Eu simplesmente não podia acreditar naquilo. Eu, Perseu Bullivard, um mero pescador, ganhei os Jogos Vorazes. Eu dei um pequeno sorriso de um idiota, porque eu simplesmente não sabia o que fazer, eu estava sem reação. Não sei se todos são assim, mas eu estava. Simplesmente não podia acreditar, e eu não sei quantas vezes eu já falei “simplesmente” por agora.

Sentei na grama lá, e soltei a espada, com as mãos trêmulas. Olhava para os lados, onde só dava para ver as árvores. Eu realmente pensei se eu estava num sonho bem longo, mas percebi que não era isso após um pequeno beliscão em mim mesmo. Eu estava... Sem reação, com já falei anteriormente, estava sem saber o que fazer, estava com fome, estava exausto, estava com sede. Tudo aquilo que eu sentia me fazia realmente ter noção de que aquilo era o mundo real, eu morava num distrito, eu fui selecionado para os Jogos, eu vi meus melhores amigos sendo mortos, eu matei pessoas, eu ganhei os Jogos, e agora eu estava voltando para casa. Olhei para o aerodeslizador chegando, e algumas pessoas vieram pegar os corpos dos mortos ali, e evitei ao máximo olhar para Zoey, e foram me buscar também para me levarem, eu acho, para a sala de tratados.

Sentei numa cadeira, e eles me deram uma bebida azul. Eles disseram que fariam bem para mim, então eu tomei.

Dormi.

Eu acordo numa sala completamente branca, onde percebo que era uma enfermaria. Eu usava uma roupa branca, e ao lado da minha cama forrada de lençóis brancos, estavam minhas roupas que eu usei no começo dos Jogos. Todas lavadas e cheirosas. Olhei ao redor novamente, e fico sentado na cama, olho para meu corpo, e vejo ataduras aqui e ali, e eu estava cheiroso, até minha boca estava com um bom hálito. Eles cuidaram completamente de mim, e eu me sentia renovado, como se fosse só mais algum dia normal, eu acordando e indo fazer minhas coisas. Mas eu ainda estava na Capital, disso eu tinha certeza. Ouço passos, vindo na minha direção e abrindo a porta da enfermaria, e lá estava Dante. Quando eu pensei em falar com ele, o meu mentor estava com uma cara melancólica e triste, mas ao mesmo tempo com um olhar orgulhoso. Me perguntei mentalmente o que tinha acontecido, até que ele fala:

-Já sei o que pensa. Antes de tudo, meus sinceros, verdadeiros, reais parabéns. – ele veio e me cumprimentou fortemente, mas logo me deu um abraço, e aí que eu percebi o que estava de errado. – Zoey... Sinto muito por ela, eu sinto muito, Perseu.

Até que eu me lembrei. Zoey morrera. Uma lágrima caiu de meus olhos, e outra quando pensei em Trevor, e me dei conta, novamente, de que tudo aquilo ali era completamente real.

-Não foi sua culpa, Dante, não foi. A culpa foi minha. Eu jurei protegê-la, mas não... – parei, porque não agüentava falar, mas forcei – mas não consegui. Ela deveria ganhar os Jogos.

-Não foi culpa minha, nem sua. Você cumpriu sua promessa, Perseu. Uma promessa sempre acaba. Se eu prometo que você vai segurar uma espada uma vez na vida, você vai, e pronto. A promessa acabou. Você a cumpriu. E no caso de Zoey, você a protegeu até o final. A promessa acabou na hora em que ela mor... Na hora em que ela se foi.

De algum modo, Dante conseguia fazer as palavras soarem confortáveis, e me acalmei, mas, óbvio, ainda triste. Ele então olha para mim no fundo dos meus olhos e diz:

-Agora, vá para o apartamento, você vai descansar, e de noite você vai na entrevista com o Caesar.

De novo?! Ah não. Ah não. Ah não.

-Ah sim. – Dante falou. Parecia que ele lia minha mente. – Não, eu não leio sua mente, mas seu rosto consegue expressar tudo.

COMO?! Ah, deixei isso de lado e assenti para ele. Levanto da cama, me espreguiço um pouco, e vamos andando até o andar de número 4. Foi o mesmo prédio onde eu e Zoey ficamos antes de irmos aos Jogos. Eu não tinha noção do tempo, mas qualquer que fosse, eu não estava com fome, então, a primeira coisa que eu fiz quando cheguei no apartamento foi bolar na cama para um sono, sem uma bebida que te faz dormir por um tempo indeterminado e te faz acordar num local completamente branco.

E dessa vez, eu não sonhei. Ainda bem.

Assim que acordo, eu percebo que eu estava completamente ensopado, e vi que eu não ligara o ar condicionado. Ele sempre estava ligado, mas dessa vez não. Ignorei o fato e fui tomar um banho. Pego uma toalha no guarda roupa, e vou para a banheira num banho altamente relaxante.

Depois de um tempo, eu saio do banheiro e vejo que uma roupa está na minha cama, e lembro que eu teria uma entrevista com o homem de cabelo azul. A roupa era o mesmo terno que eu usei quando eu me entrevistei com ele na primeira vez. Dei um sorriso e comecei a me vestir, até que fiquei pronto. Saio do meu quarto, percebendo que seria a última vez que eu o veria, e finalmente saí. Dante estava também arrumado, e Juvia também. Quando ela me viu, ela pulou de alegria e veio me abraçar.

-EU FIQUEI TÃO FELIZ QUANDO VI QUE VOCÊ GANHOU! Mas triste por Zoey. MAS MUITO FELIZ QUANDO VI QUE VOCÊ ERA O VENCEDOR. AHHHHHHHHHHH! – Nossa, ela estava bem agitada. Dei um sorriso e disse:

-Obrigado, eu acho...

Ela então voltou para a mesa e começou a comer. Eu estava com fome, e fui também. Comi, como sempre, de tudo um pouco. Arroz, carne, peixe, franco, purê, macarrão, salada, sucos... Diversas coisas.

O tempo passou bem rápido, e eu ouvi Dante falando:

-Perseu, vamos! Você vai para a entrevista agora. Já são seis da noite.

Levantei calmamente do sofá e fui em direção a porta. Eu, Dante e Juvia, descemos os andares e paramos em frente ao mesmo carro que me levou para a entrevista pela primeira vez, novamente. Entro no carro, Dante na frente, eu e Juvia atrás. Ficamos calado até chegarmos no estúdio dele, onde eu passe por uns corredores, uns andares, até que eu parei no camarim bem perto do palco do Caesar. Fiquei comendo alguns petiscos aqui e ali para me distrair, até que eu escuto o som do Caesar me chamando:

-Agora, todos sabemos que os Jogos Vorazes acabaram, não é? E para todos que achavam que o vencedor ia embora e ficar feliz para sempre, na-na-ni-na-não! EU AGORA CHAMO O VENCEDOR DESTA EDIÇÃO DOS JOGOS VORAZES, DISTRITO 4, PERSEU... BULLIVAAAAAAAAAAAARD!

Ouço aplausos. Rapidamente saio do camarim e vou em direção ao palco dele, e quando eu vejo a platéia, eu me assusto mais ainda, tinha muito mais gente do que antes. Antes de eu me sentar, Caesar me cumprimenta fortemente, e levanta minha mão.

-PERSEU BULLIVARD, PESSOAL! ISSO, HA-HA! – Ele estava mais louco do que antes, eu tinha certeza disso. E a entrevista estava para começar.