Na Sexta- feira...

O resto da semana foi relativamente normal. Eu e Sieghart ficamos de fazer o trabalho no sábado, iríamos à biblioteca da cidade. Tudo estava combinado, até que na sexta feira de manhã recebo uma ligação de CERTA ROSADA.

- Els-chan! Yoooooo! Amanhã eu vou fazer uma festa à fantasia, quer vir? Vai ser ás 10 da noite, sem previsão para término! As meninas vão dormir na minha casa depois da festa! Quer vir? Hein? Hein?

- Amy-chan... Eu tenho um compromisso...

- Eu sei, fazer o trabalho com o Sieg na biblioteca, eu já liguei para ele, e ele disse que se você concordasse em mudar para domingo, está tudo bem.

- Ok, então vai pro domingo... Só me deixa perguntar para minha mãe se eu posso ir.

- Tuuuudo bem! Me manda um torpedo!

- Tchau!

- Tchau!

Desci as escadas e encontrei minha mãe na cozinha. Ela estava fazendo algum doce, provavelmente brigadeiro.

Prislane Díneniel é uma mulher maravilhosa. Tem uns 40 anos, mas aparenta ter 30. Tem cabelos loiros bem longos, olhos azuis, corpo com formato de “ampulheta” e sorriso simpático. Além disso, é a mulher mais bondosa e generosa que já conheci. Um amor de pessoa.

- Mãe...

- Elesis! Está com fome? Preparei uns sanduíches para você...

- Obrigada mãe, aceito um sim- falei, pegando um sanduíche da cestinha- Mas eu queria te falar uma coisa...

- Eu sei, a festa à fantasia. Lire já me falou dela. Pode ir e dormir lá, sem problemas.

- Obrigada, mãe! Você é maravilhosa!

- Que nada, minha filha... Que nada...

Dei um beijo na bochecha dela e subi correndo as escadas, com o sanduíche em mãos.

Quando cheguei em meu quarto, Lire me esperava com um sorriso maléfico.

- Devo supor que estou ferrada? – perguntei.

- Oh, sim, você vai ficar comigo a tarde inteira procurando fantasias – respondeu ela, o sorriso se alargando. Parecia um gato que tinha acabado de capturar o canário, satisfeito e maligno.

- Tenho a opção de me matar?

- Não.

- Certo- bufei – então deixa eu me trocar. Aproveita e se troca também, ok?

- Certo, certo, mas se apresse!

Peguei uma camiseta regata vermelha, shortinhos e um All Star de cano até o joelho, preto. Vesti-os e, enquanto esperava Lire, mandei um torpedo para Amy:

Ok, tudo certo. Quando eu chego aí?

Ás 8h, mandei o endereço para a Lire.

Ás 8h? Mas a festa é só ás 10h!

Mas as meninas vão vir mais cedo para se arrumarem, maquiagem e colocar fantasias exige muita ajuda!!!!

Ok, não vou discutir com você...

Até a festa!

Até!

Depois de um tempo (MUITO), Lire chegou, usando um vestido de verão branco cheio de babados verde-claro e salto alto EXTREMAMENTE ALTO dourado.

- Você ainda quebra alguma coisa usando esse salto – adverti Lire, encarando aqueles sapatos.

- Não me enche, eu já vou te torturar hoje, quer mais?

- Afffff, você é muito maligna para ter essa carinha de anjo.

- Concordo com a parte da carinha de anjo! – respondeu ela, dando um sorriso... angelical. Ela é, definitivamente, algum demônio encarnado na pele de um anjinho loiro de olhos verdes.

- Vamos logo, eu quero acabar com isso!

- Então vamos!

Então Lire me puxou pela mão, saindo de casa e correndo até o shopping (pertinho da nossa casa). Enquanto corria, ela cantava:

- Vou para o shopping torturar a Elesis! Lá, lá, lá, lá! Lá, lá, lá, lá! Vamos para o shopping torturar a Elesis! Lá, lá... LÁ!

- Você tem problemas mentais? – perguntei.

- EU. TE TORTURANDO. QUER MAIS??????????

- Você é maligna!

- Obrigada pelos elogios, mas assim eu fico corada – rebateu.

Depois de um tempinho, chegamos ao local que Lire mais adora para me infernizar. Eu sei, todo mundo ADORA shoppings. Eu também, mas quando Lire está comigo... Ela me ARRASTA para todo lugar e me veste nas mais vergonhosas roupas que a humanidade já viu. De propósito. ELA É UM AMOR, NÃO????

Assim que chegamos, a criaturinha me levou sem direito a reclamações para a primeira loja de fantasias que vimos. E discutíamos acaloradamente sobre as fantasias que Lire selecionava para mim.

- Elesis! Essa fantasia é L-I-N-D-A! – disse Lire, levantando a mais vergonhosa fantasia que havia na loja: Empregada. Ou Criada, como dizia na etiqueta.

- Faça com que esse demônio volte para o Tártaro pagar seus pecados longe de mim!

- Elesis, que exagero! – gritou Lire – Para de frescura e vista essa fantasia!

- Nunca em minha vida!

- ELESIS! VISTA ISSO AGORA!

- NÃO! – com esse grito, saí correndo feito louca pela loja, com Lire atrás de mim.

- ELESIS! VOCÊ ESTÁ ME OBRIGANDO A... – subitamente, ela parou de gritar e correr. Seus olhos brilhavam enquanto ela olhava para duas fantasias, uma do lado da outra. Ela alternava o olhar entre mim e elas. Até que um sorriso simplesmente maléfico tomou o rosto dela.

- Eleeeeesis – cantarolou ela, sorrindo ainda mais. Parecia um daqueles filmes de terror, onde o protagonista ouve alguém chamando ele e a platéia grita “Não siga a voz! Não siga!” e mesmo assim o idiota segue e acaba, na maioria das vezes, morto.

Mas eu não sou idiota.

Não seguirei jamais essa voz!

Comecei a correr novamente, mais desesperadamente do que antes. Só que Lire pulou em cima de mim, fazendo-me cair. Ela ainda tinha aquele sorriso, e carregava duas fantasias no braço esquerdo.

Assim que espiei-as, corei, ficando mais vermelha do que meu cabelo e gritando:

- Nããããããããoooooooo!!!! Por favor, eu suplico, tudo menos isso!!!!!

- I want to play a game...

E me puxou pela perna direita até o provador. Ao ver novamente aquelas roupas, corei ainda mais, se é que isso era possível.

A primeira era uma fantasia de enfermeira. Uma saia de pregas verde, branca e dourada com detalhes de cruz; uma estranha camiseta branca e verde com detalhes dourados, que mostrava toda a extensão da barriga. As mangas iam até o cotovelo e tinha detalhes de cruz também; Sapatos de salto alto com as mesmas cores e detalhes das outras peças, com bico arredondado; Luvas combinando e, para coroar, uma tiara de enfermeira branca e verde, além da asinhas douradas nas costas. Obviamente, a fantasia de Lire.

A segunda era uma fantasia de raposa. Botas vermelhas com detalhes amarelos; Uma espécie de shorts bufante preto, com detalhes vermelhos e dourados, que tinha um laço amarrado lateralmente e um tipo de cinto trançado com um brasão que tem a imagem de uma chama. Contava também com um top vermelho e dourado, de onde saiam, do ombro direito, penas, e do esquerdo, a imagem da cara de algum animal. Havia uma tiara com orelhinhas de raposa e uma espécie de pedra vermelha na testa, além de grandes e estranhas asas nas costas.

A minha fantasia.

Quando Lire morrer, o Inferno ficará sob nova direção.

- Lire... Eu não vou vestir isso nem morta... – falei, olhando para a foto da modelo que usava a fantasia na etiqueta.

- Oh, então você não me deixa opção... THIS IS SPARTA! – gritou ela, antes de me nocautear e me deixar inconsciente...

Meia hora depois...

Quando acordei, estava do lado de fora da loja, na enfermaria de emergência do hospital. Uma mulher gorda de cara simpática notou quando abri os olhos e perguntou:

- Mocinha? Você está bem?

- Estou... Mas como vim parar aqui?

- Parece que você desmaiou dentro do provador da loja. A menina loira insistiu em tirar a fantasia que você estava provando antes de desmaiar. Uma boa menina, já comprou aquela e outra verdinha. Já foi embora e disse para que você fosse correndo para casa assim que acordasse. Quer ir agora ou prefere ficar aqui mais algum tempo?

Bocejei antes de responder:

- Isso depende. Que horas são?

- 7:40, jovem.

- 7:40??????? Estou atrasada!!!!! Obrigada por cuidar de mim, mas agora tenho que correr!!!!

E sai correndo em disparada até chegar em casa. A caminhada normalmente demora dez minutos, mas fui tão rápida que cheguei em cinco. Abri o portão e me deparei com uma Lire carrancuda me esperando.

- Finalmente! – resmungou ela.

- Foi você que me nocauteou!

- Foi você que não quis vestir a fantasia!

- Meninas – interrompeu nossa mãe – se pararem de brigar agora, eu dou uma carona para vocês. Eu tenho que ir ao mercado mesmo...

- Obrigada mãe! Vamos Elesis, eu estou levando a minha e a sua fantasia...

E corremos até o carro. Ufa! Depois de tanta correria e loucura, finalmente teríamos um tempo como adolescentes normais, tendo uma festa à fantasia na casa de uma amiga. Tudo ia correr bem e como planejado a partir de agora... Né?

Infelizmente, esse pensamento estava errado.