Estávamos no Parque que ficava de frente para o rio que margeava a cidade, sentados na grama. Era uma sensação gostosa ficar ali com o pessoal. Percy estava cantando uma música que ele mesmo tinha composto. Fazia tempo que não ficávamos todos juntos e passar o final de semana com eles tinha sido muito bom.

Peeta e eu por algum motivo não conversamos mais sobre o incidente com Madge e nem sobre o passado. Uma vez ele perguntou se as garotas tinham parado de me perseguir. É claro que elas ainda continuaram me perseguindo um pouco depois do meu discurso, mas como perceberam que eu realmente já não dava a mínima se cansaram depois de um tempo.

Devo acrescentar que Peeta e eu, depois de esclarecidas as coisas, conseguimos evoluir para uma bela amizade. Sinto que posso confiar nele tanto quanto em Gale.

Eu ainda me preocupava com o fato do pai dele poder machucá-lo de novo, mas Peeta me disse que eles não se falam muito desde a surra por causa de Madge. Com a morte da mãe de Peeta eles se afastaram completamente. Isso era ainda mais triste do que a minha família problemática. Eu tinha meus irmãos, Peeta não tinha niguém.

Gostaria de entender como ele consegue ser tão centrado, tão feliz e saudável mesmo com o mundo desmoronando ao redor dele. Principalmente gostaria de entender como ele consegue manter uma bondade genuína. Devo confessar que tudo isso me irrita um pouco, porque é o oposto do que sou, mas é exatamente o que queria ser.

Percy continuava cantando sua música, eu até que estava gostando. Todo esse cenário me lembrava um pouco aqueles filmes baratos sobre jovens nos anos 70.

You Pray for a chance

You pray for Love and Peace

Baby I know you have been

walk In circles for so long

Baby I know is hard

But just remember

You can dream

Every time you fall

Baby just stay innocent

I love you for that

Don't let go

Who you are

Gale estava do meu lado, fazia tempo que eu não o via tão feliz, tão relaxado. Ele sempre parecia ter alguma preocupação. Ele me lançou um sorriso, sei que ele também devia star pensando a mesma coisa sobre mim.

Mas de repente a expressão serena de Gale sumiu, senti o corpo dele ficar rígido. Ele estava observando um policial que, parecia, estava nos encarando. Entendi o motivo da raiva de Gale. Era Snow. Um policial que eu particularmente não gostava muito e que já tinha tido alguns problemas com meu amigo.

Infelizmente, eu nunca soube o que há entre eles. Gale e eu temos uma confiança que poucas pessoas vão conhecer na vida, mas ainda tem coisas que escondemos um do outro. Minha fixação pelo suicídio por exemplo.

–Ei- eu digo tentado acalmá-lo, sussurrando para que os outros não ouvissem- Eu sei que você não gosta dele, mas não precisa ficar assim. Ele não pode te fazer mal aqui.

–Eu sei, é besteira minha não se preocupe. – Sei que ele está escondendo algo. Sei que Snow de alguma forma terrível faz parte da vida de Gale. Mas não posso exigir que ele me conte a verdade, não quando eu também tenho um segredo.

–Ei, você vai na festa das meninas? –Perguntei tentando aliviar um pouco a tensão sobre nós. Annabeth e Rachel estavam organizando uma festa para o próximo final de semana. Sei que a maioria do pessoal da escola foi convidado. Eu sinceramente não estava muito a fim de ir.

–Sei que as garotas são legais e tudo, mas não estou muito a fim não. Estava pensando de fazermos algo diferente. Que tal uma sessão de cinema a meia noite?

–Porque não? Mas você não quer ficar com o pessoal? Quer dizer, festa, todos juntos...

–Já disse, não estou muito a fim de festa. Vai ser mais divertido assim vai por mim.

Com certeza seria. Invadir o cinema de dia já era uma injeção de adrenalina, a noite seria muito mais perigoso consequentemente muito mais divertido. Nós já havíamos feito isso antes claro. Mas era como andar de montanha russa, você nunca sabia como iria ser.

No fim da tarde Peeta e eu voltamos para casa juntos. Ele estava meio emburrado, mas eu não ia perguntar por que, afinal todos têm direito a ficarem bravos de vez em quando. Infelizmente eu tinha a sensação de que isso tinha alguma coisa a ver comigo. Mas porque? Só se ele estivesse com ciúme de Gale, o que seria impossível. Peeta era o tipo de garoto que nunca ia reparar em mim.

–Ei Katniss me lembrei de que precisamos rever algumas coisas para o trabalho de matemática.

–Ah, é verdade. Vamos lá em casa. Tenho o material no meu computador. Posso fazer um lanche pra gente.

–Um lanche seria bom.

Quando chegamos em casa deixei Peeta no meu quarto procurando os arquivos e fui fazer um lanche. Quando estava terminando um dos sanduiches me lembrei que tinha deixado todos os meus arquivos abertos. Lá estavam todas as coisas que eu tinha escrito, tudo que eu nunca tinha mostrado para ninguém, inclusive “o plano”. Peeta ia descobrir o que eu pretendia. Peeta ia descobrir que eu tinha desistido da vida, ele ia descobrir que eu pretendia me suicidar.