— Chegamos. — ouvi a voz fina de Delphi e corri para as janelas do trem.

Posso sentir que o trem está diminuindo a velocidade, e com isso corro para a janela, apesar de saber que isso era um pouco patético e infantil. As câmeras nunca exageraram quanto à respeito da grandeza do lugar. Havia magníficos edifícios, os carros cintilantes passavam pelas avenidas numa grande velocidade, as pessoas vestidas de modos estranhos, com penteados estranhos e rostos pintados. Todas as cores da Capital pareciam pertencer ao arco-íris e elas vibravam intensamente.

As pessoas começam a apontar para o trem logo que nos vê. Elas acenam para nós que se fossemos algum tipo de estrelas de cinema ou coisa do tipo, é completamente surpreendente.

Cliff está no parapeito da janela, assim como eu, e a cada momento ele fica mais impressionado com a magnitude da cidade.

~

Logo que senti meus pelos serem retirados de minha pele sensível, dei um grito. Devia ser o décimo grito que dava em menos de uma hora, e até poderiam dizer que estava sendo fresca demais, mas era realmente dolorido. Eu não estava acostumada a tirar os pelos de minha perna.

Lime, uma mulher de pele esverdeada, cabelos rosa-bebê e tatuagens prateadas espalhas pelo seu braço esquerdo, pega mais uma tira de tecido e coloca novamente sobre minha perna. Ela passa a mão leve sobre ele, deixando-o mais grudado à minha pele, e em seguida, o tira em uma velocidade incrível.

— Argh. — guinchei ao sentir a dor

— Desculpe. — ela disse com seu ridículo sotaque da Capital, sibilando a letra S.

Estava no Centro de Transformação há mais de três horas, e estava ficando extremamente cansada. Ainda não havia conhecido meu estilista, mas meu corpo já havia sido esfregado por uma esponja que removeu toda a sujeira em minha pele, minhas unhas estavam prontas e num formato maravilhosamente quadrado, e todos os pelos de meu corpo já haviam sido retirados. Minha pele estava sensível e a dor era tão grande que eu poderia reclamar até a hora do desfile.

— Você está ótima. — disse uma mulher chamada Nayla. Ela se parecia bastante com Lime, tinha a mesma pele estranha, só que usava uma peruca dourada com cachos e uma maquiagem diferente. — Só mais um pouquinho, certo?

Assenti com a cabeça silenciosamente e eles continuaram passando a cera em minhas pernas. Em seguida, passaram uma loção em meu corpo, fazendo com que a dor diminuísse um pouco.

Depois, Lima e Martie, um cara engraçado, que tinha os cabelos tingidos de azul, tatuagens coloridas espalhadas pelo seu corpo e usava um batom roxo nos lábios, começou o meu cabelo. Eles diziam que não queriam deixá-lo muito diferente, então resolveram que queriam deixá-lo maior.

Nayla apareceu com um aplique numa das mãos e May Jo colocou sobre minha cabeça. Não sabia como estava, já que eles não permitiram que eu me olhasse no espelho até estar pronta para o desfile, mas eu sentia que estava bonita. Sempre quisera o meu cabelo grande, mas por algum motivo ele nunca crescia.

— Está bem, você está prontíssima. — disse Nayla com sua voz aguda e um pouco irritante — Fique aqui, logo May Jo chegará.

O trio rapidamente saiu da sala conversando alto e me deixaram sozinha.

May Jo era a minha estilista. Eu não tinha ideia de como ela era e Delphi não me dera nenhuma ajuda.

Como eles haviam pedido, tirei o roupão de seda finíssimo que estava usando e fiquei nua. Sabia que deveria ficar constrangida, mas eu estava sozinha e além do mais, minha estilista era mulher, então não faria me sentir tão mal.

Alguns minutos depois, as portas de vidro se abriram e ela entrou. Admito que minha boca caíra um pouco, eu estava chocada demais ao vê-la.

A mulher era bonita, mas exótica demais, ela não tinha uma aparência normal. May Jo tinha a pele escura e bronzeada, era alta e magra, apesar de parecer ter um porte atlético. Seus cabelos eram alaranjados e eles estavam raspados nas laterais, deixando somente uma pequena quantia em cima. Há tatuagens douradas no canto de seus olhos e posso ver que ela usa uma lente cor de rosa, e em suas pálpebras, há um fino contorno de um delineador verde. Ela usa uma calça cáqui laranja e uma blusa larga e meio transparente, fazendo com que eu pudesse ver um pouco de seus seios.

— Oi Annie, sou May Jo. — ela sorri e tasca um beijo em minhas bochechas, fazendo com que fique uma marca de batom vermelho em minha pele clara.

— Oi. — respondo

Ela, ainda com um sorriso no rosto, contorna o meu corpo nu, medindo cada centímetro dele com um de seus dedos finos.

— Você está ótima. — ela diz por fim — Lime, Nayla e Martie fizeram um ótimo trabalho com você.

Eu sorrio e agradeço com a cabeça, cautelosamente.

— Quer saber? — ela olha para mim — Coloquei seu roupão e vamos conversar.

Nos sentamos em pufes coloridos e confortáveis e ela sorri para mim, ainda me olhando de cima para baixo com seus olhos cor de rosa. No começo me sinto um pouco mal, quero dizer, não gosto de ter pessoas me encarando, mas por fim começo a me acostumar com a sensação.

— Então Annie, estive conversando com meu parceiro, que é o estilista de Cliff. — ela começou — Pensamos, e resolvemos que queremos dar uma ênfase na água.

No começo não entendi muito bem o que eles queriam dizer. Quase sempre os estilistas vestiam os tributos com as devidas atividades de seus Distritos. Por exemplo, o Distrito 12, as pessoas trabalhavam nas minas em busca do carvão, então muitas vezes os tributos usavam aquela típica roupa de trabalhador na cor preta. Era terrível.

— Já pensou em ser uma sereia? — ela perguntou com as sobrancelhas arqueadas

— Uma sereia? — relutei num sorriso

— Claro. — ela sorriu — Você não vai usar uma calda... Mas quero que se sinta como se estivesse na praia.

Ótimo, ela me colocaria no desfile usando somente uma tanga e um top, praticamente seminua. Claro, isso porque eu sentia que era magricela demais e não tinha absolutamente nada de corpo.

Mas segui o conselho de Delphi e deixei com que May Jo fizesse o que ela gostaria, mesmo que seu desejo fosse me tornar uma sereia.

Como Lime havia me dito, eu sequer me olharia no espelho até dar a hora do desfile, então eu não tinha ideia do que May Jo estava fazendo. Eu estava sentada num dos pufes, enquanto ela estava no outro canto da sala, com algo na mão, que eu tinha certeza ser o meu vestido. Então ela já estava com tudo pronto, eu seria uma sereia de uma forma ou de outra, querendo ou não.

Fiquei no mesmo lugar por mais meia hora, até que ela se levantou e veio em direção. Segurava uma capa nas mãos, isso porque ela se recusava a me deixar ver qualquer coisa.

— Vire-se e cubra os olhos. — mandou ela e assim o fiz

Senti suas mãos geladas sobre meu corpo, e em seguida, um tecido pesado estava sobre ele. Eu não sabia muito bem definir o que era, já que conhecia poucos tecidos, então simplesmente fazia o que ela pediu e continuava com os olhos fechado, como ela mandara. Depois que colocou o que parecia ser uma saia, ela passou as mãos em minhas costas nuas e senti um outro tecido sobre minha pele, mas esse era completamente diferente do da saia. Suas mãos ágeis rapidamente fez um laço sobre o que eu estava vestindo.

Algumas horas depois, eu estava pronta. Ainda não sabia ao certo o que estava vestindo, e não tinha ideia do que a minha equipe de preparação havia feito em mim... Só estava esperando que fosse alguma coisa sensacional.

Fui levada para os fundos do Centro de Treinamento, que dava para os “camarins”. Na verdade, é um estábulo, já que nossas carruagens são puxadas por cavalos, sabe como é. A cerimônia já está para começar e eu ainda não vi Cliff, Finnick ou Delphi. Estava começando a me sentir bem nervosa. May Jo havia pedido que eu não me olhasse no espelho e só me visse quando estivesse nos telões do desfile, e assim o fiz.

— Uau. — ouvi uma voz conhecida atrás de mim e me virei

Lá estava Finnick, usando um terno perfeito e preto, e com uma aparência bem chique. Os cabelos loiros estavam bagunçados, o que o deixava com uma aparência mais jovem.

Não havia falado ou o visto desde a hora que nos beijamos no trem, e isso não era algo bom, ainda estávamos no maldito clima. E para melhorar, ninguém poderia saber que ele havia me beijado. Primeiro por ele ser o meu mentor, segundo por ele ser bem mais velho do que eu, e terceiro porque ele perderia todas as mulheres que eram a fim dele e acho que certamente não seria algo agradável.

— Oi. — me virei e sorri, ele estava lindo.

— Você está maravilhosa. — ele sussurra em meu ouvido e sinto-me corar

— Você também esta ótimo. — sussurro de volto e lhe dou uma piscadela

Logo Cliff aparece. Obviamente ele não estava usando as mesmas roupas que eu, mas parece um tritão, ou algo do tipo. Ele não tem caldas, o que eu provavelmente tinha, e estava quase que nu. Seu estilista havia realmente exagerado em suas roupas.

— Vamos, vamos. — disse Delphi aparecendo de repente.

Ela também estava muito bem, usando um vestido tomara-que-caia esverdeado — provavelmente por sermos do Distrito 4 —, um sapato de seda prateado e seus cabelos estavam soltos, com somente uma parte presa, o que parecia ser um topete.

A música de abertura acabara de começar, o que significava que tínhamos que estar devidamente postos em nossa carruagem. Me despedi rapidamente de Delphi, e quando ninguém estava vendo, abracei Finnick. Odiava o fato de nós nos tratarmos como se fossemos amantes ou algo do tipo, era ridículo.

Em segundos, portas gigantes se abrem, mostrando ruas cheias de gente. As pessoas vibram. Nossa viajem dura mais ou menos vinte minutos e acaba no Circulo da Cidade, onde irão nos dar boas-vindas, tocar o típico hino da Capital, o presidente Snow falará algumas coisas e depois nos acompanharão até o Centro de Treinamento, que será como nosso casa até os Jogos começarem.

Os tributos do Distrito 1 entraram. Eles estavam magníficos, ambos pintados por um spray prateado; a garota usava um vestido longo lotado de joias, eu nem conseguia enxergar direito de tão ofuscante. O garoto, Spenser, usava um terno branco com diamantes. Eles pareciam muito à vontade, talvez pelo fato de serem Carreiristas. O casal do Distrito 2 usava uma roupa branca, que parecia ser feita de gesso. Havia um pouco de brilho, mas nada chamativo. A garota olhava para todos com um ar de superioridade. O garoto, Tom, tinha 18 anos — imagino o que ele sentiu. Seu último ano, e ele é escolhido —, e apenas olhava para os lados como se desejasse desaparecer. Eles estavam próximos, mas sem mostrar nenhuma intimidade. A garota do Distrito 3, Puffy, usava um vestido prateado, e em sua cabeça estava alguma coisa parecida com um antena, o que era patético. O garoto parecia querer se esconder.

Fiquei um pouco apreensivo com o Distrito 7. O garoto, Andy, tinha um olhar meio... Perturbador. Na hora da Colheita, ele olhava para os lados como se estivesse sendo perseguido. Seu roupa era toda preta, o que deixava sua pele pálida mais branca ainda. Pude perceber que seus estilistas tentaram de tudo para esconder as olheiras, e apesar da distância que estávamos, era possível ver um enorme fundo em seus olhos. A garota olhava para a platéia assustada e encantada. O resto não era tão interessante assim.

Finalmente parei de olhar para os tributos, e enquanto Cliff sorria e acenava animadamente, olhei para o telão. Como previa, eles estavam nos filmando, acho que nossos estilistas fizeram um ótimo trabalho, estávamos surpreendentes.

Quando me vi no telão, não me reconheci. Primeiro que meu cabelo estava imenso por causa do aplique e maravilhoso, além de estar muito brilhante. Segundo que a maquiagem me deixara com outro rosto, estava parecendo mais adulta, não parecia ter somente treze anos. Estava irreconhecível. Mas não era isso que me surpreendia, na verdade, isso não chegava nem aos pés das minhas roupas. Eu usava uma longa saia azul-piscina, ela emoldurava as minhas curvas e me deixava com mais cintura, havia milhares de pedrinhas de brilhantes e conchas nela, e ela parecia ter dado um bom trabalho para ser feita. Na parte de cima, eu usava somente um top com decote em V, fazendo parecer que meus seios eram maiores, o que era incrível. Eu estava me sentindo ótima naquela roupa, e tinha quase cem por cento de certeza, que alguns garotos da Capital haviam pirado ao me ver assim. Isso era engraçado.

Antes de chegarmos ao Circulo, fiz como Cliff e comecei a acenar. O publico jogava coisas para nós, como flores, chapéus e até mesmo alguns lenços, o que era estranho.

Quando vi já estávamos em um circulo, que fora preenchido por doze carruagens maravilhosas. Os cavalos puxam as carruagens até a Mansão do presidente Snow, que é onde nós paramos.

O presidente, um homem um pouco gorducho, mas que tem um rosto fino, e os cabelos grisalhos e lisos, ele dá boas-vindas à nós tributos e ao povo da Capital. O hino logo começa a tocar, e eu estava sentindo que não suportaria escutá-lo mais uma vez, já estava me deixando com dores de cabeça.

— Tributos, sintam honra por estarem aqui. Está aberta a septuagésima edição dos Jogos Vorazes. — disse ele, e eu revirei os olhos. Ele olhava para nós com um sorriso frio e maquiavélico, e eu podia ver em seu rosto um olhar de cobra — E que a sorte esteja sempre ao seu favor.

Senti o público vibrar e começaram a bater palmas, então minutos seguinte as carruagens voltaram para seus postos. No minuto em que as portas se fecharam, somos tomados pela equipe de preparação e Delphi, que estava falando alto e animadamente. Acho que eles estão dizendo que fomos ótimos, mas não entendo muito bem por causa do enorme barulho que está na sala.

Quando pouso os olhos em May Jo, percebo que todos estão ali, menos Finnick.

— Seu mentor saiu. — disse Delphi como se lesse meus pensamentos — A mulher era bonita pelo menos, e parecia ser rica... Pode ser uma boa patrocinadora.

Logo percebi o que ela havia dito, Finnick estava em um de seus encontros amorosos.

De repente, sentia minha cabeça doer e uma dor de estomago tomou meu corpo, eu sentia um grande vontade de vomitar, mas não faria isso em publico, onde todos poderiam ver.

Os tributos começaram a se dispersar e assim fizemos, seguindo Delphi e os estilistas, fomos em direção ao Centro de Treinamento. O lugar possui um grande edifício exclusivo para os tributos e suas equipes. Há doze andares, e cada Distrito fica com um respectivamente. Nós temos o nosso próprio andar. Você só precisa entrar num elevador e apertar o numero do seu Distrito.

Nossa “casa” era grande. Havia um hall de entrada, onde estavam alguns quadros e tinha uma aparência bem rústica. Depois, nós entravamos na sala de jantar, onde tinha uma grande mesa de vidro e ao seu redor, oito cadeiras esverdeadas e com formatos estranhos. Ao seu lado estava a sala de televisão, que se parecia bastante com a que havia no trem, mas ao invés de uma televisão, havia um grande telão. Na verdade, havia telões nos três cantos das paredes, provavelmente seria bom para os mentores visualizarem os tributos na arena; e, além disso, havia milhares de botões, um deles dizia que você podia escolher que você gostaria de ver. Completamente incrível.

Um corredor comprido e escuro nos levava ao quarto, que por sinal eram maiores que a minha casa.

— É bom vocês irem dormir, amanhã o dia será cheio. — disse Delphi

Logo que ela disse isso, fui para meu quarto. Meus aposentos são elegantes e muito sofisticados, além de ter uma aparência bem moderna, já que havia milhares de aparelhos high tec espalhados. No banheiro havia milhares de botões, desde o que eu acionava para sair um jato de água quente, até o que secava os meus pés quando saia do boxe. Eram tantos que eu fiquei uns dez minutos só olhando para eles e vendo as suas funções, eram surpreendentes.

No closet, há milhares de roupas, e é obvio que eu não conseguiria usar todas. Algumas eram extravagantes demais para mim, e me davam nojo de simplesmente olhá-las. Escolhi uma básica que tinha mais a ver com o meu estilo: uma saia jeans curta e uma camiseta azul marinho. Estava ótimo.

Minutos depois, Delphi me chama para o jantar, e eu saio do quarto rapidamente. Estava morrendo de fome.

May Jo, Cliff e seu estilista estão sentados prontos para serem servidos. Há literalmente um banquete sobre a mesa, com milhares de pratos diferentes e que tinham aspectos deliciosos. Elas estavam me deixando com mais fome anda, estava com pressa para me sentar com eles e me servir.

Uma jovem de cabelos presos e bem feitos, roupas largas e com as cores da Capital, um batom perolado e uma maquiagem leve estava num canto da sala, pronto para nos oferecer vinho. Eram os Avox. Eu já havia falado sobre eles, eram as pessoas que cometiam crimes, e como de castigo, tinham suas línguas cortadas, quase sempre traidores da Capital, ou rebeldes.

De repente, um barulho invade a sala, avisando que alguém chegara pelo elevador. É Finnick. Ele estava usando o mesmo terno de antes, mas o colarinho não está muito lugar, e em seu pescoço há algumas marcas de batom vermelho. Os cabelos estavam bagunçados e seu olhar estava cansado.

— Bem que você poderia disfarçar um pouco, Finnick. — disse Delphi revirando os olhos