Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 8
O Vulcão




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Não é nada legal ter que começar a noite correndo para salvar sua vida de um vulcão explosivo, mas quando se está nos Jogos Vorazes, você não tem escolha. Você corre e se salva, ou então fica e morre. Simples assim.

Posso sentir a adrenalina ferver em minhas veias. Termino de descer e árvore e saio correndo em disparada, mas logo paro . Um choque de alívio percorre meu corpo ao escutar o barulho de alguém vomitando. Isso significava que ela havia conseguido. Katri está viva! Um breve sorriso se fez no meu rosto, mas logo desaparece. O chão esta tremendo. Isso não é nada bom. Me viro e encaro Katri ali, viva.

–Você está viva! – digo, ajudando-a se levantar

–Não por muito tempo – ela diz, analisando a montanha. Ainda posso ver o brilho assassino em seus olhos, sua expressão era sombria e selvagem. Agora tem um novo corte profundo no queixo e outro que sangra em seu ombro esquerdo. Seguro seu braço, afim de estancar o sangramento, mas Katri emite um gemido agudo de dor – Acho que quebrei ele na queda da árvore. Não caí de costas como você, tenho sorte de estar viva. Mas precisamos correr se quisermos continuar assim.

Na hora entendi o que ela dizia, podia ver a lava que descia a toda velocidade do vulcão refletida nos olhos escuros de Katri. Tínhamos que correr, não entendo por que ela está tão calma, já que vamos morrer.

–Você não tem medo? – pergunto enquanto corremos de costas para o vulcão, na maior velocidade que conseguimos, para continuarmos vivas – De morrer?

–Depende – disse Katri, já sem fôlego – Pense bem Maysilee. Em vez de ter medo do escuro, devíamos procurar a luz.

Então foi nessa simples frase, uma pequena e verdadeira frase, dita por uma menina de 13 anos correndo para salvar a própria vida... Que o vulcão explodiu de vez. A lava avançava tão rápido que não importa quantos quilômetros nós estivéssemos longe, o calor queimava nossa pele e se não corrêssemos viraríamos churrasco de tributo.

Além do calor terrível que parecia assar nossos pulmões, eram gritos e caos para todos os lados. Então ouvi um grito bem atrás de mim e soube que estávamos perdidas. Estávamos não, eu estava:

–Katri! Não para de correr! – consegui gritar antes que um vulto sujo de fuligem me derrubasse no chão. Sabia que aquilo aconteceria, pois não era um grito de medo que eu escutara, era de raiva.

Nós rolamos no chão e batemos numa árvore, mas continuamos aos tapas e arranhões. Eu não consigo alcançar minha bolsa de dardos e a menina, felizmente, me atacara antes de pegar sua espada em sua mochila. Pelo menos Katri está se salvando, pensei. Mas eu estou errada, pois uma faca apareceu do nada perto do pescoço da menina que me atacava. Ela se enrijeceu e eu pude a observar melhor. E com um tremor, percebi que ela era uma das carreiristas que me perseguiram, só de olhar para ela senti o corte latejar.

–Um acordo. Você não mata ela e eu não mato você... Justo? - perguntou Katri

–Justo – disse a menina encarando Katri, sua expressão era indecifrável.

–Não confie nela! – eu gritei – Ela é carreirista, ela tentou me matar!

–Não. Eu confio nela como confio em você, não me importa se ela é carreirista. Ela me deu a palavra dela – Katri me cortou, impassível. É impossível discutir com ela. – E, Maysilee, estamos num jogo mortal, é claro que ela tentou te matar. Assim como ela vai tentar me matar agora. – Katri estava certa. A menina corria para ela com sua espada apontada, mas Katri era bem mais rápida, já tinha dado a volta na árvore e recomeçado a correr – Sabe, não estou com muita vontade de virar churrasco hoje.

Então voltamos à realidade com outra espetacular explosão do vulcão e num minuto já estávamos correndo novamente. Os idealizadores deviam estar orgulhosos de sua ideia incrível. Um vulcão. Realmente ótimo. Uma pena que eu que queira continuar viva.

Uma árvore desaba bem na nossa frente. A menina que me atacou dá um grito, mas contornamos a árvore e continuamos correndo. Meus pulmões estão pegando fogo, sinto que vou desmaiar a qualquer instante, mas olho para o lado e me mantenho firme. Katri e a carreirista enrolaram seus casacos no rosto, de modo que tampava o nariz e a boca da fuligem, mas o meu casaco estava ocupado no momento, servindo de bandagem para o meu corte.

A curiosidade me consome e dou uma olhada para trás. Começo a correr mais rápido, uma onda de lava varre a linda colina a alguns quilômetros atrás de nós. Grito. O medo é muito maior que eu. Mas ouço um outro grito. O mesmo que eu tinha ouvido quando Katri caíra da árvore. Me viro automaticamente. Katri está sendo arrastada pelos cabelos por um menino,do distrito 4, talvez. Enfio a mão na mochila e tiro meus dardos. Começo a atirar.

O primeiro passa raspando na cabeça de Katri, que gritava. Hesito, não posso correr o risco de matá-la.

–Se abaixe! Agora! – Não conheço a voz, mas obedeço no mesmo instante. E uma espada voa sobre minha cabeça até parar nas costas do menino. Ele tosse sangue e desaba em cima de Katri. Corro e a ajudo a sair do peso do menino.

–Você não me matou – Katri falou, avaliando a menina.

–Você também não – ela ficou pensativa por um instante – Gostei de você, inteligente, rápida e quebrada... – até Katri fez cara de quem não entendeu nessa ultima parte – Aliadas?

Katri hesitou – Maysilee também? – perguntou por fim

– Ela faz parte do trato, certo? Então sim. – Agora eu era aliada de uma carreirista. Realmente ótimo! – Hum...Katri e Maysille, certo? Bom, sou Ayse, distrito 1.

– Então, eu começaria a correr. Agora de preferência – eu aviso e saímos correndo.

Ayse vai na frente, nos guiando; depois Katri e por fim eu. Já que corro desajeitadamente, por causa do meu corte e meus ossos doloridos, ainda do primeiro dia dos Jogos. Os minutos parecem intermináveis, e eu não consigo parar de pensar na hipótese de Ayse nos trair e nós acabarmos mortas antes do amanhecer... Se não morrermos torradas na lava antes. Mas Katri é esperta, ela sabe o que faz, disso tenho certeza.

Não sinto mais minhas pernas, nem meus pulmões, nada. Ma sei que preciso continuar. Vejo um bando de tordos voar para longe da lava, do caos, da morte. E de repente desejo ter asas, não só para fugir da lava, mas de tudo. Principalmente desse Jogo insano, onde o prêmio é a sua própria vida. Não preciso chorar, pois meus olhos já estão lacrimejando por causa da fumaça. Sinto que vou desmaiar novamente.

Minutos, malditos minutos que me torturam em uma corrida apressada pela minha vida. É simplesmente impossível não pensar na morte... Ela parece estar tão perto.

De repente sinto um solavanco e estou no chão. Ayse tinha tropeçado, derrubando Katri e eu que estávamos atrás dela, como dominós. O chão é reconfortante, não tenho mais forças para levantar. Simplesmente continuo estatelada, do mesmo jeito que caí. Esperando a dor da lava e do fogo me consumir... Mas alguma coisa está errada.

–Parou – Katri diz. Sua voz não tinha felicidade, mas um tom sombrio. – Acabou.

Presto atenção nas coisas, além da minha dor. Ela tem razão, o chão não treme mais, o cheiro de queimado ainda paira no ar, mas bem mais fraco, e a lava que antes corria em nossa direção, agora quase não avançava sobre a colina da floresta.

Estamos vivas, é tudo que eu consigo pensar.

Depois de alguns minutos vomitando toda a fumaça que inalei, escuto uma coisa anormalmente estranha, além dos apitos dos pulmões asmáticos de Katri, escuto risos. Os risos não são de Katri, muito menos meus. São de Ayse.

–Achei que íamos morrer – ela disse entre risos – Nunca tinha reparado como é bom estar viva – ela para de rir, e solta um suspiro aliviado.

Mais risadas, dessa vez de Katri.

–Por um momento, aliás, por vários, também achei que morreria. E sem ver as estrelas... Minhas queridas estrelas – ela tosse – Sentirei falta delas quando morrer.

Sim, Katri é maluca. Mas acho que começo a compreender o que ela diz. Quando você vê a morte assim, na sua cara, tantas vezes em alguns dias... Enxerga o mundo de um jeito diferente, começa a valorizar cada suspiro, cada sorriso, cada batida do seu coração... É, é estranho, mas é a verdade. Uma verdade tão simples e pura que me faz rir... E sem perceber estamos rindo da simplicidade da vida, aproveitando o momento. E eu nem me dou conta na terrível reação que causamos aos idealizadores dos jogos.

Katri estava errada, ainda não tinha acabado. Eles guardaram mais uma surpresinha para nós.




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