O Chaveiro Em Forma De Gato escrita por Callye Hiver


Capítulo 6
O arrependimento




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"Kaori observou ao longe. Yuki sorria para ela. Um belo azul e verde pintava o local onde ele estava.

– Yuki... - sussurrou. Começou a correr em sua direção. - YUKI! YUKI!

Mas, a cada passo que a ruiva dava na direção do garoto, ele parecia se afastar mais. Logo, o belo fundo começou a mudar. O verde da grama começara a ficar acinzentado. O belo céu azul escureceu. Não como a noite, não.

Aquilo era pior.

Um fundo escuro e sem vida. Sem Lua, sem estrelas. Apenas o negro céu.

Aquilo era o que Kaori sempre achou ser a imagem do Inferno.

– YUKI! - Chamava. Ele sumira.

Kaori queria procurá-lo, dizer a ele que sentia sua falta.

Quando o chão abaixo dela começou a se abrir.

Não tinha para onde correr. Caiu, e olhou que abaixo dela, havia apenas o infinito negro e assustador.

Mas alguém segurou seu pulso.

Yuki.

– Yuki? - Ela sorriu.

– Eu deveria ajudá-la? - Perguntou, sem demonstrar qualquer emoção. - Afinal, você me disse que nunca mais queria me ver. E eu não quero que fique mais zangada comigo. - Ele soltava seu puslo, um dedo de cada vez.

– Y-Yuki, me desculpe. Eu--

Era tarde. O garoto havia deixado Kaori cair para sempre no terror do infinito.

Caindo para sempre caindo para sempre caindo para sempre caindo para sempre..."

– AAAAAAH! - Gritou ela, sentando-se rapidamente na cama, agarrando os lençóis. - Um... pesadelo...? - Perguntou a si mesma. Fechou seus olhos. Suspirou.

Não, não era um pesadelo. Aquilo, de fato, estava acontecendo.

Porém não da forma mostrada em seu sonho.

Yuki de fato foi embora.

Mesmo que o chamasse, ela jamais o encontraria.

A escuridão infinita era a sua monótona vida normal de adolescente.

E, com a partida do garoto, ele a deixara cair nela.

Kaori começou a chorar.

– Droga, droga... - dizia. - É culpa minha. É culpa minha. Só minha.

Kaori olhou para o relógio. Era quarta-feira e era hora de levantar para ir à aula.

– Não quero ir pra escola - sussurrou. - O que vou falar pra minha mãe? Mãe, não quero ir para a escola hoje porque mandei meu garoto-chaveiro-gato embora ontem, estou arrependida, tive um sonho horrível com ele hoje e simplesmente estou sem motivação para ir estudar.– Ela riu com desdém. - Se eu falar isso, com certeza não vou pra escola. Vou direto pra um psicólogo.

Ela deitou-se na cama novamente. Teria que levantar. Mas queria descansar mais um pouco. Até esquecer o sonho.

Até esquecer até esquecer até esquecer...

– Kaori, já está na hora de levantar - disse sua mãe, abrindo um pouco a porta de seu quarto. - Não se atrase - e saiu. Kaori bufou.

Logo, levantou de sua cama. Levantou com tanta emoção e disposição que parecia mais uma velha gorda, segurando outra velha gorda nos braços.





O dia parecia combinar com seu humor hoje - triste, cinza, feio. Provavelmente choveria.

Mas ela não se importou. Nada importava. Nada, se não estivesse com Yuki.

Yuki...

Ela parou em frente de uma vitrine. Olhou um vestido maid que ele sempre a mandava comprar. Começou a se lembrar do momento.

"– Hey Kaori, tá vendo aquele vestidinho ali? - Ele apontou.

– O que tem ele?

– O que você acha de comprar ele? Dai você pode usar enquanto me trata como um rei e faz tudo o que mando - ele riu.'

– Vai sonhando - disse ela com aversão."

Sorriu com a lembrança. E notou o quão idiota havia sido sua resposta. O quão grosseira tinha sido.

Não apenas ali, naquele momento. Mas sempre. Yuki só queria que ela sorrise por algo que ele fizesse. Mas ela só retribuia a gentileza com ainda mais grosseria.

– Sou uma idiota - disse. Abaixou sua cabeça. Sentiu gotas de chuva em sua nuca.

Não ligava se ficasse molhada. Continuou apenas andando pela rua. Andando. Sem rumo.

Ela realmente não queria estudar.

Ou...

Apenas não queria ver Satoshi?

Não, não podia ser isso.

– Ou talvez seja - sussurrou para si mesma.





Chegou. Completamente encharcada por causa da chuva.

– Kao-chan, tudo bem? - Perguntou Yuka, sua melhor amiga.

– Está sim...

– É que ontem, no museu... - ela mordeu o lábio. - Fiquei meio preocupada com tudo aquilo. Depois que você gritou com seu amigo daquele jeito, e depois que ele saiu correndo...

– Está tudo bem - ela forçou um sorriso.

– Kaori, você não me engana. Somos amigas faz anos. Eu sei quando algo não está bem com você. E além do mais, você está inteiramente molhada! Desde quando uma Kaori Izumi feliz deixaria isso acontecer?

Ela suspirou. Conhecia-a muito bem, mesmo.

– Conta pra mim, o que foi?

– Você não iria acreditar - ela deu de ombros.

– Você não sabe se vou ou não se não me contar.

Yuka tinha um irritante poder de convencimento sobre Kaori.

– Vem cá.

Elas andaram até a quadra e sentaram na arquibancada, em um local vazio. Não tinha muitas pessoas por lá.

Logo, Kaori contou à Yuka tudo. Sobre o chaveiro, sobre ele se transformar em um garoto... e só parou quando contou seu pesadelo, até a hora em que ela acordou gritando.

Yuka observava-a.

– Eu disse que você não ia acreditar.

Ela olhou para a bolsa de Kaori.

– Seu chaveiro não está ai.

– É, porque eu mandei ele embora ontem. Só não entendi a saída dele daquela forma...

– Você disse que ele vive do amor que a dona sente, não é? Você deixou de amar ele naquela hora. Simples. Ninguém podia descobrir sobre a forma de chaveiro.

Kaori refletiu. Havia se esquecido disso.

– Então... Yuki está perdido por ai? Como um chaveiro?

– Não necessariamente - explicou Yuka. - Talvez ele tente, de vez em quando, se transformar novamente. Se você ainda o ama, ele conseguiu. Ou... talvez ele tenha desistido disso, pensando que você o esqueceu para sempre, e pode estar realmente abandonado por ai como um chaveiro.

– Espero que ele tenha continuado a tentar se transformar num neko novamente... - sussurrou.

– Kaori... posso te perguntar uma coisa?

– O que foi?

– Você realmente gosta do Satoshi?

A perguntou a pegou de surpresa.

– C-como assim?

– Bem... se você realmente gostasse ele, nem estaria ligando pro Yuki, pro conforto dele. Afinal, você já tem a pessoa que ama ao seu lado. A não ser que...

– A não ser...

A morena abriu um sorriso.

– A não ser que você tenha mandado embora a pessoa que você realmente ame.

Kaori ficou quieta. Odiava o quão rápido sua amiga costuma raciocinar.

E mesmo assim, agradecia por ela sempre jogar as coisas mais óbvias na sua cara quando ela mesma não percebia.

– Vou falar com o Satoshi - disse ela, descendo da arquibancada.

– Espera ai - interrompeu a amiga. - Eu tenho que aprovar a conversa de vocês.

– Tudo bem - ela riu. - Vou falar a ele que o beijo foi um erro, que não gosto dele... essas coisas. Falar que descobri que amo o Yuki.

– Ok, vai lá falar com ele então, mas depois me diz tudo o que ele falou hein - ela sorriu e piscou para a amiga, que saiu da quadra.





– Certo Kaori... não é tão difícil assim falar isso pra ele... você não vai terminar com ele, de toda forma. Vocês apenas se beijaram. Ele se declarou pra você... mas vocês só se beijaram! Ele desperdiçou seu primeiro beijo com você... mas você precisa terminar com isso! - Dizia ela para si mesma.

– Então, o que você fez com aquela bonitinha, a ruiva? Qual o nome dela mesmo? - Era a voz de um amigo dele.

– Kaori - era Satoshi. Eles estavam sentados em um pequeno murinho (que não tinha mais de um metro). Ela se escondeu na árvore atrás dele para ouvir a conversa.

– Isso, Kaori! Eu não fui no passeio ontem. Você disse que ia pegar ela né?

– E peguei - Satoshi riu.

– O que você falou pra ela?

– Ah... falei que gosto dela a tempos, e que ela não sabia o quanto eu gostava dela - eles deram boas gargalhadas. - Elas sempre acreditam. E ela foi outra idiota que acreditou que eu nunca tinha beijado ninguém - ele riu.

– Meninas são burras. Acreditam em tudo que houvem. Só porque encontram um garoto com um rostinho bonito elas pensam que ele é um príncipe encantado. E parece que você é o de muitas - seu amigo riu. - Mas você ganhou a aposta. Pegou ela em menos de uma semana.

– Uhum. Quero ver aquela garota bonitona amiga de você e do Lyon saindo comigo hein.

– É claro. A propósito, quando vai se livrar da ruiva? Pretende ficar quanto tempo com ela?

– Não espero passar de amanhã. Qual é, ela pode ter uma carinha bonitinha, mas não tem peito. É uma tábua, e você sabe que eu odeio tábuas - ambos começaram a rir. Kaori corou. E ficou com raiva.

– Então é isso que eu sou pra você? Uma tábua? - Disse ela, saindo de trás da árvore. Satoshi ficou automaticamente de pé.

– K-K-Kaori!

– Vou saindo daqui - disse o amigo dele, saindo lentamente.

– O que você dizia pra ele mesmo?

– N-n-nada de mais! C-coisas de meninos...

Ela suspirou.

– Eu ouvi o que você disse pra ele. Prefere admitir ou prefere que eu te faça fazer isso a força?

Ele riu com desdém.

– A força? Que força? Eu sou muito mais forte que você. Se eu quiser posso quebrar o seu braço agora mesmo. E o que você pode fazer contra mim, tábua?

Ela corou, irritada.

– Ah, já sei... você vai falar com o seu amigo Yuki? Opa, eu me esqueci, fiz você mandar ele embora - ele começou a rir. Kaori baixou os olhos. - Meu Deus, como garotas são manipuladas com tanta facilidade... um bando de idiotazinhas apaixonadas! - Ele riu sem parar diante da ruiva.

Até receber um tapa.

Algumas pessoas ao redor pararam para ver.

Kaori acabara de dar um tapa no rosto de Satoshi. Estava irritada.

– DROGA, MOLEQUE! - Gritou ela. - Eu sou a pessoa mais fácil pra ficar com raiva nesse mundo! Você não quer saber como é uma menina com raiva! ENTÃO, É MELHOR FICAR QUIETO!

Ele colocou a mão em cima do local onde ela bateu. Encarava-a, sério.

– É, você é diferente das outras meninas que fiquei. Você teve a coragem de me bater - ele ergueu uma sombrancelha.

– E vou te bater quantas vezes eu quiser, se fizer menção ao nome do Yuki de novo! - Disse. Estava com muita raiva. Foi encontrar Yuka e falar o que havia acontecido.





– Está tudo bem mesmo?

O último sinal havia tocado. Kaori estava em pé, arrumando suas coisas para ir embora.

– Sim - respondeu ela.

– Mas... você realmente gostava do Satoshi...

– Como você disse, mandei embora quem eu realmente amo, na verdade, e eu não percebi.

Yuka olhava-a.

– Você vai procurar por ele, não vai?

– Não agora - respondeu ela. - Minha mãe vai notar minha demora pra chegar em casa... e todas as tardes eu durmo.

– E quando você vai procurar por ele?

– De noite - respondeu.

– ESTÁ LOUCA? Você nunca vai achar ele de noite!

– É o único momento em que minha mãe não vai notar minha ausência.

– Você é louca - disse Yuka.

– Não dizem que você faz loucuras por alguém quando você realmente gosta dela?

A morena sorriu.

– Só tome cuidado - disse, despedindo-se de amiga e cada uma indo para sua casa.







00:00

Kaori estava em sua cama. Sua mãe dormia no outro quarto. Era a hora de ir buscar Yuki - onde quer que estivesse.

Ela suspirou.

Era idiota por fazer isso. Sair no meio da noite? Procurando alguém que talvez nem encontrasse?

Mas algo dentro dela não conseguia dormir. Não conseguia se acalmar enquanto não visse o sorriso de Yuki novamente. Enquanto não escutasse sua risada.

Enquanto não pudesse sentir o calor de seu abraço novamente.

Suspirou. Era idiota.

Uma idiota completamente apaixonada.

Levantou-se de sua cama e se vestiu. Se encostou no guarda-roupa.

– Deus... por que estou fazendo isso?

Mas algo dentro dela dizia que deveria ir. Algo dizia que se deixasse para procurar ele outro dia, algo ruim aconteceria.

– Bem, intuição feminina nunca falha... espero que não seja uma exceção comigo dessa vez - sussurrou ela, rindo baixo.

Saiu de casa silenciosamente. Tinha mais ou menos seis horas para achar ele e voltar.

Estava chovendo.

– Droga - disse ela. Mas podia aguentar a chuva.

Kaori começou a procurá-lo. Estava preocupada que tenha sido um erro sair de casa de noite...

– Eu vou te encontrar, Yuki - sussurrou, sorrindo.

Bem, talvez ele não tenha ido tão longe.

Afinal, para onde ele iria? Com certeza não sairia da cidade.

– Talvez esteja perto do museu - disse ela.

Foi procurá-lo lá. No beco onde ele havia ido depois da briga. Por sorte, Kaori se lembrava do caminho.

Decepção.

Quando chegou, não o viu.

– Yuki...? - Chamou. Em resposta, apenas o guinchar de alguns ratos.

Suspirou e decidiu procurar mais.

01:30

Droga.

O que ela estava fazendo ali, afinal?

Ela não o encontraria.

Não o encontraria não o encontraria não o encontraria...

Olhou em seu relógio de pulso.

Havia uma hora que estava lá fora. Na chuva. E sequer um sinal de Yuki ela havia encontrado!

Afinal de contas, o que ela pensou?

Que sairia para procurar o garoto e que o encontraria em frente de sua casa, de braços abertos, a esperando?

Kaori já não tinha mais 5 anos pra pensar esse tipo de coisa. Ela tinha 16. Era uma adolescente, não uma criança.

Colocou a mão em um muro para descansar um pouco e fechou os olhos. Sentiu a chuva.

– Você faz loucuras por amor... - dizia, para si mesma. - Você sempre faz loucuras por amor, mas nunca para pra pensar no quão idiota elas podem ser. Só percebe isso quando já está tudo feito.

Uma lágrima rolou por seu rosto.

– Afinal, o que uma garota de apenas 16 anos está fazendo? Saindo de madrugada de sua casa e vindo para a rua, esperando encontrar alguém que talvez nunca ache, acreditando que ele é o amor da sua vida? - Ela suspirou. - Desde o início, foi um erro, sequer tê-lo comprado. Eu só tenho que esquecer ele. O Yuki não é importante... nunca foi. Nunca será.

Ela virou-se. Voltaria para casa. Fitou o chão por um tempo.

Algo azul estava observando-a.

Algo pequeno e azul.

Pequeno como um chaveiro.

Azul como os cabelos de Yuki.

– Y-Yu... - sua voz falhou. Havia o encontrado.

No momento errado.

"Desde o início, foi um erro, sequer tê-lo comprado. Eu só tenho que esquecer ele. O Yuki não é importante... nunca foi. Nunca será."

As suas palavras ditas a pouco pairaram sobre sua mente. Será que ele havia as ouvido?

Sim.

Pois agora, ela pôde ver pequenas lágrimas caírem dos olhos azuis do chaveiro. Ele se virou e saiu correndo.

Para longe dela.

Para longe de seu alcance.

Como eu seu sonho.

Mas ela não o deixaria ir. Não de novo.

– YU--

Seu chamado foi interrompido.

Mal havia tirado seus pés do chão para correr quando alguém atingiu sua nuca com força, deixando-a inconsciente.

Alguém que ela conhecia.


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Notas finais do capítulo

É isso ai! Vocês conseguem imaginar quem abateu a Kaori? Acho que sim, né? x3
So, se nem nesse cap eu receber review, semana que vem não tem cap novo u_u