Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 23
Capítulo 23 - Revelações.




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Capítulo XXIII – Revelações.

De vez em quando temos experiências diferentes, e às vezes descobrimos coisas sobre nós mesmos que nem imaginávamos que existisse. Será que nos conhecemos realmente? Acho que existe algo sobre nós mesmos que talvez nunca se revele para algumas pessoas, então quando descobrimos algo dentro de nós que não conhecíamos isso se torna uma verdadeira revelação. As coisas são ainda melhores quando aquilo que descobrimos existir dentro de nós, é algo que sabemos que nos da forças.

16 de Outubro de 2012, As provas finais deste semestre estão se aproximando e eu ainda tenho que estudar a minha parte da apresentação de um seminário de funcionamento de três diferentes tipos de baterias para a semana que vem.

Estou começando a ficar intrigado, eu quase nunca me lembro dos meus sonhos, e esta noite aquele sonho com o anjo de vidro se repetiu. Desta vez as lembranças do sonho estão mais nítidas. Me lembro de uma estatua feita de vidro na forma de uma mulher com cabelos longos e ondulados que parecia tocar um instrumento de sopro como uma corneta ou uma trombeta, a luz que entrava pela janela por de trás da estatua a atravessava, fazendo com que a luz parecesse vir do corpo do anjo que tinha mais de uma cor, e as azas totalmente incolores pareciam ser feitas de um tipo de vidro diferente, e brilhavam mais do que o restante do corpo da estátua. O que estou achando mais estranho é conseguir me lembrar de tantos detalhes deste sonho, acho isso ainda mais estranho do que o fato dele ter se repetido.

Eu sai de casa as dez da manha, encontrei Thomas e Pascal em uma rua perto de casa e fomos de carro até o local onde treinávamos habitualmente. Pascal adora dirigir, ele se diverte quando esta dirigindo, bom pelo menos quando não esta enfrentando o terrível transito paulistano.

- Onde está o Vinicius? – Eu perguntei.

- Não vamos precisar da ajuda dele hoje! – Pascal respondeu. – Na verdade nem precisaríamos ter vindo até aqui hoje, mas pensei que você se sentiria mais a vontade aqui, afinal sempre treinamos aqui.

- Como assim? Não precisaríamos ter vindo pra cá? Como vai ser esse novo treinamento?

Thomas sentou no chão e apoiou a bochecha no punho direito e ficou olhando hora para mim, hora para o chão como se não fosse ter muito o que fazer.

- Antes de avançarmos no seu treinamento você precisa compreender melhor o que tem dentro de você! Como eu disse ontem! – Pascal me explicou.

- Eu me lembro! – Respondi. – Então, vamos começar!

- Muito bem! – Pascal respondeu. – Ainda concorda em fazermos isso do jeito rápido?

Thomas riu com a pergunta de Pascal.

- Sim, eu acho!

- Bom, acho que isso ainda é um consentimento! – Pascal falou e deu uma risada da minha resposta.

Como na noite anterior Pascal ergueu sua arma e girou na mão expondo o cabo com a face prateada do leão, ele então desapareceu da minha frente e eu apaguei. Embora não tenha visto e não consiga me lembrar do que aconteceu, minha suspeita da noite anterior é quase evidenciada por um “galo” atrás da minha cabeça, tenho certeza de que ele me deu uma coronhada.

Quando dei por mim estava deitado em um grande sofá vermelho escuro, com estofamento aveludado em uma sala grande, havia uma estante grande na cor mogno com um vistoso aparelho de som e uma televisão que deveria ter umas cinquenta polegadas, na estante tinha também alguns enfeites e outros aparelhos como um DVD e um vídeo cassete, como fazia tempo que eu não via um desses. Havia na sala outro sofá além deste em que eu estava deitado, um tapete e uma mesa de centro entre os dois sofás.

Eu me sentei e esfreguei os olhos com as costas das mãos, na parede a direita da estante e de trás dela eram feitas de vidro, com duas colunas brancas dividindo as paredes em três peças de vidro cada uma. Pelo canto esquerdo da parede de vidro onde estava a estante podia-se ver uma parte de uma piscina com revestimento azul, onde o piso a sua volta era feito de pedras São Thomé. O lugar tinha um cheiro suave de pinho e a volta da casa muita vegetação.

Me levantei e fui para a sala ao lado, a passagem de uma sala para outra era larga e alta e a parede assim como a de trás da estante também era feita de vidro, ela era arredondada e dividida por quatro colunas com uma porta dupla no meio. A sala tinha duas mesas de bilhar na mesma cor dos outros moveis na outra sala. Em ambas as salas as paredes eram enfeitadas com quadros de paisagens que pareciam pertencer a vários lugares do mundo, em um deles reconheci o Pão de Açúcar, mas a cidade era com certeza mais antiga do que as dos cartões postais de hoje. Ouvi um miado vindo de trás de mim, me virei e vi um gato rajado de amarelo com patas brancas e olhos azuis claros, ele se espreguiçou atravessou a sala andando sem fazer mais nenhum barulho.

- Pelo visto o Soneca já teve tempo para te cumprimentar! – Falou uma vós vinda da sala onde eu acordei.

Eu me virei para ver quem era e vi um homem de cabelos curtos, castanhos, magro, com pouco mais de trinta anos em uma cadeira de rodas. Ele era magro e tinha uma barba de três dias por fazer, estava usando um short branco e uma camiseta regata cinza. Ele olhou ara a piscina e me perguntou:

- Pensou em ir dar um mergulho?

- Não! – Eu respondi um pouco sem graça.

- Pode ir se quiser!

- Não, obrigado!

- Está bem, quer beber alguma coisa então? Eu tenho suco de acerola na geladeira se quiser, é muito bom. – Ele falou e começou a atravessar a sala onde estávamos em direção à cozinha. – Ou você prefere um café?

- Onde eu estou?

- Em casa! – Ele respondeu.

- O que? – Aquilo estava mal explicado.

- A desculpe, esta na minha casa, mas você é bem vindo aqui! – Ele tentou esclarecer sem muito sucesso. – Você tem um relógio muito bonito! Eu tenho um comigo aqui também, mas o meu é um modelo mais antigo. – Ele puxou um relógio de bolso preso por uma corrente, era um relógio prateado com o meu, com dois anjos de frente um para o outro em relevo na tampa sobre um fundo azul fosco. – Este é uma replica de um relógio do século XIX, eu sempre gostei de relógios.

- Quem é você? – Eu quis saber.

- Não sei se a uma forma fácil de responder esta pergunta, mas deixe-me tentar preparar você! – Ele apoiou o queixo sobre as duas mãos com os dedos cruzados e com os cotovelos sobre as coxas. – Pense, quando você veio para cá, quem estava procurando?

- Não me lembro de ter vindo para cá! – Eu respondi, uma coisa me passava pela cabeça, e o fato dele ter comentado que queria me preparar para responder a minha pergunta fortaleceu um pouco mais a minha suspeita, embora tudo aquilo fosse completamente diferente daquilo que eu esperava. – Acho... Que me trouxeram para cá não foi isso?

- Bem, sim! – Ele confirmou e sorriu. – Na verdade, pode-se dizer que você chegou aqui carregado nas costas de um leão.

- Nas costas de um leão?

- Sim, mas deixe isso para lá, digamos que seja algo mais no sentido figurado da questão. – Ele sorriu e depois suspirou para voltar ao tom mais serio. – Bom, acho que não vai adiantar tentar repara-lo afinal, é melhor eu me apesentar logo. – Ele suspirou mais uma vez. – Eu sou Mic...

- Micael! – Eu o interrompi.

- Isso! Então você percebeu, isso é bom!

- Então, esta é a sua forma original? –Eu perguntei curioso, era de fato muito diferente do que eu esperava, era muito “humano” para a minha imaginação.

- Esta? – Ele perguntou erguendo sua mão para olha-la enquanto girava o pulso algumas vezes. – Não, esta é a forma de Fabricio, achei que seria apropriada para esta ocasião.

- Fabricio? Quem é esse? – Eu perguntei.

- Um dos que me acompanhou antes de você.

- Eu não acredito em reencarnação!

- Fabricio não foi uma vida passada sua, é como eu disse, assim como você ele foi um dentre tantos outros que me acompanharam, isto que você esta vendo agora é apenas uma forma que resgatei de minhas memórias, imaginei que simpatizaria com esta forma! – Ele explicou.

- Se essa forma é apenas uma de suas memórias onde esta esse Fabricio então? – Eu quis saber.

- No lugar para onde vão os justos! – Micael respondeu. – É um ótimo lugar acredite!

- Eu acredito! – Respondi. – Mas por que você não se mostra em sua forma real para mim?

- Porque isso seria arriscado! – Micael começou a explicar. – Ver a minha forma real poderia ser muito para a sua compreensão e acabar lhe causando um choque o que poderia comprometer a sua consciência. Em casos extremos você poderia perder sua sanidade mental, ou nunca mais acordar.

Mesmo não sendo uma explicação bem detalhada, ela foi bem convincente. Aqueles eram riscos pelos quais eu não queria passar.

- Mas por quê? – Eu perguntei querendo saber mais sobre esse terrível efeito colateral.

- Eu não sei, não tenho como dizer se as coisas ocorreriam assim, mas acho melhor não corrermos o risco agora!

- E que lugar é esse? – Perguntei.

- Este lugar? – Ele falou olhando para os lados. – Esta dentro de você, e tem a forma e o tamanho que desejar, há muitos quartos e lembranças para mim, algumas boas, outras nem tanto.

- É um pouco difícil de acreditar! – Eu falei.

- Então talvez prefira um lugar diferente! – Ele falou e desapareceu da mina frente, então tudo a minha volta se desfez como se fosse uma pintura feita de areia carregada pelo vento, e me vi em uma enorme sala branca, sem portas nem janelas, mas com muita luz.

- Talvez você tenha alguma sugestão por onde começarmos, ou talvez prefira continuar nossa conversa aqui! – Eu o ouvi falar, mas desta vez sua vos tinha mudado.

Me virei para olha-lo e me assustei dando um salto para trás quando meus olhos o encontraram atrás de mim.

- O que foi? – Micael deu uma risada. – Essa forma te assustou? Não me lembro de você ter feito isso alguma outra vez enquanto se olhava no espelho. – Ele tinha assumido a minha forma. Os cabelos curtos, escuros quase pretos, meu olhos castanhos, minha vos, minha expressão de quando estou achando graça de alguma coisa, minhas roupas, até uma pequena cicatriz que quase ninguém nota do corte feito pela lança de Allan na noite em que ele teve sua mente dominada.

- Isso é muito estranho... Acho que o mais estranho ate agora! – Eu comentei.

- Eu intendo! – Ele respondeu e desapareceu mais uma vez da minha frente. – Acho que essa forma é mais apropriada mesmo! – Micael falou mais uma vez por trás de mim e eu ouvi o som das rodas de sua cadeira que ele girava fazendo um semicírculo a minha volta na forma de Fabricio.

- Então você é quem vai me treinar? – Eu perguntei.

- Não desta vez! – Ele respondeu. – Eu tenho sim algumas coisas pra te ensinar, mas vou deixar para fazer isso depois! Vou esperar você amadurecer um pouco.

- Mas então de que me adiantou vir aqui? – Eu perguntei. – Eu vim para evoluir em meu treinamento, foi isso que Pascal me disse, se eu for embora sem aprender nada de que vai ter servido vir até aqui?

- Haziel estava certo, você veio até aqui para evoluir em seu treinamento. E não é verdade que você não aprendeu nada. – Micael começou a explicar. – Acho que agora as coisas entre nós dois devem estar ficando mais claras. Agora você sabe que eu estou sempre com você, não vai nunca estar sozinho quando lutar, e eu vou lhe emprestar minha força sempre que precisar, você só precisa entender melhor a ligação que há entre nós.

- Então nós dois, somos como duas almas no mesmo corpo? – Eu perguntei tentando esclarecer o que estava me parecendo.

- Isso mesmo, bom, de certa forma. – Ele explicou. – Digamos que você tenha dentro de seu corpo humano uma alma humana e um anjo. Quando você morrer sua alma humana terá um destino comum a outras almas como ela, e eu vou procurar outra pessoa para acompanhar, assim como é hoje com você.

- Mas por que precisa do corpo de outra pessoa? – Eu perguntei.

- Um anjo não pode usar os seus poderes completamente no plano físico sem uma forma humana, não há como fazer diferente.

- E por que não tem um coro só seu?

- Porque não sou humano! – Ele me respondeu.

- Ainda tem muita coisa confusa aqui! – Eu comentei.

- Eu imagino, mas acho que já esta bom por hoje! – Micael falou. – Espero que estes encontros se tornem cada vez mais requentes, mas por hora, acho melhor você acordar.

- Acordar? – Eu perguntei.

- Sim, até a próxima! – Micael acenou para mim e estralou os dedos da mão direita, nesse momento a minha visão ficou embaçada e escureceu.

Eu acordei em um quanto que não conhecia, estava em uma cama de solteiro com um lençol estampado com personagens de desenhos animados. Estava com um cobertor estampado com listras como as de uma zebra, havia uma mesa com um computador e uma impressora. Em uma parece tinha uma estante com alguns bichinhos de pelúcia, o maior deles era um tigre siberiano muito bonito.

Thais abriu a porta do quarto e olhou para mim, ela acenou ao perceber que eu tinha acordado e pediu para que eu esperasse. Pouco depois ela entrou pela porta carregando uma bandeja com dois copos de suco de laranja e um prato cheio de torradas, algumas com requeijão, outras com creme de cacau com avelã, e umas bolachas de maisena. Eu me sentei na cama e ela fez o mesmo colocando a bandeja entre nós.

- Eu pedi para o Haziel trazer você pra cá! – Thais falou. – Você dormiu um bocado.

- Aqui é a sua casa? – Eu perguntei.

- Sim, este é o meu quarto! – ela confirmou e pegou uma das torradas com requeijão e começou a comer. – E ai Wagner, como foi com Micael?


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