Snowbound: Beyond Wonderland escrita por Inktrap


Capítulo 1
Prólogo




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SNOWBOUND

.Prólogo


    Era uma vez, há muitos e muitos anos, um reino longínquo de neve eterna, uma terra tão escondida em névoa quanto era em frio. Cristais de gelo caiam do céu acima dia e noite, e até mesmo quando o sol brilhava no topo das montanhas, quente o bastante para derreter a tapeçaria branca que estendia-se sobre o chão das planices antes verdejantes, eles continuavam caindo e caindo, em uma chuva que nunca terminava.


    Algumas vezes, quando o tempo esfriava, ficava pior, e o inverno se aproximava até chegar perto o bastante para assoprar uma réstia de névoa, a inocente dança de flocos de neve se tornava uma violenta ventania, juntando algumas afiadas gotas de vidro em uma tórrida tempestade, cortando e fustigando até mesmo o mais forte dos telhados das casas. Ventava furiosamente naqueles dias, e o céu jogava sobre suas crianças a pior sorte de dor congelante e mordidas de frio. 


    O outono era melhor que o verão, porque os quentes raios de sol arranhavam a pele frágil daqueles acostumados com seus próprios lares, sombrios e solitários. O calor era muito para os seres já acostumados com queimaduras de neve, a brancura das bochechas tornando-se rosada com uma mera carícia de luminosidade que não do gelo e do céu de nada distante e selvagemente frio. Também não era pior que o inverno, entretanto. Era um tempo pacífico, quando o sol não poderia incomodar ninguém, e nenhuma tempestade de neve mataria.


    Mas não havia primavera ou flores nas terras daquele reino.


    Os dias continuariam indo e vindo, e as últimas arvores deixariam suas folhas caírem, perdendo seu ultimo toque de colorido. Vermelho e amarelo se esparramavam pela fofa brancura do chão, a pintura durando pouco tempo: só até a próxima geada. Algumas vezes, o sol cegante iria rasgar através dos olhos das pessoas e, algumas outras vezes, crianças eram encontradas congeladas fora de suas casas, suas bocas e lábios arroxeados abertos em um último suspiro. Era possível ver seu desespero, seus dedos gélidos procurando algo a que se apegar em seu último momento.


    Aquela terra fora assim por cinco longos anos, e não mudaria tão cedo.


    No início, aquela neve interminável que vertia em seu país assustou o povo, mas eles lentamente foram se acostumando. A pequena esperança que eles tinham desapareceu junto com as primeiras flores que morreram, e eles se resignaram a aceitar o destino de que nada mais cresceria em seus campos, nenhum animal viveria mais em suas florestas de galhos secos e fracos, e, no final, a vida iria congelar justamente como as gotículas de água que cairam de cima quando choveu pela última vez naquele seu reino.


    Cidades longínquas tentaram ajudar e aquele país, que fazia fronteira com muitos outros, não foi tão cedo esquecido. A neve evaporava perto dos outros continentes, mas mesmo a mais distante das terras ouvira falar naquele reino devastado e, secretamente, temia por igual fatalidade. Suprimentos escassos deixaram de ser enviados, o comércio, que um dia existiu, acabou-se em desculpas esfarrapadas feitas por homens de terno para miseráveis vendedores metidos nos mais felpudos dos casacos, mas ainda assim com a aparência nua de quem sofre de fome e frio. Todos sabiam que a verdade era que aquele lugar não tinha nada a oferecer em troca.


    Desesperança, talvez, e medo.


    Foi um triste dia naquela terra quando a última pétala foi consumida pela brancura inebriante e morreu, e quando os animais e pessoas se foram também - para outros reinos ainda mais distantes que os vizinhos - aquela terra se tornou uma terra de lamentos e desavenças, onde rezas de fé nunca mais foram ouvidas em parte alguma.


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