Capítulo 53 – Thomas Banner

– Ah! – grito mais uma vez quando a meio japonesa limpa o sangue acumulado em volta da minha ferida. Eu quero muito explodir e fazer a dor cessar, mas não consigo, primeiro por estar com dor demais, segundo, porque... É como se meu “estoque de Hulk” tivesse se esgotado.

– Quer parar de se mexer?! – a garota pede um tanto irritada com meus movimentos bruscos. – Assim eu não consigo limpar!

– Mas isso dói! E muito...

A garota revira os olhos.

– Pare de ser um bebê chorão e me deixa terminar! – ela me repreende num tom bruto e nada delicado para uma garota.

Ao invés de revidar num tom tão grosseiro quanto, eu decido ficar quieto e cooperar, afinal de contas, ela só quer me ajudar. Enquanto a garota limpa meus ferimentos, começo a observar os outros casos que estão ao meu lado. Os agentes da SHIELD continuam inconscientes nas suas devidas camas improvisadas, alguns muito feridos, outros apenas tentando descansar no meio da guerra ao lado de fora da sala. Não posso culpá-los, pois se já me sinto um caco sendo um mutante, não quero nem imaginar um humano normal.

A garota aperta novamente meu machucado, fazendo a dor se alastrar por meu corpo. Contudo, dessa vez, eu procuro não esboçar nada, apenas continuo a encarar o nada até a dor cessar aos poucos e eu recuperar o meu fôlego.

– Como está se sentindo agora? – ela me pergunta, observando-me com seus olhos castanhos brilhantes. – A dor passou?

Faço que “sim” com a cabeça. Meu gesto arranca um sorriso dos lábios dela.

– Acho que não sei o nome da minha médica.

Ela hesita um pouco antes de me responder.

– Kayla Howlett.

Meus olhos se arregalam e meu coração para no momento em que ela pronuncia seu sobrenome. Será mesmo que ela é...?

Quando abro minha boca para perguntar, nós dois somos surpreendidos por um enorme clarão que toma conta da sala, cegando-me por alguns segundos antes de eu identificar a forma de duas mulheres brigando entre si. Elas se atacam sem parar com feitiços e outros truques de mágica que usaram em mim e nos meus amigos durante nossa estadia em Asgard e...

Espere um pouco.

Estreito meus olhos e percebo que uma das mulheres envolvidas na briga é Encantor. Ela está ferida na perna direita, pois não para de mancar e há também algumas marcas grandes e roxas em seus braços e uma no pescoço. A segunda, uma mulher bem mais jovem (até julgo ser da minha idade) está com um enorme corte que vai de sua bochecha esquerda até o ombro.

– Basta! – Encantor se aproxima da garota e introduz um dedo na ferida da inimiga, rasgando ainda mais a sua pele e fazendo a garota urrar de dor até desmaiar em agonia e cair no chão.

Eu tento me levantar a fim de quebrar a cara de Amora, mas com um mínimo movimento a dor volta à tona. Sem escolha, sou obrigado a permanecer no lugar e observar a atrocidade que é cometida com a pobre menina.

– Já chega! – Kayla vocifera, fuzilando Encantor com os olhos. Seus punhos estão serrados de tão forte maneira que posso ver os nós de seus dedos ficarem brancos.

Amora deixa a garota desmaiada de lado a fim de encarar Kayla com o mais puro desprezo. Os olhos verdes brilhantes e maldosos estudam a Howlett da cabeça aos pés, não deixando escapar um detalhe sequer de sua observação crítica. Logo depois de analisá-la calmamente, Encantor volta seus olhos para mim, o que faz com que um enorme sorriso brote em seus lábios vermelhos.

– Ora, ora, ora... Parece que o esquentado acabou machucado. – ela solta um riso, aparentemente é a única que achou algo de engraçado na frase. – Excelente, assim poderei arrancar as suas tripas pela boca mais rapidamente.

– Você não vai machucar mais ninguém. – Kayla novamente a confronta, mas dessa vez, seu tom está mais firme e ríspido.

– Não me teste, pirralha, posso fazer cortes e dores ampliarem de tamanha intensidade que irá desejar estar morta.

É então que minha pergunta é respondida. Quatro garras metálicas, duas em cada mão, aparecem nos punhos ainda cerrados de Kayla e, como se não bastassem, mais duas lâminas saem de seus pés.

Meu queixo cai. Não me restam dúvidas de que essa garota é filha de James Logan Howlett, o famoso Wolverine.

– É o que veremos – ela aponta as garras para Amora, indicando que não irá abrir caminho para a asgardiana maluca me matar tão facilmente.

Soltando um urro de raiva, Encantor ataca Kayla com um de seus raios mágicos asgardianos. Contudo, para a infelicidade de Amora, sua adversária é rápida e logo desvia de seu ataque ao mesmo tempo em que engata um contra-ataque, cortando o rosto da feiticeira com uma de suas lâminas dos pés. A loira toca o rosto, pasma com o golpe, e então reinicia seus ataques utilizando um feitiço que aumenta seus punhos, deixando-os tão poderosos quanto os meus ou os do meu pai. Em meio à briga percebo que a garota que foi atacada por Encantor está caída bem no meio da confusão.

Tenho que ajudá-la se não quiser vê-la ser pisoteada em meio ao conflito entre Kayla e Amora.

Jogo meu peso para frente e concentro-me ao máximo nas minhas pernas para ocupar a minha cabeça e ignorar a dor. Consigo colocar-me em pé com muita dificuldade, todavia, sou capaz de ficar sobre os meus dois pés. Tento dar meu primeiro passo e como resultado quase acabo caindo de cara no chão.

Vamos lá, Thomas, você tem que ajudar aquela garota!

Forço minha mente a deixar a dor de lado enquanto recomeço meu andar desajeitado e manco. Foco minha atenção na garota desmaiada e na minha corrida contra o tempo de salvá-la como uma maneira de me distrair.

Pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo, pé direito... Está de brincadeira?! Tem que ir mais rápido!

Enquanto me aproximo da garota, eu observo a luta entre Kayla e Encantor. Ambas movem-se rapidamente e tentar abater uma a outra com golpes que eu jamais vi em toda a minha vida de recruta da SHIELD. Embora Amora tenha a mágica a seu favor, criando escudos e distrações, Kayla é rápida e centrada, executando seus golpes com uma precisão que eu nunca presenciei. Ela se move de maneira majestosa, parecendo imitar um felino em pleno ataque com suas garras prateadas semelhantes as do pai.

Quando me dou conta, já estou perto da garota desmaiada. Eu rapidamente a envolvo em meus braços e levo seu corpo inanimado para um lugar mais seguro. Enquanto eu a seguro no meu colo, obervo o enorme corte que deformou metade do seu rosto até o ombro, quase chegando a seu seio. O machucado está bem grande e profundo, posso ver que ela está perdendo muito sangue e se eu não fizer nada... Ela vai morrer.

– Kayla! – eu chamo pela minha salvadora, que olha rapidamente para mim antes de voltar a manter Encantor ocupada. – Ela vai morrer se não estancarmos o sangramento!

Kayla pondera as minhas palavras durante alguns segundos antes de dar um soco em Encantor e afastá-la por tempo suficiente para gritar.

– WADE! – e então ela é silenciada por Amora, que a joga para o outro lado da sala, fazendo Kayla bater as costas com tanta força que acaba danificando a estrutura.

– Hum... Você é pesada. – Encantor comenta com um enorme sorriso de satisfação no rosto machucado. – Vamos acabar logo com isso.

– Eu concordo. – uma voz masculina desconhecida surge de repente, introduzindo outra lenda viva: Deadpool, o mercenário mais procurado do mundo. Deus! Kayla é um verdadeiro ímã dos heróis que eu admiro. Eu preciso do telefone dessa garota. – Kayla, você está bem?

– Estou. – ela responde enquanto levanta devagar do chão. Assim que ela está em pé, posso ver que Kayla cospe sangue, mas que seus machucados vão aos poucos desaparecendo. – Deadpool, acabe com ela.

Deadpool volta sua atenção para Amora, que já está preparada para confrontar o novo adversário. Em resposta, o mercenário saca ambas as espadas.

– Até que você é gostosa... – ele comenta, provocando-a com seu humor ácido. – Mas você feriu Kayla, e por isso eu vou fazer você sangrar como uma cadela.

Não posso deixar de sorrir com a fala maldosa e grosseira de Deadpool antes de ver os dois recomeçarem um novo round. Enquanto observo abobado o mercenário contra a feiticeira, Kayla consegue chegar perto de mim e da garota desmaiada, já analisando seu estado.

– Dê-me um pedaço da sua calça. – ela me pede, e em resposta acabo fazendo uma careta.

– É a única peça de roupa que me resta.

Kayla me olha com a mais pura descrença.

– Então prefere a ver morrer a ficar pelado? – ela revira os olhos enquanto puxa um pedaço da minha vestimenta, deixando uma das minhas coxas à mostra. – Relaxa, verdinho, não tenho interesse em ver mais partes do que o necessário.

– Tem certeza? Posso surpreendê-la. – respondo-lhe com malícia, mas ela decide me ignorar.

Com o pedaço de pano, Kayla faz um torniquete, fazendo automaticamente o sangramento do ombro da garota cessar. Não sei exatamente o porquê, mas a menina logo acorda quando Kayla conseguiu estancar o sangue. Ela se engasga com o próprio ar enquanto tenta trazer oxigênio para os pulmões.

– Acalme-se e tente respirar devagar. – Kayla instrui a menina com um tom de voz totalmente diferente do que ela usou comigo. Ao contrário de ser grossa e dar ordens, ela molda suas palavras para saírem serenas, querendo fazer a menina se sentir mais tranquila.

– O-obrigada. – a garota agradece. Sua voz treme tanto quanto seu corpo.

– Qual o seu nome? – eu pergunto a ela, que mira seus olhos verdes em mim com certa curiosidade.

– Elise... Strange.

Kayla e eu nos entreolhamos.

– Strange? Assim como o Dr. Strange? – Kayla inquire e Elise concorda. – Você também é uma feiticeira? – Elise novamente concorda. – Acha que pode se curar?

Quando Elise abre a boca pra falar, escutamos a risada vitoriosa de Encantor quando ela corta Deadpool no meio com duas lâminas gigantescas de energia. O sangue do mercenário se espalha por todos os lados, manchando a roupa verde de Amora e seu rosto, o que a deixa com um aspecto demoníaco.

– Agora, eu vou acabar com vocês de uma vez por todas! – ela ergue as mãos, pronta para nos atacar e nos destruir, quando duas lâminas perfuram seu corpo, uma bem no meio do abdômen e a outra na garganta. Com movimentos bem lentos, ambas as lâminas começam a rasgar o corpo de Encantor. Sangue e mais sangue começa a jorrar do corpo deformado e rasgado em meio aos berros de agonia. Elise volta seu rosto para o meu peito a fim de parar de ver a cena aflitiva, mas Kayla e eu continuamos a admirar o belo trabalho de Deadpool.

– Eu disse que faria você sangrar, vagabunda. – depois que termina de destroçar Amora, o mercenário vem para perto de nós ao mesmo tempo em que limpa ambas as lâminas. – Foi divertido. Adoraria fazer isso de novo.

Kayla esboça um leve sorriso.

– Nem todos são imortais, Deadpool. – ela pousa sua mão no ombro do assassino. – Obrigada.

– É sempre um prazer transformar pessoas em rosbife. – Deadpool guarda as espadas de volta nas respectivas bainhas. – Qual o próximo passo?

– Temos que parar Thanos antes que ele acabe com todos nós. – digo-lhes, ajudando Elise a se levantar. – Mas como vamos detê-lo? É obvio que Thanos é poderoso demais...

– Posso tentar. – Deadpool dá de ombros. – Não posso morrer mesmo.

– Mas também não pode ficar lutando contra um titã maluco eternamente. – Kayla logo descarta a ideia do mercenário. – Você pode não morrer, mas ainda é humano e fica cansado como qualquer um.

– Temos que unir nossas forças. – Elise solta de repente, atraindo a atenção de nós três para si. – Não percebem? Podemos não estar em maior número, mas somos mais poderosos. Se conseguirmos unir as nossas forças, ninguém será páreo para nos derrotar.

– Espere um pouco... Já não estamos fazendo isso? – questiono-lhe. – Todos estão lá embaixo lutando sem cessar.

– Sim, estão, mas sozinhos. – Elise continua a explicar o seu raciocínio. – Temos que... Fazer nossas forças se unirem e formar uma única.

– Acha mesmo que isso vai pará-lo? – Deadpool pergunta.

– Não custa tentar. – ela dá de ombros.

– Então o que estamos esperando? – Kayla já está no parapeito da sacada com suas garras à mostra. – Temos um plano a executar.