Um barulho esquisito me acordou. Connor estava acordado, montando algumas armadilhas no chão.

-Bom dia – ele disse.

Aquilo me pareceu um pouco irônico no momento. Eu não tivera um bom dia desde que chegara a arena. E não dava para ter um bom dia na arena.

-Para que vamos precisar de armadilhas?  Perguntei apontando para a armadilha que ele arrumava.

-Para matar animais – ele respondeu. Franziu o cenho um pouco pensativo – E tributos

Fiquei sentada na árvore, até ele me chamar para ajudar. Desci lentamente e o ajudei a dar um nó na corda.

Dizia graças a Deus por ficar um tempo na área de armadilhas durante os treinamentos. Enquanto eu me confundia com os nós, Connor parecia um furacão arrumando as que eu errara.

Depois de várias horas de trabalho, Connor e eu íamos comer um pouco, mas nosso estoque de comida estava quase vazio. Havia apenas um pedaço de carne. Repartimos a carne e arrumamos nossas coisas.

-Vou buscar comida – Avisou Connor – E você?

-Acho que vou...

-Procurar Perk? Tudo bem. - Connor me interrompeu adivinhando. E se aproximou de mim – Tome. Fique com o arco e com a flecha.

-E como você vai caçar?

-Lança.

Assenti e tomei um rumo diferente do dele. Subi em árvores para tentar me localizar, ou achar algum sinal de Perk, mas nada. Apenas animais e pássaros. Mantinha a flecha preparada no arco, e aljava a meu alcance.

 Andei por um tempo até chegar a um lugar diferente. Tinha grama alta e não havia árvore alguma ao redor, até perceber um ruído. Ouvi soluços de choro sendo afundados no tiro de canhão. Me encostei na árvore o mais perto possível para conseguir ouvir.

A garotinha do 7, de mais ou menos 13 anos, estava ajoelhada no meio do gramado. Percebi que havia uma coisa preta a sua frente: O corpo do garoto do 6, que tinha também, mais ou menos 13 anos. Consegui ouvi-la murmurar:

-Oh, Vamos!... Vamos viva! – ela fazia uma massagem cardíaca no menino, com as duas mãos – Respire! Não me deixe... - a garota começou a chorar calmamente enquanto tentava ouvir a respiração do amigo – Não se vá! Nós vamos... Nós vamos... – ela fez cara de choro e soluçou – Vamos... – Voltou a fazer massagem cardíaca, sem muita força. Olhou para as mãos ensanguentadas e enfiou a cabeça nas mãos – Nós vamos para casa! – Olhou para os lados assustada e voltou a chorar – Eu odeio isso... Quero ir para casa. – seus murmúrios de repente se acabaram quando ouviu folhas se mexendo – Eu... Quero... Ir ... Para... Casa...

Shine apareceu com seu machado sujo na mão, correndo em direção à menina. A garota fechou os olhos e esperou até Shine a alcançar e decepá-la. Ouvi o canhão. Restavam menos de oito pessoas, e com Shine matando as pessoas, seria difícil os Idealizadores tentarem nos aproximar.

A pequena garota do 7 morreu na minha frente, com a cabeça decepada. O garoto do 6, que eu não sabia como morreu, também me deixou com um nó na garganta. E se eu vencesse? Seria uma pessoa solitária e triste?

Esperei até que Shine saísse do meu campo de visãoe voltasse para a floresta. Minha respiração estava pesada, e o meu coração batia rapidamente.

-Connor! – comecei a gritar – Connor!-  Ele estava no nosso ponto de encontro, com alguns esquilos presos no seu cinto pela cauda – Connor!

Eu o abracei o mais forte que pude até não ter mais forças.

-Onde você estava Mackenzie?

-E- eu...

Voltei a abraçá-lo. Logo um de nós morreria, e eu não tinha certeza de quem iria morrer primeiro. Provavelmente eu.

-Shine- contei me sentando ao seu lado – Shine matou a garotinha do 7... E o garoto do 6.

-Isso é... Isso é – Connor gaguejou confuso – Quer dizer que restam apenas sete. E logo...

-Escuta – eu o interrompi – Não quero falar sobre isso. E quanto a Perk- continuei abaixando o tom de voz-Deixe... Deixe-o de lado.

-Tudo bem – Connor concordou.

Escalamos a árvore mais próxima até o alto, e esperamos o rosto das crianças passarem. Shine ainda estava viva. Isso seria tão ruim para mim, quanto para Connor e Perk.

Resolvi que não iria mais tentar ir atrás de Perk. Ele era o meu maior problema para não vencer. Meu objetivo agora era vencer. Vencer esses Jogos. Quanto a Connor, eu o agradecia por ter me ajudado desde o começo, mas não precisava mais de sua ajuda.

De agora em diante iria me virar sozinha, sem Connor ou Perk. As alianças só iriam me atrapalhar.

-Foi bom ter você como parceiro, Connor, mas agora é a minha hora – sussurrei enquanto ele dormia.

Peguei minha mochila e desci a árvore para continuar a minha própria viagem.

Enquanto eu andava, ouvi vozes.

-Eu os vi correndo por aqui – disse uma voz familiar. Era Wide.

-Tem certeza? – perguntou Glossy.

Eu não podia perder essa oportunidade. Sai das sombras e entrei na frente dos carreiristas.

-Pode ter toda certeza- eu disse provocando-os.

-Ora, ora! A garota que matou meu parceiro de distrito – Uma pessoa saiu das sombras, entre Wide e Glossy. A voz era feminina, me parecia ser a garota do 2, a única na qual eu não sabia o nome.

-Pois sou eu sim – retruquei – algum problema?

-Acabe com ela, Delly! – exclamou Glossy do outro lado.

Delly estava com o olho inchado e roxo. Sua perna a qual antes estava ferida, agora era perfeitamente reutilizável para Delly.

- O quê...?

-Seu amiguinho Perk. – respondeu Delly, sem me deixar responder.

Perk batera em um carreirista? Bom, comparando a mim, que matou um, não era tanta coisa, mas ele conseguiu se aproximar deles. Eu apenas atirei uma flecha a longa distância.

-Onde ele está? – gritei com todas as minhas forças.

Percebi que Delly tinha a outra mão ainda escondida nas sombras e parecia segurar algo.

-Aqui – ela respondeu friamente e deu um sorriso maldoso – apresento a você, nosso novo aliado.

Ótimo! Agora eu estava cercada por um bando de carreiristas que morriam de vontade de me matar, e tinham alguém ou algo escondido nas sombras que, com toda certeza, faria mal para mim.

Eu estava certa.Delly tirou a mão das sombras, e segurava Perk pelo braço esquerdo, enquanto os outros carreiristas riam junto com ela e Perk, o seu novo aliado.