Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 5
A dor e o fogo




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–Você o matou! Você o matou! – gritava a menina carreirista, abafando a minha queda da árvore, eu tive muita sorte –a maior que se pode ter quando se está nos jogos vorazes, pelo menos - , pois o machado em chamas dela havia atingido um galho antes de me acertar, fazendo com que uma só uma parte pequena da lamina entrasse em mim, mas a visão das chamas dançando sobre o machado na minha barriga, me desequilibrou totalmente, principalmente porque eu não estava sentindo dor , agora eu caía a toda velocidade da árvore – por sorte pequena - que eu havia escalado.Queria gritar, mas o terror tinha feito um nó na minha garganta... De repente sinto uma enorme batida contra meu corpo, o vento para subitamente e eu abro os olhos e percebo que estou no chão, por muita sorte tinha caído de costas – Ele está morto!

E ela tem razão, pois nesse momento o som de um canhão enche meus ouvidos.

–Eu podia te matar garota, mas eu não vou...- posso sentir ela hesitar nessa ultima parte – não agora! Quero que você sinta a dor antes de morrer, e acho meu machado o suficiente para isso, mas se você sobreviver essa noite, não tem problema, queridinha. Eu vou te caçar, nem que seja no fim dessa arena!

Ouço seus passos frustrados se afastarem, mas não consigo terminar de ouvi-los, infelizmente a adrenalina desapareceu, isso só significava uma coisa: dor... Todas elas parecem vir no mesmo instante: o corte, a queimadura, a queda, meu tornozelo. Me assusto ao ouvir um longo grito rouco de dor, mas na metade dele acabo percebendo que quem grita sou eu. Eu devia estar longe de qualquer sanidade mental de sobrevivência, não queria saber se outros tributos escutariam meus gritos.

Não só grito – mais alto e desesperadamente do que em toda minha vida -, como agarro a grama ao meu redor e começo a me contorcer compulsivamente. Meus gritos se transformam em gemidos involuntários e lágrimas quentes escorrem sem parar no meu rosto, só então me lembro de que tenho que sobreviver.

Me forço a abrir os olhos e encarar meu ferimento, arranco o machado e coloco a minha mão sobre o ferimento para estancar o sangramento. Infelizmente não há nada que eu possa fazer sobre a queimadura, que no momento é a pior dor de todas. Fico lá deitada, tentando controlar – inutilmente- meus gritos e gemidos de dor...

–Te achei! – diz uma voz feminina e estridente e, estranhamente, feliz demais para um tributo – Fiquei com medo daquele canhão ter sido o seu e...Uh! Foi aquele machado, não foi? Porque ela não te matou logo? Bom, melhor para gente, não é? – sinto uma mão pequena se fechar em torno do pulso – Não precisa mais segurar a grama, você não está mais sozinha – ela segura minha mão com força; me dando uma estranha (e boa) sensação de que não estou sozinha, que tem alguém cuidando de mim; meus gemidos não parecem incomodá-la – Eu sei que está doendo, mas não posso fazer nada... Aliás, eu posso sim! Bom, não devo demorar, não vai ser mais difícil do seguir os carreiristas... – ela soltou minha mão – Seria ridículo eu falar para você me esperar aqui, bom, se você tiver sorte, eu volto.

Depois de um tempo que eu não conseguo definir, só sei que minha voz tinha acabado de tantos gritos, sinto a mesma mão tocar meu rosto, mas não tenho coragem de abrir meus olhos, então uma queimação excruciante surge em minha barriga, e então surge em minha boca... Um líquido estranho que eu tinha acabado de engolir agora faz minha garganta queimar como nunca, e então minhas veias ferviam, tudo parecia estar pegando fogo...

–Álcool setenta, uma das coisas mais úteis que... – tudo começa a girar, e girar, e girar. Então eu noto, os tordos não ficaram em silêncio, eles continuavam a cantar... Álcool setenta... Gira,gira,gira... Olho uma última vez para as estrelas, os lindos pontinhos brilhantes no céu, os únicos que me acompanharam do distrito 12 até a arena... As estrelas, as únicas que a Capital não conseguiu tirar de mim. Então tudo fica escuro, eu tinha apagado.

Sonho com um bela campina com tordos voando, eu corro feliz, mas então encontro uma menina com arco e flecha, ela me encara e sorri. Eu retribuo o sorriso, então ela aponta uma flecha para o tordo e a solta em sua direção, mas em vez de matar o tordo, ele agarra a flecha com o bico e voa em direção ao sol... E pega fogo! Uma fagulha de suas asas chegam à campina, e então tudo está em chamas...


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