Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 22
Não é assim tão simples


Notas iniciais do capítulo

"There's still a little bit of your taste in my mouth
There's still a little bit of you laced with my doubt
It's still a little hard to say what's going on..."
(Cannonball, Damien Rice)



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Nina POV





Fiquei sentada na sala de espera, batendo os pés ansiosamente. A hora não passava ! Depois de uma eternidade, um médico veio me chamar. Corri para ver Ken, que estava aparentemente bem, só com uma faixa no nariz.

-- Por algum milagre ele não quebrou nada. Só que o nariz dele chegou á um triz de quebrar, então deve evitar tocar com força ou bater. Então colocamos essa faixa, que amanhã ao acordar pode tirar. – Assenti á tudo que o médico disse e ajudei Ken a se levantar da maca. Logo estávamos na ambulância de novo, que ia nos levar pra casa. Ficamos um encarando o outro e depois começamos a rir. Apesar de ele estar todo dolorido, estava achando tudo engraçado. Depois ele sentou do meu lado e começamos a conversar sobre aquela noite. Eu o agradeci por tudo e ele deu de ombros, dizendo que não foi nada. Mas era quase impossível levá-lo á sério com aquela faixa no nariz ! Eu não conseguia parar de rir. E logo ele acabou dormindo, encostado no meu ombro. Sorri o resto do caminho.







Shizuka POV






Depois de hesitar um pouco, me aproximei dele e sentei á alguns centímetros de distância. Depois de um silêncio constrangedor, resolvi quebrar o gelo.

-- Que música estava tocando ?

-- Cannonball. – Franzi o cenho e ele riu. Eu ia perguntar quem canta, mas ele começou a dedilhar os acordes iniciais e logo reconheci.

-- Ah eu sei qual é ! – Nisso ele começou a cantar e então me lembrei da letra. Corei na hora e olhei para o meu chocolate quente, tentando não me render áquela voz suave e ao mesmo tempo forte, impactante. Eu queria sair dali, mas não consegui. O ouvi cantar inteirinha, mas não consegui olhar pra ele. Olhei pro céu, pra xícara, pro matinho, pra tudo, menos pra ele. Não conseguiria encarar aqueles olhos acinzentados, não agora. Depois que acabou, eu cotinuei olhando pro chocolate. Ele ficou alguns segundos em silêncio, depois colocou o violão de lado e se deitou na grama.

-- Uma noite bonita, não é ? – Ele comentou, olhando para o céu.

-- É... eu já pensei em estudar astrologia, mas nunca fui atrás... só li algumas coisas em livros e pesquisas na internet. Eu gosto muito de estrelas.

-- Ah é ? Eu também, mas não tenho vontade de estudar. Prefiro só ver mesmo. Mas se você ensinar eu acho que posso querer... – Corei na hora. Mas acho que não tem nada de mais mostrar algumas constelações, não é ? Terminei meu chocolate e deitei na grama também. Comecei a falar sobre constelações e a mostrar algumas delas, planetas e galáxias. Ele prestava atenção á cada palavra, e nos divertimos muito com isso, porque de vez em quando ele fazia uma piada ou outra. E eu estava falando sobre algo que gostava. Quando eu não tinha mais o que dizer, ficamos em silêncio. Mas aquilo não incomodava. Era bom ficar no silêncio com ele, vendo coisas bonitas. Eu me virei pra olhar pra ele, mas ele já estava olhando pra mim. Sorri, constrangida, e procurei um assunto.

-- Então... como é a vida de roqueiro ? – Ele riu.

-- Normal, oras.

-- É sério... é como nos filmes ? A rebeldia, as loucuras...

-- Em parte sim. A das loucuras. – Eu ri. – Eu já fui extremamente louco. Não me importava com nada além de diversão... e já usei drogas e tudo mais. Já tive um monte de garotas. E eu não as tratava bem. Mas isso tudo era revolta. Por causa do meu pai ser do jeito que é... tem uma idéia de como é, não é ? – Assenti, me lembrando de quando ele me contou do pai dele. – Então conheci uma garota, Helena. – Ele engoliu em seco ao pronunciar o nome dela. – Ela me ajudou a ver a vida de outra forma. Aos poucos, eu fui percebendo que tudo aquilo não valia a pena. Ao contrários dos filmes, não é tão bom. Eu percebi que fazia música apenas por rebeldia, que era tudo vazio. Eu queria chamar a atenção do meu pai... e só.

-- O que aconteceu com ela ? – Ele ficou em silêncio, olhando para o céu. Percebi o desconforto que ele sentiu, que foi confirmado com suas palavras.

-- Desculpe, mas não quero falar disso... pelo menos não agora.

-- Ah, tudo bem... então... e seu pai, ele tem um motivo pra ser assim ? – Ele deu de o ombros.

-- Alguns traumas... na verdade, meu avô, pai dele, era Brasileiro. Viveu durante a época da ditadura e foi revolucionário, por conseqüência foi torturado, e a mulher dele também. Meu pai, na época com uns quatro anos, ficava com seus tios enquanto os pais dele eram mantido cativos... o primeiro trauma aconteceu com a morte da mãe dele. Ela morreu no choque elétrico. Meu avô sobreviveu e resolver sair do país, com medo de que usassem meu pai contra ele. E vieram para os Estados Unidos. Meu pai, que não sabia que os EUA eram a favor da ditadura, dizia ser brasileiro para os amigos da escola, e começou a sofrer preconceito. Apanhava, sofria todos os tipos de maldade. E pra completar, ele ficou com raiva do pai. Por ter sido trazido pra cá, e também porque o pai sofreu tantas torturas psicológicas, que de vez em quando tinha alguns ataques. De loucura mesmo. E isso causava vergonha ao meu pai, já adolescente. Ele cresceu revoltado e resultou no homem que é hoje. No fundo, ele é bom... mas não conseguiu superar seus fantasmas ainda, e desconta em quem mais ama. Eu e minha mãe. – Ele olhou pra mim, que estava quase chorando. Que história triste... me arrepiava só de imaginar o que os avós e pai dele passaram. Ele estendeu os braços e secou uma lágrima que escorreu sem querer.

-- É triste, não é ? E durante tanto tempo agi como um idiota, apenas piorando tudo. Sem pensar em tudo que meu pai sofreu. Mas eu sou humano e ás vezes me revolto com isso, e discutimos feio. Mas venho tentando melhorar e tentar mostrar pra ele que quero ser músico, por amor á música. Agora desconto tudo na música. Não em vícios. Eu tenho algo a dizer, e quero que as pessoas ouçam. Não quero ser apenas mais um nas paradas na Billboard, em que as pessoas vibram nos shows mas esquecem tudo o que foi dito quando saem dos portões. Eu quero que elas me ouçam, me entendam. Se lembrem de mim e que isso as torne melhores. – Eu assenti á tudo que ele disse. Concordo plenamente com cada palavra. Os músicos de hoje em dia precisam de essência, e Castiel tem isso, ele tem o que dizer, ele é incrível. Ele é apenas com um homem, ele erra, ele tem defeitos, mas quanto mais o conheço, mais impressionada fico. Mas não posso me permitir sentir nada.

-- Você vai conseguir. Acredito em você. – Sorri e ele retribuiu o sorriso.

-- Mas nesses últimos dias descobri um novo vício que ainda não consegui superar...

-- Qual ? – Arregalei os olhos, pensando em trocentas coisas ruins.

-- Feche os olhos. – Ri.

-- Ta, mas não entendi o que tem a ver com... – Minha fala foi interrompida com um beijo dele. Como sou lenta, é óbvio que era isso ! Preciso deixar de ser tão lerda. Que saudade senti do seu toque, daquele beijo que me fazia sentir como nunca me senti com ninguém. Nem Johnny, nem Nath, nem Lysandre. E eu acabei me rendendo ao momento, aproveitando cada segundo. Tudo simplesmente escapou da minha mente, toda a razão se foi. Éramos eu e ele, e aquela sensação maravilhosa de estar completa. De ir pra outro mundo, como se tudo fosse perfeito. Mas logo faltou ar e nos separamos, e nisso tudo recaiu sobre mim de uma vez. Eu estava traindo Nath, me traindo, Castiel traindo Charlotte... me levantei na hora e o encarei, o cenho franzido.

-- O que você fez ?

-- Te beijei, oras. – Ele deu um sorriso de canto, claramente tirando com a minha cara. Se ele não ficasse tão irresistível assim, juro que o mataria com a faca da cozinha.

-- Seu idiota !! Nós não temos mais nada um com o outro ! Como você ousa ! – Eu estava irritada, falando um monte de dando tapas nele, que apenas ria. E isso me deixava mais nervosa. Num ímpeto, ele segurou meus braços e ficou por cima de mim.

-- Calma...

-- Como calma ? Me solta.

-- Só se você jurar que não sente nada por mim. Olhando nos meus olhos.

-- Eu não... não... – Olhando nos olhos dele me sentia incapaz de dizer isso. Porque é mentira, ele sabe, e eu sei. Ele sorriu, vitorioso. – Castiel, alguém pode nos ver...

-- E... ?

-- E a Charlotte ?

-- Você realmente acredita que te troquei por ela ? Shizuka, ela queria me namorar em troca de um contrato com a gravadora do tio dela. Eu concordei, mas iria enrolar até gravarmos as músicas e depois terminaria tudo. E ia te contar. Mas ela me agarrou do nada e exatamente nesse segundo você viu tudo. Eu sei, errei em ter marcado bobeira. Mas você nem pra ficar pra ver a cena toda. – Realmente, no segundo seguinte que olhei já tirei conclusões e deixei de olhar.

-- Eu... – Mas agora era tarde... o Nath... – Me desculpa...

-- Nós podemos consertar isso. Vou acabar com essa história com ela amanhã, que nossa música vai ser lançada na rádio. O tio dela gostou demais do nosso som. Mesmo que ela peça, ele não vai romper o contrato.

-- Que ótimo, mas... o Nath e eu... – O empurrei pro lado e me levantei, antes que ele voltasse a me segurar com força. – Eu não quero ferir os sentimentos dele...

-- Então vai mentir pra ele ? Vai mentir pra si mesma ? – Eu não sabia o que dizer, o que pensar. Minha mente estava confusa demais, eu ia surtar. Apenas balancei a cabeça e corri para o quarto. Me sentei na cama e comecei a chorar feito doida, com raiva de mim mesma por ter feito tudo isso. Como dizer ao Nath que quero voltar com o Castiel, que tudo não passou de um mal entendido ? Eu sou uma pessoa horrível...







Meredy POV






-- Cadê a Shizuka ? – Perguntei, quando voltei da cozinha com um pacote de bolachas e olhei em volta, percebendo que ela não estava ali.

-- Foi dormir acho – Respondeu Íris. Nesse momento, ouvimos o barulho da van estacionando. Corremos abrir a porta, e o que vimos foi um monte de garotos com expressão de quem comeu e não gostou, e Hoshine mais branca do que já é, todos em silêncio.

-- O que aconteceu ? – Perguntei. Hoshi me olhou com os olhos arregalados e não respondeu nada, só subiu para o quarto. – Ela ta bem ?

-- A Nina sumiu, ela o Ken foram atrás e nessa hora tinha um cara assaltando a Nina. A Hoshi ficou morrendo de medo e está em choque até agora. E pra completar o pneu furou e tivemos que trocar no meio de uma rua deserta. Por isso demoramos – Explicou Armin. Depois disso ele subiu atrás de Hoshi, acho que tentar acalmá-la. O resto se sentou nos sofás da sala, todos cansados e cheios de olheiras.

-- Mas cadê o Ken e a Nina ?

-- O Ken apanhou e foi parar no hospital, e ela foi junto. Bom, eu vou dormir – Disse Leigh. De todos, ele era o que estava com a pior expressão. Fiquei morrendo de dó... Nath se aproximou dele e o abraçou pelo ombro. Me aproximei sutilmente para tentar ouvir o que diziam.

-- Tem tantas outras garotas bonitas, não vale a pena brigar com um amigo como Armin por causa de uma garota. Ela gosta dele, Leigh. Acredite, não vale a pena, experiência própria. – Ouvi esse trecho e minha vontade foi virar e dizer “tem mesmo muitas garotas, olha eu aqui!” Mas fiquei quieta e fingi estar concentrada nas minhas bolachas. Leigh devia estar triste por causa de Armin e Hoshine... será que é tão difícil pra ele enxergar o que nós dois podemos ser ? Olhei pra eles de novo, que estavam olhando pra mim. Perguntei o que era e Nath deu uma risadinha e respondeu que não era nada. Será que ele estava incentivando Leigh a sair comigo ? Se sim, Nath, te amo pra sempre ! Como amigo, é claro.






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Notas finais do capítulo

Gente *O* demorei de novo --' É que peguei uma inflamação nos nervos das costelas e braços, ou seja, não posso digitar ! Mas escrevi um tiquinho por dia até conseguir postar *o* espero que gostem ^^



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