O Chaveiro Em Forma De Gato escrita por Callye Hiver


Capítulo 7
Sequestro




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Kaori acordou, mas não viu nada. Seus olhos estavam tampados por uma venda preta, e ela sentia uma horrível dor na nuca.

- Deus... o que aconteceu? – Perguntou a si mesma.

- Vejam só quem acordou! A nossa “princesinha”! – Disse a voz de uma mulher, provavelmente em sua frente. Kaori já havia escutado tal voz, mas ela não conseguia se lembrar da onde.

De início, ela ficou confusa com tudo aquilo, mas logo se lembrou.

Lembrou do que falou sobre Yuki sem querer,

de ele acabar ouvindo-a e indo embora,

e de quando ela tentou correndo, e alguém a atingiu na nuca.

Isso. Alguém a atingiu na nuca. Ela provavelmente ficou inconsciente.

Então, uma óbvia pessoa apareceu em sua mente. A pessoa que com certeza a apagou.

- Satoshi... – pensou em voz alta. Não lhe restavam dúvida que era ele.

- Satoshi? Quem é esse? – Perguntou a mulher. Não estava falando com ela, pois a ruiva notou que o tom de voz era direcionado para outra direção do local.

Alguém pigarreou. Uma menina.

- É um garoto da escola. Ela... gostava dele, até um tempo atrás. Eles tiveram um tipo... – pigarro – discussão.

A boca de Kaori se abriu. Tinha que estar ouvindo coisas. Aquela voz não podia ser real...

- Y-Y... – ela pareceu ter medo de falar e descobrir que era real a outra pessoa que estava ali. – Y-Yuka...?

Um suspiro.

- Desculpa, Kaori... desculpa... – pediu a amiga. – Desculpa, eu não—

- Ela realmente pensou que fosse o garoto? – Cortou a outra mulher. – Ela nem sabia que ela estaria andando por ai de noite. E do jeito que você me falou que ele é, nem deve andar por ai uma da matina.

- Ele também não... teria motivos pra bater na Kaori, de toda forma... pois ele nunca gostou dela... – completou a morena, timidamente.

- Seria certo ela achar que você a nocauteou. Você era a única que sabia que ela estaria por ai – suspirou a mais velha.

- Droga, será que vocês podem tirar essa venda dos meus olhos logo?! – Indagou uma Kaori com raiva.

Ela ouviu sons de passos em sua direção, então, alguém desamarrou a venda de seus olhos. Ela então viu os olhos verdes de sua melhor amiga, Yuka Katsumi. Se ela não estivesse com as pernas e braços amarrados por cordas, ela teria pulado em cima da outra.

- YUKA! SUA MALDITA! VACA! VA--

- EEEI! Cale a boca ai, estressadinha! – Disse a mulher, tomando o lugar de uma Yuka assustada no campo de visão da ruiva.

Kaori a conhecia.

Quer dizer, não conheciaaaa ela. Mas já a vira antes e ela logo lembrou-se de onde.

- Você é a mulher da loja... – disse.

- Perdão?

- A mulher que me vendeu o... chaveiro.

- Ah, sim – ela riu. – Sim, sou eu. A propósito, não o chame de chaveiro. Você sabe o nome do Yuki-chan.

- Yuki-chan? – Perguntou.

- O chaveiro, Kaori... o Yuki – disse Yuka, em um canto.

- O chaveiro que você despejou, que você mandou embora, que você, como disse, não precisa mais para viver.

Kaori mordeu o lábio inferior.

- Desculpa Kaori... – pediu novamente Yuka, depois de um silencioso momento.

- Você era minha melhor amiga... por que fez isso?

- É que... – a morena mordeu o lábio inferior.

- Deixa que eu explico – se intrometeu a lojista. – Seguinte ruivinha, meu nome é Sophia. Sophia Katsumi. E essa ai é a minha filha. – Kaori agora entendeu porque o verde nos olhos delas eram tão parecidos. – Então, quando a Yuka viu aquele chaveiro na sua mochila, ela fingiu muito bem não reconhecer ele. Mas ela sempre soube, desde antes de você sequer comprá-lo, que aquele era o Yuki. E eu fiquei interessada em você quando a minha garotinha me disse que era sua melhor amiga. Então, ela me dizia tudo que acontecia entre você e a forma chaveiro dele, tudo que ela podia ver. Até que... – ela fez uma pausa e estreitou os olhos. – Ela me contou daquele passeio da escola. Na verdade, eu já tinha um pouco de raiva de você por causa desse tal Satoshi, que Yuka chamava de “menino loiro bonito”, mas como você ainda estava com o Yuki-chan... bem – continuou -, ela viu que meu neko estava com você, isso era ótimo, já que ele era um garoto! Mas então rolou aquela briga. Você mandou ele embora, e isso me deixou zangada – disse ela, olhando para Kaori como se pudesse estrangulá-la ali mesmo. – Você sabe quantas vezes eu tive que ver ele chorando porque não era amado?

- Olha, me des—

- NÃO, VOCÊ NÃO SABE! – Gritou Sophia. Ela então respirou e voltou a ter uma voz firme. – Mandei a Yuka te seguir aqui de noite, pra ver se você achava o Yuki-chan. Pedi para ela te deixar inconsciente caso fizesse alguma besteira. Ela pensou que estaria tudo bem quando você viu o Yuki-chan pela rua, mas então você disse aquilo.

- Escuta... eu não quis dizer aquilo! Eu só—

- ENTÃO O QUE QUIS DIZER?!

Kaori se assustou um pouco com o grito.

- E-eu... – ela fechou os olhos por um momento e logo os abriu. – Eu pensei que nunca mais veria ele novamente. Então... eu apenas... tentei arranjar uma desculpa para mim mesma... e eu o vi naquele instante, e ele tinha me ouvido. Eu fui tentar chamar ele, segui-lo, mas a Yuka me apagou... – ela, novamente, fechou seus olhos e suspirou. Mordeu o lábio. – Eu apenas não aguento ficar sem ele... não aguento mais ficar sem o abraço dele...

- Devia ter pensando nisso antes de dizer tal absurdo – a outra respirou fundo, como se fosse para não enforcar a ruiva ali mesmo. – Yuka, vigie ela. Vou pegar umas coisas lá no fundo. – E saiu.

A morena encostou-se na parede e deslizou até o chão. Abraçou as pernas e pousou a cabeça sobre os joelhos.

- Desculpa Kaori... por favor, me desculpa – ela parecia chorar. – Você é minha melhor amiga... mas eu tinha que fazer isso...

- Por quê?

Ela encarou a amiga.

- Porque minha mãe é doente.

- O quê? – Perguntou, sobressaltada.

- É que... eu tinha um irmão. Hoje ele teria 17 anos – contou. – Ele era parecido com o Yuki. Olhos e cabelos azuis... e seu animal preferido era os gatos. Então... – Yuka abraçou mais fortemente suas pernas. – Um dia minha mãe pediu para ele fazer algo, antes de ela dar uma saída. Mas ele realmente estava cansado, pois ele estudava em um colégio particular, e ele tinha mais lições e provas do que nós duas temos juntas! Então ele foi descansar e acabou dormindo.

- O que... sua mãe fez? – Kaori estava com medo da resposta.

- Eu disse que ela era louca, certo? Então, eu fiz o trabalho do meu irmão, que também se chamava Yuki, por ele.

- Yuki e Yuka Katsumi? – Se o momento não fosse tão errado, a garota riria dos nomes parecidos dos irmãos.

- Minha mãe gosta desses nomes – ela deu de ombros. – Enfim, quando ela viu que eu estava trabalhando do lugar do nii-san, ela ficou louca da vida. Começou a dizer que ela era um preguiçoso aproveitador da irmã menor. Que não fazia nada que ela pedia. Que era um imprestável. E que ela não precisava ter um filho se fosse pra ter ele. Então... quando o nii-san tentou explicar o porquê de tudo, se desculpa, minha mãe bateu nele – Yuka fechou os olhos e mordeu o lábio. – Bateu nele. Bateu. Bateu. Bateu... – ela parecia aterrorizada com a lembrança. – Ela estava louca, Kaori – morena encarava-a, agora assustada. Tremia. – Kaori, a minha mãe matou meu irmão de tanto bater nele!

Kaori encarava-a. Não sabia o que dizer.

Mas sabia que deveria acreditar.

Ela pôde a ver tristeza deixando os olhos da amiga. O tremor.

Isso não era fingimento.

- Ela só bateu no seu irmão?

- Não. Também me bateu por fazer o que ele mandou. Mas ela não foi tão agressiva comigo – suspirou. – Então, depois de alguns anos, ela criou o Yuki. Digamos que é meio que mágica – ela suspirou. – Eu não entendo. Acho que foi mais, literalmente, uma macumba – disse. – Um chaveiro de gato que podia se transformar num garoto. Com uma alma, sentimentos e mente. Fiquei impressionada, na verdade. Eu tinha uns 14 anos quando ela criou ele, na verdade.

- Durante dois anos ele foi rejeitado? – Impressionou-se a ruiva.

- E ele sempre chorava. Ele só queria ser amado. Qual é... um cara de 17 anos sem namorada é meio deprimente pra ele.

17 anos.

Era a idade que Yuki aparentava ter, apesar dele nunca ter lhe dito.

- Então você fez o que sua mãe mandou por que tem medo que ela te mate?

- Isso...

- E agora, ela vai me matar?

- Provavelmente.

- Então eu tenho que fugir daqui.

- Não pode. Se não vou ser acusada de ter deixado você escapar.

- Fuja.

- Ela sabe onde estudo. Sabe onde é sua casa. E não tem pra onde eu me esconder.

Kaori baixou os olhos.

- Bem, se fosse pra ser assim, acabar nas mãos de uma mulher completamente doente... eu queria ao menos sentir o toque do Yuki de novo. Sentir seu abraço... ouvir sua voz me chamando. – Ela fechou os olhos. Era a primeira vez que admitia isso em voz alta.

- Você realmente o ama, Kao-chan?

- Eu sairia uma da matina, com o risco de ser pega por qualquer cara que estivesse armada na rua a essas horas correndo risco de morrer, por alguém que não me importo com todas as minhas forças? – Ela abriu um sorriso, e Yuka retribuiu.

- Você fala realmente sério, docinho?

Kaori se sobressaltou com ao ouvir essa voz.

Não era de Yuka.

Não era da psicótica Sophia.

Era uma voz masculina.

Grave.

Sedutora o suficiente para fazer qualquer menina prender sua respiração.

Bela o suficiente para fazer os pássaros pararem de cantar apenas para ouvirem a voz mais e mais vezes.

Um tom tão perfeito que se alguém contasse, pareceria até invenção de criança.

E conhecida o suficiente para Kaori afirmar de quem era.

- Yuki... – disse, baixinho. Ela procurou-o.

- Em carne, osso e... plástico, nas horas vagas – ele riu e mostrou-se.

Estava pendurado. Sua cauda estava entrelaçada com a madeira do teto do local. Estava em frente de Kaori. Seus rostos a apenas alguns segundos de distância.

A ruiva corou, mas sorriu.

-Deus, Yuki... como é bom te ver... – a outra sentiu que seu sorriso não poderia ficar maior sem rasgar o rosto.

- É bom ver que você está bem, Kaori – agora era sua voz natural. Mas, mesmo sem esforços, ela acaba sendo sexy.

- Yuki, aquilo que eu disse... não, não só aquilo de agora pouco, mas no museu também... eu queria me desculpar... você estava certo sobre o Satoshi. Me desculpe... eu sinto muito. O que eu disse... eu não sabia onde eu estava com a cabeça. Me arrependo... e o que você ouviu agora pouco... era apenas uma desculpa para mim mesma, porque não te achei... tentei arranjar motivos pra viver sem você... me desculpe, me desculpe, me desculpe...

- Já acabou? – Perguntou ele, indiferente, descontraído.

- Ahn... já... por quê? – Ela ficou um tanto confusa e ele abriu um sorriso.

- Porque eu quero pular a parte das desculpas e arrependimentos e chegar logo no “e viveram felizes para sempre”.

Lentamente, ele segurou o rosto da ruiva com as duas mãos. Apenas um polegar de distância.

- Não tem que dizer mais nada. Eu sempre vou te amar, baka.

Então, Yuki não deixou que mais nenhum milímetro separasse suas bocas.

Satoshi a havia beijado com desespero. Como se sentisse pressa em beijá-la de uma vez e ainda acabar rápido com aquilo.

Mas Yuki não.

Ele a beijava com paixão.

Sentia pressa em beijá-la, sim. Mas apenas quando a mesma quisesse.

E a cada segundo passado, ele queria ficar mais e mais junto dela. Não queriam ambos Kaori e Yuki que o momento acabasse jamais.

Os lábios do garoto eram macios.

Doces.

Perfeitos.

A ruiva sentiu-se com 7 anos novamente.

A pequena menininha de 7 anos que esperava seu príncipe encantando em um cavalo branco.

O príncipe que a beijaria.

Um beijo perfeito. Perfeito de mais para ser real.

Um beijo doce, profundo e apaixonado.

Aquele momento era, com certeza, o beijo cujo Kaori sempre sonhou em ter.

E apenas Yuki podia realizar esse sonho.

- Baka, eu te amo... – disse Kaori, quando ele se soltou de sua boca. – Eu te amo, eu te amo, eu te amo... não vá a nenhum lugar sem mim. Nunca mais fique longe de mim...

- Eu não vou – ele sorriu, passando as costas de sua mão na bochecha dela.

- Hmm... eu sei que vocês se amam de mais e tudo, que estão tendo o seu momento e eu odeio interromper o romance da minha melhor amiga com meu meio-irmão, mas... a minha mãe tá chegando. E suponho que não será algo tão... maravilhoso quando ela chegar – avisou Yuka, que ainda estava sentada, observando os dois.

- Droga, esqueci dela – disse Kaori.

- Não posso te libertar, Kaori... ela realmente fez coisas horríveis com a Yuka-nee-chan. Ah, falando nisso... desculpa, não podia te falar que ela era minha irmã...

- Por causa da Sophia. Tudo bem, eu entendo.

- Certo... vou tentar libertar você, Kaori.

Ele, então, como um gato, subiu rapidamente na madeira, ficando sobre ela com os pés e as mãos. Então, se jogou no chão na frente de Yuka, ficando de quatro.

- Adoro poder fazer isso – ele sorriu e foi atrás da cadeira onde a ruiva estava amarrada. Yuka se pôs de pé.

- Droga, não ta fácil soltar essas cordas aqui... – dizia ele. Sophia havia cortado as pontas dos nós, deixando impossível a liberdade.

- Yuki, ela ta vindo!

- Corre daqui. Vai pela entrada dos fundos. Me espera com a Kaori lá – ela obedeceu.

- Como me encontrou aqui, afinal? - Perguntou Kaori, enquanto ele tentava soltar as cordas.

- Eu vi a Yuka... decidi te seguir pra saber se estava tudo bem. CHEGA DE BONS MODOS! – Gritou, e começou a morder as cordas.

A ruiva nunca percebera, mas os caninos do neko eram afiados.

- YUKI KATSUMI, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! – Gritou Sophia, chegando ao cômodo.

O garoto olhou-a. Pela primeira vez, Kaori viu medo nos olhos dele. Um medo horrível.

Um medo traumático.

- Não interessa pra você – ele mordeu os últimos nós, libertando a garota. – KAORI, CORRE!

Ela teve tempo de se abaixar quando uma faca quase atingiu sua cabeça. Rasgou um pouco o casaco do garoto.

- E VOCÊ?

- EU VOU LOGO, MAS VAI, AGORA!

Ela obedeceu. A última cena vista foi Yuki desviando de um facão, segurado por Sophia.

- Cadê o Yuki? – Perguntou Yuka, na porta.

- Ele tá tentando fugir da sua mãe... disse que temos que ir, ele vem logo depois.

As duas correram, então, pelo corredor que daria a porta dos fundos que o rapaz falou.

A morena já havia tocado a maçaneta quando Kaori parou.

- O que foi? – Perguntou.

- Espera... estou ouvindo uma coisa...

Ambas ficaram quietas.

E o som de gritos de dor ficou maior.

- Kaori...

- Sim – respondeu ela antes da amiga perguntar.

Eram gritos de dor horríveis.

Gritos que a ruiva jamais pensou ouvir.

Pelo menos, não vindo da boca de Yuki.


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Notas finais do capítulo

E ai? >w
Pois é, todo mundo pensou que fosse o Satoshi. Tsc tsc u.u
Então, agora posso ameaçar vocês. MANDEM REVIEWS OU O GATO MORRE, MORÔ??///BARRA?/? n