-Harry para de puxar o edredom! – eu disse fingindo estar brava e ele continuava puxando o edredom de brincadeira – eu estou com frio! – falei manhosa e fazendo biquinho. Ele parou e ficou me observando, sorrindo de canto.

-Ah...assim eu não resisto ! –e ele disse rindo e colocando o cobertor sobre mim, eu ri e ele se deitou ao meu lado bem próximo de mim e ficou em silêncio me observando. Eu sorri e ele retribuiu. Eu amava quando nós ficávamos assim... apenas observando um ao outro. Ele se inclinou mais e me beijou. Toda essa situação me fazia refletir...quem sabe essa segunda chance que eu recebi...era para salvar Harry? Poderia ser algo assim...quer dizer,pode parecer meio ridículo, mas não deixa de ser um hipótese. -Eu preciso ir. – escutei Harry se levantar e ir em direção ao sofazinho que havia no meu quarto.

-Ah...não! Harry você me fez assistir esse filme de terror essa hora da noite, e quer me deixar dormir sozinha?! – falei chorosa e ele riu. – dorme hoje aqui. – eu falei!  Ele tirou o celular do bolso. Eu estava realmente com medo. Mas não com medo do filme, com medo de Harry não abrir os olhos amanhã. E queria que ele ficasse aqui em casa comigo, para eu poder ver se ele iria dormir bem. Ele ligou para Tia Anne e pelo o que eu entendi ela havia deixado ele ficar. Ele sorriu e voltou a se deitar ao meu lado.

-Pronto, pequena. – ele disse beijando minha testa – não precisa ter mais medo, o Super Harry esta aqui! – eu ri e ele também, olhei para seus olhos que estavam fundos e demostravam cansaço. O cabelo bagunçado estirado sob o travesseiro. E a respiração calma no peito magro me embargavam. Ele estendeu o braço e apagou as luzes, deixando o quarto sem luminosidade alguma. Tentei fechar os olhos porém eu não conseguia. Harry deslizava suas mãos pelos meus cabelos preguiçosamente. Fiquei com os olhos abertos, contando cada batida de seu coração.

                                         [...]

Olhei para o lado e vi que Harry continuava dormindo, a face serena com os cílios repousados uns nos outros. A pele branca e os lábios vermelhos carnudos. Os cabelos cacheados e castanhos sob o travesseiro branco. Me deitei de lado para poder ver melhor. Ele era lindo. Parecia um anjo. O meu anjo. Delicadamente deslizei meus dedos sob seu rosto até chegar aos seus cachos escovando-os. Ele murmurou algo. E aos poucos os seus olhos foram se abrindo dando espaço a dois glóbulos verdes esmeraldas. Ele voltou os olhos sonolentos para minha face e ficou me encarando. Respirou fundo e sorriu. Eu retribui.

-Bom dia...- ele pigarreou ainda com a voz mole do cansaço.

-Bom dia! – eu retribui me aproximando mais. –Nós perdemos a manhã.. – eu avisei e ele riu;

-Tudo bem... – ele disse colocando uma mexa de meu cabelo atrás da orelha – onde estão os seus pais? – ele perguntou enquanto me envolvia em seus braços.

- Estão de plantão... só voltam hoje de noite. – eu avisei e logo suspirei – você esta pronto? – eu perguntei preocupada:

-Pronto para que ? – ele perguntou indiferente.

-Para a cirurgia, Harry. – eu respondi preocupada – é  quarta-feira ! – conclui e ele suspirou  e me abraçou mais forte.

-É claro,Tess.- ele respondeu tentando me confortar.-  Você não precisa se preocupar com isso, é problema meu. – ele respondeu e eu disse saindo de seus braços.

-É lógico que eu preciso me preocupar, Harry! Eu te amo. – eu falei indignada. Ele fechou os olhos e abanou a cabeça tentando manter a calma e se levantou ficando com o tronco encostado na cabeceira da cama:

-Tess...essa sua preocupação vai em vão. – ele disse pausadamente como se estivesse falando com um bebê mimado – Você só esta se machucando mais.  Por que daqui alguns meses eu não vai estar aqui, e ai?! Como vai ser? Eu não vou mais com vocês para Irlanda no Saint Patrick’s Day. Não vou ser o seu par na festa de formatura. Não vou...

-PARA HARRY. – eu disse um pouco alterada e ele me olhou assustado , eu não gostava quando ele falava assim. Eu não suportava ouvi-lo falar assim – Eu odeio quando você fala assim! – eu disse emburrada me encostando na cabeceira ao seu lado.

-Mas é a verdade...- ele ia continuar falando, mas eu o interrompi:

-Chega, Harry. Eu não quero ouvir isso. Eu escolho em que eu vou acreditar.- eu disse firme, eu escutei ele suspirar. Ele fechou os olhos e se levantou da cama.

-Olha, Tess. Eu sei que é difícil mas você tem que saber que...- eu o interrompi novamente:

-Você teve tempo para se acostumar com a ideia. Eu não! Então não...

-Tess! – ele falou irritado – Chega, ta bom?! Olha...aceita! Aceita a realidade! Eu estou doente e posso morrer a qualquer momento! – ele disse rápido e bem alterado.

-Não fala isso, Harry! – eu disse começando a fraquejar.

- O que ? Tess! Você quer que eu minta, é isso? – ele perguntou nervoso andando de um lado para o outro – Você quer que eu te diga...que esta simplesmente tudo bem! Que eu não tenho nada. Que eu estou saudável ! Que eu não tenho crises de tosses que quase e matam...e nem uma dor abdominal quando eu respiro...é isso? É isso que você quer ouvir? MENTIRAS? – ele perguntou com os olhos marejados, e eu fiquei quieta sentindo as lágrimas descerem sob meu rosto , ele ficou me encarando atônito. Abaixei os olhos e ficamos alguns minutos em silêncio – Olha, Tess...acho melhor você nem ir quarta-feira no hospital.- ele disse passando as mãos nos cabelos.

- Como assim, Harry? – eu perguntei com a voz trémula.

-Eu não quero que você se machuque mais, Tess. – ele disse fechando os olhos, e suspirando nervoso.

-Será que você não vê...que desse jeito você esta me machucando ainda mais, Harry ? Você acha que escutar você me mandando sair da sua vida  é bom? – eu falei com a voz embargada pelo choro. Ele abriu os olhos e se sentou ao meu lado. Ficamos em silêncio novamente. Limpei as lágrimas com o peito de minha mão .

-Ah Tess. Eu odeio te ver assim. – escutei ele falando manso – e odeio mais ainda por que eu sei que é por minha causa. – ele continuou e deslizou suas mãos pelo meu cabelo – É que ... eu fico irritado só de saber que em algum momento a vida vai tirar você de mim.- ele disse com a voz embargada – eu não quero te perder ,Tess. E saber que em algum momento eu vou ser obrigado a te deixar, esta me matando. – ele disse e encostou sua testa em minha cabeça.

- Você nunca vai me perder, Harry. – eu disse envolvendo meus braços em sua cintura  e me deitando em seu peito.