento depois que voltei. Ela deve estar arrasada. Eu observo Effie. Ela realmente está diferente. Não por fora, por que ela ainda continua bem arrumada, usando roupas de marca, e muito bem maquiada. Mas isso não importa. Por que não é mais uma garotinha fútil que está ali. É uma pessoa. Alguém com sentimentos, capaz de sentir compaixão.

–Obrigada Effie- digo sincera.

–Eu te julguei mal Katniss. Achei que você fosse apenas uma menininha boba, sabe. Eu não devia ter te perseguido tanto.

Eu rio.

–Também te julguei mal Effie- Digo dando um sorriso para ela.

Ela me abraça. Solta um até logo. Mas antes que ela se vá eu deixo a curiosidade me vencer.

–Effie, por que tudo isso? O que aconteceu?

–Por que, Katniss, antigamente eu achava que compaixão era uma fraqueza sabe. Agora eu entendi. Compaixão é a única coisa que nos salva da estupidez total.

Então ela volta correndo para os amigos. Com o cabelo levemente tingido ondulando no vento. O perfeito retrato da juventude. Enquanto ela volta para os amigos me pergunto quando os seres humanos vão deixar de me surpreender.

Mas afasto esses pensamentos por que há algo mais urgente que preciso fazer. Preciso ir ver Hazelle. Não é que eu tenha me esquecido dela, mas é que eu simplesmente não conseguiria encará-la. Não sei se por causa das lembranças ou pelo fato de eu ter falhado em proteger o filho dela. E havia também o medo de que ela me odiasse. Hazelle era um ser humano bom demais. Mas seria totalmente compreensível que me culpasse pela morte de Gale. Afinal, eu mesma me culpava.

Quando chego lá um leve tremor me invade. Irene vivia insistindo que eu fosse ver Hazelle. Para ela, isso ajudaria na minha recuperação. Mas ela não entendia. Como eu poderia encarar minha amiga? Como poderia encarar os dois irmãozinhos de Gale? Eles que sempre gostaram de mim, que tinham o irmão como um herói, umas das poucas coisas sólidas em suas vidas.

A casa está aberta como de costume. Os dois cachorros da família vem me saudar. Eles já me conhecem. Toco a campainha, de leve, ainda com um pouco de receio. Quem atende é uma garota estranha. Demoro um pouco, mas reconheço Thalia.

– Você- ela me diz com um pouco de irritação- Achei que não ia se dignar a aparecer.

Eu fico ali, parada olhando para ela com o coração na mão. Eles me odeiam. Eu sabia. Além de perder Gale, também perdi Hazelle. Mas então uma voz conhecida pergunta de dentro da casa.

–Thalia querida, quem é?

Eu não percebi que estava com tanta saudade de Hazelle. Apenas quando ouvi sua voz. Foi como se Gale estivesse vivo. Como se ele estivesse ali comigo. E senti uma repentina onda de força. Eu precisava ver Hazelle, por Gale.

– katniss querida- diz ela abrindo mais a porta e empurrando Thalia para ganhar espaço. – Oh, como é bom ver você querida.

Meu coração quase despenca. Eu tive medo que Hazelle me culpasse pela morte de Gale. Mas não, não Hazelle. Ela é boa demais para isso. Assim que ela me empurra para dentro os irmãozinhos de Gale também dão um sorriso para mim. Sinto como se estivesse renascendo ao olhar aqueles dois rostinhos, tão brandos apesar de tudo.

Hazelle me faz sentar na sala e vai até a cozinha pegar um pouco de suco para mim. Quando ela retorna, eu paro para observá-la melhor. Seus olhos estão sem vida. Da para ver que ela tem uma tristeza profunda e entranhada. Eu gostaria de poder fazer com que ela se sentisse bem.

–Hazelle, eu, eu sinto muito. - digo tentando me controlar, mas assim que começo é impossível não chorar.

Droga, Katniss, justo você que achava chorar um público um pecado mortal e um péssimo sinal de fraqueza. Thalia me fuzila com um olhar. Sorte que os irmãozinhos de Gale foram brincar em outro lugar.

– Oh querida, eu sei. Tem sido muito difícil pra você também não é? – diz Hazelle pegando minha mão.

–Eu, me perdoe. Eu tentei salvá-lo, mas eu simplesmente não consegui.

– Eu sei querida. Todos tentamos. De todas formas- Ela dá um suspiro cansado. Vejo seus olhos se encherem de lágrimas. E sinto raiva de mim mesma. Eu não deveria ter vindo aqui. Alguém chama Hazelle. É um dos meninos. Ela me dá um sorriso triste e pede para que eu espere.

–Você é realmente a pessoa mais egoísta que eu já vi- Diz alguém atrás de mim. É Thalia.

Eu a encaro, tentando ver o que ela tem para me dizer. Ela provavelmente tem razão.

–Você não vê como isso é irônico? Hazelle tendo que consolar você?

–Eu não vim para que ela me consolasse- Digo na defensiva.

–Não claro que não. Mas aposto que você ficou esse tempo todo na sua casa chorando feito uma bebezona, enquanto Hazelle era obrigada a enterrar o filho. E quer saber? Ela não teve nem um dia de folga, por que tinha mais duas bocas para alimentar. Você já imaginou como vai ser agora? Sem Gale para ajudá-la?

–Eu imaginei sim. Desde que vi ele morrer- digo com raiva. Eu odeio Thalia nesse momento. Odeio o fato de ela estar certa.

- Nem uma mãe deveria enterrar um filho, nem uma mãe deveria ter passado pelo que Hazelle passou. Mas ela está aqui, tentando seguir em frente. Te oferecendo suquinho enquanto você chora. Se você realmente gostasse de Gale ou Hazelle, você teria vindo direto para cá, para cuidar dela. - o desprezo na voz de Thalia é enorme.

– Você não estava lá. Você não sabe de nada. Não sabe como é ver seu melhor amigo morrer nos seus braços.

Antes que Thalia possa responder Hazelle entra na sala. Ela nos lança um olhar preocupado.

– Bom, vou indo nessa Tia- Diz Thalia prontamente- Se cuida ok?

Ela abraça Hazelle e vai em direção à porta.

–Cuide dela Katniss – Posso ver pelo tom de voz de Thalia que ela não acredita que eu possa cuidar de alguém.

–Ah querida, não ligue para Thalia. Ela também está sofrendo muito com a morte de Gale. E está cheia de responsabilidade. Agora é ela quem está distribuindo e racionando a insulina.

–Como está a distribuição do medicamento?

–Ah vai indo bem. Graças a Gale e a Thalia não tem faltado. Completando com o que a farmácia do governo nos dá, temos o suficiente.

–Que bom- digo um pouco aliviada. Afinal de contas, Gale não morreu em vão.

–Katniss, eu não quero que você se sinta culpada. Você já ajudou demais esta família. Não vou negar que tenho tido dias muito difíceis desde a morte de Gale. Mas ver você me fez bem. E ver você chorando pelo meu filho, me mostra que ele foi amado. Isso, isso me faz muito bem- Diz Hazelle com um sorriso e os olhos marejados.

–Como você aguenta Hazelle? - Eu realmente gostaria de entender como alguém consegue forças depois de passar pelo que Hazelle passou.

–Bom, eu tenho que aguentar não é? Pelos meus meninos. Há dias que parecem intermináveis. Ás vezes eu acho que Gale vai entrar pela porta me forçando a dar uma bronca, mas daí quando ele demora demais percebo que ele nunca vai voltar. Sento na cadeira e tenho vontade de chorar. Mas então um dos meninos vem e me pede ajuda com algo. É nisso que preciso pensar.

Ela aperta minha mão com força. Não me sinto tão viva assim desde a morte de Gale.

–Sabe querida. É a vida. Ás vezes você tem que se levantar e continuar. Não por você, mas por aqueles que precisam de você, e que, de alguma forma, te amam.

Fico mais um tempo com Hazelle. Quando saio da casa dela já está anoitecendo. Demoro o máximo que posso ao voltar para casa. Tentando aproveitar essa nova sensação. Não é felicidade. Isso está longe. Mas é mais que isso. É algo muito mais forte. Algo que eu não sentia mais há muito tempo. É esperança.

Quando chego em casa uma comitiva está me esperando. Meus pais, Haymitch, meus irmãos, Irene, e até Peeta está lá. Todos visivelmente preocupados. Quando entro e vejo seus rostos aliviados me sinto culpada. Deveria ter avisado que iria sair.

–Katniss- diz Peeta extremamente aliviado- Onde você estava?

Ele me lança um olhar critico. De repente percebo o que Peeta estava temendo. Que eu tivesse cedido ao desespero.

– Eu fui ver Hazelle –digo o mais normalmente que posso.

–Você foi? – pergunta Irene. – Oh que bom Katniss, isso vai te fazer bem. Você vai ver.

–Vai sim Irene- dou um sorriso para ela.

– Bom, fico feliz querida- diz minha mãe me abraçando. Mas tem alguém que quer falar com você.

– Quem?- pergunto intrigada.

–Eu – diz um policial aparecendo de repente. É um dos policiais que estavam nos perseguindo na minha cidade.

– Em que posso ajudar?- pergunto fria.

–Bom, boa noite senhores- diz o policial assumindo uma postura formal- Olá Katniss sou o Delegado Cinna. Eu só vim lhe dizer que sinto muito pelo o que aconteceu. Eu já fui conversar com Hazelle, mas quero dizer que vou fazer o possível para que o responsável pela morte de Gale seja punido. Nós Tínhamos ordem para prendê-lo, não matá-lo. Muito menos torturá-lo, como meus colegas fizeram.

– Obrigada- digo extremamente agradecida. Sei que o apoio desse policial vai ser essencial.

–Claro que isso não significa que eu concorde com o que Gale fez. Mas existe uma grande diferença entre prender e matar. Entre cumprir com o dever e abusar do poder.

–Entendo. Muito obrigada.

Ele conversa mais um pouco com meus pais e Haymitch e se despede dizendo que tem que voltar para fazer seu plantão. Antes de sair, no entanto ele aperta a minha mão e abre um sorriso maroto

– Da próxima vez mocinha, manere nas tijoladas.

Eu lhe dou um sorriso caloroso. Irene também se despede. Mas peço para que Peeta fique para jantar. O que ele aceita na hora.

Por incrível que pareça passo uma noite agradável com minha família. Antes de dormir eu me lembro de Hazelle e Thalia. Elas tem razão. É hora de sobreviver, hora lutar. Hazelle está certa. Não importa o que aconteça, não importa o quão frágil se sinta, às vezes você tem que sobreviver.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Beijooos