Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 27
Capítulo 27 - O Relato da Bruxa – Parte II.


Notas iniciais do capítulo

A musica Flerte Fatal foi composta pela banda Ira.
Desculpem a demora, pois mesmo eu tendo a ideia deste capitulo já a um bom tempo, foi muito difícil escrevê-lo, e ainda acho que pode ser que ele sofra alterações.



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Capítulo XXVII – O Relato da Bruxa – Parte II.


            A vitamina C é um nutriente importantíssima para o corpo que não é produzida pelo organismo. Participa de vários processos orgânicos, como na hidroxilação do aminoácido prolina na produção do colágeno da pele e a conversão do colesterol em ácidos biliares, ajudam assim na digestão de gorduras. Além disso, ajuda na absorção do ferro, encontrado nos vegetais, e por ter facilidade em doar elétrons ao organismo, é um ótimo antioxidante, protegendo o corpo contra ação de radicais livres, que podem causar problemas cardiovasculares, lesões musculares e o envelhecimento precoce.

“ (...) Muita gente já ultrapassou

A linha entre o prazer e a dependência

E a loucura que faz

O cara dar um tiro na cabeça

Quando chegam além

E os pés não tocam mais no chão

Esse flerte é um flerte fatal

Esse flerte é um flerte fatal (...)”.

(Musica: Flerte Fatal; Compositor: Ira).

            - Engraçado, antes de tudo acontecer eu não tirava esta musica da cabeça! – Dorothy falou, com uma expressão meio inebriante estampada no rosto. – Acho que foi porque foi a ultima musica que ouvi enquanto estava no trem.

            - Não conseguia tirar ela da cabeça antes de ser capturada? – Allan perguntou.

            - Não, eu não a tirava da cabeça antes do fim, antes de tudo acabar. – Ela respondeu.

            - Mas como aconteceu? – Thais perguntou com aquela curiosidade evidente que a consumia.

            Dorothy suspirou e coçou a testa com as costas da mão direita, depois passou os dedos pelos fios de cabelo que lhe caiam sobre os olhos para prendê-los atrás da orelha e então voltou a contar sua experiência de cárcere.

            Na primeira noite em que fiquei lá, fui deixada com as mãos amarradas por uma corda e presa com a algema, não vestia nada da cintura pra cima. O homem que tinha estado comigo quanto acordei me deixou sozinha no quarto e saiu. Eu tentei me levantar, mas estava tonta e não conseguia manter meu equilíbrio, acho que ainda era o efeito do toque de Cíntia.

            Eu rastejei até uma parede do quarto e a usei para me apoiar e tentar me levantar, o que eu até conseguia, mas quando eu me afastava da parede não conseguia dar mais do que quatro ou cinco passos e então acabava tropeçando outra vez. Eu estava lucida, sabia o que estava acontecendo naquele momento, sabia que estava com problemas, mas simplesmente não me preocupava, algum tempo depois senti meus pés formigarem, depois minha boca ficou dormente, e depois... Acho que eu apaguei.

            Quando acordei pela segunda vez minha boca estava seca e eu sentia muita cede. Agora eu estava de pé, meus braços estavam abertos e estendidos pra os lados e eu estava amarrada por uma corda pelos pulsos. Não estava mais presa pelas algemas, mas agora minhas pernas estavam juntas e minhas canelas também estavam amarradas.

            - Olha a garota acordou! – Falou um rapaz um pouco gordinho, com um alargador pequeno na orelha esquerda.

            - Já estava na hora! – Outro rapaz falou. – Eu não tenho o dia todo para ficar aqui fazendo as vontades do velho.

            - Acho que ela ainda esta sonolenta. – Falou outro deles, eu podia ver os três e sabia que havia mais um atrás de mim. – Acho que ela ainda não esta bem acordada!

            - Então vamos acordá-la de uma vez! – O que estava atrás de mim falou. – Eu não vim até aqui para ficar vendo a bela adormecida acordar. – Ele despejou um balde grande de água gelada sobre o meu corpo, que ele á havia preparado para isso, pois a água continha vários cubos de gelo que caíram em minha cabeça como uma chuva de pedras. Acordar amarrada em um cativeiro com um banho de água gelada está longe de ser uma boa forma de começar o dia.

            - Bom dia! – Falou o cretino que despejou aquela água gelada em mim com tom de ironia na vos. – Vamos acorde, você não esta em sua casa, é falta de educação ficar dormindo até tarde!

            - Desculpe! – Eu falei enquanto tremia de frio. – Mas se estou sendo uma hospede ruim por que não me põe pra fora daqui?

            - Como ela e engraçada não é? – Falou um deles, o que tinha o rosto mais magro, ele cheirava mal tinha uma expressão doente. Estava fumando um cigarro artesanal enrolado em papel seda, como aqueles guardanapos de lanchonetes, o cheiro da fumaça que saia daquele pequeno resto de cigarro que ele tinha entre os dedos denunciava seu vicio, ele era um usuário de maconha. – Falaram mesmo que ela esta sempre fazendo comentários como esses!

            Aqueles quatro eram demônios e não Ícaros como eu esperaria para uma tarefa como aquela, normalmente quando demônios tem uma que realizar uma tarefa trabalhosa eles a deixam ao encardo de seus Ícaros, mas acredito que eles estavam com receio de deixar simples Ícaros cuidando de mim, por isso devem ter feito uma escala para me acompanhar.

            Eu ainda não tinha visto aqueles quatro, contando com Homero, Cíntia e aquele que eles chamam de “O velho”, eu já tinha estado com sete dos treze demônios que deveriam formar aquele grupo. Ainda segundo Homero, eu já tinha matado dois membros deste mesmo grupo, e com isso, caso estes dois ainda não tivessem sido substituídos estariam faltando então apenas mais quatro membros deste grupo, que eu ainda não conheci.

            - O velho pediu para passarmos um tempo com você! – Falou um deles estendendo uma toalha molhada branca no chão e pondo uma laranja no meio dela, ele uniu as pontas da toalha e as segurou girando-a com a laranja balançando o pulso.

            Os outros três fizeram o mesmo usando talhas e laranjas e ficaram em volta de mim.

            - Vamos fazer o que o velho mandou! – um deles falou e então me acertou com a laranja dentro da toalha molhada nas costelas do lado direito do meu corpo. O golpe me fez perder o folego e logo senti os golpes feitos pelos quatro que vinham de todos os lados surrando o meu corpo. Um deles acertou com a toalha e a laranja na minha boca cortando meu lábio por dentro me fazendo cuspir sangue. Eles não paravam de me bater, eu sequer conseguia ver de que direção viria o próximo golpe, eu não tinha tempo para encher os pulmões entre uma pancada e outa e por causa disso mal conseguia nada além do que gritos mudos e sufocados.

            Não sei por quanto tempo fizeram isso, quando se esta em uma situação desse tipo, cada segundo parece nunca chegar ao fim. Não me percebi perdendo a consciência, mas quando dei por mim estava com uma toalha tapando o meu rosto e estavam despejando muita água gelada sobre mim. Eu tentei e livrar, mas alguém segurava a minha cabeça enquanto outra pessoa pressionava com força o meu peito.

            A toalha foi tirada do meu rosto e eu pude novamente sentir o ar enchendo dolorosamente os meus pulmões. Era horrível a dor que eu sentia enquanto inflava o meu peito, tanto que eu não conseguia inspirar todo o ar que precisava e meu corpo lutava contra si mesmo, me forçando a inspirar cada vez mais fundo, e me fazendo contorcer de dor a cada vez que enchia mais meus pulmões.

            - Os meus meninos estão certo minha filha! – Eu ouvi a vos daquele velho falando perto de mim. – Você dorme demais.

            Eu queria poder esganá-lo, mas eu não tinha forças nem mesmo para me levantar, na verdade nem havia necessidade deles continuarem me segurando, o meu corpo parecia centenas de quilos mais pesado.

            - Sabe, é curioso como uma tortura simples pode ser tão eficaz! – Ele falou. – As laranjas dentro das toalhas molhadas podem chegar até a quebrar alguns ossos do seu corpo sem sequer deixar uma marca ou hematoma sobre a sua pele, eu em particular acho isso de uma delicadeza impar para torturar mulheres como você, afinal seria muita falta de cavalheirismo de minha parte permitir que marcassem a sua pele tão delicada não acha?

            Tudo aquilo era muito pior do que eu poderia esperar, sem respondeu aquela pergunta estupida eu tentava apenas satisfazer a minha falta de ar e resistir a dor que sofria por fazer isso.

            - Sabe, em nossa casa, tento ensinar a meus jovens companheiros a não desperdiçar nada. – Ele falou pegando uma jarra que estava no chão em um dos cantos da sala e então encheu um copo de vidro com suco. – Este suco por exemplo, foi feito com as laranjas usadas durante a tortura que lhe proporcionamos! – Eu podia ouvir o som das pedras de gelo escorrendo pela jarra e caindo dentro do copo com o suco de laranja.

            - Já ouviu falar no escorbuto menina? – O velho perguntou sem esperar por uma resposta que é claro, eu não daria, estava ocupada tentando restaurar a minha respiração a seu estado normal. – O escorbuto ficou conhecido como o mau de marinheiro, dizem que a registros desde o antigo Egito, Hipócrates chegou a descrever a doença, e fontes históricas indicam que nos finais da Sétima Cruzada o exército de Luís IX da França foi severamente afetado, mas ela é na verdade melhor descrita em registros de viagens marítimas do século XVI. Ela causa hemorragias e inchaços com pus nas gengivas, dores nas articulações, feridas que não cicatrizam.

            Incrível como ele não se tocava de que aquele não era o melhor momento para aulas de história.

            - Os marinheiros desenvolviam o escorbuto por cota do fato que eles passavam muitas semanas em alto mar sem se alimentar com verduras ou frutas frescas. – O pior é que eu sabia que ninguém iria aparecer para fazê-lo calar a boca. – E tendo sua alimentação baseada apenas em seriais e carnes de porco salgadas, seus organismos sofriam com a carência de vitamina C. – Ele bebeu dois longos goles do suco e voltou a falar. – Quer um copo de suco querida?

            Eu queria cuspir nele, mas eu ainda estava tentando parar de tossir, embora a minha respiração já estivesse melhorando, o que infelizmente ainda não era suficiente para afastar a minha dor.

            - Agora que já nos apresentamos devidamente acho que podemos começar a conversar! – O velho fez um sinal para um dos rapazes que também estavam no cômodo e havia participado da minha tortura. O rapaz saiu e voltou com uma cadeira para o velho se sentar. Ele a colocou a meu lado, e sentou e apoiou o copo de suco sobre o joelho. – Então querida, permita-me que me apresente! Eu sou Otavio, qual o seu nome?

            - Isso é... Sério? – Eu consegui perguntar e logo tossi novamente.

            Otavio sorriu e bebeu mais um gole de seu suco.

            - Sabe querida, nós estamos muito curiosos para saber como você conseguiu aprisionar um ceifeiro dente de você, e como faz para usar os seus poderes. – Otavio falou. – Talvez depois que descobrirmos isso eu possa até permitir que te libertem. – Ele tinha um sorriso sádico nos lábios. – E então, você não quer me contar alguma coisa?

            Eu respirei fundo reunindo forças para responder, fitei Otavio com os olhos e então respondi o que achei que ele precisava saber.

            - Sim, tem algo que eu quero te dizer! – Eu falei.

            - O que é minha jovem? – Otavio perguntou com uma evidente curiosidade que parecia ser como uma forte cede prestes a ser saciada.

            - Eu nunca vi nada assim, mas se você é um viciado em vitamina C, devia experimentar suco de acerola, ouvi dizer que ela tem de quarenta a oitenta vezes mais vitamina C que a laranja! – É claro que a minha resposta irritou Otavio, que cuspiu em meu rosto e mandou que continuassem com a tortura de afogamento.

            Acho que perdi e recobrei a consciência por mais quatro ou cinco vezes até eles pararem e me amarrarem para passar mais uma vez à noite no meu cárcere enquanto eles iam embora. O pentagrama pintado no teto limitava as possibilidades de uso de magia no quarto, por conta disso era preciso muita pericia para usá-la. Antes de sir do quarto eles foram descuidados, deixaram a porta entre aberta e mesmo eles estando sempre me vigiando, não notaram nada saindo de lá. A meu modo pude então procurar por ajuda.

            - Como você fez isso? – Allan e eu perguntamos interrompendo o relato de Dorothy. – Como conseguiu procurar por ajuda se não saiu do quarto? – Eu completei.

            - Bom... É um pouco complicado de explicar... – Dorothy respondeu e então fez uma pausa parecendo tentar formular uma boa explicação para nossa pergunta.

            - Não precisa explicar como fez isso agora, pode fazê-lo depois! – Disse Thais, com uma bochecha apoiada sobre o punho. – Continue contando sua história, nós imaginamos como você fez isso! – Ela falou referindo-se a ela e a Vinicius, então ela olhou com o canto do olho pela janela do quarto, Vinicius também olhou disfarçadamente para o mesmo lugar. Dorothy assentiu e voltou a contar sua experiência de prisioneira.

            Não sei por quanto tempo me deixaram dormir, mas fui acordada com chaqualhões de Homero.

            - O que você fez com Tony e com o Fão? – Homero perguntou com sua mão esganando o meu pescoço. Eu não conseguia respirar, estava sufocando até que ele me soltou.

            - É difícil conversar quando se esta sendo sufocada sabia. – Eu respondi pra ele quando consegui falar.

            - Tony morreu no hospital por envenenamento de serpente, e Fão esta internado na psiquiatria, ele está totalmente descontrolado, e por sua culpa!

            - Nossa, mas que pena! – Eu falei com um sorriso irônico, mas abatido, no rosto.

            Ele estendeu sua mão e desferiu um forte tapa contra meu rosto, eu sabia que um tapa com a força fora do comum de Homero poderia quebrar os ossos e minha face, mas antes que ele pudesse me acertar pareceu que os músculos de eu braço repuxaram e o sangue escorreu por sua mão. Otavio havia entrado no quarto e de alguma forma ele impediu o golpe do outro demônio.

            - Não seja idiota Homero, já te disse que ela não pode ser morta ainda! – Otavio repreendeu o mais novo. – Temos que descobrir como ela aprisionou o ceifeiro antes de matá-la, esse segredo é muito mais valioso do que dois Ícaros idiotas.

            Naquela vez eles tiraram o que restava de minha roupa, me penduraram de cabeça para baixo, não era muito ato, meu cabelo se espalhava pelo chão, jogaram baldes de agua gelada sobre meu corpo, me bateram, e dessa vez deixaram um aparelho de som reproduzindo incessantemente um ruído irritante, com um chiado alternado com um apito e um efeito eletrônico. Dessa vez não houve perguntas, Otavio não quis me ouvir, ele simplesmente ordenou que os outros realizassem as torturas.

            Eu havia sido surrada, ainda estava pendurada de cabeça para baixo e tinha que ficar ouvindo aquele barulho alto e irritante que não parava de se repetir torturando a minha mente enquanto a dor e o frio me faziam companhia. A aquela altura porem, eu já havia alcançado Aiga.

            Aquele som irritante, a dor, o cansaço, a fome, eu estava exausta, tanto que não sabia se tinha conseguido dormir ou não. Provavelmente não, mas eu também não me sentia como se estivesse consciente o tempo todo.

            O aparelho de som foi desligado, mas o som irritante que ele havia tocado ainda continuava alto e repetitivo em minha mente. Nove pessoas entrara no quarto, entre elas estava Otavio, Cíntia e Homero, outros quatro já tinham participado das minhas torturas, só haviam mais dois  que eu ainda não tinha visto, um deles entrou com meu diário nas mãos, ele estava com certeza procurando nele o segredo que eles tanto desejavam.

            - Alex esteve todo esse tempo procurando o feitiço ou o ritual que você realizou para prender este ceifeiro dentro de você mas, infelizmente ele não conseguiu. – Otavio falou. – Mas ele nos disse que a textos nesse seu caderno que estão escritos em código e que ele não conseguiu decifrar. Imagino que você tenha escrito o seu segredo com esse código nesse caderno não é mesmo?

            - Se você já sabe, por que me pergunta? – Eu falei.

            Otavio jogou o caderno no meu rosto, e soltou de onde eu estava pendurada me fazendo cair e bater a cabeça no chão, felizmente à altura era pequena.

            - A minha paciência acabou! – Otavio falou. – Cíntia, tire à verdade dela!

            Cíntia passou instruções para os outros e eles começaram a acender velas grossas a minha volta, e a desenhar símbolos antigos de civilizações já extintas, eu só podia reconhecer alguns, mas não sabia bem o que significavam.

            Ela pôs então a sua mão sobre a minha cabeça e senti então como choques elétricos correndo passando por meus músculos, fazendo com que u me revirasse no chão.

            Eu revi memorias da minha infância, da minha adolescência, e sempre em algum lugar, em algum canto eu notei a presença de Cíntia, como se ela tivesse estado lá, como se estivesse me observando. Ela entrou em minha mente, e estava vendo minhas memórias.

            Esta habilidade por outro lado parecia exigir muito esforço da parte dela. Ela parou por um momento, tomou folego como se tivesse passando muito tempo embaixo da água e tivesse acabado de subir novamente a superfície.

            - Ela é forte, sua mente ainda consegue resistir, ainda há muito que ver! – Cíntia comentou.

            - Continue! – Otavio ordenou.

            Cintia continuou, e junto à sensação dos choques elétricos eu continuava a rever minhas memórias, e a presença de Cíntia em todos os ambientes, como uma espectadora invisível que estava lá naqueles momentos.

            - Encontrei! – Cíntia falou. – Eu vi o ritual.

            - Ótimo querida! – Otavio falou. – Esta vendo menina? Mas cedo ou mais tarde nos acabaríamos descobrindo, teria sido mais fácil pra você se já tivesse nos contado.

            - Eu consigo superar a resistência dela, mas o ceifeiro impõe sua própria resistência! – Cíntia explicou. – Por conta disso as visões não foram totalmente claras sobre o ritual, mas se pudermos intensificar nossa uniam eu poderei romper a resistência do ceifeiro e conheceremos todo o ritual.

            - Como vamos fazer isso? – Otavio perguntou.

            - Vamos fazer um ritual para dominarmos suas memórias! – Cíntia começou a explicar. – Alex, me de o diário dela! – Cíntia pegou meu diário, e arrancou duas paginas dele, então as jogou no chão. Ela orientou que os outros nove membros do grupo se aproximassem.

            Cíntia pediu um canivete a um de seus companheiros e fez um pequeno corte no dedo indicador esquerdo, depois ela deixou seu sangue pingar sobre as folhas arrancadas do meu diário.

            - Eu preciso que todos vocês fação o mesmo! – Ela falou. – Assim vou poder usar a força de vocês para dominar as memorias dela!

            Eles fizeram pequenos cortes em seus dedos como Cíntia os orientou e deixaram seu sangue gotejar sobre as paginas do meu diário, ela tocou minha cabeça mais uma vez, e meu corpo se revirava com os choques causados por seu toque enquanto eles me cercavam e doavam seus poderes para Cíntia para que ela pudesse dominar minhas memórias.

            Cíntia mantinha a mão direita sobre a minha cabeça enquanto folheava meu diário com a esquerda. Ela encontrou uma rosa seca entre as paginas do meu diário e a jogou sobre as paginas arrancadas com o sangue de seus companheiros que estavam sobre o chão.

            - Para que esta fazendo isso Cíntia? – Homero perguntou enquanto Os outros observavam os movimentos da loira.

            - Você verá! – Cíntia respondeu, enquanto pegava uma das velas que estavam no chão e ateava fogo ao papel manchado com o sangue de seus companheiros e a rosa seca sobre ele. – Demorou muito... Para reunir vocês todos aqui!

            - O que quer dizer com isso Cíntia? – Otavio perguntou.

            Cíntia se virou para encará-lo e falou:

            - Agora que todos do grupo estão reunidos aqui. – Nesse momento Otavio percebeu que o olhar de Cíntia estava ficando desfocado. – Eu posso mata-los de uma só vez.

            - Cíntia! – Otavio foi em direção a ela, mas já era tarde, e antes que ele pudesse agarrá-la eu abri meus olhos.

            Meu olho esquerdo mudou sua cor do branco para o preto, e minha íris tornou-se maior e prateada, como uma lua cheia. Enquanto Cíntia tentava dominar a minha mente eu consegui enganá-la, eu lhe mostrei memórias alteradas até que a dominei e consegui controlar sua mente.

            Depois que comecei a controlar Cíntia, eu a fiz arrancar as paginas do meu diário que continham as palavras do feitiço que oferece as vidas  das vitimas ao ceifeiro, depois a fiz convencer seus companheiros a oferecerem as gotas de seu sangue sobre essas folhas e por fim as queimei junto a uma rosa seca que a fiz pegar dentro do meu diário. Assim, eu consegui oferecer todos os demônios daquele grupo de uma vez ao ceifeiro.

            Quando o meu olho esquerdo se abriu as vidas deles foram oferecidas ao ceifeiro. Eu o vi matando um por um. Eles se contorciam de dor no chão, sufocavam, tinham paradas cardíacas. Homero apoiou suas mãos sobre o chão e deu quatro fortes cabeçadas sobre o piso, até fraturar seu crânio e seu sangue se espalhar pelo chão. Depois de recobrar a consciência Cíntia se revirava no chão, por mais que ela tentasse respirar, o ar não enchia seus pulmões. Otavio mordeu a própria língua, seus olhos me encaravam enquanto ele sufocava com seu próprio sangue.

            Em pouco mais de um minuto tudo já tinha acabado. Eu me deixei capturar para poder acabar com o grupo de demônios de uma só vez, mas isso gastou todas as minhas energias, eu sabia que logo perderia a consciência, mas ao menos por enquanto o perigo maior já havia passado, e eu sabia que Aiga logo os encontraria. Eu não queria ter perdido a consciência, mas não tinha mais forças para ficar acordada esperando a ajuda chegar.


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