A Princesa E O Alienígena escrita por Beto El


Capítulo 33
Capítulo 31




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Um evento ocorrido em um shopping localizado na Baixa Zona Leste, o bairro mais desassistido da sombria cidade, atraíra grande quantidade de pessoas, notadamente do sexo feminino. Tal atenção se devia à presença do membro mais proeminente da Liga da Justiça, Mulher-Maravilha.

Sob aplausos, a amazona subiu ao palanque, retribuindo o carinho do público com altivos acenos. Como de praxe, estava deslumbrante, com seu cabelo preso. Vestia um casaco marrom acompanhado por saia longa preta e botas. A plateia era composta em sua maioria por pessoas carentes, majoritariamente do sexo feminino. Como de praxe, havia também pessoas com interesses distintos e menos nobres, como votos ou lucros.

A tarde ensolarada estimulou a presença de um grande número de cidadãos de Gotham, sendo necessário reforço policial para garantir a ordem.

Durante 2 horas, a amazona discursou sobre temas diversos, de violência doméstica a solidariedade. Não escapou ao seu olhar uma jovem, que usava óculos escuros. Parecia angustiada e em dúvida, mantendo-se propositalmente ao fundo da plateia.

Ao fim, a heroína reservou quase o mesmo tempo da apresentação atendendo às pessoas. A garota que havia chamado sua atenção mantinha sua distância, contudo, era quase palpável sua ansiedade.

Diana solicitou a um segurança que conduzisse aquela moça a um escritório reservado do shopping. Embora com relutância, o segurança logrou levá-la ao encontro da amazona.

A moça, no início de seus vinte anos, usava um casaco bastante rústico de cor marrom, saia comprida e botas já bastante desgastadas. Era loira e de traços levemente brutos.

— Eu... percebi uma certa tristeza em você. Qual seu nome?, questionou a heroína.

A garota olhou para baixo, fechou os olhos, e, em seguida, praticamente sussurrou:

— Ahn... eu... meu nome é... Gale. Eu... não quero te atrapalhar, preciso ir.

Diana colocou sua mão sobre o ombro da garota, sorriu gentilmente e falou, em um tom de voz calmo e altivo:

— Irmã... eu consigo perceber sua angústia e tristeza. Você pode confiar em mim, eu a ajudarei no que for necessário.

Gale tirou os óculos. Seu olho direito ostentava uma grande mancha escura, fazendo a amazona arregalar os olhos em espanto.

— Meu marido... – começou a soluçar.

— Isso é um ultraje! Leve-me para encontrá-lo agora!

Foi necessária muita argumentação por parte da heroína para convencer a garota, que, por fim, acabou por ceder. No veículo disponibilizado para seu transporte, encontravam-se Diana, Gale e o motorista. A viagem foi relativamente curta, durando menos de dez minutos.

Diana não pôde esconder seu espanto ao desembarcar. Tratava-se de um terreno apinhado de trailers, a maioria com visíveis marcas de desgaste do tempo. Suas narinas foram impregnadas por um forte odor de urina e fezes.

Precários varais ostentavam roupas simples e surradas, crianças corriam pelo terreno lamacento descalças, alheias, ao menos aparentemente, à pobreza que as cercava. Algumas mulheres de idade acompanhavam de longe essas crianças.

Gale a conduziu até seu trailer. Na porta, estava uma senhora, aparentemente a mãe da garota, com um bebê no colo, e mais três crianças saíram do trailer, indo em direção a Gale.

Diana adentrou o trailer. Havia uma televisão de tubo, um sofá que havia muito deveria ter sido jogado fora, e 5 colchões encostados à parede. O banheiro era minúsculo, a cozinha não muito maior. Ela reparou que havia garrafas de bebida baratas espalhadas de forma desmazelada pelo local.

                As quatro crianças aparentavam ter pouca diferença de idade entre si. Eram três meninos e uma menina.

                - São seus filhos?

                - Sim. Anthony, Jessie, Colin e o menor é o James.

                Diana se agachou e brincou um pouco com as crianças, não sendo possível deixar de notar que o peso delas não era o ideal. Do lado de fora, os vizinhos começavam a se acumular, pois a notícia da presença dela já fora espalhada pela vizinhança.

                Um homem de aproximadamente quarenta anos empurrou alguns dos curiosos que ali se acumulavam. Era branco, com a barba mal feita, vestindo uma jaqueta de lona bastante surrada, calça jeans suja e sapatos velhos. Parecia bastante alterado.

                Com passos pesados, aproximou-se agressivamente da amazona, que se levantou, deixando de dar atenção momentaneamente às crianças. Ele apontou seu dedo de forma desafiadora a poucos milímetros do nariz de Diana.

                - Quem você pensa que é, vindo aqui no meu lar dar pitaco sobre minha família?

                Diana nada respondeu, cerrou seus dentes com força, apanhou o pulso do homem, apertando-o com força, que o fez gemer.

                - Nenhum homem fala assim comigo. – em seguida, ela o levantou pelo colarinho, tão facilmente que todos ali se espantaram com a cena. Largou a mão direita do colarinho e fechou seu punho com força. Se resolvesse socar o homem, arrancaria com facilidade sua cabeça.

Gale agarrou o braço da heroína, soluçando. Diana a fitou surpresa. As crianças começaram a chorar.

— Por favor, não machuca meu marido, Mulher-Maravilha!

Para Diana, aquela situação era incompreensível. Como guerreira numa ilha habitada somente por mulheres, doía-lhe ver uma irmã ser agredida por um homem de forma covarde. Ela o largou; ele caiu de traseiro no chão, atordoado diante de uma figura tão poderosa. Os seguranças que acompanhavam a comitiva da heroína ampararam o homem, e Gale puxou Diana para o lado externo do trailer, ao lado.

Sem fitar os olhos da amazona, Gale lhe explicou que estivera com seu marido, chamado Mitch, desde adolescente, tendo filhos em sequência desde muito jovem, e, consequentemente, deixara os estudos de lado. O marido trabalhava fazendo bicos pela região e tinha problemas com bebida, e, quando bêbado, agredia ela e as crianças.

Diana olhou ao seu redor com pesar e sem saber o que dizer ou fazer. Ao vislumbrar os vizinhos, ela realizou que aquele caso não era incomum, várias pessoas passavam por situação similar, ou, talvez, piores do que a que Gale enfrentava. Respirou fundo. Que mundo era aquele, onde companheiros deveriam proteger seus queridos?

— Irmã, eu... não vou prestar queixa contra ele. Eu vou conseguir algum tipo de auxílio para você e seus vizinhos, tenho alguns contatos no governo.

Diana olhou dentro dos olhos e sorriu, dirigindo-se em seguida para o trailer. Ela afagou cada uma das crianças, sorriu para a idosa, entretanto, ao se virar para Mitch, seu olhar se alterou completamente, para ameaçador e severo. Sua mão direita pousou na cintura e destravou algo no seu cinto. Ela agarrou o laço dourado da verdade, colocando-o rente ao fronte de Mitch.

— Eu desprezo você, imbecil. Este aqui é o laço sagrado da verdade, todo aquele que entra em contato com ele é obrigado a falar a verdade, incluindo eu. Pois então acredite no que eu lhe digo agora: estarei atenta à situação de Gale. Caso eu saiba de algum malefício feito a ela, eu voltarei e o decapitarei com minha espada.

O homem engoliu em seco, Diana lhe deu as costas, despediu-se dos outros habitantes e entrou no carro com os seguranças.

Poucos quilômetros depois, pediu aos seguranças para descer. Embora insistissem ao contrário, a amazona conseguiu convencê-los a deixá-la ir. Eles acabaram cedendo, afinal de contas, aquela era provavelmente um dos seres mais poderosos do mundo.

Diana usava óculos escuros e estava com o cabelo preso, poucas pessoas poderiam reconhecê-la. Caminhava lentamente pelas calçadas de um local barra pesada. Havia muito lixo jogado nas vias públicas, as paredes dos prédios descascadas, e muitos destes abandonados. Pelos becos, ao lado de contêineres de lixo, jovens fumavam crack em roupas maltrapilhas.

Gotham era território do Batman, mas por óbvio, apenas a presença do cavaleiro das trevas não era suficiente para apaziguar o sofrimento da população. Para a amazona era quase possível apalpar a sombria aura que insistia em cobrir aquela cidade.

Eram seis da tarde, o sol já estava se pondo. Diana ainda não sabia para onde ir ou o que fazer, estava chocada com aquele local e a situação encarada à tarde.

Ela suspirou e abaixou o rosto.

—----XXX------XXXX-------XXXX

— Ei, Kent, e aquela matéria sobre o milagre do menino da zona sul? A deadline está acabando.

Clark Kent ajeitou seus óculos e olhou para Perry White. Como de costume, estava com os ombros retraídos, óculos mal posicionados no rosto, gravata frouxa, camisa amassada devido à má qualidade, pois fora comprada de uma loja de rede de preços populares. O notebook acabara de ser ligado.

— Er... Senhor White, eu já estou na metade da matéria, farei o upload daqui a pouco.

O senhor de idade acenou com a cabeça e deixou Clark Kent sozinho. Eram nove da noite e a redação do Planeta Diário estava vazia.

Clark digitou todo o texto em menos de dois segundos, fazendo upload para o revisor logo em seguida. Em pouco tempo a matéria seria publicada no portal do jornal.

Recostou-se na cadeira e suspirou. A cidade estava tranquila naquela noite, aparentemente nada que demandasse o auxílio do Superman. Um som, entretanto, chamou sua atenção.

Levantou-se da cadeira e dirigiu-se às escadas de emergência, em direção ao terraço. Enquanto subia os degraus, podia sentir impregnada no ambiente a nicotina que seus colegas expeliam pelo caminho ao sair para fumar. Clark nunca entendeu por que humanos fumavam; perguntava-se que, se pudessem ver o estrago feito em seus pulmões, continuariam fumando aquele veneno.

Abriu a porta que dava acesso ao terraço.

Sentada, cabisbaixa e encostada a uma parede estava uma mulher, a mesma que rondava boa parte dos seus pensamentos nas últimas semanas.

— Diana...?

— Olá, Clark...


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