- David Copperfield ? – eu indaguei olhando o livro de capa vinho em cima da sua escrivaninha.

-É...- ele respondeu se levantando e indo em direção da escrivaninha busca-lo – meu tio me deu de presente para mim semana passada. – ele finalizou pegando o livro e voltando para a cama.

-Ah eu amo essa história...é o meu.

-Livro preferido – Harry completou com um sorriso.

-Como você sabe disso? – indaguei surpresa, e ao mesmo tempo feliz.

-Esqueceu que antes de ser seu namorado sou seu melhor amigo ? – ele disse tocando de leve minha testa e eu ri. É, além de perder um namorado...irei perder o meu melhor amigo.

- E você já começou a ler? – eu perguntei pegando o livro de suas mãos, ele voltou a se deitar encostando o tronco na cabeceira e respondeu:

-Não. – ele coçou os olhos, e eu me deitei sobre seu peito e abri a primeira página do livro “Para meu sobrinho querido” estava escrito em uma caligrafia perfeita.

-Pois devia. – eu falei fingindo estar brava – é um livro e tanto. Eu simplesmente amo essa história, amo o fato de como David contorna todas as situações difíceis na vida dele...tanto a morte de sua mãe quanto as desilusões amorosas que ele sofre durante a sua vida... – eu me desembestei a falar sobre o livro – Dickens realmente conseguiu me prender a história. – falei com os meus olhos brilhando – Eu ganhei esse livro do meu avô...uma semana depois da morte de Caroll. – eu finalizei fechando o livro.

- Deve ser por isso que o meu tio comprou-o para mim. – ele disse acariciando meus cabelos – para me ajudar a passar por momentos díficies. – ele disse como se aquilo fosse natural – Ah Tess, você me deixou curioso! Lê para mim? – ele pediu fazendo biquinho e com a voz mansinha. Eu ri e acabei cedendo, peguei o livro e abri no primeiro capitulo:

“Se hei-de ser o herói da minha própria existência, ou se outrem deverá ocupar essa posição, é coisa que adiante se verá. Para começar aminha vida no seu verdadeiro início, direi que nasci (como mais tarde me explicaram, e eu acredito) numa sexta-feira à meia-noite. É curioso que o relógio principiou a badalar e eu simultaneamente desatei a chorar.” Comecei a ler o primeiro parágrafo “ Considerando o dia e hora do meu nascimento, declarou a parteira (e outras mulheres da vizinhança, que tomaram interesse por mim antes que eu chegasse à idade do entendimento) que estava, em primeiro lugar, destinado a uma vida infeliz; segundo, que seria daqueles que veem almas do outro mundo – ambos os dons inevitavelmente atribuídos, segundo criam, a todas as crianças do sexo masculino ou feminino que tiveram a pouca sorte de nascer a tais horas de uma sexta-feira” continuei lendo. Terminados capítulos 1 e 2 , Harry já não comentava mais a história subi os olhos e vi que ele estava dormindo. Feito um anjo. Sorri ao vê-lo dormir de modo tão pacífico e seguro. Sim, mesmo dormindo ele parecia radiante...é algo confuso de se explicar, por que como que uma pessoa doente consegue ser radiante, mas para Harry tudo parecia possível. Parecia que as palavras de Dickens haviam o embalado em um sono profundo e acolhedor. Me levantei procurando não acorda-lo e fechei o livro marcando página, fiquei admirando dormir e como o seu peito ia e voltava em um ritmo sonolento e preguiçoso. Sua respiração era calma. Decidi deixa-lo assim, e apenas a cena de vê-lo dormindo tão quieto e seguro, fez com que os meus medos desaparecessem. Me levantei da cama e calcei as minhas Uggs, peguei a minha bolsa que estava em cima da cadeira e antes de girar a maçaneta e sair, depositei um beijo em sua testa e coloquei o cobertor sob seu corpo magro. Cambaleie em direção a porta e girei a maçaneta dourada dando lugar ao corredor, desci as escadas e quando dei por mim estava na rua. Cruzei os braços sob meu corpo na tentativa de me aquecer. O que eu mais desejava agora era um banho quente. Apressei o passo em direção em casa. Já era 23h48 da noite e amanhã eu iria para Doncaster para passar o natal com a minha família. Cheguei na frente de casa e abri a porta, me deparei com o meu irmão sentado perto da lareira na companhia de meus pais.

-Tess querida, ainda bem que chegou! – escutei minha mãe exclamar – estava na casa de Harry? – ela perguntou e eu assenti afirmamente com a cabeça e tirei o meu casaco colocando- o no cabideiro:

- Sim. Ele acabou pegando no sono e eu voltei. – eu disse me direcionando a eles:

-Vamos amanhã de manhã! – meu pai disse sorridente – a vovó esta sentindo falta de todos nós!