— Chalé bom é chalé 5–

Versão Camila dos fatos

Certo,não foi bem isso que aconteceu,vejamos,se eu fosse realmente contar toda a história a Violet iria falar eu bem que avisei ,blá,blá,blá,seja educada, blá,blá,blá...

Eu não estava no clima de bronca da irmã mais velha não.

Certo, continuando

Vi por último o olhar penalizado da Violet antes de fechar a porta do chalé,dando de cara com vários meninos,algumas meninas também,feiosas e carrancudas.O chalé tinha cheiro de cheetos, ou seja: cheiro de chulé.As paredes eram cheias de pôsteres de bandas de rock pesado e cabeças de Javali penduradas ali ou aqui.

E o chão?Sei lá!Não dava para ver com tanto lixo em cima dele,mas acho que era de cimento queimado.Na porta do único banheiro fedido havia arranhões e amassados,como se alguém tivesse ficado impaciente de tanto esperar e houvesse esmurrado a porta,não duvido,são brutamontes.

Os campistas continuaram me encarando, alguns meninos estavam boquiabertos, sei o que eles deveriam estar pensando:

Perdedores.

Eram crianças grandes, nascidas para a guerra, totalmente diferentes de mim. A maioria tinha cabelos e olhos castanhos e focinho de porco,algo que eu considerava muito bom não ter puxado ao meu pai.

-O que a garotinha faz aqui hein?-Perguntou uma menina enorme, enorme mesmo,dava duas de mim. Além de grande tinha cara de mal, pervesa.Me tirem daquiiii.

-Eu... Eu...-Gaguejei,ainda impressionada por sua grande presença.

-Você...?Que foi perdeu a língua, cabelo de milho?

Todos riram risadas estranhas, de timbre grosso e sem nenhum humor no som.Riam por que tinham medo, alguns por que estavam gostando da humilhação.

Depois de algum tempo eu me recuperei:

-Sou Camila, prazer -Com o queixo erguido,estendi também a mão para ela

Meu erro.

Senti meus dedos sendo espremidos pela tábua que era a mão da menina. Mordi os lábios,sem deixar um som sair,mas quando vi minha pele estava muito vermelha.Meus olhos começaram a lacrimejar,não vou chorar,não vou chorar.

Mortal ridícula, se soubesse quem sou iria tomar muito mais cuidado quando fala ou aperta a minha mão.

-Então Camille...

-Camila

-O que você quer no nosso humilde lar?-Falou ela em tom de falsa educação

-Um espaçinho talvez. Algo bom e confortável para mim está ótimo.

-Nem está pedindo demais -Disse um dos meninos, o mais feio.Todos explodiram em altas gargalhadas,alguns abriam muito a boca e o som que saia era mais um grito grotesco do que riso.

-Calado Chuck, ninguém falou com você -Disse a menina-E...Por acaso,eu sou Clarisse,conselheira do chalé de Ares

-Eu sou filha de Ares, acho que vamos nos dar bem então -Duvidei de minhas próprias palavras, aliais, nem sei por que as disse.

-Sim, claro -Sinta o deboche,respire-o-Temos uma cama vaga para você,aquela bem ali.

Para onde ela apontou era o banheiro sujo e fedido,havia uma cama encostada quase na porta,o cheiro podre a atingia diretamente levada pelo vento da pequena janela do outro lado do quarto.

Nem morta, pensei

Depois percebi que de algumas horas para trás morrer era possível para mim

Retiro o que disse.

Mas não vou dormir ali de maneira nenhuma!

-Oh não.Não,acho que podemos reconsiderar e...

-Reconsiderar?Não há mais espaço no chalé para reconsiderar. -Disse ela sorrindo.

-Sei lá,podemos...Podemos...Limpar o chalé,que tal?Assim eu empurro essa...Cama,para um lugar melhor e...

-Sem essa cabeça de milho, tô indo para a arena quem vem?

Metade do chalé a seguiu.Os outros ainda olhavam para mim sorrindo debochadamente.

Eu engoli em seco e me dirigi a aquele podre lugar que havia sido concedido.

Mas havia outro, perto da janela,que tinha vista para todo acampamento,era bem melhor do que ter vista para o banheiro.Certo,ela estava ocupada,mas e daí?Eu dava uns dracmas e ia ficar tudo bem.

Foi o espelho ao lado daquela maravilhosa acomodação que me deu incentivo a fazer o que fiz: Joguei aos farrapos que haviam em cima dela no chão imundo e com delicadeza depositei minhas malas,duas,rosas choque.

-Clarisse vai te matar-Avisou um deles.

Na mesma hora a porta do chalé se abriu novamente e por ela Clarisse colocou seu focinho de porco:

-Eu me esqueci de dizer para não... O QUE VOCÊ FEZ?

E o resto é história

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