Harry Potter e o Legado de Avalon escrita por JMFlamel


Capítulo 8
Bilhetes, Escolhas E Passados




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CAPÍTULO 7

BILHETES, ESCOLHAS E PASSADOS






Já havia transcorrido quase um mês de aulas quando Harry recebeu, ao final da aula de Poções, um bilhete que primeiro o deixou desconfiado e depois curioso. Haviam terminado as revisões, preparando a Poção de Inchar (Harry sorriu, lembrando-se do que houvera no segundo ano, quando explodira uma bombinha Dr. Filibusteiro em um caldeirão e Draco levara alguns respingos). Ele já havia terminado de lavar seu material na pia e preparava-se para sair, quando Millicent Bulstrode esbarrou nele, dizendo:
—Ei, Potter! Mais cuidado!
Harry ia responder que ela é que havia esbarrado nele, quando viu que ela lhe piscava um de seus olhos azuis e sentiu que algo era colocado no bolso de suas vestes.
Naquele dia, Poções era a última aula e logo ele iria dar uma corridinha. Antes disso, procurou um lugar discreto para ler o bilhete. Entrou no banheiro e trancou-se em um dos boxes. O bilhete dizia:
“Potter, encontre-se comigo e com Blaise na Torre de Astronomia, por volta das 20:00 h. Temos assuntos muito importantes para lhe falar. Leve a Weasley com você para que, caso sejam descobertos, ninguém desconfie. Só posso lhe dizer que tanto a Bruxidade quanto os trouxas estão em perigo. Até lá.
Millicent Bulstrode”

Guardou o bilhete em um lugar seguro e saiu para juntar-se aos amigos. Após correrem, estavam se alongando e Harry avisou Gina, telepaticamente:
— “Gina, recebi um bilhete meio estranho da Bulstrode, hoje.”
— “Sobre o que era?”
— “Ela e Zabini querem que eu me encontre com elas hoje à noite, na Torre de Astronomia.”
— “Acha que elas estão querendo lhe pregar uma peça?”
— “Não sei, Gina. Ela parecia estar bastante preocupada, senti isso no Ki dela. E, além disso, pediram para que eu levasse você comigo, para o caso de nos virem. Talvez para que pensem que é apenas mais um casal namorando com privacidade. De qualquer forma, usaremos Feitiços de Desilusão. Confesso que estou curioso para saber o que aquelas duas querem conosco.”

Depois de tomarem banho e jantarem, Harry e Gina retornaram para a Torre da Grifinória. Foram para os banheiros, a fim de escovarem os dentes e, lá mesmo, executaram o Feitiço de Desilusão, ficando totalmente camuflados no ambiente.
Aproveitaram a saída de um grupo de alunos do terceiro ano que estavam indo para a Biblioteca e saíram logo atrás deles, comunicando-se por telepatia, até que localizaram-se e deram-se as mãos.Invisíveis como dois fantasmas, chegaram à porta do Observatório da Torre de Astronomia e entraram. A sala onde, no ano anterior, haviam desarmado a armação maluca de Cho Chang estava vazia e o sofá (ainda bem que sofás não falam) ainda não dava mostras de haver sido utilizado naquele ano.
—Acho que somos o primeiro casal a entrar nesta sala mal-afamada neste ano. _ comentou Harry, baixinho _ As aulas de Astronomia ainda não começaram, porque a Profª Sinistra está doente e o Prof. Dumbledore não conseguiu um substituto.
—Se não fosse por essas pegadas na poeira, meu amor, eu concordaria com você. _ respondeu Gina, no mesmo tom _ Creio que elas já chegaram e estão à nossa espera.
Saíram da sala e foram para o terraço de observação. Lá estavam Millicent e Blaise, sentadas sobre uma toalha de piquenique, sobre a qual haviam uma bandeja com algumas frutas e uma jarra de água, com quatro taças.
—Será que eles vêm, Milly? _ perguntou Blaise.
—Acredito que sim, Blaise. _ respondeu Millicent _ Potter mostrou-se bastante curioso com minha piscadela e o bilhete. Espero que ele não duvide da nossa boa-fé.
—Tenho certeza de que eles vão se interessar bastante pelo que temos a dizer. Essa informação sobre os novos planos de Voldemort será muito bem aproveitada.
—Ainda mais quando duas sonserinas, que todos julgam serem partidárias das Trevas até os ossos, pronunciam o nome de Voldemort sem darem uma gaguejada. _ disse Harry, desfazendo seu Feitiço de Desilusão e revelando-se para as garotas, que levaram um pequeno susto. Gina desfez o dela logo em seguida _ Boa noite, Bulstrode. Boa noite, Zabini. Realmente, fiquei bastante curioso e quero saber o que vocês têm a nos dizer. Isso tem a ver com algo que teria acontecido durante suas férias, no Brasil?
—Sim, Potter. _ disse Blaise _ Mas como vocês ligaram as coisas?
—Não nos pergunte como, Zabini, mas nós desenvolvemos a habilidade de perceber o Ki, a energia espiritual das pessoas. _ respondeu Gina, entrando na conversa _ Antes de vocês viajarem para o Brasil, a vibração do de vocês era até meio maligna, mas qualquer traço de malignidade desapareceu depois que vocês voltaram de lá. O que foi que aconteceu para que houvesse uma mudança tão radical em duas trevosas convictas?
—Acertou na mosca, Weasley. _ disse Millicent _ Sentem-se que nós vamos contar tudo o que aconteceu naquelas deliciosas e especiais semanas que passamos em Porto de Galinhas. _ os dois sentaram-se junto às garotas e Millicent começou a contar sobre como adoraram viajar de maneira trouxa, o curso de mergulho, o namoro com os dois tenentes, Daniel e Marino, a encenação que virou situação real, as revelações de Achmed El Jaffar, o tiro que Blaise levou de Abdul Ghazi, como fizeram para salvar a vida dela, o trabalho conjunto da Inteligência Militar com o Ministério da Magia do Brasil, os questionamentos e a decisão das duas sonserinas de romperem definitivamente com as Trevas.
—Então vocês decidiram mandar as Trevas se danarem? _ perguntou Harry, surpreso.
—Sim, Potter. _ respondeu Milly _ Eu e Blaise nos amamos e queremos coisa melhor para as nossas vidas do que virarmos lacaias do Voldemort. Ainda mais que adoramos aqueles dois oficiais trouxas que conhecemos lá. Não poderíamos levar esse namoro adiante sendo das Trevas. E, o mais importante, Dumbledore e o Ministério precisam saber que Voldemort está se aliando à Al-Qaeda. Com isso nenhum bruxo de bem ou trouxa estará a salvo. Isso não pode acontecer, Potter.
—Harry.
—Como? _ perguntou Milly.
—Meus amigos e as pessoas que eu quero bem me chamam de Harry, sabia, Bulstrode?
—De acordo _ disse Millicent, sorrindo _ Mas só se me chamar de Milly, como fazem as pessoas de quem eu gosto.
—Está bem, Milly. Sabe, soa meio estranho vocês dizerem que se apaixonaram por dois rapazes. _ comentou Harry.
—Digamos, Harry, que são maneiras diferentes de se amar alguém. Eu jamais deixarei de amar Milly. _ disse Blaise _ Mas aqueles dois são um caso à parte. Não têm preconceitos, são dois verdadeiros Gentlemen, carinhosos e não têm nada contra o que nós duas sentimos uma pela outra. Eles se apaixonaram por nós pelo que nós somos por dentro. Foi um verdadeiro encontro de almas.
—O mais interessante é que eles conhecem Janine Sandoval. Como este mundo é pequeno! _ comentou Milly.
—Me explique isso direito, Milly. _ disse Gina _ Eles conhecem a Jan?
—Sim, Gina. Quando o pai dela morreu, em um acidente de pára-quedismo, foram eles que tiraram-na do local da tragédia e levaram-na para o Hospital Central do Exército. _ e Millicent contou a história que Marino e Daniel lhes haviam contado sobre aquele fatídico sete de setembro. Quando ela terminou o seu relato...
—Mas que barra! _ disse Harry _ E ela ficou em choque por dois dias, só se recuperando após comer um pedaço de chocolate e assim melhorando o humor e cortando o suprimento de um dementador?
—Foi exatamente o que deduzimos daquilo que os dois disseram. Não digam nada a ela, Harry, pois eles querem fazer uma surpresa. Nós os convidamos para a nossa formatura.
—Eles podem vir numa boa, já que têm cartões de acesso Nível 4. Estou curioso para conhecê-los. _ comentou Harry _ Que história é essa do tubarão cabeça-chata?
Blaise sorriu, meio sem jeito e contou do seu encontro com o tubarão, durante o mergulho de Check-out e de como teve de usar uma Maldição Cruciatus para espantá-lo. Em seguida Milly abriu a bolsa e mostrou as fotos da viagem, inclusive as do tubarão.
—Que lugar lindo, Milly! _ disse Gina _ É um verdadeiro paraíso tropical.
—Acho que já temos um lugar em vista para a nossa lua-de-mel, meu amor. _ disse Harry, beijando a noiva. Milly e Blaise sorriram. Os quatro continuaram conversando, recuperando algum tempo dos anos que desperdiçaram sendo inimigos.
—Mas, aos olhos de todos, eu e Blaise continuaremos mantendo uma fachada de sonserinas valentonas e malvadas e, em público, deveremos nos tratar pelos sobrenomes, como tem sido até agora. É bom que ninguém desconfie de nós, pois poderemos investigar os potenciais trevosos de perto. _ disse Milly _ Ah, Gina, não tivemos oportunidade de cumprimentá-la pela escolha do seu pai para a sucessão de Fudge, como Ministro da Magia. Creio que o Ministério estará em boas mãos e a harmonia entre bruxos e trouxas poderá ser uma realidade cada vez mais próxima.
—Obrigada, Milly. Mas, como você disse, ainda teremos de manter uma vigilância discreta sobre muita gente.
—Além do que poderemos ficar de olho naquela prima francesa do Draco, Valérie. _ comentou Milly _ Aquela garota é perigosa. Mesmo não tendo as habilidades de vocês, dá para perceber isso.



"Duas gurias do bem, fingindo-se de Bad Girls"

Falando em Valérie St. Clair Malfoy...
Em outra torre, do lado oposto do castelo, uma figura saiu de baixo de uma Capa de Invisibilidade e aproximou-se das ameias, apreciando a paisagem banhada pelo luar, que refletia-se nos seus cabelos loiros platinados. Valérie Malfoy conjurou uma cadeira de praia, uma mesinha e sentou-se. Tirou uma pequena garrafa térmica de um bolso das vestes e serviu-se de um copo de café. De um outro bolso, tirou um maço de Gauloises e um isqueiro Zippo, no qual via-se, gravado, o brasão da família Malfoy: um “M” sobreposto a duas varinhas cruzadas e uma mão agarrando o globo terrestre. Abaixo via-se o lema: “Tudo Ainda Não É O Bastante”. Acionou o isqueiro à prova de vento e acendeu um cigarro, tragando lentamente a fumaça. Em seguida, conjurou um cinzeiro. Estava tão absorta a saborear seu café e fumar seu cigarro que levou um enorme susto ao ouvir uma voz que dizia:
—Esse é um hábito que nós não vemos com bons olhos entre os estudantes de Hogwarts, Srta. Malfoy.
Recompondo-se rapidamente, Valérie respondeu:
—Me ajuda a pensar, Prof. Dumbledore. Além disso, eu estava sozinha nesta torre, até a sua chegada. Não estava incomodando ninguém. _ apagando o cigarro no cinzeiro, Valérie disse: “Evanesco!” e fez com que o cinzeiro desaparecesse.
Dumbledore conjurou uma cadeira e sentou-se em frente a ela, que lhe ofereceu um café. Ele aceitou e perguntou:
—E no que uma jovem sonserina de dezesseis anos estaria pensando, fora de sua Sala Comunal, a esta hora da noite?
Muitas coisas, professor. Principalmente no fato de que um nome pode vir a ser um fardo. Não é fácil carregar o sobrenome “Malfoy”. Todos na Bruxidade nos olham com certa desconfiança.
—Uma reputação construída por seus ancestrais e que, com raras exceções, ninguém se deu ao trabalho de desfazer. _ observou Dumbledore, com seriedade e olhando diretamente para Valérie _ Embora aqueles que o tenham feito tenham obtido sucesso, a exemplo de seu tio-avô Jean-Marc e, mais recentemente, Draco. Mas não se esqueça de que também há um outro lado em você, jovem Valérie St. Clair Malfoy, que também deve ser valorizado.
—Mas isso pelo que todos sabem não passa de uma lenda, Prof. Dumbledore.
—E quem disse que as lendas não começam com fatos reais, Srta. Malfoy? Pesquise e talvez possa encontrar um outro caminho.
—Sou uma Malfoy, Prof. Dumbledore. Como ir contra a minha natureza? Não me considero tão especial a ponto de constituir uma exceção, como Tio Jean-Marc ou Draco.
—Existe uma palavra em hebraico, Srta. Malfoy, que nos proporciona a liberdade de escolha. Em um trecho da Bíblia, diz-se que o homem dominará o mal. Isso foi objeto de muitas discussões sobre se o dominar seria uma imposição ou uma dádiva divina. Mas, com a presença dessa palavra, a qual faz parte do texto original, depreende-se que o dominar seria uma opção, o homem pode escolher qual caminho seguir. Ele pode abraçar o mal e entregar-se a ele ou pode dominá-lo e dele se afastar.
—Que palavra é essa, Prof. Dumbledore?
—A palavra é “Timchel”, Srta. Malfoy. Em hebraico, significa “Poderás”. Pense no poder desa palavra, nas opções que ela oferece. _ e levantou-se para ir embora _ O Sr. Filch recolheu-se mais cedo esta noite. Como a senhorita possui uma Capa de Invisibilidade, pode retornar à Sala Comunal da Sonserina sem ser percebida. Só não fique até muito tarde, pois o sexto ano terá uma aula extra amanhã, mesmo que seja sábado. Boa noite. _ terminou seu café e, fazendo desaparecer a cadeira que havia conjurado, retirou-se.
Valérie permaneceu no terraço. Serviu-se de mais um café, conjurou outro cinzeiro e acendeu outro Gauloises, tragando a fumaça e soltando-a em seguida, com um enigmático sorriso nos lábios. Talvez, embora pouco provável, Dumbledore não soubesse, mas ele havia fornecido à bela loira a resposta de que ela precisava. Terminou seu cigarro, fez desaparecer a guimba e também os objetos conjurados. Embrulhou-se na Capa de Invisibilidade e empreendeu o seu caminho de volta às masmorras e à Sala Comunal da Sonserina, sem ver um par de pequenos olhos nas sombras, os quais pertenciam a uma raposa vermelha. Só que ela possuía olhos cinza-azulados e uma mecha de pêlo loiro na cabeça.

No dia seguinte, depois da aula extra do sexto ano, Harry treinava o time para o primeiro jogo da temporada, Grifinória vs Sonserina, o qual realizar-se-ia no segundo final de semana do mês de novembro. Durante um dos intervalos, ele e Gina contavam para Hermione, Janine e Neville, que estavam assistindo ao treino, o que ocorrera na Torre de Astronomia na noite anterior, apenas omitindo a identidade dos tenentes para manter a surpresa, como elas haviam pedido.
Então parece que temos novas aliadas dentro da Sonserina. _ disse Hermione _ Cada vez mais as posições estão se definindo e as pessoas tomando partido.
—Se sonserinos radicais como Millicent e Blaise chegaram a rever suas atitudes e romperem com as Trevas, creio que as chances de vitória contra Voldemort aumentam, pois ele terá menos trevosos em uma nova geração. _ comentou Janine.
—Elas confirmaram a aliança entre Voldemort e a Al-Qaeda. Mais do que nunca o Prof. Dumbledore e o Prof. Mason devem ser avisados. _ observou Neville, com uma expressão séria no rosto.
—Avisados do que, Sr. Longbottom? _ ouviu-se a voz de Dumbledore, bem atrás deles.
—Prof. Dumbledore, que bom o senhor ter vindo ver o treino. _ disse Rony _ Assim não despertaremos suspeitas indo procurar pelo senhor.
—E o que os jovens teriam de tão importante para me dizer?
Harry contou ao prof. Dumbledore sobre como Milly e Blaise confirmaram as suspeitas que eles haviam levantado ao final das férias. Ao término do relato, Dumbledore ficou pensativo por alguns instantes e então falou:
—Isso liga as pontas soltas das reportagens dos jornais bruxos e trouxas. Voldemort e a Al-Qaeda juntos constituem-se em uma coalizão do mal que não deixará livre um único alvo, seja bruxo ou trouxa. Creio que ele deve, realmente, estar perdendo os últimos escrúpulos em aliar-se a trouxas. O fato de vários filhos de Death Eaters de alto escalão haverem rompido com as Trevas privou-o de uma nova geração de generais do seu exército e deve ter contribuído para que ele começasse a tomar medidas desesperadas. Inclusive, acredito que dois de vocês deverão redobrar a segurança pessoal. Virgínia e Ronald Weasley tornaram-se potenciais alvos de atentados, por serem filhos do Ministro da Magia eleito, Arthur Weasley. Como vocês têm o treinamento Ninja avançado e o Prof. Mason iniciou o Kobudera e o Krav-Magá, poderão perceber a aproximação do perigo e se defenderem mas, mesmo assim, não deverão dar chance para o azar. Como Harry e Hermione são as pessoas mais próximas de vocês aqui em Hogwarts, poderão ajudar bastante. Respeitaremos o sigilo pedido por Millicent Bulstrode e Blaise Zabini, combinando meios para que possam se encontrar sem despertar suspeitas, caso seja necessário. Quanto à Srta. Malfoy, não podemos lançar suspeitas, condenando-a antecipadamente. Enquanto não houverem razões para que desconfiem dela, não façam nada. Vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos.
Dumbledore retirou-se do campo de Quadribol e Harry chamou o time para o reinício do treino. Todos estavam no melhor de suas formas. Harry, Gina, Rony, O’Toole, Kane, Foster e Gilmore não fariam feio no jogo de estréia da temporada, contra a Sonserina.

Pelo seu lado, Draco também puxava bastante nos treinos, embora nem fosse necessário. O time compreendia e correspondia às expectativas de seu capitão. Zabini, Bulstrode, Maxwell, Renquist, Crabbe e Goyle estavam dando o melhor de si para proporcionarem mais um soberbo espetáculo para a escola.
Depois do treino da Sonserina, Draco encontrou-se com Janine e os outros Inseparáveis, que contaram a ele sobre a conversa que tiveram com Dumbledore. Com uma expressão meio preocupada no olhar, disse aos amigos:
—Valérie sempre foi misteriosa, desde criança. E Tio René tão trevoso quanto meu pai. Há uma grande chance dela ter enveredado por esse caminho, seguindo a tradição familiar. Eu me lembro de ter tido a mesma sensação de vocês à chegada dela, mas não imaginava que ela tivesse adquirido um tal domínio do Ki, principalmente porque bruxos das Trevas desprezam artes marciais, como o Prof. Mason nos disse no ano passado, embora Voldemort seja uma exceção, como vimos lá em Azkaban. Mas eu tenho ficado de olho nela, de maneira discreta. Até agora ela não fez nenhum movimento suspeito, mas se ela mostrar alguma tendência a seguir a “Natureza Malfoy”, agiremos.
— “Natureza Malfoy”? _ perguntaram os amigos.
—Dizem que os Malfoy têm uma tendência natural para a maldade pois, salvo raras exceções, tais como Tio Jean-Marc e eu, quase todos têm sido sinceros devotos das Trevas. Eu, pessoalmente, acho que é pura lenda. Acredito que qualquer pessoa tem a liberdade de escolher seu caminho. “Timchel”.
—???
— “Poderás”, em hebraico. O mais duro é agüentar o cheiro dos cigarros dela.
—Valérie fuma? _ perguntou Harry, fazendo uma cara de desagrado.
—Sim, ela fuma Gauloises, fortes como o diabo. Por mais que ela disfarce com feitiços, um cheirinho sempre fica. E vocês sabem como eu me sinto quanto a cheiro de fumo. Bem, vou tomar um banho, para tirar o suor e as dores dos ombros. O treino foi bem puxado. Podem esperar que não vamos dar moleza no jogo contra a Grifinória. Até mais.

O dia seguinte era um domingo. Harry levantou-se um pouco mais cedo do que os amigos e foi para a Sala Precisa. Ao entrar, deparou-se com o que havia pedido para que a sala recriasse. Uma piscina térmica, com raia de 25 metros. Depois que teve de nadar no lago, no quarto ano, procurava nadar sempre que podia, pois nunca sabia quando seria necessário. Terem descoberto a Sala Precisa ajudou bastante. Nadou mil metros, depois secou-se e saiu. Mal ele virou em um corredor, Janine chegou por outro e entrou na sala. Havia utilizado bastante a Sala Precisa ultimamente, sozinha, por razões que somente a ela interessavam mas, que em um futuro próximo, ela acreditava que seriam úteis a todos os Inseparáveis.

Falando em nadar, o tempo ainda permitia que se nadasse no lago. Em uma praia formada à sua margem, seis alunos do primeiro ano aproveitavam os raios de sol e, deitados sobre toalhas, pegavam uma corzinha, o Fator 30 cumprindo o seu papel protetor. A conversa girava sobre como foram escolhidos para Hogwarts.
—Nós somos descendentes de Miyamoto Musashi, o lendário espadachim zen. Alguns de nossa família manifestaram magia e foram educados no Dojo de magia Shinobi, nas montanhas de Kôga. _ disse Heiko.
Mas Heiko-chan e eu fomos os primeiros a serem honrados com a escolha para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. _ continuou Tetsuken _ Creio que o Prof. Mason teve algum papel nisso, por ser filho de uma bruxa famosa do passado, Renata Wigder-Mason, a lenda do Quadribol, que era filha adotiva de um mestre Ninja, o Sensei Ryusaku Komori, Instrutor-Mestre e Sucessor do Ryu de Togakure. Por ser seu pai adotivo, possuía conhecimento do mundo mágico, com acesso Nível 3, fato que possibilitou o seu contato e a amizade com nossa família.
—Aí, quando eu e meu irmão manifestamos magia, tivemos uma enorme surpresa ao recebermos, em vez de corujas com cartas do Dojo Shinobi, corujas com cartas de Hogwarts. _ disse Heiko _ então viemos parar na Inglaterra. Estamos muito contentes de estarmos aqui e conhecermos vocês.
—No meu caso, minha mãe me disse que eu, muito provavelmente, seria chamado para Hogwarts quando manifestasse magia, já que ela havia sido aluna desta escola. _ disse Jemail _ Nós já vivíamos na Inglaterra há muitos anos, depois que meu pai a repudiou. Meus avós maternos, que já estavam habituados com a magia, ficaram muito contentes por eu haver sido chamado para uma escola tão prestigiada.
—Sua mãe foi repudiada por seu pai, Jemail? _ perguntou Camille.
—Sim, Camille. Não é nada fácil ser filho de Osama Bin Laden. Ele a repudiou quando descobriu que ela era bruxa, contei isso a Harry e seus amigos,na noite em que chegamos. E você é belga, não é? Notei que, quando você fala em francês, o acento é um pouco diferente.
—Sim. Nasci em Liége, mas minha família vive atualmente em Antuérpia. Seria mais lógico que eu tivesse sido chamada para Beauxbatons, mas recebi a carta de Hogwarts, o que me deixou muito contente, ainda mais depois de ter conhecido vocês. Me falaram tantas coisas a respeito da Lufa-Lufa, mas estou adorando a Casa. Já passaram por lá muitas pessoas de destaque, tais como a mais famosa repórter de fofocas, Rita Skeeter, a Auror Alice Longbottom, e o nosso atual fantasma-residente, Cedric Diggory.
Amanda Wallace então falou:
—Há uma mística em torno da Sonserina, a qual faz com que todos acreditem que lá só há gente com tendência às Trevas, o que não é inteiramente verdade. Muitos foram selecionados por qualidades pessoais e não apenas por tradição. A única coisa totalmente verdadeira é que a Casa não aceita alunos nascidos trouxas, dando preferência aos puro-sangue, o que acho uma grande discriminação. Minha família não possui nenhuma ligação com as Trevas, pelo contrário, vários dos meus parentes são Aurores, muitos deles ainda em atividade. Uma característica nossa é a criatividade, sempre procuramos soluções novas e inusitadas para resolver os problemas que surgem. Também procuramos ser bastante improvisadores e arrojados, qualidades que Slytherin apreciava, mesmo antes de se voltar para as Trevas. Infelizmente o seu descendente, Voldemort, deturpou todo o sentido das qualidades de um sonserino. Aliás, não tenho o menor medo de dizer o nome dele.
—Nem nós. _ disseram todos os outros.
—Quanto a mim, a história é diferente. _ disse Stuart Townsend, pensativo _ Nasci trouxa, sem o menor conhecimento sobre magia. Nem sabia que ainda existiam bruxos de verdade no mundo. Tenho certeza de que Hogwarts foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Se não fosse pela magia, acho que eu estaria morto a esta altura.
—Como assim, Stuart-san? _ perguntou Heiko.
—Não conheci meu pai. Minha mãe era muito pobre e nós vivíamos em uma favela na periferia de Kingston. Ela morreu quando eu tinha seis anos e, depois disso, meu irmão e eu vivemos pelas ruas, sobrevivendo como podíamos. Pedi esmolas, passei fome, mas posso me orgulhar de que eu e meu irmão jamais roubamos nem fumamos Ganja. Nunca nos envolvemos com as gangues de rua da Jamaica, que são boca-braba. Uma noite, alguns adolescentes chapados foram ao beco onde dormíamos e tentaram nos violentar. Meu irmão, Steve, tentou me defender e foi espancado até a morte. Ele tinha treze anos. Em seguida, os malucos voltaram suas atenções para mim e vieram em minha direção. Dois deles me agarraram e outros três se aproximaram. Fiquei com tanto medo que não tomei consciência do que aconteceu a seguir. Só sei que, quando dei por mim, eu estava em pé e os caras desacordados à minha volta. Em seguida, apareceu do nada um cara alto e careca, vestindo uma capa. Ele se apresentou como Kingsley Shacklebolt e disse que havia sentido minha emissão mágica involuntária, enquanto estava passando férias em um Resort da praia. Me levou até o Ministério da Magia da Jamaica e solicitou permissão para que eu fosse instruído em Hogwarts. Alegou que um nível de magia como o meu não podia arriscar-se a cair nas mãos de voldemort e seus Death Eaters. Somente depois vim a saber que ele é um Auror. Então entrou em contato com Dumbledore, que me concedeu uma bolsa integral e comunicou ao Ministro Fudge. Ele comunicou ao Ministro eleito Weasley e aqui estou eu.
—Ouvi, meio de relance, o monitor Rony Weasley dizer que talvez nós fossemos a nova geração dos Inseparáveis. _ comentou Camille _ Não compreendi muito bem na hora, mas depois descobri que isso é uma grande honra.
—Sem dúvida. _ disse Amanda _ os Inseparáveis são a turma de Harry Potter, um grupo que já passou por muitas aventuras e, mesmo sendo bastante jovens, sempre lutaram contra as Trevas. É formado pelo próprio Harry Potter, Gina Weasley, Rony Weasley, Hermione Granger, Luna Lovegood, Neville Longbottom, Janine Sandoval e Draco Malfoy, sendo que este último, mesmo filho do braço direito de Voldemort, rompeu com as Trevas. Uma reunião de jovens heróis.
—Realmente, nós sermos comparados àqueles supercaras é uma coisa especial. _ Tetsuken sorriu _ Gente, já está chegando a hora de voltarmos.
—Sim, vamos nessa. _ disse Camille _ Há um livro na Biblioteca que chegou hoje e eu quero pegar. Madame Pince vai abrir especialmente para isso. É o volume mais novo de “Hogwarts, Uma História”. Ele fala sobre Harry Potter e os Inseparáveis, principalmente sobre Janine Sandoval, “A-Trouxa-Que-Virou-Bruxa”.
Os seis amigos recolheram seus pertences e foram para o castelo, tomar um banho e continuar a conversa depois, na Biblioteca (baixinho, é óbvio).

Em seus aposentos, anexos à sala de aula, o Prof. Snape preparava as revisões do sétimo ano para a semana seguinte e corrigia os deveres das outras séries. Encontrar-se-ia com Rosmerta à noite, para fechar com chave de ouro um final de semana perfeito. O gramofone parou de tocar e ele foi acionar a manivela (“Será que eu não deveria me render à modernidade e adquirir um microsystem enfeitiçado, com CDs? Dizem que o som é muito mais limpo. Potter e sua turma sempre correm ouvindo música naqueles aparelhos... Discman, acho que o nome é esse. Assim eu talvez pudesse ouvir Jazz e ópera com mais qualidade, sem chiados, com som... como é mesmo o nome? ... Digital, acho que essa é a palavra.”, pensou ele). Apontou a varinha para o gramofone e fez a manivela girar. Novamente ouviu-se o som da ária “Un Bel’ Di Vedremo”, da ópera “Madame Butterfly”.
Terminando o trabalho que estava fazendo, serviu-se de uma xícara de chá e pôs-se a saboreá-la. Sem perceber, seus pensamentos voltaram ao passado, embalados pela música. Sempre gostara de Jazz e ópera, desde garoto. Era um gosto refinado, que sempre ocultara dos seus colegas da Sonserina. Somente o grifinório Derek Mason sabia e respeitava seu pedido de sigilo quanto a isso. Mudou o disco no gramofone e, enquanto a voz rouca de Louis “Satchmo” Armstrong espalhava-se pelo aposento, recordou-se de quando Lílian Evans dissera estar apaixonada por Tiago Potter e que aceitara seu pedido de namoro no dia anterior, destruindo os anseios mais profundos de Severo. Só não se desmanchara em lágrimas à custa de muita força de vontade e em respeito à educação e gentileza dela. O pior fora saber que ela já havia gostado dele que, preconceituoso e teimoso, demorara demais para perceber. Depois daquilo, movido pelo desespero e julgando não mais possuir perspectivas, fizera muitas escolhas erradas, cujas conseqüências purgara na própria carne, das quais arrependia-se amargamente até hoje e que ainda tentava expiar a culpa delas advinda.
Lílian saíra da sala na qual estavam, deixando-o só com os seus pensamentos. De repente a porta abriu-se novamente e, julgando que ela retornara, disse:
—Evans?
—Não, Severo. Sou eu.
—Rosmerta McTaggert? Que faz aqui?
—Estava procurando por você, Severo. Lílian me disse que poderia encontrá-lo aqui. Por que está desse jeito?
—Rosmerta, por favor, não é a melhor hora para conversar comigo.
—Se não agora, quando? Severo, eu sei que você gosta de Lílian e que ela, há algum tempo atrás, gostava de você mas ficou inibida por sua atitude preconceituosa e e pelos seus amigos, Lucius Malfoy, Rudolph e Rabastan Lestrange, Bellatrix Black e outros mais. Sua proximidade com essa turma do mal a afastou de você, mas eu sei que você não é como eles, Severo.
—Como sabe, como pode deduzir isso, Rosmerta? Talvez eu seja e nem mesmo eu saiba.
—Não, Severo. Eu sei que você não é. Eu sou capaz de enxergar a sua alma porque eu te amo, sempre te amei em silêncio por todos esses anos. Ficaria com você mesmo que não me correspondesse, para mim bastaria o fato de te amar. Fique comigo, Severo. Deixe que eu acabe com essa sua tristeza e devolva à sua face aquele sorriso que, embora raro, me aquecia a alma.
—Isso não seria direito neste momento, Rosmerta. Talvez um dia, no futuro.
—Severo, eu sei o que acabou de acontecer. Compreendo o que você deve estar sentindo mas saiba que eu esperarei por você para sempre e mais um dia, se for preciso. _ e deu um beijo no rosto dele.
—Eu não valho tudo isso, Rosmerta, mas obrigado assim mesmo.
Ela saiu da sala e seguiu pelo corredor. Ele saiu e seguiu na direção oposta. Depois daquilo, passara a tomar a poção Cor Vetato, que suprimia as emoções, a fim de não mais se apaixonar por ninguém e evitar novos sofrimentos. Fora para Londres, nos feriados de Páscoa, aceitando o convite de Lucius Malfoy para uma reunião. Mal sabia que sua vida jamais seria a mesma dali para diante.

Em uma casa elegante de um bairro nobre da Londres trouxa, ele aguardava o momento, em companhia de Lucius e outros colegas da Sonserina: Rudolph e Rabastan Lestrange, Bellatrix Black, Arsenius Nott, Ebenezer Crabbe, Sylvius Goyle, Rodney Travers, Farley Mulciber e Igor Karkaroff. Lucius saiu por um momento e, em seguida, retornou em companhia de um bruxo alto e magro, de rosto pálido e cabelos negros, com entradas. Devia ter uns quarenta e poucos anos e trajava-se todo com vestes negras. Quando falou, foi com voz gélida e sibilante:
—é bom ver tantos jovens interessados em ouvir o que eu tenho a dizer. Acredito que vocês já devem ter ouvido falar de mim. Meu nome é Lord Voldemort.
Como seria possível que não tivessem ouvido falar dele? Era o mais temido bruxo das Trevas da atualidade, cujo nome provocava mais medo do que a lembrança de Adolf Grindelwald. A maioria dos bruxos evitava pronunciar o seu nome, referindo-se a ele como “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado”, “Você-Sabe-Quem”, “Lorde das Trevas” e outros cognomes. Atrás dele rastejava uma Naja-Gigante que devia medir uns três metros e que, a uma ordem dele em idioma Ofidiano, enrodilhou-se a um canto da sala e adormeceu.
—Não se assustem com Nagini, meus jovens. Ela não ataca ninguém, a não ser que eu ordene. Bem, vamos ao que interessa. _ e serviu-se de uma dose de uísque de fogo da garrafa que estava em um aparador e continuou a falar _ Vocês, jovens sonserinos, são a esperança para uma nova ascenção da Ordem das Trevas. Os pais de muitos de vocês já batalham ao meu lado e outros já estiveram sob as ordens de Grindelwald em outros tempos, assim como eu mesmo já fiz parte de um grupo ligado a ele, porém mais radical e efetivo. O que queremos é cumprir o plano de meu ancestral, Salazar Slytherin, de purificar a Bruxidade, expurgando os que não forem da mais pura ancestralidade. Queremos ver o fim dos sangues-ruins em nosso meio, conspurcando nossos ideais. Quanto aos trouxas, no final deverão nos servir, como os escravos que são, inferiores aos bruxos. Aqueles que se opuserem a nós, serão destruídos, quer sejam nascidos trouxas, mestiços ou mesmo puros-sangues que abraçarem a causa da harmonia com os trouxas. E o maior deles é Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts. Ele não passa de um maldito pró-trouxas que será esmagado no final. Mas a principal razão que me traz aqui é que eu necessito de uma nova geração de generais para meus exércitos, membros de minha força de elite, os Death Eaters.
Severo já havia ouvido falar deles. Eram a tropa de elite, a guarda pessoal de Voldemort e generais de seus exércitos. Determinados e cruéis, matavam sem hesitar, caso recebessem a ordem. E não importava quem fosse. Familiares, amigos, conhecidos, a única coisa que valia era a devoção à causa das Trevas e a Voldemort. Sempre projetavam a Marca Negra ao praticarem um atentado e, inclusive, eram marcados com ela, sendo permanentemente ligados ao Lorde.
—Sei que são jovens, mas creio que já possuem a convicção necessária. Portanto, proponho que juntem-se a mim em minha cruzada pela purificação da Bruxidade. Quem se habilita?
A primeira pessoa a levantar-se e aproximar-se do Lorde não foi nenhum dos rapazes, pelo contrário, Bellatrix Black fez uma reverência e beijou a barra das vestes de Voldemort, dizendo:
—Mestre, permita-me ser a primeira pessoa neste seleto grupo de jovens a ter a honra de fazer parte de vossa elite.
—Que seja, jovem Bellatrix Black. Você servirá como um exemplo de devoção e lealdade à causa das Trevas. _ e puxou sua varinha, apontando-a para a face interna do antebraço esquerdo de Bellatrix.
— “MORSMORDRE”!!! _ O Lorde bradou seu feitiço e uma figura com a forma de um crânio, com uma cobra saindo da boca, como se fosse uma língua, materializou-se no ar. A Marca Negra. Esta foi ficando menor e mais brilhante, indo pousar sobre a pele de Bellatrix, queimando-a e formando uma tatuagem indelével. Lucius Malfoy sucedeu Bellatrix e, em seguida, todos os outros. Finalmente chegou a vez de Severo Snape e Voldemort olhou para ele, dizendo:
—Severo Snape, dentre todos os presentes é você quem me traz mais satisfação em unir-se a mim. Dizem que o Lorde das Trevas não é capaz de demonstrar gratidão, o que é mentira. A família Snape sempre merecerá todas as minhas benesses. Sua avó me criou e cuidou de mim durante toda a minha infância, quando eu ainda era apenas Tom Marvolo Riddle, até que eu tive de ir para aquele maldito orfanato trouxa. Sempre tive seu pai, Arkanius Snape, na conta de um irmão mais novo. Brincamos vezes sem conta quando crianças e eu estive presente, embora disfarçado, ao casamento dele com Selene, sua mãe. Sempre foi um fiel aliado, embora não seja um Death Eater. Também conheci você e sua irmã caçula, Nereida, quando eram crianças. Com você e sua inteligência privilegiada, aliados à mente ardilosa de Lucius e à devoção de Bellatrix, uma nova e forte geração de bruxos das Trevas estará garantida. Receba agora o sinal que simboliza o elo de nossa união. _ e Snape recebeu a Marca Negra, que queimou intensamente seu antebraço e depois ficou lá, escura e nítida. O Lorde convidou-os para jantar e depois eles despediram-se, saindo em duplas, para não chamar a atenção. A informação sobre seu verdadeiro nome foi colocada sob Feitiço Fidelius, para que ninguém pudesse revelá-la. Somente com sua morte ou se ele revelasse pessoalmente, é que alguém mais poderia saber.

Depois daquilo, Snape continuou sua vida de estudante, sendo apanas um dos informantes de Voldemort. Uma tarde, depois de uma visita a Hogsmeade, coincidiu que ele e Mason haviam ido ao banheiro na mesma hora. Enquanto lavavam as mãos, Mason vira a Marca Negra no seu antebraço.
—Em nome de Merlin, Severo! O que foi que você fez com a sua vida? Não me diga que consentiu em tornar-se gado daquele alucinado do Voldemort?
—Não diga o nome dele, Derek. Por favor, não diga. Não tenho mais rumo, todas as minhas aspirações se frustraram, cheguei tarde e o que poderia ter sido o amor de minha vida me escapou, nada mais me resta.
—Não, Severo. Sempre há uma saída, um caminho. Você sabe que aquele maldito quer levar o mundo de volta à Idade Média, sendo o maior inimigo de nossa luta pelo restabelecimento da antiga harmonia entre bruxos e trouxas. Não deveria ter estragado sua vida assim. Isso poderá acabar colocando-nos em lados opostos.
—Como assim, Derek?
—Ora, Severo, você sabe que meus N.I.E.Ms me aprovarão para a Academia Européia de Aurores, o sonho de minha vida. Depois de concluir o treinamento, estarei caçando bruxos das Trevas pelo mundo. Ficaria muito triste se você fosse um deles.
—Espero e procurarei jamais ter de confrontá-lo, Derek. Você é o único amigo que tenho fora da Sonserina. E se nos virmos em uma batalha?
—Com dor no coração, terei de cumprir o meu dever, Severo. Rezemos para que Deus e Merlin permitam que esse momento jamais chegue. Você pode ter essa horrenda marca no corpo,mas sempre vou considerá-lo meu amigo.

Depois de formados, seguiram seus destinos. Derek foi para Bruxelas, onde localizava-se a Academia Européia de Aurores. Ninguém soube para onde Severo fora. Na verdade, cumprira missões para Voldemort ao redor do mundo, EUA, Japão, Austrália, Uruguai e outros países, eliminando seus alvos com feitiços, venenos ou outros meios , conforme as circunstâncias. Ele e Derek sempre evitaram confrontar-se, cumprindo a promessa que fizeram. Porém, a vida de Severo Snape estava para sofrer a reviravolta mais dolorosa que se poderia imaginar. Seus pensamentos retornaram àquela fatídica noite, há vinte anos atrás.
Havia um rico empresário trouxa na Suíça, amigo pessoal de Dumbledore, que colaborava com a Ordem da Fênix, providenciando suprimentos e transportes em situações nas quais não podiam utilizar meios mágicos. Lucius e ele haviam recebido a missão de eliminá-lo. Liderando um grupo de assalto de Death Eaters, aparataram nos jardins da mansão, encapuzados e mascarados, em uma verdadeira operação de guerra. Foi aí que tudo começou a dar errado.
Assim que o grupo das Trevas aparatou, os Feitiços de Segurança fizeram o seu papel e um alarme começou a soar. Imediatamente, um pelotão de Aurores aparatou à sua volta, também encapuzados e mascarados, a fim de confundi-los. Eles logo reconheceram quem era o líder.
Era uma verdadeira lenda entre os próprios Aurores, uma jovem que atingira o status de Agente Especial, trabalhando transfigurada e utilizando o codinome “Mariposa de Titânio” (“Codinome esquisito, parece nome de super-herói de gibi trouxa.”, pensou Severo), tendo sido treinada pessoalmente em Ninjutsu-Bruxo Avançado e Kobudera por Derek Mason e sido pupila da lenda viva, Alastor Moody que, na época, ainda não era apelidado de “Olho-Tonto”, pois possuía os dois olhos. Ninguém, nem mesmo Mason ou Moody sabia qual era a sua verdadeira aparência nem sua identidade. Liderava seu grupo como uma bem ajustada máquina de combate, fazendo com que os Death Eaters caíssem como moscas. Porém a garra e persistência de Severo e Lucius também infligiam pesadas baixas aos Aurores até que, no final, com a retirada de vários combatentes de ambos os lados que desaparatavam para irem se recuperar, sobraram vivos no campo de batalha, aparentemente, apenas Severo e Mariposa. De repente, vindo sabe-se de onde, Lucius tropeçou e acabou arrancando a capa de Severo, também derrubando sua máscara. Inexplicavelmente, Mariposa hesitou e disse:
—Você?!
Meio que reconhecendo aquela voz, Severo apontou a varinha e pôs-se em guarda. Lucius disse:
—Ataque-a logo, cara! Não teremos outra chance!
Sabendo que era uma questão de vida ou morte, Snape manteve sua varinha apontada e, instintivamente, atacou:
— “AVADA KEDAVRA!!” _ um fulgurante raio verde foi disparado pela varinha de Snape e atingiu Mariposa bem no meio do peito. Ela caiu ao solo, tendo tempo de dizer apenas uma palavra:
— “Sevvie...” _ e morreu, logo em seguida.
—Ela parecia conhecê-lo, Severo. _ disse Lucius _ Mas você matou a lendária “Mariposa de Titânio”! Tire o capuz dela, vamos ver qual a sua identidade pois, mesmo que estivesse transfigurada, após a morte a aparência dela retornará ao normal.
Snape tirou o capuz de Mariposa, com medo de encontrar debaixo dele uma cascata de cabelos acaju e um par de olhos verde-esmeralda. Mas o que viu foi ainda pior, compreendendo então porque Mariposa o chamara pelo tratamento que somente as pessoas muito próximas dele utilizavam e que ele não ouvia desde a adolescência. Vira cabelos negros e brilhantes, encimando um par de olhos azuis que, agora sem brilho e arregalados, fitavam-no com uma expressão de muda censura. Olhos iguais aos de sua mãe, Selene.
Estirada aos seus pés, morta pela sua Avada Kedavra, jazia sua irmã caçula, Nereida Snape, a identidade secreta da “Mariposa de Titânio”.
Ainda em choque por ter matado sua própria irmã, Snape desaparatou dali, acompanhado por Lucius. Chegando ao esconderijo, Voldemort perguntou:
—Conseguiram matar o trouxa?
—Não, Mestre. Haviam Feitiços de Segurança e um pelotão de Aurores. Mas Severo eliminou a lendária Auror “Mariposa de Titânio”.
—Excelente, Lucius. Severo, por que você não diz nada?
—É melhor deixá-lo, por enquanto, Mestre. Ele acabou de sofrer um choque grande até mesmo para um Death Eater. _ disse Lucius Malfoy, olhando para os dois com uma cara séria _ Depois eu lhe explico.

Severo Snape raramente bebia, mas passou os três dias seguintes encerrado em um apartamento de um hotel bruxo de quinta categoria, tomando doses sem conta de uísque de fogo até cair adormecido, despertando apenas para beber mais. Queria esquecer os acontecimentos daquela noite, mas eles teimavam em ficar cada vez mais nítidos em sua memória. A única conclusão à qual chegava era que não lhe restava mais nada a fazer, nenhuma razão para viver. Foi então que, do fundo de sua embriaguez, tomou a decisão que iria, novamente, mudar a sua vida. Só que ele ainda não sabia disso. Tomou um frasco de Poção Para Curar Bebedeiras e, recuperado, foi tomar um banho, lavando caprichosamente seus cabelos, teimosamente oleosos. Depois do banho, trajou suas melhores vestes e consultou o relógio. Eram 10:00 h da manhã, havia tempo para pagar sua conta e desaparatar para a Estação de King’s Cross e ir para a Plataforma 9 ½. Comprou uma passagem para Hogsmeade e embarcou no Expresso de Hogwarts que, pontualmente às 11:00 h, saiu, devorando os trilhos. Quando aproximavam-se de Hogsmeade, o tempo mudou e uma verdadeira tempestade começou a cair, dando a impressão de que o mundo ia acabar, tal era a chuva. (“Bastante apropriado. É o tempo ideal para o que está para acontecer”, pensou). Deixara um bilhete para Lucius, comunicando sua decisão e a missão particular à qual se propusera. Desembarcou à noite, oculto por um enorme guarda-chuva e dirigiu-se à periferia da cidadezinha, aproveitando que ninguém o via. Entrou na Casa dos Gritos e desceu pela passagem secreta, indo sair entre as raízes do Salgueiro Lutador. Utilizando uma vara, apertou o nó do tronco, imobilizando a árvore por tempo suficiente para afastar-se dela.
Já dentro dos terrenos de Hogwarts, sabia que não poderia utilizar Aparatação. Mas tinha conhecimento de uma maneira de entrar no castelo, uma entrada de serviço, utilizada apenas pelos elfos domésticos (“Não são só Tiago Potter e os Marotos que conhecem as manhas de Hogwarts”, pensou). A porta era estreita, dimensionada para o corpo reduzido dos elfos, mas Severo passou por ela. Foi surpreendido por um deles:
—Meu senhor, somente nós, elfos, utilizamos esta passagem. Os senhores humanos não vêm aqui, principalmente os estranhos.
—Não sou estranho. Sou ex-aluno desta escola. Esqueça que me viu ou eu lhe dou uma muda de roupas completa!
Ponderando no quanto elfos libertos eram malvistos pela Bruxidade, em como gostava da vida de servo em Hogwarts, o melhor lugar para um elfo em toda a Grã-Bretanha e na obrigação de obedecer às ordens dos seus senhores, apenas respondeu:
—Como o senhor me ordenar. _ e retirou-se.
Esgueirando-se pelos corredores, viu um par de olhos amarelos a fitá-lo e notou que pertenciam à gata de Filch, Madame Nor-ra.
— “Morpheus”! _ e a gata caiu, adormecida. Não poderia arriscar-se a ser pego pelo zelador e, assim, malograr seu plano. Chegou ao lugar que procurava, um recesso do corredor, guardado por uma gárgula.(“Ele gosta de utilizar nomes de doces como senha, principalmente doces trouxas”, pensou Severo).
—Sorvete de Limão! _ a gárgula não se moveu _ Mousse de Chocolate! _ nada aconteceu _ Bananas Carameladas! Doce de Abóbora! Cocadas Baianas! _ a gárgula permaneceu imóvel. Puxando pela memória, Severo disse:
—Bala de goma! _ a gárgula franqueou sua passagem e ele subiu pela escada rolante em espiral. Chegando à porta de carvalho maciço, preparou-se para abri-la com um Alorromora, mas surpreendeu-se de encontrá-la entreaberta. Entrou no gabinete e rumou para os aposentos particulares do Diretor, nem mesmo estranhando de tudo estar parecendo fácil demais. Aproximou-se do leito, onde o homem que o ocupava encontrava-se a ressonar. Lamentando que não haveria reação por parte dele, mas sabendo que essa possibilidade também estava prevista nos seus planos, apontou a varinha e preparou-se para lançar a Maldição da Morte, mas foi surpreendido quando o homem deitado estendeu o braço, cuja mão empunhava a varinha e disse:
— “Inmobulus”! _ imediatamente o corpo de Severo Snape ficou paralisado e o homem na cama, que não era outro senão Derek Mason, levantou-se, com lágrimas de tristeza nos olhos. Depois que Snape explicou que tiraria a própria vida depois de matar Dumbledore, o Diretor apareceu e, após falar com ele, estendeu-lhe a mão e concedeu a Severo uma segunda chance, como espião da Ordem da Fênix entre os bruxos das Trevas. Ele perguntou a Mason como descobrira.
—Recebemos uma denúncia anônima e eu vim investigar, Severo. Só não imaginava que seria você o pretenso assassino. Por que resolveu tentar matar Dumbledore?
Severo contou a Derek sobre as barbaridades cometidas no passado e como acabara assassinando sua própria irmã, a “Mariposa de Titânio”. Derek ouviu tudo, pasmo.
—Por Deus, Severo! Então foi você quem matou Mariposa, minha ex-aluna? E ela era, na verdade, Nereida? E ela o reconheceu porque Lucius tropeçou e fez com que sua capa e máscara caíssem. Isso está parecendo muito estranho. E eu vim investigar uma denúncia anônima.
—Eu pretendia duelar com Dumbledore, para que ele me matasse. Se eu o matasse, iria tirar minha vida. Deixei um bilhete explicando tudo para...
—...Lucius. _ disse Derek _ Parece que nossa denúncia anônima não é tão anônima assim. Creio que ele deve ter ficado com inveja de você, da estima que Voldemort tem por sua família e armou isso. Não duvidaria se ele tivesse descoberto a identidade de Mariposa e utilizado isso para tirar do caminho o preferido do Lorde e ocupar seu posto.
Depois daqueles acontecimentos, Severo tornara-se espião da Ordem da Fênix, embora Voldemort pensasse que ele estava espionando Hogwarts para as Trevas, pois Dumbledore não só poupara a sua vida, como também o convidara para assumir a cadeira da disciplina de Poções, o que ele vinha fazendo, nos últimos dezoito anos, mesmo pleiteando seguidamente a de Defesa Contra as Artes das Trevas, que Dumbledore propusera a Tiago Potter. Quando soubera que o segredo do paradeiro dos Potter havia sido revelado, tentara avisá-los e a Dumbledore, mas não chegara a tempo. Odiara Sirius Black com todas as suas forças pois, como todos na época, não sabia que Pettigrew era o traidor. Hoje sabia da verdade e tinha uma convivência relativamente amistosa com seu antigo desafeto.

O disco estava terminando e Severo Snape retornava da viagem pelas amargas lembranças do seu passado. Cada dia da sua vida depois daquilo havia sido um testemunho de arrependimento e uma tentativa de reparar as conseqüências de seus atos. Nada traria de volta as vidas tiradas, mas ele procurava evitar ao máximo que outras se perdessem, inclusive e principalmente agora, que o Lorde acreditava que ele jamais havia deixado de ser um Death Eater.
—Maldito seja, Lord Voldemort. _ disse Snape, baixinho, pronunciando o nome do bruxo maligno pela primeira vez na vida _ E maldito seja você, Lucius Malfoy, sua lombriga oxigenada. Ainda bem que Draco é bem diferente de você, seu demônio (“Realmente, acho que vou comprar um microsystem enfeitiçado. Alguns bruxos mais jovens estão criando um ramo novo da magia, que trata de enfeitiçar eletroeletrônicos, para que funcionem em locais com alta concentração de energia mágica, além de consertá-los com magia. Creio que o nome dessa área nova é Tecnomagia, se não me engano. Soube que os gêmeos Weasley são dois experts nessa área. É, acho que Rosmerta irá gostar”).
Com um sorriso no rosto, foi tomar um banho e trajar-se a preceito. Havia separado uma garrafa de Malbec de seu estoque privado e, ao lado dela, havia um estojo com um par de alianças. Iria propor casamento a Madame Rosmerta e fazia questão de ter Dumbledore como celebrante e Derek Mason como padrinho.
No pórtico do castelo, apreciando o pôr do sol, os Inseparáveis viram Severo Snape tomar um coche puxado por um Testrálio, rumo a Hogsmeade, com o embrulho cuidadosamente aninhado em seus braços.
—Lá vai ele, todo feliz, encontrar-se com Madame Rosmerta. _ disse Janine _ Não o conheci nos anos mais azedos, mas dá para ver que ela está fazendo muito bem a ele.
—Sem dúvida. _ comentou Harry _ É bom quando uma pessoa recupera a capacidade de sorrir.
—E ele levou muitos anos para recuperá-la. Tenho até medo de imaginar os horrores que ele deve ter passado, tendo sido um Death Eater. _ observou Draco _ Pelo menos ele conseguiu. Já meu pai... acho que nem Azkaban poderá dar jeito nele.
—Não pense nisso, Draco. _ disse Rony _ Cada um escolhe seu caminho. “Timchel”, como você mesmo disse.
—Vocês têm razão. _ ouviu-se a voz de Sirius, atrás deles _ Todos nós temos a liberdade de escolher nossa trajetória. E, falando em trajetória, a minha também me leva a Hogsmeade. Com licença. _ e embarcou em outro coche, trajando vestes elegantes.
—Você tem ido muito a Hogsmeade ultimamente, Sirius. O que está acontecendo de especial por lá? _ perguntou Gina, com um sorriso travesso no rosto.
—Saberão quando chegar a hora, jovens. No momento adequado, faço questão de dizer e mostrar a vocês. _ respondeu ele, olhando para os Inseparáveis e dando aquela sua conhecida risada, semelhante a um latido rouco.
Logo em seguida, seu coche pôs-se a caminho de Hogsmeade, deixando os Inseparáveis cheios de especulações sobre o que ele estava querendo dizer.


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