Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 7
A montanha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/223086/chapter/7

Mergulho o penúltimo dardo na água venenosa. Tinha dado muita sorte de acertar aquele menino –Mason - bem no coração, não podia esperar que a sorte me ajudasse de novo. É meu quarto dia nos Jogos Vorazes. Eu e Katri ainda estamos vivas, diferente dos três tributos mortos ontem. Descobri porque Katri ficou tão perturbada na segunda noite aqui, na arena.

Ontem um tributo do 9 encontrou nossa caverna, devia ter uns 15 anos...Foi morto em menos de 5 minutos, pela própria Katri que o matou com uma simples virada de pescoço, enquanto ele tentava quebrar a cabeça dela. Ela era um assassina nata. Só tinha um único problema: depois de matar ela ficava enjoada e acabava vomitando. Mas se tivesse treinado como os carreiristas, ela ganharia.

–Já acabou? Estou morrendo de fome, acho que a gente podia parar e comer um pouco- ela olha meus dardos- O veneno vai estar fresco, então em qualquer lugar que você acerte ele só vai ter uns segundos de vida. – diz como se fosse a coisa mais normal do mundo, bem, era, nos Jogos Vorazes – Vou dar uma olhada na área, só pra garantir que não tem ninguém por perto. Volto já!

Pego o último dardo e mergulho na água, com todo cuidado para não encostar meus dedos no veneno. A água venenosa e cristalina que reflete a linda floresta e a montanha logo atrás. Presto mais atenção no reflexo e levo um susto tão grande que acabo levando minha mão livre na boa para não gritar.

Tem uma menina refletida na água: pele clara, olhos cinzas, olheiras envolta dos olhos, arranhões por toda pele e alguns cortes, suas tranças douradas são uma estranha mistura de lama, cabelo e grama. Eu encaro a menina, esperando alguma reação... Mas,nada, ela simplesmente me encarou também. Viro para trás, quero ver mais que o reflexo daquela menina, mas não há ninguém aqui. Olho de novo para a água, o reflexo dela continua lá, me encarando curioso e então... Os olhos dela se arregalam, ou devo dizer os meus? Faço um aceno com o braço, o reflexo me imita... Aquela sou eu.

Não é possível. Eu não podia simplesmente esquecer meu próprio reflexo! Não em quatro dias. Eu me encaro perplexa com pensamentos a mil, até que resolvo guardar um pouco de veneno na bolsa caso necessário. Olho para o sol, ele está quase no meio do céu. Katri volta e nós arrumamos um lanche com um pouco da carne desidratada da minha mochila, um pão da mochila do menino do 9 e um pouco da água que guardamos da chuva de ontem. Não podia evitar de lançar um olhar furtivo ao meu reflexo e o de Katri toda vez que podia.

Terminamos nosso lanche e depois de alguns minutos admirando o sol nos levantamos e continuamos a andar. Katri não gosta da montanha, de acordo com ela é para onde queriam que nós fossemos, lá deve ter um ninho de cavernas. É pra onde os carreiristas estão indo, procurar mais tributos para matar. É incrível, como a capital conseguia fazer lavagem cerebral nas pessoas a ponto delas acharem Jogos Vorazes legal e simplesmente resolverem treinar para se voluntariar e morrer.

–Ei, Katri, o que é isso? No seu cabelo? – pergunto depois de algumas horas de caminhada , ao perceber um brilho no elástico que prendia o cabelo dela.

–É o símbolo do meu distrito – ela respondeu sorrindo e tirando o objeto do cabelo para me mostrar, eu o peguei. Era um 8 de lado...

–Um oito? – pergunto curiosa, porque um 8 se ela era do distrito 3?

–Não – ela riu – vira ele de lado, assim...- disse ela virando o objeto - Bom, de acordo com nossos ancestrais, esse é o símbolo do infinito – ela respondeu com um sorriso no rosto e colocando o símbolo no cabelo novamente. Um símbolo do infinito, criado pelos nossos ancestrais malucos que quase destruíram a raça humana... Pois é, acho que eu nunca entenderia Katri.

Andamos mais alguns minutos, até que Katri parou.

–Tem alguém aqui, May – ela disse se virando para trás – podemos subir nas árvores?

E assim fizemos, mal terminamos de chegar ao topo da árvore e uma menina passou correndo e parou embaixo da nossa árvore. É pequena, deve ter uns 12 anos, Katri olhava tão perplexa para menina como eu olhava para ela, como ela conseguia saber que vinha alguém? Mas eu estava enganada, não era só ela, vinha mais alguém. Uma outra menina, bem maior, uns 15 ou 16 anos, segurando uma lança; passou correndo e chegou na nossa árvore. Só tenho tempo de fechar os olhos e escutar o grito aterrorizado da menina, já está escurecendo, não vai demorar muito para a imagem dela aparecer no céu... Mas então escuto outro grito, não era da menina e sim de Katri. Ela não estava mais do meu lado, ela tinha caído da árvore.

Meu coração dispara, eu não posso ir simplesmente lá embaixo e resgatar Katri, estou paralisada de medo. Meus olhos arregalados apenas observavam a menina arrancar a lança da outra semimorta, enquanto Katri se levantava – não parecendo machucada da queda - e tirava sua faca-machado da mochila. Então as duas começaram a lutar enquanto a outra menina morria... Eu queria gritar, lutar, mas não conseguia, estou congelada no meu próprio medo. Um canhão, meus olhos correm desesperadamente a luta, mas quem morreu foi a menininha de 12 anos. Katri ainda está viva, lutando ferozmente com a outra menina. Então escuto uma risada de triunfo, meu coração se aperta, aquela risada não era de Katri. Então um grito de raiva, aquele eu conhecia, é de Katri. Então olho para o céu, desesperada. Katri não pode morrer, não agora, não assim! O som de um canhão chega aos meus ouvidos, meus olhos começam a ficar embaçados, não pode ser verdade. Tomo coragem e olho para o local onde Katri lutara...Então tudo parece acontecer de uma vez só.

Ouço Katri chamar meu nome, mas antes que eu possa ter alguma reação à sua voz, uma explosão parece irromper o mundo, um calor infernal chega a mim junto com um grande “BUM!”. Então eu me viro instintivamente para o lugar de onde veio a explosão, ignorado os gritos de Katri, ignorando se ela se quer está viva ou morta, para ter a certeza da minha morte. A montanha explodiu... Eram explosões e erupções para todos os lados!

Começo a descer a árvore desesperadamente, pronta para correr e salvar minha vida. Continuo olhando para a montanha, não, não era mais uma montanha... Era um vulcão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!