CAPÍTULO 50

O JULGAMENTO DO SÉCULO

Os últimos conflitos haviam terminado. A tentativa de invasão de Hogwarts havia sido repelida e os pretensos conquistadores foram capturados e enviados para a prisão. A batalha do Ártico, levada a cabo na “Cidadela de Bóreas”, também havia culminado com a vitória das forças aliadas, formadas pela Ordem da Fênix, Aurores e por forças militares e policiais, resultando na captura de “Sombra” e “Escuridão”.

Mas isso não significava que não tivesse havido perdas. E para ambos os lados. “Escuridão” perdera Mariana, que já havia perdido a criança que estava esperando, algumas semanas antes. O que teria sido desse menino, caso tivesse nascido? Será que seguiria a trilha das Trevas ou, menos provavelmente, recusar-se-ia a isso, contrariando a quase certa doutrinação à qual seria submetido? Jamais saberemos. As forças da Luz também haviam tido significativas baixas: Além dos bravos policiais e militares bruxos e trouxas, havia Percy Weasley, que morrera salvando a vida de Luna. Alastor “Olho-Tonto” Moody, atingido na cabeça por um Sniper, o mesmo que colocara uma bala na coluna de Sirius Black. E em Hogwarts uma jovem havia dado cabo da vida de Severo Snape, seguindo ordens do seu mestre.

Três dias após as batalhas, houve o funeral de Snape, Moody e Percy, com honras. Em um primeiro tempo grupos descontentes fizeram uma rápida campanha para não permitir que Percy fosse sepultado com honra e dignidade, alegando que ele havia se vendido ao Círculo e que era só por ser filho de Arthur Weasley, mas depois dos depoimentos de Harry, Mason e dos outros, principalmente Luna, eles tiveram que meter o rabo entre as pernas e ficar quietos.

Sirius teve alta ainda a tempo de participar dos funerais e chegou a Londres caminhando com ajuda de uma bengala. Quando questionado sobre aquilo, explicou que era temporário, só precisaria dela por cerca de umas duas semanas, no máximo. Mas demoraria um pouco mais de tempo para que pudesse correr e se exercitar.

Uns dois meses depois das batalhas, Gina entrou em trabalho de parto e deu à luz a um menino, com cabelos negros e olhos verdes como os do pai. Quando escolheram seu nome, nada mais justo do que homenagear dois ex-diretores de Hogwarts, relevantes personagens da Bruxidade. O garoto foi então batizado como “Alvo Severo Weasley Potter”. Seus padrinhos foram, bastante apropriadamente, Aberforth Dumbledore e Rosmerta McTaggert Snape.

Mesmo passados cerca de três meses desde a captura de ”Sombra” e “Escuridão” e o progressivo desmantelamento do Círculo Sombrio, a Bruxidade permanecia agitada e atenta aos acontecimentos. Principalmente ao julgamento de TODOS os membros da organização criminosa, tanto os capturados quanto os delatados. O evento, que desde o início já estava sendo chamado de “O Julgamento do Século”, mobilizava não somente a Bruxidade, mas também o mundo trouxa, que assistia estarrecido à revelação de que um grande número de personalidades de reputação supostamente ilibada era, na verdade, de operativos e colaboradores do Círculo Sombrio.

Os operativos de baixo e médio escalão já haviam sido julgados e condenados, recebendo penas de acordo com sua participação nas atividades criminosas e com as eventuais delações premiadas. Restava agora submeter ao júri os elementos da cúpula da organização, principalmente o “Conselho dos Sete” e os líderes do Círculo Sombrio, “Sombra” e “Escuridão”. Estes dois últimos estavam sendo mantidos em locais ignorados pela maioria, a fim de não haver o risco de uma tentativa de resgate por parte de algum remanescente desconhecido e ainda não capturado.

Na verdade, “Sombra” havia retornado de sua missão auto-imposta, entregando a Harry informações que havia recolhido e das quais mesmo a Corporação dos Aurores não tinha conhecimento. Uma semana antes do início dos julgamentos, ela havia se apresentado e Harry ativou um Feitiço Fidelius, mantendo em segredo a localização da bruxa para sua segurança, sendo ele mesmo o Fiel do Segredo. Um dia antes do julgamento da cúpula do Círculo, Harry e Draco estavam reunidos com ela no apartamento que servia de esconderijo, no East End. Enquanto ela preparava um chá, os dois bruxos estavam sentados em poltronas, um de frente para o outro.

—Tem certeza de que você consegue fazer isso, Harry? _ perguntou Draco, apreensivo. O menor erro poderia danificar de forma irremediável a mente do loiro.

—Consigo sim, Draco. Basta ficar calmo e abrir a mente para mim. Eu entrarei nela e descobriremos o que procuramos. De acordo com “π”, quando “Escuridão” implantou o feitiço que está lhe atormentando e causando os pesadelos, foi necessário que ele revelasse sua verdadeira identidade, em seguida escondendo-a sob um fortíssimo Feitiço Obliviador, encontrado nas páginas do Necronomicon.

—As informações no volume que eu deixei para Jan, quando encenei a morte dela. Realmente, se alguém pode fazer isso, é você. Vamos dar início ao resgate da minha sanidade, então.

Draco fechou os olhos e procurou relaxar. Harry concentrou-se e invocou suas habilidades de Legilimência Profunda e logo estava atravessando as camadas de lembranças de Draco Malfoy, muitas delas relacionadas a ele, desde os primeiros tempos de Hogwarts. Passando por elas, atingiu a entrada da área mais profunda e central da própria estrutura da psique do amigo que, muito apropriadamente, possuía a aparência da Malfoy Manor, onde uma personificação de Draco o aguardava junto ao portão.

—Então vamos fazer isso juntos, Draco. _ disse Harry.

—Sim, Harry. A memória que você precisa corrigir encontra-se em um cômodo da mansão, no qual eu não consigo entrar. Acredito que seja o ponto dos meus pesadelos onde estou prestes a descobrir a identidade de “Escuridão” e então acordo.

—Certo. Então, vamos tratar de utilizar os conhecimentos da página 56, para livrar você desses pesadelos com “Escuridão”. Entramos? _ perguntou Harry, respeitosamente. Afinal de contas, era a mente de Draco, propriedade dele.

O interior da Malfoy Manor era amplo, claro e combinava a mobília de uma mansão bruxa tradicional com a modernidade e tecnologia que ele e Janine tanto gostavam.

—Para que não nos atrapalhassem, as imagens mentais de minha família não se encontram aqui. _ disse Draco _ O cômodo é aquele, com a porta preta e uma faixa verde. Sinta o mal que emana de lá.

—Creio que a faixa seja a imagem mental dos bloqueios ou, pelo menos, a primeira delas. Estou sentindo a energia negra. _ disse Harry, estendendo a mão esquerda em direção à faixa _ Sim, é um Feitiço de Repulsão Mental, que mina a vontade de quem queira entrar na sala. Mas eu posso quebrá-lo, vejamos... “என் விருப்பம் வலுவானது, உங்கள் தடை என்னைத் தடுக்காது. நீங்கள் ஒரு சிறிய தடையாக இருக்கிறேன், நான் சிரமமின்றி வெல்வேன். உங்களைத் திறந்து மறுபுறம் இருப்பதை எனக்கு வெளிப்படுத்துங்கள் ... இப்போது (Minha vontade é mais forte, sua barreira não irá me deter. Você é meramente um pequeno obstáculo que eu irei transpor sem dificuldade. abra-se e me revele o que está do outro lado... AGORA)!!!”

—Invocação em Tâmil? _ perguntou Draco, ao ver a porta se abrir.

—Aprendi em uma viagem ao Sri Lanka. Nunca pensei que fosse precisar, até agora. É muito bom ter o poder necessário. _ disse Harry _ Rápido, vamos entrar logo, pois pode haver um feitiço de defesa suplementar... “Sumu nyuki, futa kwa asali yako mwenyewe (Abelhas venenosas, dissolvam-se no seu próprio mel)!”

—Andou viajando pela África, também? _ perguntou Draco ao ver um enxame de grandes abelhas venenosas simplesmente se liquefazer em mel, logo após Harry rapidamente utilizar um feitiço em Swahili.

—Sudão e depois Angola, seguindo a pista do Círculo e salvando o Ministro da Magia Ricardo Lugoma de ser morto pela própria filha. _ disse Harry, entrando na sala, acompanhado por Draco _ Agora vamos ao fundo deste mistério.

A sala estava em penumbra. A única luz existente vinha de uma lareira, cuja lenha estava reduzida a brasas. Em uma poltrona, um homem estava sentado e se levantou. Ainda que a luminosidade das brasas fosse pequena e bruxuleante, permitia que tudo próximo a ela fosse visto, exceto os traços, parcialmente ocultos pelo capuz, do rosto do homem que olhava diretamente para eles, rindo baixinho.

—Tolos. _ disse ele, com uma voz que parecia sair de um sintetizador eletrônico, metálica e robótica _ Chegaram até aqui, mas este será o seu limite, pois daqui não passarão.

—Isso nós veremos, “Escuridão”. _ disse Harry, pois aquela era a personificação do cruel bruxo, com seu rosto real embaçado pelo Feitiço Obliviador do Necronomicon— Página 56 então, certo, Draco?

—Exatamente, Harry. Confio em você.

—Então lá vai. “המראה אינו אלא אשליה וכמו כל אשליה ניתן להתעלות. עם עיני הנפש, עם עיני הרוח, אנו עוברים דרך הרעלות, הערפילים המעיבים על חזוננו. הצללים דוהים, התמונות ברורות, מה שמוסתר מגלה את עצמו, עד שהדבר היחיד שנותר הוא האמת. אנו מחפשים את האמת, נמצא אותה, והיא אט אט תצא לפנינו ואז שום דבר לא יוסתר. יהי רצון שכל המעוות, המטושטש והמטושטש עכשיו יתגלה לפנינו ללא התנגדות. ביטול סופי (A aparência nada mais é do que uma ilusão e, como toda ilusão, pode ser transcendida. Com os olhos da mente, com os olhos do espírito, atravessamos os véus, as brumas que toldam nossa visão. As sombras se desvanecem, as imagens se aclaram, o que está oculto se revela, até que a única coisa que resta é a verdade. Buscamos a verdade, havemos de encontrá-la e ela irá, aos poucos, surgir à nossa frente e então nada mais ficará oculto. Que tudo aquilo que estiver distorcido, desfocado e embaçado agora se revele diante de nós, sem resistência. DESOBLIVIAÇÃO FINAL)!!!”

Após Harry concluir o feitiço em Hebraico para neutralizar o Feitiço Obliviador, algo semelhante a cera começou a pingar da face distorcida do homem, que começou a ficar cada vez mais nítida sob o capuz, até que o último pingo caiu. Então Harry brandiu a varinha e finalizou a tarefa.

— “Operculum, discoperiet ascendit. Cucullo sinu. Verum ostende faciem tuam huius nec divinos, fidelius ad gratiam praevaricationem usque dum faciat (Capa, solte-se. Capuz, recolha-se. Mostrem a face verdadeira desse bruxo, finalizando a quebra do Feitiço Fidelius por ele realizado).”

Com a invocação de Harry Potter, o fecho da capa se soltou e o capuz recolheu-se. Em seguida ela escorregou pelos ombros do bruxo. Então, Draco levantou sua varinha na direção do rosto.

— “Lumus.” _ disse Draco, iluminando aquela parte da sala e revelando o rosto do terrível bandido bruxo. Mas nada poderia prepará-los para a surpresa que tiveram.

—Em nome de Deus e de Merlin!!!— os amigos exclamaram juntos.

Logo após Draco Malfoy e Harry Potter acabarem de descobrir qual era a verdadeira face de “Escuridão”, a personificação do líder do Círculo Sombrio que interferia na mente do bruxo loiro se desvaneceu, como se fosse feita de fumaça. Em seguida, as brasas da lareira tornaram-se chamas vivas e crepitantes, clareando aquela sala que representava a área bloqueada da mente de Draco. Não restava mais nenhum sinal de “Escuridão”.

—Não pode ser, mas é! _ exclamou Harry _ E estava aqui, bem à nossa frente.

—E agora? _ perguntou Draco.

—Agora, vamos retornar. _ disse Harry _ Já cumprimos a nossa missão e descobrimos o que deveríamos saber. No julgamento utilizaremos o que está na página 92.

Saíram daquele cômodo e adentraram o corredor. Ao olharem para trás, viram que a porta não mais existia. O bloqueio havia sido desfeito, o Feitiço Fidelius do cruel bandido bruxo já não representava mais uma ameaça à sanidade mental de Draco Malfoy. Os dois amigos despediram-se, junto ao portão da Malfoy Manor.

Harry desfez, cuidadosamente, o elo de Legilimência e logo se viu novamente sentado na poltrona do apartamento, em frente a Draco e com “Sombra” perto deles.

—Achei que vocês fossem precisar de um chá, depois dessa aventura mental. _ disse ela _ Vocês conseguiram romper o bloqueio de “Escuridão”, eu já consigo me lembrar de quem ele é.

—Sim, conseguimos finalmente romper o bloqueio mental daquele canalha, “Sombra”. _ disse Draco, secando as lágrimas _ Aliás, Harry conseguiu. Eu sabia que ele tinha poder mais que suficiente para realizar essa tarefa.

—Eu não conseguiria, se você não tivesse relaxado e deixado a sua mente aberta. Assim conseguimos chegar ao fundo do mistério. _ disse Harry _ E amanhã, no julgamento, vamos lançar a pá de cal no Círculo Sombrio.

— “Tsuru no Tsugomori”. _ disse “Sombra” _ “Escuridão” tratava a guerra contra vocês como se fosse uma partida de Go.

—Nós também. _ disse Harry.

—Isso explica porque as pedras pretas dele começavam a ficar cada vez mais aprisionadas. _ comentou ela, com um sorriso.

No dia seguinte, teve início o julgamento do Conselho dos Sete, que depois seria seguido pelo de “Sombra” e “Escuridão”. Os dois líderes da organização criminosa estavam presentes a todos os trabalhos e aguardavam a vez de passarem pelo banco dos réus. Dada a importância, o julgamento estava sendo conduzido em sistema de “Rito dos Cinco”, assim como anteriormente havia sido o de Draco Malfoy, que culminou na revelação da identidade de “Mantis” (*Ler “Harry Potter e o Círculo Sombrio”, Capítulos 20, 21 e 22*). Arthur Weasley dizia, com orgulho, que aquele seria seu último ato à frente do Ministério da Magia e queria desempenhá-lo o melhor possível.

O Grande Anfiteatro do Ministério da Magia estava lotado, pois toda a Bruxidade e o mundo trouxa esperavam pelo desfecho. Pontualmente, Arthur Weasley abriu os trabalhos daquele dia.

—Com a Excelsa Corte toda reunida, declaro abertos os trabalhos de hoje, referentes ao julgamento da cúpula do Círculo Sombrio. Embora o julgamento pudesse ter ficado a cargo da Corte Internacional, em Haia, devido à abrangência dos crimes do Círculo, que atingiram tanto a Bruxidade quanto nossos irmãos trouxas, eles abriram mão do privilégio, somente enviando representantes para atuarem como observadores e assim garantir a lisura do processo. _ disse Arthur Weasley, marcando suas palavras com um golpe de malhete.

A assistência ocupava todos os assentos do Grande Anfiteatro, que havia sido protegido com bloqueios de Aparatação e contra Chaves de Portal. Os crimes do Círculo Sombrio eram tão hediondos, que nenhum advogado aceitou a causa de defender a organização, tendo sido necessário que um advogado dativo fosse designado como Defensor, embora fosse uma causa perdida. O julgamento tão somente estava servindo para tornar público o veredito e estabelecer as sentenças.

—A sessão de hoje tem o objetivo de concluir o processo de julgamento dos membros da organização denominada Círculo Sombrio, que tem cometido crimes contra a Bruxidade e o mundo trouxa, ainda nos tempos de Lord Voldemort, assumindo todas as ações nefastas após a morte do Mestre das Serpentes, tornando-se a Nova Ordem das Trevas. _ disse Arthur _ Todos os membros já foram julgados e condenados, de acordo com a gravidade dos delitos cometidos, inclusive o Conselho dos Sete. Hoje, finalizando, serão julgados os líderes do Círculo Sombrio, “Sombra” e “Escuridão”. Vocês têm algo a declarar?

—Sim, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. _ disse “Escuridão” _ Eu e “Sombra” deliberamos e resolvemos, de comum acordo, abrir mão da assistência do Respeitável Sr. Defensor que nos foi designado, assumindo nossa própria defesa, se a Excelsa Corte assim o autorizar.

Após Arthur, os juízes e o Corpo de Jurados deliberarem, chegaram a um consenso.

—A Excelsa Corte, após deliberar, concluiu por autorizar que “Sombra” e “Escuridão” assumam sua própria defesa. _ anunciou Arthur.

Murmúrios percorreram toda a assistência. Aquilo era totalmente inusitado, acusados abrirem mão da Defensoria a eles oferecida. O que os perigosos bandidos bruxos estariam planejando?

—Isto estabelecido, poderemos prosseguir. A fim de cumprir o protocolo, devo perguntar a vocês, antes das inquirições da Acusação e da Defesa: Como se declaram? Culpados ou inocentes?

Olhando firmemente para Arthur Weasley, os líderes do Círculo Sombrio declararam, cada um por sua vez, como se consideravam.

—Culpada, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. _ declarou “Sombra”.

Entre surpreso e intrigado com a declaração de “Sombra”, “Escuridão” fez a sua própria.

—Inocente, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. _ disse “Escuridão”, enquanto os murmúrios da assistência aumentavam de volume, obrigando Arthur Weasley a dar vários golpes de malhete, a fim de restabelecer a ordem no Grande Anfiteatro.

—Ordem no Tribunal! _ exclamou Arthur, enquanto novamente se fazia silêncio _ O senhor se declara inocente, “Escuridão”. Pode nos dizer em que parâmetros o senhor se baseia para fundamentar tal afirmação?

—Com satisfação, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. Posso começar pedindo desculpas, mas vou me referir a mim na terceira pessoa. Todos sabem que, no decorrer da História, vários líderes ao redor do mundo se utilizaram de uma série de artifícios para garantir sua segurança, quer fossem bruxos ou trouxas, bons ou maus, partidários da Luz ou das Trevas, como o Daimyo retratado em “Kagemusha, a Sombra do Samurai”, além de Hitler, Churchill e de diversos líderes da antiga URSS. Obviamente, “Escuridão” não foi exceção. Como já não é segredo, “Escuridão” alterou o seu verdadeiro rosto através de uma Reformatação Facial Mágica, matando o cirurgião logo depois. Mas o que não é do conhecimento de ninguém, nem mesmo de “Sombra”, é que ele não foi o único. Outros três bruxos também se submeteram ao procedimento, sendo esta mais uma razão para que o cirurgião fosse morto, a fim de manter o segredo.

—A senhora tinha conhecimento desse fato, “Sombra”? _ perguntou Arthur para a co-líder do Círculo Sombrio.

—Não tinha, até dois dias antes do início do julgamento do Círculo Sombrio, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. _ respondeu “Sombra”.

Foi a vez de “Escuridão” fazer cara de surpresa. Como é que “Sombra” poderia ter conhecimento de algo que ele jamais revelara a ninguém?

—E como a senhora tomou conhecimento desses fatos? _ perguntou Arthur Weasley.

—Tomei conhecimento disso graças a Harry Potter e Draco Malfoy, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. _ disse “Sombra”.

“Escuridão” continuou seu relato.

—Respondendo então à sua pergunta, Respeitabilíssimo Ministro Weasley, a minha declaração de inocência fundamenta-se na tese de que, havendo a possibilidade de que eu seja um desses três sósias, o julgamento é passível de anulação devido à grande probabilidade de erro de identidade, ou seja, a Excelsa Corte poderá estar julgando outro que não “Escuridão”. Portanto solicito a anulação do julgamento, a fim de evitar que a Excelsa Corte possa incorrer em um erro imperdoável.

Novamente os murmúrios, cada vez mais altos, obrigaram Arthur Weasley a impor ordem no Grande Anfiteatro recorrendo à campainha, pois os golpes de malhete já não eram suficientes.

—Ordem no Tribunal! _ exclamou Arthur _ Realmente, “Escuridão”, o julgamento poderia ser anulado, se houvesse a chance de erro de identidade. Porém essa possibilidade já foi prevista e contornada. Sr. Harry Tiago Potter, queira vir à frente.

Saindo de onde se encontrava, Harry aproximou-se da cátedra do Ministro.

—Aqui estou, Respeitabilíssimo Ministro Weasley, como solicitado. Eu estou pronto para dirimir quaisquer dúvidas que ainda pairem sobre o caso. Sim, há a possibilidade de estarmos julgando a pessoa errada, um sósia de “Escuridão”. E, na verdade, estamos. Não é “Escuridão” quem está no banco dos réus. _ disse Harry Potter, fazendo um gesto com a mão esquerda, que tinha seu anel mágico e lacrando as portas do Grande Anfiteatro _ Pronto. Ainda que este Tribunal tenha bloqueios contra Aparatação e Chaves de Portal, o verdadeiro “Escuridão” pode tentar escapar fisicamente, pelas portas. Sim, estimada assistência, o infame criminoso “Escuridão” não está no banco dos réus, mas está neste Tribunal. Aliás, esteve na assistência desde o início dos trabalhos, embora eu só tenha confirmado sua presença quando começaram a julgar o Conselho dos Sete.

—O senhor pode confirmar tal fato, Sr. Harry Potter? _ perguntou Enoch Stanton, Assistente da Promotoria.

—Sem dúvida alguma, Respeitável Assistente da Promotoria. Como é de conhecimento daqueles que são iniciados nas disciplinas do corpo e da mente, incluindo as Artes Marciais Avançadas, todos os seres humanos possuem e muitos dominam em maior ou menor grau, a energia espiritual conhecida como “Ki”.

—E como isso serve para identificar “Escuridão”? _ perguntou Stanton.

—O Ki possui uma frequência vibracional única para cada pessoa, sem exceção. Assim, é possível identificar o sexo, a faixa etária e a índole do seu possuidor.

—E isso não pode ser adulterado? _ perguntou Stanton.

—Pode, de maneira parcial ou, mais raramente, total. _ Harry começou a explicar _ Se a pessoa tiver alguma habilidade, pode rebaixar o Ki de forma a esconder sua presença e os detalhes que citei. O problema é que, se um Feitiço Fidelius for suficientemente forte, poderá confundir a percepção do Ki, de modo a impedir sua identificação. Mas “Escuridão” está tão confiante, que seu Ki está forte o suficiente para ser percebido.

Harry fez outro gesto e uma mulher de meia-idade na assistência ficou com o corpo paralisado. Em seguida, um terceiro gesto fez com que ela levitasse de sua cadeira e pousasse suavemente em outra, que ele conjurou.

—Por que o senhor fez isso, Sr. Potter? _ perguntou o Assistente da Promotoria.

—Respeitabilíssimo Ministro Weasley, Harry Potter pode ser um bruxo famoso e respeitado, além de ser seu genro, mas o que ele acabou de fazer parece ser uma enorme insanidade! _ exclamou a mulher sentada na cadeira, pois o Feitiço Imobilizador não inibia a fala.

—Espero que o senhor tenha uma boa razão para estar fazendo isso com essa senhora, Sr. Potter. _ disse Arthur.

—Não se preocupe, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. _ disse Harry, conjurando cordas mágicas e desfazendo o Feitiço Imobilizador _ Não foram poucas as vezes nas quais provamos que as aparências enganam e esta é mais uma delas.

—Como assim? _ perguntaram Arthur e Stanton.

Ora, o Grande Anfiteatro foi protegido para este julgamento. Recebeu fortíssimos bloqueios contra feitiços de combate, Aparatação e uso de Chaves de Portal. Porém nada estava previsto contra Transfiguração Pessoal Completa ou Poção Polissuco. Afinal, por que alguém iria assistir aos trabalhos disfarçado sob outra aparência, já que não conseguiria praticar nenhum atentado ou qualquer outra coisa de tipo equivalente? A não ser que tivesse outra finalidade em mente.

—E qual seria essa finalidade? _ perguntou Arthur.

—Confirmar que seu dublê seria julgado, condenado e sentenciado em seu lugar, por seus crimes. _ disse Harry.

—Pode provar isso? _ perguntou Stanton.

—Não só posso, como o farei com o maior prazer. _ disse Harry, olhando fixamente para a mulher _ O Feitiço de Transfiguração Pessoal Completa foi reforçado com Magia Negra suplementar, tirada das páginas do lendário Necronomicon. Mas eu já estava, desde o início do julgamento do Conselho dos Sete, trabalhando para neutralizar essa magia e agora só precisarei dizer... “REVERTERE AD FORMA TUA!”

No instante seguinte, já não era mais a senhora de meia-idade que estava sentada na cadeira. Em seu lugar, havia um homem com rosto oriental, cabelos totalmente raspados e que fitava a assistência com uma expressão de fúria mal contida nos seus olhos amendoados, verdes, magnéticos e perversos.

—Confesso que esse vestido não lhe fica bem. Creio que ficaria melhor com outra coisa. “INDUMENTARIA CAMBIO!” _ o vestido foi substituído por uma túnica chinesa de brocado e a cabeça recebeu um chapéu Mandarim com botão e penacho _ Excelente, agora o traje lhe faz justiça.

Diante de toda a assistência, havia dois e não somente um “Escuridão”. Um no banco dos réus e outro na cadeira, amarrado com as cordas mágicas conjuradas por Harry Potter.

—Qual deles é o verdadeiro? _ perguntou Arthur _ Ou os dois são falsos?

—Este na cadeira é o verdadeiro, Respeitabilíssimo Ministro Weasley. Posso garantir que é, principalmente pelo Ki. _ disse Harry.

—Mas os relatórios, todos eles, afirmavam que “Escuridão” mantém sua real identidade oculta sob um fortíssimo Feitiço Fidelius, sendo ele mesmo o Fiel do Segredo. Sendo assim, ele nunca o revelaria.

—Não, ele jamais o faria. _ disse Harry _ Pelo menos não voluntariamente ou de forma consciente. Mas, de acordo com as informações colhidas, foi o que aconteceu.

—Como isso é possível? _ perguntou Arthur _ Se ele o fizesse, o Feitiço Fidelius seria automaticamente desfeito e todos teriam conhecimento de sua real identidade. A não ser que ele o tenha revelado a alguém e logo em seguida...

—Obliviado essa pessoa. _ disse Harry _ E nós tivemos a informação de quem foi essa pessoa. Solicito ao senhor, Respeitabilíssimo Ministro Weasley, a permissão para que o Respeitável Assistente da Promotoria convoque, para prestar declarações, o Sr. Draco Black Malfoy.

“Escuridão” começou a ficar preocupado, embora não o demonstrasse. Será que Draco havia conseguido romper a Obliviação? E se o conseguira, só poderia ter sido com a ajuda do maldito Testa Rachada. Mas não poderia ser.

—Autorizado, Sr, Potter. _ disse Arthur _ Respeitável Assistente da Promotoria, queira solicitar que o Sr. Malfoy venha nos esclarecer quanto ao seu papel nesses acontecimentos.

Draco ocupou seu lugar e prestou juramento.

—Diante de Deus, diante dos homens e em nome de Merlin, juro e prometo dizer a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade sobre o que me for perguntado. Se eu não o fizer, que recaiam sobre mim as penas da Lei.

—Sr. Malfoy, o senhor pode nos dizer qual dos dois é o verdadeiro “Escuridão”? _ perguntou Stanton.

—Sim, Respeitável Assistente da Promotoria. É aquele que está sentado na cadeira, manietado pelas cordas que Harry Potter conjurou.

—Como pode afirmar?

—Da mesma forma que Harry Potter afirmou. Através da frequência vibracional do Ki. _ disse Draco.

—Mas a identidade de “Escuridão” está protegida por um Feitiço Fidelius, sendo ele o Fiel do Segredo.

—Ele o revelou a mim, me obliviando logo em seguida. Assim seu segredo se manteve, até que Harry Potter utilizou um elo de Legilimência Profunda, com técnicas de extração de informações do subconsciente, contidas nas páginas de um dos volumes do Necronomicon (“Acho que ferrou, mas talvez não. Até onde eu saiba, eles não têm o que é necessário para me expor”, pensou “Escuridão”).

—E o que foi que lhe deu a certeza de que “Escuridão” havia manipulado sua mente? _ perguntou Stanton.

—Não “o que”, mas “quem”. _ disse Draco _ Uma informante infiltrada no Círculo, conhecida pelo codinome “π” Além disso, “Escuridão” tentou manipular minha mente uma segunda vez, sem saber que eu apenas fingi estar sob seu domínio. Daquela vez, a Srta. Svetlana Dolohov me avisou, sem saber que eu estava atuando. E, por último, a própria “Sombra”, já que nós a escondemos para que assassinos do Círculo ainda não capturados a matassem antes do julgamento.

—Devo protestar quanto a isso, Respeitável Assistente da Promotoria. Posto que estou assumindo minha própria defesa, tenho o direito de questionar a validade das informações prestadas por dois elementos do Círculo Sombrio e uma informante misteriosa. _ manifestou-se um dos “Escuridão” e o outro concordou.

—Devo admitir que o protesto tem certo fundamento, Sr. Malfoy. Não há total confiabilidade. _ disse Stanton.

—Então cabe a mim confirmar a idoneidade e a confiabilidade das declarações das pessoas citadas. _ disse Draco _ Primeiramente “π”. Ela já era informante há tempos, trabalhava com Anastasia Artamonov, Auror infiltrada que foi descoberta e morta por Nikolas Pieterzoon, o “Mantis”, que colaborou para me incriminar há alguns anos. Depois passou a fornecer as informações para Harry Potter, sempre corretas e precisas.

—E quanto a Svetlana Dolohov?

—Svetlana Dolohov era Primeiro-Imediato do petroleiro “Galactic”, na verdade uma base de operações e doca de submarinos flutuante, com capacidade de Aparatação. Ela mudou de lado após constatar a crueldade e a insanidade de “Escuridão”, quando ele sacrificou friamente o submarino “Leviathan”, com toda a sua tripulação, tendo sido uma das artífices do plano que resultou na invasão da base do Círculo Sombrio no Ártico, a “Cidadela de Bóreas”.

—O senhor disse que também confiava na colaboração de “Sombra”. E por quê?

—Confio na colaboração de “Sombra” por três motivos. Primeiro porque “Escuridão” colocou a cabeça dela a prêmio, caso ela fornecesse informações, o que ela fez e todas se revelaram verdadeiras, coincidindo com as de “π”. Segundo porque somente uma pessoa que desejasse sinceramente colaborar solicitaria voluntariamente a realização de um Voto Perpétuo, jurando dizer toda a verdade e prestar todas as informações possíveis. E o terceiro motivo é que as informações de “Sombra” coincidiam inteiramente com as de “π” porque “Sombra” e “π” são a mesma pessoa.

O “Oooh” da assistência foi geral. Tanto o “Escuridão” ao lado de “Sombra” quanto o que estava manietado na cadeira ficaram de queixo caído.

—Algo mais a declarar, Sr. Malfoy? _ perguntou Stanton.

—Sim, Respeitável Assistente da Promotoria. _ disse Draco _ Além de tudo o que eu disse, tenho a declarar que eu e Harry Potter temos como revelar ao mundo inteiro a verdadeira aparência de “Escuridão”, aquela que ele tinha antes de realizar a Reformatação Facial Mágica, que não permite revelá-la somente com o encerramento de um Feitiço de Transfiguração. É necessário grande poder mágico e também o uso de conhecimentos contidos no Necronomicon e ainda o de um instrumento que, graças às informações obtidas e à habilidade de Harry, está em nossa posse.

“Escuridão” começou a transpirar incomodamente. Aquilo parecia que não ia terminar bem. Então, Arthur Weasley fez uso da palavra.

—Se vocês possuem os meios para que se esclareça um dos maiores mistérios dos últimos anos, estejam à vontade para empregá-los. _ disse ele _ Afinal de contas, a principal finalidade aqui é obtermos a verdade. Com base nela é que se chega ao veredito e à sentença.

—Então estou trazendo os instrumentos. _ disse Harry _ Eles estão na sala ao lado e responderão todos os nossos questionamentos.

Harry Potter saiu e, em seguida, retornou trazendo três objetos cobertos por mantos de veludo (“Agora a poção desandou e o caldeirão entornou de uma vez. Não tenho mais saída e só me resta aceitar o que vier”, pensou “Escuridão”).

—Respeitabilíssimo Ministro Weasley, Respeitável Assistente da Promotoria, Meritíssimo Colegiado de Juízes, Respeitável Corpo de Jurados, temos aqui os instrumentos para que a verdadeira identidade de “Escuridão” seja conhecida por todos. Este é um tríptico de espelhos, formado pelo “Espelho de Ojesed”, o qual já esteve em Hogwarts, no meu tempo de aluno, pelo “Espelho de Odem” e pelo “Espelho de Edadilaer”. _ disse Harry, começando a descerrar os espelhos _ Isoladamente, eles mostram o que a pessoa mais deseja, o que ela mais teme e a realidade, por mais cruel que seja. Juntos, eles concentram o poder de, com os feitiços corretos, fazer com que qualquer disfarce caia por terra e restabelecer a real aparência de algo ou de alguém, não importando o feitiço que tenha sido utilizado para o disfarce.

Com os espelhos descerrados, Harry e Draco os posicionaram na forma de um triângulo, com as faces espelhadas voltadas para dentro. “Escuridão” foi colocado dentro desse conjunto e Harry deu início ao ritual, de acordo com o que constava da página 92 do volume do Necronomicon.

— “لا يمكن أن يقاوم حجاب التنكر ، مهما كان سميكًا ، نور الحقيقة. وبفضل قوة رغبتنا ، يمكننا أن نواجه ما نخشاه أكثر من ذلك ، وكل ما سيبقى هو الواقع الذي ، على الرغم من أنه قد يبدو قاسياً وقاسياً ، سيكون دائمًا أفضل من الوهم ، عاجلاً أم آجلاً في وقت لاحق ، سيكون مصيرها التراجع. قد تأتي الرغبة والخوف في التوازن والواقع يسودان. فليكن (la ymkn 'an yuqawim hijab altankur , mahmaan kan smykana , nur alhaqiqa. wabifadl quat raghbatina , ymknna 'an nuajih ma nakhshah 'akthar min dhlk , wakul ma sayabqaa hu alwaqie aldhy , ela alrghm mn 'anah qad ybdw qasyaan wqasyaan , sayakun daymana 'afdal min alwahm , eajlaan 'am ajlaan fi waqt lahiq , sayakun masiriha altarajue. qad tati alraghbat walkhawf fi altawazun walwaqie yasudani. filykn. O véu de um disfarce, por mais espesso que seja, não pode resistir à luz da Verdade. Que, com o poder do nosso desejo, possamos enfrentar aquilo que mais tememos e então tudo o que restará será a Realidade que, por mais dura e cruel que possa parecer, será sempre muitas vezes melhor do que a ilusão que, mais cedo ou mais tarde, estará fadada a se desfazer. Que o Desejo e o Medo entrem em equilíbrio e que a Realidade prevaleça. Que assim seja)”.

Após o feitiço em Árabe proferido por Harry Potter, o tríptico de espelhos foi aberto e, para o espanto geral, transmitido para todo o mundo pela WBC e por todas as emissoras trouxas que estiveram cobrindo o julgamento do Círculo Sombrio, desde o seu início até aquele momento, foi revelada a verdadeira face de “Escuridão”.

Ele vestia a túnica de brocado e tinha os cabelos raspados, mas apesar das marcas da idade, era inconfundível o rosto que as câmeras tinham em foco e expunham para todas as partes do globo.

Era o rosto de Lucius Abraxas DeGiscard Malfoy.