Era começo de tarde e estávamos andando ao sul, como Alex havia dito. A parte da arena onde estávamos estava ficando sem lama, o que era bom por estarmos nos aproximando do rio. Eu ainda não havia falado ao Alex que eu não sabia nadar muito bem então estou esperando que o rio seja bem raso para que o atravesse andando. Alex tentava disfarçar a sua fome esfregando a barriga de tempos em tempos, acabou de fazer de novo.

–Senta aqui eu vou dividir isso – eu disse, partindo uma fruta que tínhamos achado mais cedo.

Ele sentou ao meu lado e pegou a sua metade. Não estava com tanta fome quanto Alex, ele pareceu meio desanimado com a velocidade que a comida havia acabado.

–Não é como você esperava? –perguntei

–Talvez –ele disse –não importa, vamos continuar. Aposto que depois de atravessarmos o rio a nossa situação vai melhorar.

–Acho melhor a gente se apressar porque eu não aguento esse calor – eu disse livrando a minha testa do suor que escorria.

Na verdade eu estava com calor, mas Alex parecia pior. Ele me viu o observando e riu sem graça.

–Tá olhando o que?

–Você deve ser o pior carreirista que eu já vi - eu disse rindo.

Ele riu diminuindo o passo para olhar para mim. Ele parecia meio constrangido, mas de um jeito bom, ele tentou desviar do assunto dizendo:

–Eu não tinha certeza que realmente as pessoas nos chamavam de carreiristas.

Mais algumas horas andando e comecei a ouvir barulhos de agua, duas ou três pessoas correndo pela agua e rindo. As alucinações da arena já haviam começado?

–Você ouviu isso? – perguntei sem acreditar.

Alex balançou a cabeça, feliz por não ser o único. Saímos correndo como crianças felizes atrás do som, menos pela parte de estarmos correndo com uma espada , machado e uma faca em mãos.

Minha falta de cuidado me fez tropeçar em um galho largado no chão. O machado caiu da minha mão ruidosamente e as pessoas que se banhavam no rio cochicharam desconfiadas. Alex me assoviou.

–Alex? –sussurrei. Olhei em volta .Onde ele estava?

Algumas folhas caíram da arvore, junto com uma enxurrada de galhos. Ai. Que droga de esquilo faz isso?

“ Olha! Um machado, alguém deve ter deixado cair”, uma voz disse.

“Deve ter alguém perto”, outra pessoa concluiu.

“Acho que devemos matar, por segurança, não podemos perder outra pessoa.”, outra voz decidiu.

Eles se aproximavam cada vez mais e os galhos não paravam de cair. Olhei para cima com raiva. Alex havia escalado a arvore e estendeu a mão para que eu subisse.

Subi metade da arvore e ele me puxou o resto antes que o grupo chegasse.

Um garoto mais novo segurava o meu machado, quando percebeu que estava sem nada um garoto maior tomou a arma do garotinho. O garoto menor protestou e os dois começaram a brigar até uma garota muito mais velha os mandar pararem. Ela obviamente era a líder e olhava em volta desconfiada. Eu ouvia alguém arfando muito alto. Alex tapou a minha boca e perguntou baixo para mim se eu podia, por favor, respirar mais baixo.

Ele mandou eu me preparar e ele pulou da arvore. O que ele estava fazendo? Pulei logo depois.

O grupo estava se afastando e se preparando para fazer um acampamento na beira do rio. E isso atrapalhava um pouco o nosso plano de atravessa-lo , sabendo que eles não seriam amigáveis se cruzássemos o seu caminho.

–Vamos tentar atravessar sem matar eles né? – perguntei preocupada com o lado assassino de Alex.

–Claro, mas se nos atacarem vamos no defender, certo?

Concordei e fomos andando até o rio. A selva acabou e a terra era estranhamente seca para margem de um rio. Era impossível não nos ver, agora era só esperar a reação.

Alex entrou na agua e me esperou segui-lo.

–A correnteza é bem forte né? – eu disse tentando disfarçar a minha surpresa pelo tamanho( e a profundidade também) do rio. Era impossível passar andando.

–É maior que eu imaginava – Alex disse dando ombros

–Ei , o que vocês querem na nossa área? –o cara maior disse.

–Espere – o garotinho disse –vocês não podem ficar aqui.

–Você! –a garota disse se aproximando de nós dois e apontando o dedo para Alex. Ops , ela era maior que eu imaginava. – você matou Alishia! – ela levantou um facão.

–Ah, droga não vai dar pra passar agora pelo rio. A correnteza está muito forte, nós vamos ter que esperar.- Alex disse como se fosse um pequeno contratempo.

–Acho melhor irmos nadando logo para o outro lado do rio – eu disse correndo para o rio. Alex segurou a minha camisa para que eu não fosse longe.

O grupo continuou se aproximando da gente com um jeito ameaçador. Alex levantou a espada para lutar. Varias arvores ao fundo foram derrubadas e estavam em chamas, ninguém virou sem quererem ser distraídos. Todos estavam se encarando, esperando a reação de alguém para atacar. Ouvimos passos ruidosos mas ignoramos. Um jato de fogo veio em nossa direção e era um pouco difícil de ignorar. Virei para ver da onde veio.

A alguns metros de distancia tinha um lagarto enorme com asas e cuspidor de fogo. O dragão derrubou nós cinco com uma pata. Arrastamos pela areia com a forca do golpe. Outro jato de fogo veio em nossa direção e cada um correu para um lado. Metade de nós estávamos encurralados entre o dragão e o rio. Alex estava em condições de fugir para longe dali por estar no lado da selva. Realmente pensei que ele fosse me abandonar até ele tatear os bolsos para achar a sua varinha.

–Estupefaça – ele gritou soltando o feitiço para o dragão.

O dragão pareceu se sentir incomodado com o barulho que Alex fez mas não parecia nenhum pouco afetado pelo feitiço.

Sua nova distração foi Alex. Quando o garoto tentava correr soltava fogo em sua direção e o derrubava quando tentava fugir. Os outros garotos aproveitaram para fugir mas eu tinha que ficar para salvar Alex que estava servindo de brinquedo para um lagarto gigante. Depois o garoto ficou preso entre os dentes da bestante. Tentei fazer algo para ajuda-lo porem todas as vezes que tentava escalar eu saia voando e batendo na arvore com patadas. Nesse momento eu realmente queria uma vassoura.

Alex que estava desacordado voltou ao seu estado e cravou sua espada na boca da criatura, que o largou por reflexo. Alex quase caiu de doze metros de altura mas se segurou em uma escama do dragão, deixando o dragão perturbado e fazendo balançar loucamente. Alex saiu voando e caiu nas costas do animal, ele tinha a sua varinha em mãos(já que a sua espada havia caído na areia)e tentava acertar uma maldição na cara do dragão e acabou arrancando-lhe o globo do olho.

A bestante ficou mais irritada por ter um olho arrancado. Se eu fosse ela também ficaria. Alex no alto balançou o globo do dragão e gritou soltando no ar.

–Presentinho. Faca que ele fique calmo para que eu possa descer .

–Teddy – peguei o olho e balancei tentando chamar atenção. Ele não estava nem aí para mim, só queria mastigar Alex.

Tentei fazer algo que o irritasse como ...escala-lo com uma adaga.

No começo ele nem prestou atenção estava meio ocupado arrancando Alex das suas costas até eu abrir um ferimento enorme na sua pata enquanto eu tentava não cair de lá de cima. Ele me derrubou outra vez e eu tive toda a sua atenção, mas não de um jeito bom.

Quando eu caí no chão o dragão deu mais um jato de fogo na minha direção, o que me fez arrastar pela areia e fez quase Alex cai da cabeça da bestante. Ele me empurrou com a cauda fazendo que fosse para o ar. Eu subi tanto que eu podia ver Alex abaixo de mim, essa ia ser uma queda feia. Voltei a cair na metade da parábola feita e Alex amorteceu a minha queda com um feitiço.

–Aresto Momentum

No momento que eu estava prestes a me chocar contra a cabeça do dragão, parei no ar e depois de alguns segundos terminei a minha queda, agora com alguns centímetros de altura.

Teddy, o lagarto que soltava fogo, não ficou nada feliz com o meu pouso na sua cabeça e tornou-se a tentar se livrar de mim, me fazendo cair da altura enorme que tinha o seu corpo. Alex e eu nos segurávamos o máximo que podíamos no pescoço do animal, mas era muito escorregadio e eu não conseguia me manter sem que eu fosse pelos ares. Em uma das suas sacudidas eu fui arremessada para o alto, acima de sua cabeça. A espada de Alex que eu havia recolhido na areia estava empunhada pronta para o golpe final. Num timing perfeito eu cortei a cabeça do dragão e ele soltou um jato de fogo na minha trajetória .Eu estava bem relativamente eu só estava...CAINDO DE DOZE METROS E O MEU CABELO ESTAVA EM CHAMAS.

–Aleeeeeeeeex – eu gritei para que ele meu ajudasse.

Com a velocidade que eu caia parecia impossível que o raio do feitiço me acertasse. Por sorte eu cai na agua.

Quando meu corpo colidiu com a superfície da agua percebi que não era nenhum pouco de sorte, parecia mil vezes pior do que se eu caísse na areia. Todos os meus músculos encolheram quando eu entrei na agua escura e gelada e afundei, as luzes e os sons da superfície ficavam mais longe a cada instante e tudo começou a aparentar como fosse um pesadelo sem fim. A escuridão era a ultima coisa que me restava. No fundo da minha visão eu ainda sabia o caminho para a terra firme e era para cima. Dei algumas braçadas tentando flutuar um pouco, mas eu havia mentido sobre a minha condição como nadadora ,eu não sabia nadar sobre nenhuma situação, muito menos a de vida ou morte. Engoli alguns galões de agua involuntariamente e minha garganta começou a queimar.

Fiquei com raiva de mim mesma por ter sido orgulhosa e não ter contado a Alex que eu não sabia nadar, talvez ele me salvasse assim que eu tivesse afundado. Fiquei com raiva também pelo modo estupido que eu ia morrer, provavelmente iria ser mais digno se tivesse morrido no banho de sangue. Afogar-se, soltei uma risada mental de desdém, garota fraca. Minha mente começou a ficar mais leve e os meus olhos mais pesados , tentei ficar tranquila porque a minha ultima emoção não iria ser raiva. Pelo menos isso eu poderia escolher.