Ótimo. Agora eu estava cercada pelos carreiristas, e junto a eles, Perk. A pessoa na qual eu pensava que fosse meu amigo, aliás, o meu único amigo, tirando Ethan. Aquele que eu, por um momento, pensei que me protegeria durantes os Jogos.

Ou morrer ou fugir. Essas eram as minhas únicas opções. Se eu atacasse um, eu morreria nas mãos de outro. Se eu fugisse um deles jogaria um lança, ou uma faca, ou qualquer coisa que me matasse a longa distância.

Delly tinha uma espada meio curva no meio, e uma ponta muito afiada. Glossy tinha três facas em cada mão. Wide tinha um arco e uma aljava cheia de flechas. E Perk, tinha a maior lança que eu já vi. Eu não tinha escolha. Resolvi acabar logo com isso e ajudar algum deles a vencer. Não queria vencer mesmo. De que adianta vencer e sair da arena e sentir-se cupada pela morte de 23 crianças? De que adianta ficar com um peso na consciência para o resto da vida?

-Tudo bem – eu disse saindo da posição de ataque e me deixando ereta, e estiquei os braços, como se fosse abraça-los – podem começar.

-Calma aí, apressadinha – disse Glossy rindo – sua morte vai ser lenta e dolorosa.

-Não se preocupe – completou Wide.

Perk e Delly riram. Perk ria como se eles tivessem ouvido a melhor piada do mundo. Imaginei que minha cara estivesse como a de uma tonta. Voltei a ficar séria e fechei os olhos.

-Estou pronta – eu disse respirando profundamente.

-Ótimo – disse Delly.

De repente senti algo quente respingar em mim. Passei os dedos no meu rosto e percebi. Era sangue. Abri os olhos e no mesmo momento, ouvi um canhão e vi Glossy morta no chão. Virei os olhos e encontrei Perk com sua lança suja de sangue.

-Como pôde? – gritou Wide – você vai pagar caro!

Wide lançou uma flecha na direção de Perk. O mesmo desviou a flecha com um só movimento. Percebi que Perk queria me proteger. Queria que eu vivesse. Lancei uma faca nas costas de Wide. Ele caiu de bruços no chão. Delly, a única carreirista viva na arena, rentou passar sua espada em mim, mas eu desviei. Perk enfiou a lança na barriga dela. Delly cuspiu sangue em mim e caiu morta do meu lado.

Perk respirava ofegante. Eu ele estávamos sujos de sangue. Não questionei e sorri para ele. Perk me protegeu dos carreiristas quando eu mais precisava de ajuda. Corri em sua direção e o abracei. Perk era mais alto que eu então, minha cabeça encostava apenas até o seu ombro.

Ele afagou meus cabelos, como meu pai fazia quando eu era criança. Senti meu rosto ficar úmido por causa das lágrimas. Agora meu coração se partira em pedaços. Precisava voltar para casa.

-Perk eu... – eu comecei, mas ele acariciou meu rosto de um modo tão afetivo, que não deu para continuar. - me desculpe por...

-Por nada, Mackenzie. Por nada. – ele sorriu para mim.

-Mas restam apenas quatro de nós. E quando...

-Isso não vai acontecer – Perk disse calmo, porém triste.

Sentamos-nos embaixo da árvore e ficamos comendo algumas frutas que Perk tinha na mochila. Logo, os Idealizadores nos chamariam para a cornucópia, mas não precisávamos de nada. Tínhamos água e comida, e nenhuma ferida. Mas alguma coisa aconteceria a qualquer momento. E ainda havia Shine. A maluca que decepou uma garota de 13 anos diante dos meu olhos.

-Você viu Shine depois que... Você sabe, nos separamos? – perguntei a Perk.

-Sim – ele respondeu – tentei conversar com ela.

Eu estava andando e a vi correndo em minha direção. Eu gritei:

-Espere, Shine! Sou eu, Perk, do distrito 8.

Ela parou de correr e virou os olhos para mim. Sua mão armada deixou o machado cair no chão.

-Perk?

De repente, seu rosto parecia inocente e bondoso. Ela me olhava confusa, porém sorria. Seu rosto demonstrava fraqueza e parecia que a sua memória estava toda embaralhada.

-Onde está Clever? – ela perguntou inocentemente. Olhou para seu braço amputado e olhou com a boca semiaberta para mim- O que aconteceu com o meu braço?

-Você o amputou. E quanto a Clever... Sinto muito.

Eu tentei acalmá-la e consola-lá, mas nada adiantava. Sua mente estava confusa, e ela me contou que jamais gostaria de matar crianças, e que se arrependia por isso. Que se sentia culpada por tudo que aconteceu com aquelas crianças. Me contou que matou a garota do 7, com um machado, e que matou o menino do 6, lançando um pedaço de madeira, ou algo do tipo. Me contou que viu você, escondida na mata, mas que por algum motivo, não quis matá-la.

“Depois disso, ela saiu correndo pela floresta e foi aí, que encontrei os carreiristas.”

Perk estava com os olhos inchados e seu rosto estava quente.

-Calma! você vai ficar bem – tentei consolar

-Nada fica bem na arena, Mackenzie. Nada dura para sempre, nem as pessoas mais fortes.

Ele se referia a Shine ou a mim? Eu nem era forte. E se ele pensasse que eu venceria os Jogos? A única coisa que eu queria agora era dormir e descansar, mas meus pensamentos não me deixavam em paz. Não queria vencer esses Jogos. Simplesmente não queria. Mas precisava. Eu estava na arena com três pessoas na arena, as quais eu nunca tive coragem, ou pensei em matar. Percebi o quanto Shine se sentia culpada, e que ela também não queria me matar. Connor foi meu amigo nas horas difíceis e me ensinou como sobreviver.

Perk me ensinou que as pessoas, mesmo sendo solitárias e perturbadas, podem superar os maiores problemas. Se eu vencesse, só meu corpo sobreviveria, pois minha alma estaria morta. Encontrei as melhores pessoas na arena, e agora deveria mata-las, por culpa da Capital. Obrigava crianças a se matar, e vitoriosos a sofrer. Era isso que queriam.

Resolvi, que sendo a pessoa que restaria comigo, cometeria suicídio, só para provocar a Capital. Se eles queriam audiência, o que um suicídio não causaria?

Me acomodei em seu peito e dormi, finalmente.