Kuroi Crystal escrita por Luciane


Capítulo 15
Capítulo 14 - Uma noite de diversão! ...ou quase




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“Akemi...”

“Eu... Quero... Ser... Você”

“Por que você? Por que roubastes minha vida?”

“Akemi... Akemi...”

 

            Abrir os olhos não foi tarefa fácil. Sentia-os pesados, ardiam e, na certa, também estariam vermelhos e inchados. Já fazia tanto tempo, que ela havia esquecido daquela sensação nas vistas de quando se acorda após ter pegado no sono devido ao cansaço de tanto chorar.

            Virou-se na cama, com a barriga para cima e surpreendeu-se ao ver, com a iluminação tênue dos primeiros raios de sol que adentravam o quarto através das frestas da cortina, Maaya sentada ao seu lado.

            A ruiva sorriu-lhe com carinho e sussurrou:

            -Já acordou? Ainda nem são seis da manhã.

            -Ficou aí acordada esse tempo todo? – Perguntou Karin, ainda incrédula.

            -Acho que cochilei a maior parte do tempo. Não queria que se sentisse sozinha quando acordasse. Está melhor?

            -Estou ótima. Não pense que eu faço essas coisas sempre.

            -Sei que não. Mas todo mundo precisa fazer “essas coisas” de vez em quando. Acho que você não deveria ficar guardando tantas mágoas.

            -Dispenso seus conselhos.

Dito isso, Karin levantou-se e entrou no banheiro do quarto, fechando a porta. Ainda sentada na cama, Maaya suspirou. Aquela aproximação seria bem mais difícil do que ela imaginava.

 

*****

            -Nhai, stop this! – Resmungou Miyu, sacudindo a cabeça para se livrar da pena que lhe fazia cócegas atrás da orelha.

            Em vão, pois a pena continuava a se arrastar levemente pela sua pele. Vencida, ela despertou por completo e abriu os olhos, já bronqueando com quem quer que estivesse fazendo aquilo.

            -Aff... Mas quem diabos está... MY BABY!! O.o

            Agachada ao lado da cama, Manami a encarava seriamente.

            -Good morning, Angel. – Zombou, numa clássica referência a um antigo seriado americano.

            -Good morning. – A mais velha respondeu, intrigada com a expressão nada amigável com que a outra lhe encarava. – Algum problema, baby?

            -Eu vi. – Manami declarou, apenas.

            -Viu o quê? O.o

            -Você se esfregando no meu namorado.

            De súbito, Miyu sentou-se na cama e tentou negar a acusação:

            -Como você pode achar que eu faria isso contigo, my baby?

            -Como eu posso achar? Vou repetir a minha frase inicial: eu vi.

            Num desespero visível, Miyu uniu as mãos em frente ao rosto e pôs-se a implorar:

            -Perdoe-me, my baby! Please! Eu juro que não tive culpa nenhuma. Foi ele que chegou, e...

            -Poupe-me, Miyu! – Manami a cortou, indiferente – Quando vi a cena, confesso que quis matar os dois. Mas pensei um pouco melhor e percebi que não vale à pena. Conheço muito bem o Yuuhi e preciso aceitar o fato de que ele vai me trair com qualquer cachorra bonitinha que passar na frente dele.

            -“Cachorra”? – Choramingou a nipo-americana.

            Ignorando-a, Manami prosseguiu:    

            -Sinceramente, Miyu, você não representa ameaça alguma pra mim. Estou muito mais preocupada com aquela monstrenga maldita.

            -A Sayuki? – Miyu fez uma pausa, lembrando-se do ocorrido na noite anterior – Oh, é verdade. Ontem os dois ficaram sozinhos conversando.

            -Conversando? – Manami gritou, em fúria – Eles se beijaram!

            -Oh, no! Isso é inadmissível! O.O

            -Cala a boca! ¬¬’ – Manami fez uma pausa, pensativa – Sabe, Miyu, estou disposta a esquecer o que aconteceu entre você e o Yuu-chan, caso você ainda esteja disposta a me ajudar a me livrar da monstrenga.

            -Sure, my baby! ;____; Precisamos pensar em algo.

            -Eu já pensei. Já sei o que fazer para tirá-la da República.

            Miyu ouviu atentamente o plano que a amiga tivera.

 

*****

            O som da campainha fez sua cabeça doer ainda mais. Caído no chão da sala, o homem de cabelos curtos e negros e olhos castanhos ainda sentia os efeitos da ressaca ocasionada pela bebedeira da noite anterior.

            A campainha voltou a tocar e ele teve o impulso de gritar para que sua mulher atendesse a porta. Contudo, deteve-se ao ouvir, ao longe, o barulho da água do chuveiro, o que denunciava que a esposa estava no banho. Sendo assim, a ele restou a difícil tarefa de levantar-se e ver quem tinha a infeliz idéia de visitá-los àquela hora da manhã (apesar de, embora ele não fizesse idéia, já passava de meio-dia).

            Ao abrir a porta e olhar para a pessoa que aguardava do outro lado das grades do portão, pensou se suas vistas estariam funcionando corretamente, ou se ainda se mantinham sob os efeitos do álcool. Afinal, não era todo dia que recebia a visita de uma jovem tão bonita. Ao olhá-la melhor, reconheceu-a como a filha de vizinhos.

            Aproximou-se e abriu o portão, lançando para a garota seu melhor sorriso.

            -Em que posso ajudá-la, gracinha?

Tentando ignorar o terrível cheiro de álcool, a garota foi simpática, estendendo-lhe a mão.

-Não sei se o senhor me conhece, mas moro logo ali no cinqüenta e dois. Sou Aikawa Manami.

            Ele beijou a mão dela, também se apresentando:

            - Takada Minoru. Seu criado.

            Manami sentiu verdadeiro nojo daquele beijo em sua mão, mas continuou a sorrir, começando a explicar o motivo de sua visita:

            -Serei direta com o senhor: vim até aqui pra lhe informar que sei onde está sua sobrinha “desaparecida”.

            Minoru ficou sério por um instante, encarando a jovem com total incredulidade. Por fim, riu.

            -Sabe onde está nossa garotinha? Mas que ótima notícia! Pois diga, que eu e minha esposa iremos agora mesmo atrás dela.

            -Não será necessário. Faço questão de levá-los até lá agora mesmo.

            Sorrindo mais uma vez, Minoru convidou Manami para entrar e aguardar um pouco, enquanto a esposa dele terminava de tomar seu banho.

 

*****

-Balada? *.* - Perguntou Yuuhi, eufórico.

            Maaya balançou a cabeça, confirmando.

            -Acabaram de inaugurar uma casa noturna aqui perto. E Hideki me convenceu de que vocês precisam de um pouco de diversão.

            Estavam todos – com exceção de Karin que estava no quarto, e de Manami que havia saído – reunidos na sala. Os jovens pareceram animados com a idéia, menos Kosugi Saito. Mas isso não admirava nenhum dos presentes, afinal, todos já estavam se acostumando com a expressão permanentemente séria do rapaz.

            Ele levantou-se do sofá e anunciou:

            -Já tenho planos para essa noite. Volto apenas amanhã.

            Ninguém ousou fazer qualquer pergunta. Em vez disso, voltaram suas atenções para o assunto principal.

            Harumi foi a primeira a indagar:

            -E como é esse lugar, Shihara-san?

            -Querida, já pedi para que me chame apenas de “Maaya”, por favor. – Rebateu a dona da república – Pelo que Hideki me disse, é um local animado, mas tranqüilo. Sem brigas.

            -Pow, Maaya! – Resmungou Yuuhi – Achei que tivesse dito que íamos nos divertir essa noite. ¬¬’

            Tiemi bronqueou com o irmão:

            -Pra você, nunca tem graça se não tiver briga, não é?! ¬¬’

            -Terá graça, sim. – Argumentou Maaya – Acha que eu levaria vocês pra lugares perigosos? Estarei responsável por doze jovens. Bem, isso se Sayuki também quiser ir conosco, mas acho difícil que queira.

            Miyu, que até então não parecia muito interessada no assunto, manifestou-se depois da última declaração:

            -Oh, então a Sayuki ficará sozinha em casa, é?!

            Maaya ficou um pouco intrigada com a pergunta, mas respondeu:

            -Não tem perigo, o bairro é bem tranqüilo. Além do mais, é só ela trancar direitinho a casa que ficará segura.

-E por falar nisso... – Começou a dizer Hideki, colocando a mão no bolso de sua calça e tirando de lá dois chaveiros, cada um com três chaves, e os entregando a Miyu – Aqui estão, as chaves da república. Suas e da Aikawa.

            Miyu sorriu agradecida. E eles voltaram a conversar sobre o programa da noite. Minutos depois, Karin desceu as escadas, passando direto por todos e saindo. Yuuhi pareceu ser o único que a notou e levantou-se do chão onde estava sentado, correndo atrás da bad girl. Quando a alcançou, ela já estava no portão.

            -Espera, Sayuki.

            Já com a mão sobre a fechadura do portão, ela voltou seus olhos para Kawamoto e resmungou:

            -Quié?

            -Eu preciso falar com você. – Ele declarou, um pouco aflito.

            Karin tirou a mão do portão e encarou Yuuhi, advertindo-o:

            -Se veio dizer mais besteiras, vou logo avisando que não tô com paciência pra...

            -Vimpedirdesculpas. – Disse ele, num fôlego só e num tom de voz quase que inaudível.

            Ela franziu a testa.

            -Ãh?

            -Vim... Pedirdesculpas. – Ele repetiu um pouco mais alto, mas não o suficiente para que ela o entendesse.

            -Fala pra fora, idiota!

            -Aff... ¬¬’ EU... VIM... PEDIR... DESCULPAS!

            Karin ficou surpresa com o pedido, mas disfarçou, fingindo indiferença:

            -Ah... Veio, é?!

            -É! ¬¬’ Foi mal mesmo por ontem.

            -Foi péssimo.

            -Eu sei. Não tenho nada a ver com tua vida e não devia ter dito aquilo. Foi mal por te deixar pra baixo

            -Não me deixou “pra baixo”.

            -Lógico que deixei. Tu saiu de lá toda chorosa.

            -Chorosa? Não viaja, idiota.

            -¬¬’ Mas... Quanto a... Aquele beijo... Foi idiotice de minha parte.

            -Eu sei. Tava a fim de tirar uma com a minha cara, não é?! Já que conseguiu, eu espero que depois dessa você pare de pegar no meu pé e me deixe em paz.

            Ele balançou a cabeça negativamente.

            -Não te beijei pra tirar uma da tua cara. Na verdade, eu não sei porque fui fazer aquilo. Foi um impulso idiota. Enfim, foi um erro.

            -Foi.

            -Não vai se repetir. Aquele beijo não significou absolutamente nada pra mim.

            -Lógico que não! Nem pra mim!

            Yuuhi arqueou as sobrancelhas e retrucou:

            -Mas pra você deveria. Foi o seu primeiro beijo. E um beijo de Kawamoto Yuuhi! XD Tá, tá... Não me olha com essa cara não, foi só uma piada. Não tô a fim de apanhar de novo, valeu?! ¬¬’

            Karin bufou e resmungou um insulto qualquer, antes de meramente virar-se para sair. Porém, ao abrir o portão, assustou-se ao dar de cara com um casal.

            Recuou instintivamente alguns passos, mas foi impedida de continuar por uma mulher de olhos e cabelos negros, que a abraçou com força, dizendo com um tom de voz aflito:

            -Minha filhinha! Que bom que te encontramos, querida!

            Yuuhi olhou confuso para aquilo. Percebeu a expressão de pavor estampada no rosto de Sayuki, ao mesmo tempo em que a preocupação no rosto, nos atos e na voz daquela mulher pareciam reais.

            Karin a empurrou, afastando-a. Minoru entrou no quintal e amparou sua esposa para que não caísse com o empurrão da garota. Em seguida olhou para a sobrinha e indagou, sorrindo.

            -Queridinha, isso é jeito de tratar a sua tia?

            -O que estão fazendo aqui? – Perguntou Karin, recuando mais um passo – Como me acharam?

            -Isso não vem ao caso, Ka-chan. – Respondeu a mulher, ainda num tom de voz emocionado – Seu tio e eu estávamos tão preocupados com você! Viemos buscá-la e levá-la de volta para nossa casa, onde é o seu lugar. – Voltou a se aproximar, apenas para ser, mais uma vez, empurrada pela sobrinha.

            -Eu não vou com vocês a lugar algum. – Rebateu Karin.

            -Você vai, sim. – Disse Minoru, já se aproximando da adolescente. No entanto, foi impedido por Yuuhi que entrou em seu caminho e disse:

            -A garota disse que não quer ir.

            Minoru analisou o rapaz à sua frente. Era jovem, parecia forte... Não seria muito vantajoso tentar comprar briga com ele. Não que não se garantisse, mas seria bem melhor evitar ter problemas por agredir um menor. Ao invés disso, optou por continuar a tentar resolver a situação com o diálogo:

            -Entenda, meu jovem, minha esposa e eu somos os representantes legais de Karin. Somos a única família dela, e o lugar de uma garotinha de dezessete anos é em sua casa, ao lado de sua família.

            Ignorando os argumentos, Yuuhi ia tornar a garantir que ninguém levaria Sayuki. Contudo, outra pessoa foi mais rápida que ele:

            -Ninguém vai levá-la.

            Os quatro voltaram seus olhos para a direção em que vinha a voz. Maaya vinha da sala e parou ao lado de Karin, encarando os tios desta.

            -A garota vai ficar. – Afirmou a ruiva.

            Minoru se revoltou:

            -Nós somos os responsáveis por ela e vamos levá-la, nem que seja à força!

            -Ah... À força, é?! – Perguntou Hideki, também vindo da sala e parando a frente de Karin, ao lado de Yuuhi. – Podem tentar.

            Minoru olhou para os dois rapazes a sua frente pensando que, ainda que quisesse, não conseguiria tirar Karin de lá usando a força. Perguntou-se como aquela garota tão anti-social havia conseguido tantas pessoas dispostas a protegê-la.

            Sua esposa, Sakuya, começou a chorar e ele a abraçou, voltando à estratégia anterior:

            -Vocês estão vendo o estado dela? Está assim desde que nossa garotinha saiu de casa. Não sentem pena de uma pobre mãe desesperada pela ausência de sua filha?

            -Ela não é minha mãe. – Comunicou Karin, com a voz baixa, porém carregada de rancor.

            Maaya a olhou por um instante, tornando a encarar Sakuya em seguida. Como era possível que aquela fosse a sua irmã caçula? Recusava-se a entender como alguém poderia mudar daquele jeito por causa de um homem. Quando jovem, Sakuya era uma pessoa boa, gostava de Karin. Mais do que isso: tinha uma verdadeira adoração pela sobrinha. Agora, era capaz de tamanha falsidade para continuar garantindo o dinheiro mensal da pensão da adolescente. Com certeza, este era o único ganha-pão deles.

            Tentou controlar seu ódio. Não era mais Sayuki Ayumi. Não era mais irmã de Sakuya nem mãe de Karin. Agora, era Shihara Maaya. Tinha outra identidade, outra aparência, outra vida... E não iria pôr tudo isso a perder por falta de autocontrole. Sendo assim, respirou fundo e avisou:

            -Ela não irá sair daqui. Ela está em minha casa, sob minha responsabilidade e eu não vou permitir que ninguém a tire daqui.

            -Eu acho que a senhorita ainda não entendeu. – Disse Minoru, encarando a ruiva – Nós somos os representantes legais dela. Vocês são obrigados a entregá-la para nós.

            -E quem vai nos obrigar? – Rebateu Maaya – O senhor? Pois tente!

            -Não, senhorita. Não tenho poder de obrigar ninguém a nada, mas a justiça, sim.

            -Ah, claro. – Maaya debochou – Então traga um oficial, com um papel assinado por um juiz... Aí eu serei obrigada a entregar a garota. Assim, ela aproveita e conta pra ele os motivos que a levaram a fugir de casa. Vamos ver se mesmo assim ainda a obrigam a ir com os senhores.

            Se os olhos de Minoru e de Maaya fossem armas, naquele momento ambos teriam morrido fuzilados pelos olhares que trocaram. Ainda abraçado a sua esposa, ele virou-se em direção ao portão, enquanto dizia:

            -Acalme-se, querida. Voltaremos num outro momento para buscar nossa garotinha. –E foi embora, levando Sakuya junto.

            Mal eles saíram e Yuuhi bateu o portão, irritado.

            -Cara idiota! Tava louco pra partir pra porrada, mas morrendo de medo, o infeliz!

            Hideki ia concordar com o outro rapaz, mas foi impedido pela voz baixa que perguntava:

            -Por que fizeram isso?

            Os três voltaram seus olhos para Karin, que fitava o chão. Foi Hideki que lhe respondeu:

            -Você já é da família, garota. Faríamos o mesmo pra defender qualquer um daqui.

            -Obrigada. – Ela disse, de forma rápida e baixa, ainda fitando o chão.

            Mas não deu tempo para que ninguém respondesse, pois entrou em casa correndo, passando rapidamente pela sala e subindo as escadas, voltando para o quarto.

            Hideki e Maaya sorriram de leve. Yuuhi franziu a testa.

            -Ela disse... O que eu acho que ela disse? O.o Primeiro ela ameaça chorar, depois diz “obrigada”... Acho que raptaram a verdadeira Sayuki e colocaram uma alienígena no lugar! u.u” E espero que não a tragam de volta! ¬¬’

            Dizendo isso, Yuuhi saiu pelo portão. Hideki e Maaya trocaram um sorriso.

            -Parece que alguém está começando a amolecer. – Comentou o jovem.

            Maaya concordou e os dois voltaram para a sala.

 

*****

            -Como não deixaram vocês tirarem ela de lá?– Perguntou Manami ao casal, furiosa.

            Os três já estavam na rua, a algumas esquinas de distância da República.

            Ignorando a pergunta, Minoru comentou, transtornado:

            -A infeliz deve ter soltado a língua com alguém. Se não, aquela mulher não teria me feito aquela ameaça.

            -Soltar a língua sobre o quê? – A raiva de Manami deu lugar à curiosidade.

            Minoru tratou de desconversar:

            -Nada de importante. Tenho que arrumar um jeito de tirar aquela garota de lá. Porque, enquanto ela estiver naquele lugar, será impossível fazê-la voltar pra casa. Tem aqueles moleques e aquela vadia para protegê-la!

            -Acho que deveríamos deixá-la lá. – Opinou Sakuya, apenas para ser repreendida pelo marido:

            -Você não acha nada! – Ele olhou novamente para Manami – Você disse que nos ajudaria. Espero que nos dê alguma idéia sobre o que faremos agora.

            -Claro que vou ajudar. – Garantiu Manami – Vocês querem a monstrenga de volta, eu quero me livrar dela. Precisamos unir nossas forças! Mas, para poder pensar em alguma coisa, eu preciso de mais informações. Como por exemplo... Sobre o que ela pode ter soltado a língua com Maaya.

            Minoru olhou para a adolescente por um instante, pensando sobre se deveria ou não confiar nela. Por fim, decidindo que qualquer ajuda seria válida, a convidou para acompanhá-los até em casa, onde conversariam melhor.

 

*****

            Logo a noite chegou. Os jovens estavam empolgados com a idéia de saírem juntos. Jean havia buscado Nathalie em casa e convencido seu ex-patrão a deixar que a menina saísse com eles, garantindo que cuidaria bem dela.

Maaya, no entanto, não parecia muito animada. Pensou sobre as palavras de Miyu. Não seria arriscado deixar Karin sozinha? Contudo, forçou-se a controlar o seu lado “mãe paranóica” e tentou ser racional, chegando à conclusão de que não haveria problema algum em deixar Karin sozinha por algumas horas. Ela estaria em casa, o bairro era seguro... Realmente, não deveria se preocupar com aquilo.

            Assim que todos ficaram prontos, enfim puderam sair. Maaya tomou o cuidado de trancar bem a casa.

            Na rua, enquanto se organizavam nos carros de Maaya e de Hideki, Manami tirou do bolso as chaves que Miyu havia lhe entregado mais cedo. Certificando-se de que ninguém estava olhando, ela discretamente as jogou em meio a um canteiro de flores que havia encostado ao muro da república. Em seguida juntou-se aos demais, entrando em um dos carros.

 

*****

            Excepcionalmente, nessa noite decidira ficar em casa. Sua esposa e filho já dormiam, e ele estava na sala, ao lado do telefone, aguardando por uma importante ligação. Manami lhe garantiu que ligaria, sem falta. Mas já passava das onze da noite, e Minoru já estava cansando daquela espera.

            Pensava em deixar aquilo de lado e sair para beber quando finalmente o telefone tocou. Atendeu, ouvindo um som altíssimo do outro lado da linha.

            -Minoru? Tá me ouvindo? – Gritou a voz do outro lado.

            Ele também gritou, para que ela o ouvisse:

            -Estou ouvindo. Mas onde diabos você está?

            -Boas notícias. A galera da República marcou de sair hoje. E adivinha quem ficou em casa, completamente sozinha?

            -E o que você sugere? Que eu vá lá e seqüestre a garota? – A voz dele era claramente irônica.

            -Vá conversar com ela. – Sugeriu Manami – Ameaçar, dar um sustinho. Disse que precisa dela para receber a tal grana mensal, não é?! Essa é a sua chance de levá-la de volta.

            Minoru pensou sobre aquilo. De fato, não poderia desperdiçar uma oportunidade como aquela. Ainda que não conseguisse levar Karin de volta pra casa, ao menos poderia se divertir um pouco com ela.

            -Não precisa ter pressa! – Manami continuava a falar – Pelo visto, a balada aqui vai até amanhã de manhã. Você terá a noite inteira!

            Ele sorriu.

-Você é demais, garota!

            -Sei que sou! ^-^ Preste atenção: as chaves da casa estão no canteiro de flores, ao lado do portão.

            -Certo. Estou indo agora mesmo pra lá.

            Sem perder nem mais um minuto, ele desligou o telefone e saiu de casa, rumo à República de estudantes.

 

*****

            Sentados no bar, Maaya e Hideki tomavam uma bebida, enquanto observavam os jovens que dançavam próximos ao local onde estavam. A casa era grande, e boa parte dos que foram com eles já haviam sumido de suas vistas.

            Maaya olhou para seu filho, achando graça da forma como ele bancava o “adulto supervisor”.

            -Vai ficar aí até quando? – Ela indagou – Vai dançar, se divertir, olhar as meninas bonitas. Mas apenas olhe, viu?! Lembre-se que Nao-chan logo estará novamente conosco.

            Hideki fez-se de sentido:

            -Tá louca pra se ver livre de mim, confessa! ¬¬’

            -Lógico! Tá cheio de homem bonito por aqui e ninguém chega perto de uma mulher que está acompanhada.

            Ele riu.

            -Até parece que você daria bola pra algum deles.

            -Quem te garante que não?

            -Eu te conheço o suficiente pra saber que não.

            -Talvez. – Ela suspirou, pensativa – O que estou fazendo numa balada? Já passei da idade disso.

            -Conta outra, mãe! Você tá inteirona ainda. Muito melhor que várias garotinhas de vinte por aqui.

            Foi a vez de Maaya rir.

            -Depois sou eu a coruja!

            -Só estou dizendo a verdade.

            Ainda rindo, Maaya tornou a olhar para a pista de dança e deteve sua atenção a Nathalie e Jean, que dançavam próximos um ao outro. Notando que o olhar de sua mãe para o casal parecia triste, Hideki indagou:

            -Que foi?

            -Aquela menina.

            -Nathalie? O que tem?

            -Temo que ela ainda vá sofrer bastante.

            Intrigado com a súbita previsão, Hideki olhou para a mãe, aguardando uma explicação. 

-Olha a carinha dela. – Maaya disse – Parece que está se apaixonando pelo Jean.

            -E isso é ruim?

            -É péssimo quando não se é correspondido. E muito pior quando, além disso, esse amor é totalmente proibido.

            -Por que seria proibido? – Pensando um pouco melhor, ele concluiu o que Maaya estaria querendo dizer – Acha que o fato de serem de classes diferentes é um problema? Isso é coisa do passado. Hoje em dia algo assim não torna o amor de ninguém proibido.

            -Não me refiro a isso.

            -Então?

            Voltando-se para o filho, Maaya apontou para o casal de loiros e insistiu:

            -Olhe pra eles, Deki. Olhe bem para eles. Será que fui apenas eu que percebi isso?

            Hideki olhou para os dois. Em seguida tornou a olhar para Maaya.

            -Refere-se à diferença de idade? De fato, acho que Nathalie ainda é uma menina. Talvez você tenha razão, embora ache que “proibido” é um termo forte demais.

            Maaya suspirou tristemente, movendo a cabeça numa negativa.

            -Deus queira que eu esteja enganada, filho. Mas, se não estiver, no dia que isso vier à tona eles vão sofrer. Os dois. A menina sofrerá demais. Está realmente se apaixonando... O que é pior: se apaixonando pela primeira vez na vida. Ele irá sofrer por ela. Porque, talvez por sorte, parece estar começando a gostar de outra pessoa.

            Hideki seguiu os olhos de sua mãe, avistando Tiemi, que dançava ao lado de Kazuo. Notou que, vez ou outra, a pequena ruiva e o francês trocavam olhares e sorrisos. Perguntou-se como Maaya conseguia perceber com tanta facilidade esse tipo de coisa.

            -Está sozinha? – Perguntou uma voz masculina próxima aos dois.

            Hideki olhou para aquele que se aproximara de sua mãe, fazendo uma breve análise do que via. Parecia ter uns trinta anos, se vestia bem e, aparentemente, não estava bêbado ou drogado. Até que era um tipo “aceitável”.

            -Estou com ele. – Respondeu Maaya, apontando para o filho.

            Antes que o homem saísse de perto, Hideki se apressou em inventar uma desculpa:

            -Ela só está com o irmão dela, cara. Vá em frente.

            Maaya lançou um olhar nada amigável para o filho. Ele sorriu e piscou para ela.

            -Vai nessa, “neechan”. – Disse-lhe, com a voz baixa – Que mal há nisso?

            Ela bem que pensou em dar uma enorme lista dos males que via nisso. Porém, refletiu um pouco melhor sobre a pergunta chegando à conclusão de que não teria grandes problemas em conversar com um rapaz. Apenas conversar.

            -Quer dançar? – Perguntou o desconhecido, estendendo-lhe a mão.

            Bem, talvez dançar também. Há quantos anos não saía para dançar? Seria bom se divertir um pouco de vez em quando. Assim sendo, ela aceitou a proposta e o acompanhou até a pista de dança.

            Hideki sorriu, observando enquanto os dois se afastavam. Virou-se novamente para o bar e continuou com sua bebida.

            -Uma água, por favor.

            Reconhecendo aquela voz, Hideki voltou os olhos para a jovem que se aproximou do balcão. Ela também o olhou no mesmo momento e ambos sorriram, sem-graça.

            -Água? – Perguntou Hideki.

            Harumi fez que sim.

            -É, não gosto muito de coisas alcoólicas. E pelo visto, você também não. – Ela lançou um olhar ao copo de suco sobre o balcão.

            -Hoje estou de motorista. – Ele explicou.

            -Uma pessoa consciente. Que bom seria se todos fossem assim.

            A conversa foi interrompida quando o garçom entregou a garrafa de água para Harumi. Ela ia pagar, mas Hideki segurou-a pela mão, impedindo-a.

            -Deixa. – Disse ele. E, sem dar chances para que ela recusasse, apressou-se em pagar a bebida. Quando notou que Harumi a olhava com desconfiança, explicou – Sem segundas intenções.

            A brasileira sabia que quando homens pagam algo a uma mulher, geralmente têm segundas intenções. Contudo, por qualquer motivo não viu essa maldade na atitude do filho da dona da república.

            -Obrigada. – Ela apenas agradeceu, por fim. Sentou-se ao lado dele e, após tomar um longo gole da água, enfim criou coragem para tocar num assunto que vinha evitando – Escuta, sobre aquele dia...

            Entendendo ao que ela se referia, ele se adiantou:

-O beijo? Relaxa! A Luna me contou porque você fez aquilo.

-Ah... Contou, é?! O.o...Aquela fofoqueira ¬¬’

Ele riu.

-Luna não fez por mal. Não brigue com ela.

-Ela nunca faz nada por mal! ¬¬’

-Então... Você e o tal cara estavam juntos há muito tempo?

-Dois anos.

-Ele deve ter feito algo terrível, para você resolver se vingar daquele jeito.

-Luna não te contou?

-Não. Ela disse apenas que você estava chateada com ele e resolveu se vingar beijando o primeiro que aparecesse na sua frente.

Já que a parte mais constrangedora (o motivo idiota de sua atitude) já havia sido contado, Harumi não se importou em relatar o restante da história:

-Ele me traiu.

-Canalha. – Hideki resumiu, de forma séria.

-Homem. – Harumi usou uma palavra que “resumia” melhor.

Hideki riu.

-Também não é assim. Nem todos os homens são canalhas.

-Tem razão. Digamos que oitenta por cento são canalhas. Os outros vinte são gays.

-Eu não sou gay.

Foi a vez de Harumi rir.

            -É... E também não parece ser um canalha. Mas um cara como você com certeza deve ter namorada. E ela deve me odiar se souber o que fiz contigo aquele dia.

            -Não, eu não tenho namorada. Mas digamos que eu esteja... Esperando por uma pessoa.

            -Sei. Todos esperam encontrar uma pessoa especial.

            Bebendo o restante de seu suco, Hideki contou:

            -Mas eu já encontrei a minha. Estou apenas esperando ela retornar para minha vida.

            Por qualquer razão, Harumi viu-se tomada de ciúmes diante da declaração. Porém, ainda assim sorriu, sem deixar de admirar aquilo.

            -Ela é uma garota de sorte. – Disse.

            Hideki moveu a cabeça numa negação e corrigiu:

            -Eu é que sou um homem de muita sorte.

            Ainda sorrindo, a jovem terminou de beber sua água e indagou:

            -Vai ficar mesmo aí a noite inteira? Por que não dança um pouco?

            -Hoje não. Vou ficar por aqui mesmo.

            -Bem... Então... Nos vemos mais tarde.

            -Divirta-se!

            Eles trocaram mais um breve sorriso e Harumi voltou para a pista, onde dançava próxima a Luna e Tiemi. Seu pensamento, no entanto, continuou preso em Hideki. Não poderia negar que aquele rapaz mexia demais com ela.

            O que ela não percebeu é que ele, durante boa parte do tempo, manteve os olhos fixos nela ao mesmo tempo em que tentava negar a si mesmo que também estava balançado pela estrangeira.

 

*****

            Encolhida sobre a cama, ela não conseguia pegar no sono. Vez ou outra, vencida pelo cansaço, cochilava, mas acordava ao menor ruído. Estava tensa, assustada e ferida. Seu corpo exibia inúmeros hematomas devido à constante tortura a qual vinha sendo submetida diariamente desde que chegara àquela casa. E a pior parte de tudo era não saber os motivos pelos quais estava passando por isso.

            Apavorou-se ao ouvir o barulho da fechadura da porta. Por uma pequena fresta no cobertor, observou enquanto a porta lentamente se abria. Por ela, entrou um rapaz. Era Kosugi Saito, o filho do homem que a prendera naquele lugar.

            Sentando-se na cama, ele descobriu o rosto da garota. Ela o fitava de forma completamente amedrontada.

            Abrindo um leve sorriso, ele passou uma das mãos pela face de Sayuri.

            -E então? Pensou melhor na minha proposta?

            Após fazer essa pergunta, ele pôde ver lágrimas se formarem nos olhos da jovem.

            -Por favor... –Sussurrou Sayuri, assustada – Por favor, me deixe sair daqui.

            Diante da súplica, ele se descontrolou:

            -Sabe quando te deixarei sair daqui? Nunca! E as torturas só irão terminar quando você resolver colaborar conosco e lembrar-se de seu passado. Ou quando concordar em ser minha.

            Percebendo que a havia assustado ainda mais, Saito voltou a acariciar a face dela.

Olhando para o rapaz, Sayuri disse, numa voz tão baixa que mais parecia um sussurro:

            -Uma pessoa tão jovem não pode ser tão ruim.

            Ele a fitou em silêncio por um instante, antes de responder:

            -Você fez eu me tornar isso que sou, no dia em que preferiu ficar com aquele moleque. Eu teria sido capaz de ir contra meu próprio pai por você, garota. Mas fui rejeitado. Agora, você está apenas colhendo o que semeou na outra vida.

            O choro dela se intensificou. Não sabia do que ele estava falando, mas aquelas palavras a feriam. De alguma maneira, sentia-se culpada pela frieza e crueldade daquele jovem a sua frente.

            Ele continuou ali, em silêncio, apenas acariciando-lhe o rosto e enxugando suas lágrimas.

 

*****

            -Vou embora.

            A voz de Maaya o fez, finalmente, voltar a si. Há quase uma hora que continuava com os olhos fixos em Harumi, tanto que ao menos percebera que sua mãe havia se aproximado.

            -O que disse? – Perguntou ele, voltando à realidade.

            -Que vou embora. – Maaya repetiu, entregando-lhe as chaves do carro – Sei que Harumi e Jean têm carteira de motorista. Peça a algum deles para dirigir o meu carro, desde que esteja sóbrio, é claro.

            -E você?

            -Eu pego um táxi, ou vou a pé mesmo. Daqui até a república deve ser menos de vinte minutos, não tem perigo.

            Dito isso, a ruiva virou-se para ir embora, mas Hideki a deteve:

            -Espera, mãe.Para que a pressa de ir embora?

            Ela o olhou no fundo dos olhos e declarou, de forma convicta:     

-Minha filha precisa de mim.

Hideki franziu a testa.

            -De onde você tirou isso? Karin está bem.

            Mas Maaya não se convenceu.

            -Deki, eu estou sentindo que minha filha não está bem. Ela está precisando de mim e eu vou voltar pra casa.

            Novamente, ela virou-se para ir embora, mas Hideki a segurou pelo braço e pediu:

            -Se é com a Karin que está preocupada, deixe que eu vou para casa. Ficarei ao lado dela e não terá risco algum, tudo bem?

            -Não, Hideki. Não quero acabar com a sua diversão.

            -Diversão? – Ele riu – Você parece estar se divertindo mais do que eu. Essa música alta e esse monte de luzes piscando estão me deixando com sono. Vou pra casa, fico com Karin e você fica aqui tranqüila, tá?!

            Maaya ia retrucar, mas percebeu que o filho realmente estava querendo ir embora. Queria ir com ele, mas não iria acabar com a diversão dos outros jovens (tampouco deixá-los sozinhos por ali, sem sua supervisão ou a de Hideki). Conformada, moveu a cabeça numa afirmação.

Hideki devolveu-lhe as chaves do carro dela e entregou-lhe as do seu.

            -Fique tranqüila aí, viu?! E vai se divertir! Seu amigo ali pareceu gostar mesmo de você.

            Maaya seguiu os olhos de Hideki, encontrando o rapaz com quem havia dançado minutos atrás, parado numa roda de amigos e olhando fixamente para ela.

            Tornou a olhar para Hideki e suspirou, declarando:

            -Eu não tenho mais idade pra isso. Ele tem vinte e oito anos, Hideki!

            -E quantos você disse que tinha? ^^

            Mais um suspiro antecedeu a resposta dela:

            -Er... Trinta.

            Ele riu.

            -O que são dois anos de diferença? Vai lá, garota! Seja feliz! Mas só não deixa esse camarada tentar se aproveitar de você, viu?!

            -Tá bom, “maninho”! – Ela ironizou – Anda, vai logo. Sua irmã realmente não está bem, eu sinto isso.

            Mesmo não acreditando muito nas premonições da mãe (ela certamente estava impressionada por Sakuya e o marido terem ido à república atrás de Karin), Hideki fez que sim e saiu. Estava chegando à porta da boate quando sentiu uma mão o segurar pelo ombro. Era Yuuhi.

            -Tá indo embora? – Perguntou o bad boy.

            -É. Estou meio entediado. – O mais velho respondeu.

            -Demorô, vou contigo!

            -Não está se divertindo?

            -Como? ¬¬’ O lugar tá cheio de mulher bonita, e eu com minha namorada por perto! Sem contar que não rolou nenhuma briguinha até agora. Fala sério, que caos!

            Hideki riu da noção um tanto deturpada que seu amigo tinha da palavra “caos”.

            -A Aikawa não vai ficar chateada se você for sem ela?

            -A Manami sumiu. Na certa deve estar por aí conversando com as meninas.

            -Claro! Com as meninas! u.u”

            E os dois saíram do local, caminhando pelas ruas rumo à república.

 

*****

            Ao contrário dos demais, a noite de Sayuki Karin não estava sendo nada animada. Como estava sem sono, sua opção habitual seria “dar umas voltas” pelas ruas, mas desta vez optara por ficar na república. O fato de seus tios terem descoberto onde ela estava causava-lhe a desconfiança de que pudessem estar pelas redondezas aguardando uma oportunidade de encontrá-la para tentar, mais uma vez, forçá-la a voltar para casa – coisa que ela não estava disposta a fazer. Assim, a opção que lhe restara foi deitar-se no sofá da sala e tentar assistir a um pouco de tevê. Entretanto, programas de televisão eram algo que facilmente a entediava.

            Desta forma, desligou o aparelho e resolver preparar algo para comer. Revirando os armários, optou pela praticidade de um macarrão instantâneo. Logo que colocou uma panela de água sobre o fogão, um ruído vindo da sala chamou-lhe a atenção. Voltou os olhos para um relógio de parede: eram pouco mais de uma da manhã. Ainda estava muito cedo para que alguém voltasse da tal “balada”, sem contar que, se fosse este o caso, teria ouvido o barulho dos carros chegando.

            Com o pressentimento de que havia algo de errado acontecendo, Karin apanhou uma faca de cima da mesa e manteve-se alerta, com os olhos fixos na porta que dava para o corredor, de onde agora ela podia ter certeza: ouvia o som de passos. Estes se aproximaram, até que um homem chegou ao cômodo. Apesar de assustada, a adolescente não se surpreendeu ao identificar o invasor. Algo em si já lhe dizia que seria ele.

            -Afaste-se! – Ela gritou, ameaçando-o com a faca.

            Ele sorriu, como se achando graça da valentia da garota. E começou a se aproximar.

 

*****

 


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