Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 26
Capítulo 26 - O Relato da Bruxa - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, foi um capitulo verdadeiramente difícil e escrever.



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Capítulo XXVI – O Relato da Bruxa – Parte I.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu na lista de doenças tropicais negligenciadas os ataques de cobras e animais peçonhentos a seres humanos, conhecido tecnicamente como ofidismo. A própria (OMS) estima que aproximadamente cinco milhões de pessoas sejam picadas anualmente. No Brasil duas das principais e mais temidas responsáveis por ataques de serpentes são a jararaca e a cascavel. A picada da jararaca normalmente é dolorosa e seu veneno tem propriedades que intensificam a hemorragia, podendo provocar também sangramentos pelo nariz e gengivas, e em alguns casos chegando a levar a necrose, causando até a amputação dos membros atingidos. Já o veneno da cascavel causa degeneração da musculatura, confusão mental, distúrbios visuais, parada respiratória, dores cervicais, e insuficiência renal. O local da picada apresenta poucas alterações e relatos de pessoas que foram mordias indicam que a picada da cascavel provoca pouca dor. Seu veneno é um dos mais fortes entre as serpentes e é ainda mais mortal que o da jararaca.

            - Aquela noite eu voltei pra casa normalmente! – Dorothy disse, e riu um pouco depois disso. – Você realmente vai fazer isso?

            - O que? – Eu perguntei.

            - Ficar repetindo o que ela diz Wagner! – Allan falou “atropelando” as palavras com suas risadas.

            - Encare como um treinamento! – Disse Thais. – Sua tarefa é escrever sem ficar murmurando.

            - Tá bem eu vou parar! – Eu falei.

            - De manha eu acordei, dei ração para a Aiga, tomei meu café e foi ao trabalho e...  – Ela fez uma pausa rápida. – É sério para de falar o que escreve! – Imagino que isso realmente incomode as pessoas, mas Dorothy ria muito com a situação.

            - Vamos Micael, você consegue escrever sem falar! – Disse Thais rindo também.

            - Vinicius, você não tem nada que possamos usar para dar um choque no Wagner cada vez que ele falar o que esta escrevendo? – Allan perguntou, e o pior é que ele consegue falar essas coisas com ar de seriedade.

            - Ninguém vai me dar choque não! – Eu protestei contra a sugestão de Allan o encarando com incredulidade. É claro que eu sabia que aquela era mais uma de suas brincadeiras.

            - Desculpa Wagner, eu só estava tentando te dar algum tipo de estímulo! – Allan explicou com ar irônico. – Desculpe por tentar pensar em uma forma para te dar um “empurrãozinho”. – É obvio que não tinha como não rir daquela afirmação.

            - Com estes seus “empurrãozinhos” Allan, qualquer dia desses eu acabo caindo nos trilhos de frente pra um trem! – Respondi o que também valeu umas risadas. – Está bem, agora eu vou parar de falar! Pode continuar Dorothy!

            - Continuando então! – Dorothy falou. Acho melhor eu escrever como ela irá narrar, afinal se houver algum dialogo importante ficara difícil de entender se eu continuar escrevendo assim. A partir daqui a história de Dorothy será escrita como uma narrativa, com os diálogos que ela própria descrever.

            Naquele dia eu fui para o trabalho e nada de incomum aconteceu! Eu trabalho próximo ao centro velho de São Paulo, sou operadora de telemarketing. Nada aconteceu por lá. Quando estava voltando para casa tive o pressentimento de que alguém estava me seguindo.

            Decidi não vir direto pra casa enquanto estivesse com esta sensação e por isso fui até a galeria do rock. Lá eu visitei o Shaman, foi ele quem fez as minhas tatuagens, eu fui lá pra dar um oi.

            - Quem é este Shaman? – Eu interrompi – Ele fala com espíritos?

            - Não! – Dorothy respondeu. – Ele tem esse apelido por ter o corpo cheio de tatuagens indígenas.

            - Faz sentido! – Eu concordei e voltei a escrever.

            Fiquei na galeria por pouco mais de uma hora e depois fui até a estação do Anhangabaú do Metrô. De lá fui até a estação da Sé e então fiz a baldeação no sentido Corinthians Itaquera para a estação do Brás. Quando fiz a transferência para as linhas de trem da CPTM aquela sensação de estar sendo seguida se confirmou quando pude distinguir quem estava me seguindo. Era um homem pouco maior do que eu, ele tinha o cabelo curto, crespo, pele clara, devia ter pouco menos de quarente anos.

            Entrei em um dos vagões do trem que ficavam mais próximos das escadas rolantes, depois andei até o próximo vagão, não havia lugar pra sentar, então pus os fones de ouvido e esperei o trem sair enquanto ouvia Ira. O homem que estava me seguindo entrou no vagão onde eu esteva, olhou para as pessoas que estavam nele nitidamente procurando alguém até que me viu e ficou de pé do outro lado provavelmente esperando o momento em que eu fosse descer.

            Este sujeito tinha uma energia estranha, carregada, mas mesmo assim admito que demorou até eu conseguir perceber o que ele era, afinal se fosse de outra forma eu já teria tido certeza de quem estava me seguindo muito antes. O trem levou mais cinco minutos até sair, ele não parava de me encarar e quando percebi que ignorá-lo não faria com que ele parasse de me fitar daquela forma desconfortável, resolvi encará-lo de volta. Antes de deixarmos a estação mais pessoas lotaram o trem, um sujeito se aproximou de mim e perguntou:

            - E ai, a “gatinha” á sozinha?

            Eu ignorei aquela pergunta, quando se é mulher é incrível o numero de perguntas e comentários idiotas você pode ouvir num só dia quando se está no transporte publico.

            - O que foi linda? Perdeu a voz? – Ele perguntou. E é serio esse tipo de cantada idiota me irrita, sem contar que aquele não era um bom momento para isso, se bem que eu acho que nunca haveria um bom momento com aquele cara.

            - O que foi, não quer conversar? – Quando ele disse isso eu pensei que ele finalmente tinha intendido, mas ele não fez o que poderia fazer de melhor naquele momento, ele não se calou. – Parece que você está ficando nervosa! Olha só como fica “bonitinha” com “carinha” de nervosa!

            Aquilo era demais, mas que sujeito mais insuportável. Eu tirei um dos fones de ouvido e o fulminei com os olhos. Infelizmente pra mim graças a isso ele teve mais uma ideia para outro de seus comentários.

            - O “mina”, você perdeu a sua lente é? Um dos seus olhos está castanho.

            - Está é a lente! Disfarçar a cor violeta dos meus olhos me ajuda a evitar idiotas sem criatividade que tentam puxar conversa comigo falando da cor deles! – Eu não ia explicar pra aquele cara o que é heterocromia.

            Ele reparou que volta e meia eu desviava o olhar para encarar o homem que me perseguia e notou o modo estranho como aquele homem olhava pra mim.

            - O que foi? Esse cara tá te incomodando princesa?

            - Nem tanto quanto você! – Eu respondi e ele riu sem graça com a minha resposta. Naquele ponto, o trem estava quase chegando à estação Tatuapé.

            - Você é meio difícil não é? Olha vou ser direto, nos vamos descer na próxima estação!

            - Graças a Deus! – Eu respondi. – Pensei que fosse me importunar por toda a viagem.

            - Você não me intendeu! – Ele falou mais sério desta vez. – Eu sou um Ícaro, aquele ali é meu mestre e nós estamos atrás de você e você vai vir com agente!

            - E por que eu faria isso? – Afinal quem em meu lugar teria a confirmação de que estava sendo seguida por um demônio e ainda cooperaria com suas exigências?

            - Porque você sabe o que podemos fazer aqui!

            - Não muito pelo que me parece! – Eu respondi secamente.

            - Vai arriscar? – Ele me perguntou. Na verdade eu acho que eles não fariam nada dentro do trem, isso os exporia demais. Mas de qualquer forma, pensei que seria melhor evitar estar enganada.

            Nós descemos na estação Tatuapé, quando nós três saímos do vagão, outros dois homens que estavam em vagões diferentes se juntaram a nós. Um deles tinha o cabelo raspado e estava usando óculos escuros, outro era gordo e carregava uma bolsa grande dessas de viagem. Eu estava na companhia de um demônio e três Ícaros.

            - Você já nos causou muitos problemas!- O demônio que me perseguia falou.

            - Obrigada! É tão difícil o reconhecimento do excelente trabalho que faço! – Eu respondi.

            - Eu não estou brincando garota! – Ele agarrou meu braço direito e o apertou forte com a mão esquerda, ele tinha muito mais força do que sua aparência transparecia. De onde estávamos os seguranças da estação já não poderiam mais nos ver, e foi melhor assim, de outra forma eles poderiam tentar intervir e eu ainda teria o trabalho de salvá-los. – Você matou dois membros do meu grupo!

            - E você veio atrás de mim por ser voluntariamente o terceiro? – Eu estava me esforçando para não demonstrar a dor eu sentia enquanto ele apertava o meu braço, não demonstrar dor e manter uma expressão confiante perante o inimigo é muito importante.

            - Você tem ideia de com o que tem se metido! – O demônio me perguntou.

            - Eu não me meto com nada, são vocês que se metem comigo! – Eu respondi o encarando irritada.

            - Eu devia acabar com você agora! – Ele falou e então soltou o meu braço. – Mas você tem algo que queremos, e eu vou toma-lo de você antes de te matar.

            - Você e seus três Ícaros? – Perguntei o desafiando com o olhar. É claro que sem Aiga por perto as coisas seriam mais difíceis, mas aquele estava longe de ser o maior dos desafios que já enfrentei.

            - Não devia estar tão confiante assim gata! – Falou o Ícaro que tinha fingido dar em cima de mim. – Nós viemos preparados atrás de você!

            - E os gênios decidiram me pegar aqui? Há céu aberto em plena luz do dia? Não acham que vão chamar muita atenção? – Eu perguntei ainda encarando o líder deles.

             - Você vai vir conosco! – Falou o homem de cabelo crespo. – E vai fazer isso sem chamar atenção.

            - Em primeiro lugar por que acha que eu iria cooperar? Eu perguntei. – E em segundo lugar, por acaso você deu uma boa olhada no meu cabelo? Acha mesmo que eu vou a algum lugar sem chamar atenção?

            - Chega com essas “gracinhas”! – Falou o careca de óculos escuros, que tentou me agarrar pelas costas.

            Eu segurei o braço que ele tentou usar para agarrar o meu pescoço e tentei golpeá-lo com a minha faca que eu estava levando escondida na cintura da calça. Mas ele conseguiu evitar o meu ataque e agarrou a minha mão me tomando a faca.

            - Sua desgraçada! Queria me furar não é? – Ele falou irado e me apertou com os braços contra o próprio peito me erguendo do chão. Ele ia morder minha orelha como um cão raivoso, mas antes que isso acontecesse ele começou a gritar e me jogou no chão. Me equilibrei pondo a mão no chão para tomar impulso  me reerguer, eu tentei me virar para dar uma rasteira nele, mas ele conseguiu evitar meu golpe com certa facilidade, embora ainda continuasse gemendo enquanto apertava com a mão esquerda o ferimento no peito que tinha dois orifícios por onde ele sangrava, como uma picada de cobra.

            - O que oi isso cara? – Perguntou o mais gordo que carregava a bolsa.

            - Ela tem uma cobra com ela! – O careca falou.

            - Uma cobra? Como? – Perguntou o mais gordo.

            - No cabelo, deve estar no cabelo! – Falou o Careca com a mão e a camisa suja de sangue.

            Ele tinha deixado a minha faca cair no chão, eu a vi e fui tentar correr pra pegá-la, mas aquele chato de cantadas idiotas correu e pisou em cima dela, e apontou uma pistola para mim.

             - Você é a prova de balas bruxa? – Ele perguntou apontando arma para mim.

            - Como você fez isso? – Perguntou o demônio de cabelo crespo. – Como feriu o Tony? – Sua ira estava clara em sua voz, ele agarrou o meu cabelo e o puxou com força me fazendo gritar e inclinar para trás.

            - Que gentil, o mestre conhecer o nome de seu Ícaro! – Eu comentei enquanto sentia a dor causada por aquele homem que puxava meus cabelos. Eu agarrei o braço dele com as minhas mãos e tentei fazê-lo me soltar, mas foi inútil.

            - Me de essa faca! – Ele ordenou para o Ícaro que estava apontando a arma para mim, ele se abaixou, pegou a minha faca e a colocou na mão estendida de seu mestre. – Vamos ver o que você tem aqui!

            - Fão, vem aqui! – Ele chamou o mais gordo entregou a faca pra ele. – Rasga vai!

            - O que? – Eu pensei.

            Eu senti a pequena lâmina fria da minha faca encostar-se às minhas costas e senti o movimento com que ele desceu a mão por ela, rasgando a minha camisa por trás.

            - Não tem nada aqui! – O mais gordo respondeu.

            - Vem aqui! – O demônio ordenou para o homem careca que ainda pressionava o ferimento no peito.

            - O que foi? – Ele perguntou. – Parece que começou a formigar.

            - Idiota! – O demônio falou dando um forte tapa no rosto de seu Ícaro, que chegou a lhe causar um corte nos lábios por dentro da boca. – Essa é a cobra que te fez isso? – Ele perguntou apontando para uma jararaca enrolada em um dos galhos da arvore que tenho tatuada nas costas. Ou talvez para a cascavel sobre suas raízes, não sei ao certo.

            - O que? – O careca perguntou indignado quando olhou a cobra na minha tatuagem, mas sequer esboçou alguma reação pela agressão feita por seu mestre. – Sua desgraçada, como você fez isso?!

            - Chega! – Ordenou o demônio. – Não temos tempo pra isso! Venha logo, você vem com agente!

            - Você não sabe mesmo como convencer uma garota a te seguir não é? – Eu perguntei quando ele parou de puxar o meu cabelo, o que admito que não foi muito inteligente nem prudente de minha parte, afinal ele ainda o estava segurando.

            - Você é tapada ou o quê? Não entendeu ainda que é pra vir com a gente? – Perguntou o mais gordo enquanto apertava o meu pescoço com a mão esquerda.

            Eu o olhei nos olhos, segurei seu antebraço com minha mão direita e o encarei até ele mudar de expressão e começar a chorar. Ele não sabia em que mundo estava se enfiando, ele pensava que sabia, mas não sabia, eu pude ver o medo nos olhos dele.

            - Fão o que foi? – Perguntou o cara com a pistola.  – O que você fez desgraçada?!

            O Ícaro que eles chamavam de Fão estava deitado no chão gritando, como se estivesse no ultimo andar de um arranha-céu dentro de um elevador e os cabos do elevador estourassem, o fazendo cair no fosso. Ou ainda, ele gritava como se estivesse dentro de um caminhão descendo a serra e perdesse o controle e capotasse. Seu medo era tanto que ele acabou molhando aso calças enquanto gritava.

            - Ele não ficou assim por nada! – O demônio falou apontando para o seu Ícaro apertava cada vez mais o meu ombro direito. Estava claro que aquela era sua forma de se impor.

            - Eu pensei que ele tinha dito que vocês tinham vindo preparados pra me enfrentar. -  Respondi.

            Os gritos de Fão fizeram três senhores saírem de um bar próximo de onde estávamos, eles viram a arma que um deles segurava, viram que um deles tinha a camisa suja de sangue, que alias já havia parado de sangrar, e me viram no chão. Provavelmente imaginaram que eu e Fão estivéssemos sendo assaltados ou coisa assim e então começaram a gritar. É claro que nenhum deles se aproximou por medo de levar um tiro, mas a seu modo tentaram ajudar a intimidar os supostos ladrões.

            - Calem a boca! – O homem de cabelo crespo falou com claro ar de irritação na vos. Ele girou o quadril e deu um tipo de golpe n ar, com a palma da mão aberta, como se desse um tapa no ar, e mesmo a distancia, aquilo pareceu acertar os três senhores os derrubando no chão.

            - Não, para! – Eu gritei.

            - O que você fez com o Fão? – Perguntou Tony, o careca que estava com eles. Ele estava no chão tentando acalmar o amigo que se virava e gritava no chão. Tony tomou a arma da mão do outro Ícaro e a apontou para mim. – O que você fez com ele?

            - Mostrei a ele o futuro! – É claro que eu não poderia fazer isso, mas foi que respondi. Na verdade a pouco mais de um ano aprendi a controlar uma habilidade bem singular, quando eu toco uma pessoa, se me concentrar bem posso fazê-lo passar por experiências de morte ou quase morte em sua mente, assim como posso permitir que se lembrem dessas experiências ou não. Foi o que fiz com aquele homem que nos incomodou na fila do cinema quando nos reunimos depois da apresentação no parque do Ibirapuera, mas não permiti que ele se lembrasse da experiência que teve ficando só com a sensação. No caso deste tal de Fão, o fiz passar por varias experiências de mortes violentas seguidas uma da outra por isso ele estava reagindo daquela forma.

            - Mentirosa! Você não tem poder pra isso! – Tony falou apontando a arma para a minha cabeça.

            - O que você esta fazendo Homero? – Perguntou uma vos feminina que surgiu de repente sem denunciar de onde vinha. – Por que esta perdendo tanto tempo?

            - Esta tudo bem Cíntia! – O demônio respondeu. – Eu já estava levando ela!

            - Você esta perdendo tempo brincando com seus Ícaros! – Ela o repreendeu. Ela era uma mulher bonita, devia ter uns trinta anos, com curvas bem delineadas, acho que ela malhava, loira, maquiada, estava usando um vestido branco até os joelhos, salto alto, estava usando um colar de outro com uma pedra vermelha. Me pareceu ser mais poderosa do que o demônio que ela chamou de Homero.

            - Então você é a garota que anda nos caçando? – Ela perguntou segurando o meu queixo com os dedos da mão direita e virando meu rosto. Procurei não desviar meus olhos dos dela. – Você não esta sempre andando com uma cachorra preta? Foi o que me falaram!

            - Lamento decepciona-la, pena minha cachorra não ter celular para que possamos chama-la pra vir até aqui brincar com a gente! – Eu respondi.

            - Ela vai divertir o velho! – A mulher falou. Eu pensei em cuspir nela, mas algo me travou a garganta, tive uma sensação estranha, um enjoou repentino. Ela tocou o lado esquerdo da minha face com a ponta dos dedos que foi adormecendo conforme os dedos de Cíntia a percorriam. Era como se o simples toque de seus dedos tivesse me drogado. Me lembro de ter sentido um perfume adocicado, acho que foi ele que fez minha garganta travar.

            - Vamos te levar para onde nos reunimos, para a casa de nossa família! – Ela falou.

            - Onde se reúnem. – Eu falei. Eu precisava da Aiga, pensei em uma forma de chama-la, e logo depois apaguei.

            Quando acordei estava em um quarto sem janelas com duas lâmpadas no teto e um grande pentagrama vermelho pintado no teto preto do cômodo. Não me sentia bem, como se estivesse ainda sobre os efeitos de alguma droga. Eu estava sentada no chão, algemada e além da algema haviam amarrado minhas mãos com uma corda atrás das costas. Também estava sem a camisa que Homero havia mandado seu Ícaro rasgar com a minha faca.

            Um octogenário entrou no quarto, a minha visão estava embaçada e não conseguia ver nitidamente seu rosto, o cômodo também era escuro o que não ajudava muito, mesmo com as lâmpadas acesas, acho que por causa da cor do teto.

            - Eu vim ver se você já tinha acordado! – Ele falou. – Meu nome é Norton, sou o líder do grupo ao qual pertencem os dois demônios que a trouxeram para cá.

            - Há, você é o velho! – Eu falei com a vos meio mole. – E por que me trouxeram pra um cativeiro? Lamento mas ninguém vai pagar nenhum resgate por mim! – Eu falei tentando provocá-lo.

            - Já ouviu falar no regime militar que houve no Brasil minha querida? – Ele perguntou.

            - Eu não era lá a melhor aluna de história da minha turma, mas acho que o período que o senhor esta se referindo foi o da ditadura militar! – Respondi. Ele sorriu para mim, coçou os olhos com os dedos e então falou:

            - Eu prendi e torturei perturbadores da paz publica e prisioneiros políticos para fazê-los pagar por seus crimes e entregar seus segredos. – Ele então me encarou por alguns segundo e apontou para o meu olho esquerdo. – Eu vou tirar esse olho de você, nem que pra isso, eu tenha que fazê-lo literalmente.


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