Gakupo dirigia calmamente. Não era muito longe, mas naquela hora era preferível irmos de carro, além do mais, querendo ou não, éramos famosos. Larguei-me no banco, tragando o cigarro e jogando a fumaça para fora da janela. Percebi que ele apenas sorria.

– O que gravou hoje? – Ele havia quebrado o silêncio.

– Spice. – Traguei novamente, lembrando que havia esquecido o outro cigarro lá na grama, depois passaria por lá e pegaria.

– Com o Len?

– Sim.

– Foi divertido?

– Sim.

– Hm.. Gravei com a Gumi hoje. – Ele começava a dizer. Apenas escutei. – Não sei qual é desses produtores, mas estão querendo que façamos mais vídeos... como casal.

– Interessante. – Encolhi os ombros. – Era assim no meu inicio com o Kaito. Logo se acostuma.

– Será?

– Sim. Ou não. – Mais um suspiro, coloquei o resto do cigarro no lixo do carro. Ele observou.

– Quando vai parar de fumar?

– Quando o mundo acabar e me levar junto.

– Grossa.

Ele riu. Acabei sorrindo também.

– Oh, viu como sorrir não mata alguém?

– Vá a merda.

Ele riu e acabei por rir também. Pelo menos estava esquecendo do que havia acontecido mais cedo. Levei a mão até meu cabelo, bagunçando-o, havíamos chegado no bar. Gakupo estacionou e parou o carro. Vesti meu casaco e desci. Não havia muitas pessoas no local. Ótimo. Voltei a caminhar ao lado dele, novamente aquele silêncio.

Entramos, escolhemos uma mesa e me acomodei. Pedi logo a melhor e MAIOR garrafa de sake do bar... E é claro tive que aturar a cara assustada do garçon. Apenas ignorei e voltei a mirar o Gakupo, sentado à minha frente.

– Não entendi ainda porque me chamou... – Acabei dizendo, sem pensar na resposta ou se ele ficaria com raiva. Era meu jeito. E foda-se.

– Também não sei. Apenas quis lhe conhecer... – Ele encolheu os ombros. – E soube da sua briga com o Kaito. Queria comemorar... Não gosto dele.

Silêncio. Na minha mente veio novamente a briga... que por fim achei desnecessária, como as metades ou todas as coisas que faço. Suspirei. É, foi desnecessário.

– Hmm. Me chamou só por isso?

– Nossa, você é bem insegura neh?

– Sou. Não gosto de coisas repentinas assim.

– Relaxa e tome seu sake. Apenas quero lhe conhecer.

Novamente silêncio. Conhecer em que sentido? Pensei em perguntar, mas fomos interrompidos pelo garçom que trouxera o meu sake e o vinho do outro. Me servi e bebi um grande gole. OH bebida boa!!!! Agora sim, eu estava revigorada.

– Porque quer me conhecer melhor? – Aproveitei que o garçom havia ido embora. Gakupo começara a beber.

Ele sorriu. Fiquei sem entender nada, bebi mais um gole de sake.

– Você é sempre assim fechada? – Fiquei sem entender, esperei ele voltar a falar. – Precisa se mais aberta, eu quero apenas a sua amizade.

Amizade? Como assim? Quase não falava com ele e do nada ele chega e diz isso? Ah há. Ai tem coisa. E das grandes.

– Você quer mesmo que eu acredite nessa história.

– A escolha é sua em acreditar ou não. Em continuar assim, ou começar a aceitar as pessoas que querem sua amizade.

Arregalei os olhos e bebi mais um gole. O sake estava começando a surtir efeito sobre mim.

– E você acha que eu não tenho amigos?

– Você tem os amigos que você escolhe... Já tentou deixar alguém se aproximar de você, sem que jogue uma pedra?

Sabe o que me deixava mais puta? A calma dele. Era como se ele estivesse planejando aquilo por DÉCADAS. Respirei fundo e me larguei na cadeira, desisti do copo e fui beber na garrafa mesmo. Ficamos em silêncio novamente. Por que aquela conversa? Queria apenas esquecer toda aquela merda de amizade e continuar a viver... Sozinha. Ou melhor, com meu sake.

– Estou bem assim.

– Mesmo? Você fuma que nem uma caipora e bebe que nem um motor velho.... – Ele estava um pouco sério. – Pode ficar doente.

– Sou forte. Doença é para os fracos.

– Para Meiko. Pare. Se continuar assim, vai acabar se matando.

– Parar? Nunca fiz porra nenhuma! Em primeiro lugar foi você que me chamou! E por que a porra desse sermãozinho idiota? Se preocupa tanto comigo ao ponto de trazer para a merda desse bar e me fazer beber! E ainda por cima, vem falar essas coisas estranhas! Do nada! Louco aqui é você! Idiota de merda.

É. Novamente lá estava a Meiko estourada e exagerada. Logo viria confusão, mas para o meu espanto, ele estava calmo e sem nenhuma expressão de medo. Porque? Meu coração disparou e logo ficou com falta de ar... Aquilo estava tão estranho... Tão ANORMAL.

Ficamos em silêncio. Aquele silêncio me irritou mais ainda. Levantei, peguei a garrafa e sai do bar.